Num ano que se caracterizou pelo encerramento de inúmeras empresas, pelo aumento brutal do desemprego, pela falta de oportunidades para os mais jovens, incluindo os licenciados; num ano em que se assistiu diariamente ao recurso ao lay off, esse instrumento de alívio transitório dos encargos com os salários até que se retome o ritmo das encomendas; num ano em que a falta de trabalho foi marcante sem que se vejam sinais de retoma da produtividade e do crescimento, a Associação Empresários de Portugal (AEP) não achou melhor oportunidade nem tema mais premente do que o de vir contestar a existência de feriados, cuja extinção inclui “num esforço colectivo” e “nas medidas excepcionais requeridas por um período excepcionalmente difícil”.
Mesmo percebendo muito pouco – cada vez menos – das regras ditadas pela economia, não vejo como esse tema possa ter qualquer urgência, para não dizer sensatez, e o que me parece é que surge aos olhos das pessoas como um aproveitamento do clima geral de pânico, que propicia a que se ponham em cima da mesa, como se fossem vitais, todas as propostas que, noutro contexto, mereceriam viva contestação. Em suma, estamos por tudo, vale tudo menos algum respeito pela inteligência e pela debilidade dos que sofrem a ameaça da perda de emprego.
Não sei se temos feriados a mais ou a menos, ou se os feriados deveriam passar a ser às 2ªas feiras, como acontece em muitos países da Europa. Mas não percebo qual é a importância real dessa pretensa “poupança de folgas”, que apagarão do mapa algumas referências históricas ou religiosas que ainda são marco na nossa memória colectiva, quando o problema é falta de emprego, é falta de encomendas, é falta de mercado, e não falta de vontade de trabalhar.
Esta iniciativa gera desconfiança e cria uma sensação de abuso do estado de necessidade de muitos que ainda conservam os seus empregos, fazendo lembrar a expressão tão popular de “coitado de quem precisa”…
Mesmo percebendo muito pouco – cada vez menos – das regras ditadas pela economia, não vejo como esse tema possa ter qualquer urgência, para não dizer sensatez, e o que me parece é que surge aos olhos das pessoas como um aproveitamento do clima geral de pânico, que propicia a que se ponham em cima da mesa, como se fossem vitais, todas as propostas que, noutro contexto, mereceriam viva contestação. Em suma, estamos por tudo, vale tudo menos algum respeito pela inteligência e pela debilidade dos que sofrem a ameaça da perda de emprego.
Não sei se temos feriados a mais ou a menos, ou se os feriados deveriam passar a ser às 2ªas feiras, como acontece em muitos países da Europa. Mas não percebo qual é a importância real dessa pretensa “poupança de folgas”, que apagarão do mapa algumas referências históricas ou religiosas que ainda são marco na nossa memória colectiva, quando o problema é falta de emprego, é falta de encomendas, é falta de mercado, e não falta de vontade de trabalhar.
Esta iniciativa gera desconfiança e cria uma sensação de abuso do estado de necessidade de muitos que ainda conservam os seus empregos, fazendo lembrar a expressão tão popular de “coitado de quem precisa”…
15 comentários:
No entanto não fazem uma proposta de quanto estão dispostos a pagar para o trabalhador abdicar do feriado.
Poderia dizer "eles sabem-na toda", mas na realidade a história dos feriados e dos patrões é tão antiga, que acho que apenas estão a papaguear o mesmo de sempre.
Não é a pagar, caro cmonteiro, é "um esforço colectivo"...dos que precisam de trabalho.
ah, por amor à Pátria? Que queridos...
Suzana
Os feriados fazendo parte da nossa identidade nacional e da nossa cultura deveriam ser valorizados por todas as forças vivas da sociedade, resistindo à tentação de lhes fazer equivaler uma qualquer medida de eficiência ou de produtividade economicista.
Vivemos um tempo em que a tentatação de tudo "racionalizar" é tremenda e também por isso mesmo perigosa.
Os feriados podem ser um factor de coesão social numa época em que a economia mais divide do que multiplica.
Estamos perante uma daquelas situações em que apetece dizer que nem tudo o que vem à rede é peixe!
Cara Susana,
E são estes patrões (piquenas, média e grandes empresas) que o políticamente correcto diz que é preciso apoiar. Isto é, mantendo os salários baixos, aumentar os horários de trabalho, desculpar o não pagamento dos salários a tempo e horas, mais subsídios, mais subsídios, mais subsídios.
Eu digo NÃO, NÃO, NÃO.
O que é preciso é deixarmo-nos de paninhos quentes e aumentar as exigências para forçar esta "má moeda" a desapareçer. Só assim haverá oportunidade para a "boa moeda".
Deixar a economia verdadeira funcionar.
Até o nome da associação está errado, a designação mais acertada seria APP - Associação de Patrões Portugueses. Quem não sabe que produtividade não tem nada que ver com o n~umero de horas de trabalho não pode ser denominado empresário. Em parte nenhuma.
É que a produtividade é, no essencial, da sua responsabilidade, da sua capacidade de organização da produção. Como não sabem e não são capazes...
É isso mesmo, Margarida, mas numa altura em que há tantas coisas a atormentar as pessoas e tantos direitos a que´tem sido preciso renunciar, e tantas expectativas goradas, que realmente não se entende que se lance à rede mais este "peixe", como diz.
caro SC, há muitos empresários que merecem ser apoiados e há muitos patrões que não se aproveitam deste clima geral de desespero para explorar os seus trabalhadores, porque sabem que eles são a sua principal fonte de riqueza, num benefício mútuo e social. Por isso, em momentos de crise, merecem todo o apoio porque esperamos que saibam dar o retorno do que agora se lhes faz chegar, com o esforço colectivo, aí sim, em forma de subsídio ou outra. mas a "má moeda" faz com que uns pareça que são todos e, felizmente, não são.Além de que temos muitos exemplos de empresas em que não é preciso proibir feriado nenhum porque se for preciso as pessoas vão trabalhar, e na administração pública também, nunca vi ninguém ir para casa quando há uma situação que exige o esforço e o trabalho fora de horas ou em dias de descanso, desde que seja compreendida a urgência e a necessidade.
