Este ano o Natal calhou cá em casa mas como, entretanto, os filhos e sobrinhos cresceram, já é preciso “repartir” a tribo com o outro lado das famílias ou seja, uma boa parte passa a consoada com os sogros. Isso reduz o grupo a uma dimensão já gerível, apesar de se manter a enorme confusão dos sacos de presentes que, para manter a tradição, acabaram todos trocados. Preparava-se, assim, um Natal tranquilo.
Jantámos e conversámos longamente até que, já passadas as 2h da manhã, começaram as despedidas e as combinações do costume, quem é que leva a mãe, a tia não pode ir sozinha a estas horas, enfim, tudo se compôs e partiram todos.
Uma boa hora depois, já tínhamos nós detectado quais os sacos que se tinham extraviado e ficado por cá ou sido levados por engano, toca o telefone e era um elemento da família que mora em Cascais e que amavelmente tinha acompanhado a tia, - que vive sozinha e tem 78 anos mas que guia o seu carro e é muito independente, - à casa dela, em Benfica, enquanto o marido seguia no carro atrás. Deixou-a à porta da garagem, agarrou no monte de sacos que lhe cabiam, mudou-se para o carro dela e lá seguiram para Cascais, onde chegaram depois de filas intermináveis para passar as portagens. Mal chegou a casa reparou que, no meio da balbúrdia de sacos, tinha agarrado na carteira da tia!, que assim teria ficado certamente à porta da garagem, no meio da noite, sem chaves, nem telefone, nem nada. O que fazer? Voltar para Lisboa e ir ter com ela? E se ela tinha decidido vir aqui ter a minha casa, na esperança de que eu tivesse sido entretanto alertada para o drama? Grande alvoroço e já estávamos de casaco vestido para ir a Benfica, na esperança de ela aí se ter mantido à espera de socorro, quando tocam à porta. Era a tia, toda nervosa, que não sabia da carteira, talvez tivesse caído ao entrar no carro, talvez tivesse ido no meio dos sacos para Cascais, enfim, suspirou de alívio por ver confirmada esta última hipótese nas não podia entrar em casa e queria mesmo era ir dormir em paz e sossego à sua casa, depois de tanta confusão.
Por pura sorte, lembrei-me que há uns anos ela me tinha confiado uma chave de casa, quando ficou viúva e sozinha. Já nem se lembrava, por isso considerou um milagre da quadra quando desencantei a chave com o nome dela no meio de um molho enorme, numa caixa onde vou deixando todas as chaves que encontro no caminho, porque detesto chaves e portas fechadas.
Fomos então em caravana a Benfica, eu com ela no carro e a preciosa chave no bolso, mas desta vez quis deixá-la em segurança dentro de casa. Foi sorte, porque mora num daqueles prédios modernos onde a garagem é no 6º piso da cave e tem cancelas por todo o lado que exigem um cartão que estava na carteira, em Cascais. Foi preciso chamar o guarda que, pelo intercomuncador, foi abrindo as cancelas mágicas, uma a uma. Finalmente, uf!, saímos do carro e, nas profundezas do prédio, tirámos os sacos dela e acartei tudo para a porta do elevador. Aí, com a voz muito sumida de angústia, diz ela: - “Ai, não podemos entrar, é preciso voltar tudo atrás e ir à entrada do prédio! É que o elevador também só se chama daqui com a chave!”
Olhei os sacos, a tia, o telemóvel sem rede e a escadaria de emergência, única salvação possível para chegarmos a bom porto. Mas era impossível, mesmo sabendo que talvez no 1º andar, ou seja, sete andares acima da cave, já se encontrasse um diabo de uma porta que não estivesse trancada.
Tive então a brilhante ideia de esperarmos que a noite de consoada trouxesse algum retardatário àquele poço e ali ficámos as duas, dentro do carro, até que ouvi, como música, o ruído de um motor a aproximar-se. Eram uns providenciais vizinhos, desconhecidos, claro, porque a garagem enorme é de vários prédios, mas que nos abriram a porta do elevador mesmo antes de morrermos geladas naquela escuridão.
