Não sei se estão recordados do modo como se desenrolou o processo de candidatura e depois da decisão de construção dos estádios do euro 2004. A questão assumiu desde muito cedo o habitual carácter de “dogma nacional”: era “evidente” para muitos decisores políticos e respectivos coros na imprensa que se tratava de uma enorme vitória, que ainda bem que tínhamos ganho a todos os adversários porque soubemos apresentar muito mais e melhores estádios novos, porque vinham imensos fundos comunitários que era pecado desperdiçar… E ainda, se bem me lembro, porque estes monumentos de modernidade nunca vista seriam pólos irresistíveis de desenvolvimento local, com novas acessibilidades, com imensas áreas de comércio e de negócios, com milhares de postos de trabalho, etc, etc. Um maná, portanto, só os cegos, os retrógrados e, por fim, os antipatriotas é que ousavam pôr reticências em tamanha visão iluminada. Creio que ainda se pensou, já à beira de se iniciarem as construções, se não seria melhor rever o plano e construir só alguns mas qual quê, pura heresia e crime de lesa pátria, então e os municípios iam ficar sem nada, depois de terem o El Dourado à vista? E fizeram-se os Estádios, com alguns aplausos estridentes que abafaram as inúmeras dúvidas que os números e as contas teimavam em não esclarecer. Abriu-se o champanhe no dia da vitória e ainda ouvi uns lamentos por não ter sido o povo inteiro a aclamar, esse ingrato que nunca agradece o bem que se lhe faz.
Hoje, chovem as queixas. Diz o Público de hoje que só o estádio de Leira custa 5 000 euros por dia na manutenção e que a Câmara está arruinada, mas também Aveiro, Coimbra e Loulé (lembram-se de Loulé, com uma capacidade absurda?) e dizem que “a taxa de ocupação é irrisória para a dimensão que têm”. Soluções? Pois parece que queriam vender, não sei a quem, mas que essa hipótese não é legalmente possível, o que acredito, pois na altura não passaria isso pela cabeça de ninguém, vir a vender manás. Além disso, os abençoados e imperdíveis fundos comunitários teriam que ser devolvidos, nestas coisas não há direito a enganos, a candidatura está lá e é para valer.Também parece que não podem “ceder, trocar ou dar de exploração, no todo ou em parte”, porque o contrato o impede. Há quem pense em alugá-los para festas de casamento e baptizados, quem sabe mesmo se de aniversários ou quermesses, ou reuniões de condóminos, quem sabe? qualquer ajuda é bem vinda. E já ninguém se lembra de quem defendeu os estádios, ou fez os estudos infalíveis, ou previu o impulso de desenvolvimento em Loulé.
O economista Augusto Mateus aponta o caminho: “-Não vejo grandes soluções além de demolir e fazer outra coisa no seu lugar” e, questionado sobre porque razão não se viu logo isto tudo na altura, respondeu pragmático. “_ Quando estamos muito entusiasmados com o circo, tudo parece fácil”.
Pois é, o pior é quando, para haver circo, deixa de haver pão.
Hoje, chovem as queixas. Diz o Público de hoje que só o estádio de Leira custa 5 000 euros por dia na manutenção e que a Câmara está arruinada, mas também Aveiro, Coimbra e Loulé (lembram-se de Loulé, com uma capacidade absurda?) e dizem que “a taxa de ocupação é irrisória para a dimensão que têm”. Soluções? Pois parece que queriam vender, não sei a quem, mas que essa hipótese não é legalmente possível, o que acredito, pois na altura não passaria isso pela cabeça de ninguém, vir a vender manás. Além disso, os abençoados e imperdíveis fundos comunitários teriam que ser devolvidos, nestas coisas não há direito a enganos, a candidatura está lá e é para valer.Também parece que não podem “ceder, trocar ou dar de exploração, no todo ou em parte”, porque o contrato o impede. Há quem pense em alugá-los para festas de casamento e baptizados, quem sabe mesmo se de aniversários ou quermesses, ou reuniões de condóminos, quem sabe? qualquer ajuda é bem vinda. E já ninguém se lembra de quem defendeu os estádios, ou fez os estudos infalíveis, ou previu o impulso de desenvolvimento em Loulé.
O economista Augusto Mateus aponta o caminho: “-Não vejo grandes soluções além de demolir e fazer outra coisa no seu lugar” e, questionado sobre porque razão não se viu logo isto tudo na altura, respondeu pragmático. “_ Quando estamos muito entusiasmados com o circo, tudo parece fácil”.
Pois é, o pior é quando, para haver circo, deixa de haver pão.
10 comentários:
A verdade é que não sinto qualquer orgulho nem satisfação por ter sido dos poucos que discordaram da construção de tão grandiosos estádios e do dinheiro gasto neles. Talvez não tivesse sido por estar muito esclarecido, mas sim por ser desconfiado e não gostar de futebol. Mas agora, em relação ao caso um pouco semelhante do TGV, até gosto de andar de comboio, mas também discordo abertamente da sua construção, pelo menos nos tempos mais próximos e enquanto não vir os famigerados estudos benefício/custo.
Suzana
Também li a notícia, mas não me surpreendeu porque é sabido, há muito tempo, que alguns desses estádios não têm qualquer viabilidade. São verdadeiros sorvedouros de dinheiros públicos.
Encarar de frente o problema pode conduzir a uma decisão que altere o actual estado de coisas que mais não tem feito do que manter tudo como está. Falar sobre o assunto já é qualquer coisa...
Cara Suzana Toscano,
Tem razão no que escreve, mas o nosso grande desgosto é que, na altura, o PSD não tenha combatido esse então denominado desígnio nacional.