Cara Suzana Toscano
Diz muito bem !
A posição que refere da AEP é uma demonstração da incapacidade da nossa classe empresarial em jogar as regras de mercado que vigoram em todo o lado ... menos por cá.
Estando a crise interna a adensar-se, como o revelam múltiplos sinais e indicadores, seria de esperar que uma associação responsável, como deveria ser essa, tomasse a iniciativa de propor medidas que estimulassem a economia, e em particular o dinamismo e modernização do tecido empresarial.
Melhorias de gestão, criação de oportunidades, medidas de estimulo à inovação, diminuição do paralizante esquema ultra regulamentador, subserviência excessiva do poderes públicos, cultura empresarial subsídio-dependente, medidas que contrariem o isolamento e ausência de parcerias com empresas e mercados estrangeiros, aumento da qualidade dos produtos, dinamismo na produção e exportação, estimulo da concorrência, e muitas outras questões similares não merecem qualquer análise crítica por parte dessa associação.
Será talvez por essa incapacidade de se "integrarem" no mundo da economia real que para mostrar serviço se lembraram agora de tal ditirambo atirando para a magna questão dos feriados as responsabilidades da sua fraca capacidade e engenho.
Ora se essa classe empresarial indígena não serve ... que venha outra.
Abram-se as fronteiras, diminuam-se os protectorados, facilite-se a criação de novas empresas, incentive-se o aparecimento de novos empresários, desburocratize-se e desregulamente-se, e então sim começariam a surgir novas oportunidades e novas perspectivas.
Cordialmente
Caro Insatisfeito, também tenho que reconhecer que se as propostas fossem as que diz (e já terá havido algumas nesse sentido)ninguém ligava nenhuma, não dava notícias no telejornal de hora a hora, nem títulos de jornais, nem nada. De resto, quando ouvi a primeira vez pensei que nem valia a pena dar importância, de tal maneira me pareceu deslocado e despropositado, mas depois vi que o dito fez o seu caminho, quase como uma proposta de grande urgência, mais "um mal" a corrigir já, já, antes que se faça tarde...
Cara Susana Toscano
Quando ouvi a notícia numa das tvs fiquei estupfacto.
Não sabia que tinhamos a média de feriados mais alta da Europa???
Consultei uma agenda antiga e, pasme-se, temos tantos feriados como a Espanha, a Irlanda, a Holanda e menos um que a Bélgica???
Na verdade, por lei temos 12 feriados nacionais e um municipal. A Bélgica tem 14.
Sinceramente, nestas alturas de crise era melhor que as associações apresentassem propostas mais realistas.
Cumprimentos
joão
É mais um pedido de algumas "empresas" ao pai Estado...! Os salários em Portugal são tão altos e os horários reais de trabalhos dos trabalhadores (mais conhecidos por colaboradores) tão curtos que estes "empresários" pedem mais uma lei para os ajudar na sua labuta diária de nada fazer... e como até têm levado a água ao seu moinho porque não pedir mais uma "leizita"?
Em Espanha, nos anos 80, estes empresários foram simplesmente corridos; é certo que a taxa de desemprego disparou para números impossíveis, mas este tipo de "empresas" praticamente desapareceu, por cá é o que sabemos. Outra diferença muito interessante foi a perseguição nos anos 90 aos crimes de colarinho branco, por cá é o que sabemos...
Olá Suzana. Aí está um comentário muito certeiro. É por estas e outras que as associações empresariais mostram continuar a não compreender a realidade que as cerca! Bom ano para ti e toda a equipo do 4R.
Caro joão, estas notícias bombásticas contam sempre que as pessoas não se dêem ao trabalho de verificar, neste caso e em muitos outros, parte-se do princípio de que são números enormes (note-se que se deram ao trabalho de somar sávados e domingos para dar 134 dias de descanso, como lhe chamaram)e que nenhum país "civilizado" admitiria semelhante escândalo. Funciona quase sempre, basta falar com alguém que saiba muito de uma matéria noticiada para ver os efeitos especiais que sempre lhes acrescentam.
Caro Fartinho da Silva, há muitos empresários conscenciosos que certamente repudiam essas actuações de outros mas aqui só os maus é que são notícia...
Olá Franklim, que boa surpresa!Realmente seria de esperar mais das associações empresariais, dos sindicatos também, nas suas matérias, pode ser que um dia também se modernizem!Um óptimo Ano para ti também e é um gosto saber que te manténs atento ao 4r!Um abraço amigo.
Errata: sábados
Em princípio, por uma questão de esforço colectivo, talvez até considerasse essa hipótese. No entanto, a AEP foi infeliz, porque começou logo o discurso com a abolição do 1º de Dezembro, a única data em que se comemora (?) a independência de Portugal. mais, alegaram com a "situação caricata" de algumas empresas - presumivelmente espanholas, em Portugal - com a dita comemoração do feriado.
A abolir qualquer data política, comecem pelo 5 de Outubro. Nada existe para comemorar, a não ser o reconhecimento da independência no século XII, coisa que a maioria dos portugueses desconhece. Este tipo de "feriados de regime" apenas sobrevivem enquanto fazem sentido. O 28 de Maio foi substituído pelo 25 de Abril e isso é compreensível. Mas agora, querem abolir o 1º de Dezembro? Para agradar aos negociantes de além fronteira? Onde chega a baixeza...
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