Deixei-a em casa, já sossegada, e ainda tive que ouvir um raspanete quando cheguei ao nosso carro, por ter demorado tanto e não ter avisado…
Tudo está bem quando acaba bem, abençoado espírito de Natal!
Jantámos e conversámos longamente até que, já passadas as 2h da manhã, começaram as despedidas e as combinações do costume, quem é que leva a mãe, a tia não pode ir sozinha a estas horas, enfim, tudo se compôs e partiram todos.
Uma boa hora depois, já tínhamos nós detectado quais os sacos que se tinham extraviado e ficado por cá ou sido levados por engano, toca o telefone e era um elemento da família que mora em Cascais e que amavelmente tinha acompanhado a tia, - que vive sozinha e tem 78 anos mas que guia o seu carro e é muito independente, - à casa dela, em Benfica, enquanto o marido seguia no carro atrás. Deixou-a à porta da garagem, agarrou no monte de sacos que lhe cabiam, mudou-se para o carro dela e lá seguiram para Cascais, onde chegaram depois de filas intermináveis para passar as portagens. Mal chegou a casa reparou que, no meio da balbúrdia de sacos, tinha agarrado na carteira da tia!, que assim teria ficado certamente à porta da garagem, no meio da noite, sem chaves, nem telefone, nem nada. O que fazer? Voltar para Lisboa e ir ter com ela? E se ela tinha decidido vir aqui ter a minha casa, na esperança de que eu tivesse sido entretanto alertada para o drama? Grande alvoroço e já estávamos de casaco vestido para ir a Benfica, na esperança de ela aí se ter mantido à espera de socorro, quando tocam à porta. Era a tia, toda nervosa, que não sabia da carteira, talvez tivesse caído ao entrar no carro, talvez tivesse ido no meio dos sacos para Cascais, enfim, suspirou de alívio por ver confirmada esta última hipótese nas não podia entrar em casa e queria mesmo era ir dormir em paz e sossego à sua casa, depois de tanta confusão.
Por pura sorte, lembrei-me que há uns anos ela me tinha confiado uma chave de casa, quando ficou viúva e sozinha. Já nem se lembrava, por isso considerou um milagre da quadra quando desencantei a chave com o nome dela no meio de um molho enorme, numa caixa onde vou deixando todas as chaves que encontro no caminho, porque detesto chaves e portas fechadas.
Fomos então em caravana a Benfica, eu com ela no carro e a preciosa chave no bolso, mas desta vez quis deixá-la em segurança dentro de casa. Foi sorte, porque mora num daqueles prédios modernos onde a garagem é no 6º piso da cave e tem cancelas por todo o lado que exigem um cartão que estava na carteira, em Cascais. Foi preciso chamar o guarda que, pelo intercomuncador, foi abrindo as cancelas mágicas, uma a uma. Finalmente, uf!, saímos do carro e, nas profundezas do prédio, tirámos os sacos dela e acartei tudo para a porta do elevador. Aí, com a voz muito sumida de angústia, diz ela: - “Ai, não podemos entrar, é preciso voltar tudo atrás e ir à entrada do prédio! É que o elevador também só se chama daqui com a chave!”
Olhei os sacos, a tia, o telemóvel sem rede e a escadaria de emergência, única salvação possível para chegarmos a bom porto. Mas era impossível, mesmo sabendo que talvez no 1º andar, ou seja, sete andares acima da cave, já se encontrasse um diabo de uma porta que não estivesse trancada.
Tive então a brilhante ideia de esperarmos que a noite de consoada trouxesse algum retardatário àquele poço e ali ficámos as duas, dentro do carro, até que ouvi, como música, o ruído de um motor a aproximar-se. Eram uns providenciais vizinhos, desconhecidos, claro, porque a garagem enorme é de vários prédios, mas que nos abriram a porta do elevador mesmo antes de morrermos geladas naquela escuridão.
Deixei-a em casa, já sossegada, e ainda tive que ouvir um raspanete quando cheguei ao nosso carro, por ter demorado tanto e não ter avisado…
Tudo está bem quando acaba bem, abençoado espírito de Natal!
6 comentários:
Suzana
A confusão da entrega e descoberta dos presentes, no meio da magia de os desembrulhar, normalmente dá origem a trocas e, então, quando mete crianças e brinquedos...
No meio dos quilos de papelada, já me aconteceu desaparecerem uns presentes, até que no dia seguinte, de tanto procurar, dei com eles a caminho do contentor do lixo.
A sua peripécia, Suzana, em plena madrugada, metendo carros, garagens, elevadores, seguranças, cancelas, escadas de emergência, chaves e barulhos fez-me lembrar um filme policial, do tipo resgate.
Imagino a sua tia - sei bem como são as pessoas de idade - no aconchego da sobrinha, em segurança, a rezar ao Menino Jesus para que o milagre acontecesse...
Pois é, Margarida, os milagres aparecem de muitas formas, neste caso foi uma chave guardada zelosamente numa caixa esquecida por aí, nem sei como me lembrei, acho que a aflição nos aguça o espírito.
Estou a ver que Natal sem peripécias, não é Natal.
Na altura, até poderão não lhes achar graça nenhuma, mas depois quando mais tarde se recontam os episódios vividos - passada a ansiedade e passada a aflição – estes revestem-se de uma certa comicidade!
Amen! Abençoado, ou seja, duplamente, tripla, infinitamente abençoado espírito de Natal.
Já pensou, Drª Suzana?!
Imagine se lá nos escafundéus desse piso de garágem... o menos 6, só a sua tia estacionásse?
Nem quero pensar, mas... posso dar uma sugestãozinha?!
No próximo Natal, pelo sim, pelo não... assim, só à cautela, convide o MacGyver para a ceia, apresente-o à família como um primo afastado e não se rale com a prenda... qualquer canivetezinho o satisfaz. Vai ver, com aquele mago da fuga por perto, pode descer ao estacionamento mais profundo, ou esquecer-se das chaves dentro de um tanque blindado, que ele resolve o problema na hora.
;)))))
Cara Suzana:
Não sei, não sei...mas deverão andar por aí grossos pecados... que nem o Menino Jesus pode esquecer na noite de Natal...
Mas creio que, depois de tantos castigos, será o próprio Menino Jesus a remediar a questão. Inspirando-se no Bartolomeu, fará entrar pela chaminé um MacGyver pronto a remediar todas as emergências...
Não haverá histórias de peripécias, mas teremos seguramente as histórias da actuação do Mac Giver!...
Bom Ano, cara Suzana!...
Catarina, até achámos graça, apesar da aflição, porque na verdade não houve nenhum problema mas apenas uma contrariedade que nos obrigou a reagir. E é curioso verificar como tantas normas de segurança se transformam num obstáculo quase intransponível quando se fica "fora" do círculo de protecção, as coisas estão todas planeadas para as pessoas autónomas, que podem andar, subir escadas ou contactar no mesmo instante quem as pode ajudar. De repente, sem esses recursos, as pessoas ficam perdidas e bloqueadas perante coisas tão simples como abrir uma porta de acesso comum ou chamar um elevador.
Caro bartolomeu, realmente está bem lembrado, somos hoje uma sociedade para McgYvers mas as pessoas menos dotadas sentem-se muito vulneráveis, valem os vizinhos solícitos ou outras pessoas de boa vontade, sobretudo no natal!
Caro Pinho Cardão, serão pecados, não digo que não, mas não devem ser assim tão graves porque acabo por me desenvencilhar e no fim ainda há tempo para umas belas gargalhadas a lembrar os episódios. quando sai tudo muito certinho não tem emoção nenhuma :)
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