A demagogia de Guterres encontrou forte eco na família social-democrática e todos abraçaram essa suprema fantasia do Euro 2004, que, amarguradamente, nem sequer o ganhámos, com uma equipa de luxo, em casa, contra uma modesta Grécia.
Na altura, teria sido importante denunciar o projecto megalómano do Euro, mas faltou coragem política a Barroso e a outros ditos visionários, apontados como vencedores natos da vida partidária nacional.
Vejam-se agora os resultados dessa alta visão, talvez por muitos até cunhada de estratégica, como gostam de chamar a quase tudo que patrocinam os nossos grandes líderes políticos.
Bom Ano de 2010, se não político, pelo menos no plano pessoal, para toda a tertúlia que aqui se reúne.
AV_30-12-2009
O miolo da sua posta, Suzana, sendo conhecido de há muito, é todavia um dos exemplos mais significativos do desvario socialista e do fácil deslumbramento de muitos portugueses, que acabam por pagar do seu bolso aquilo que lhes disseram ser "um desígnio nacional". Se queriam fazer o Euro 2004, pois que o fizessem! Não eram precisos tantos estádios! Lembram-me muito a reclamada regionalização e os TGVs. Os autarcas querem a regionalização e cada um deles quer ter o seu TGV a passar à sua porta. Como, dirão os mais incrédulos? Fácil na clarividente e iluminada cabeça que dá pelo nome de Jorge Coelho: o TGV Lisboa Porto ou Porto Lisboa vai satisfazer todos. Então é assim: um fará paragem em Santarém; outro, em Leiria; outro em Coimbra e outro em Aveiro. Entendido? Mente brilhante, esta!
Mas voltando aos estádios e ao futebol, a humilhação que a agora falida Grécia não "nos" deu! Foi um desgostosinho gostoso! Apesar de uma certa megalomania de Pedro Santana Lopes, ele deu a oportunidade, ao Benfica e ao Sporting, de se fazer um único estádio para ambos, que seria, naturalmente, municipal. É certo que não insistiu muito mas, pelo menos, falou nisso. Honra lhe seja.
Mas já se fala por aí de organizar um campeonato do mundo! E até as Olimpíadas! Pobretes mas alegretes. Até quando?
O "pobretes e alegretes" levou-me até aqui. Não fico reconfortado mas é inevitável: "Lá vamos, cantando e rindo..."
Caros comentadores, por muito que se saiba - e sempre se soube ou, pelo menos, se duvidou muito -, o facto é que parece esquecido, com as dívidas amontoadas neste caldeirão nacional e os municípios a reclamar que alguém lhas pague que assim não aguentam. E só agora é que remodelamos as escolas, algumas a precisar há décadas!
Mas, caro António Viriato, houve muita gente, também do PSD, que falou contra, só que era pura heresia, não se esqueça de que na altura ainda eram vacas gordas, ou pelo menos parecia e o turismo, já se esqueceu do impulso tremendo que o Euro 2004 ia dar ao turismo? Hordas de delirantes de futebol, os estádios a abarrotar - tal como os comboios o futuro - e nós a facturar.. É assim, só depois do mal feito é que se vê a desgraça, não serve de nada ter razão antes de tempo, como é que se ia provar tamanha insensatez? E, como vê, não mudou nada de substancial, a não ser a dimensão da dívida, coisa pouca, ao que parece.
Cara Susana Toscano
O EURO 2004 foi sufragado pela maioria da época, a relativa e a outra ( a do futebol).
Bem ou mal, teremos de arcar com essa responsabilidade.
Dito isto, dois reparos:
a) Não vale a pena buscar de quem é a responsabilidade, sem apresentar soluções e retirar as consequências.
b) Pelo afirmado na alínea a), é um suicídio político e económico candidatarmos-nos à co organização de um Mundial; como o é, também, impedir soluções radicais, (como seja a implosão dos estádios), porque os interesses instalados não suportam que os erros sejam publicitados em praça pública.
Cumprimentos
joão
Relação confirma envolvimento de Ricardo Rodrigues com "gang internacional"
Já alguém reparou que este Ricardo é o deputado do PS que acaba de ser nomeado pelo parlamento para integrar o Conselho Nacional de Informações? É máximo de desrespeito do parlamento pelos Portugueses.
Já não chegava o Lopes da Mota no eurojuste, agora é o "ricardino ganguista" nas secretas.
São coerentes!
Apesar dos tempos que se adivinham, ficam aqui os votos de um Boam Ano Novo a todos, sobretudo com muita, muita saúde!
Tendo a concordar com o joao no seu duplo comentario. Muita gente do PSD este contra, outra tanta entusiasticamente a favor. Tal como tenho de honestamente reconhecer que seria muito dificil naquele tempo e naquela conjuntura, perante a possibilidade de Portugal organizar um evento que nenhum Pais despreza, deixar de aplicar dinheiro nas infraestruturas. De resto, algum se recuperou com a dinamizacao de alguns sectores, embora acredite que as receitas geradas tenham ficado muito aquem dos custos, quer dos contemporaneos quer sobretudo dos que se projectam no futuro.
Creio que o caso permitiria aprender duas importantes licoes se as quisessemos ou soubessemos tirar. A primeira sera a licao da imprudencia que foi exagerar no numero de estadios e sobretudo a cedencia aos localismos. Os estadios de Aveiro, Leiria e Algarve nao eram necessarios mas a ideia de que investir em Lisboa e no Porto teria de encontrar equilibrio no investimento naqueles estadios revelou-se desastrosa. A segunda licao: sai caro, sai muito caro esta ideia de que alguem no futuro pagara os devaneios do presente. Esta nao faz definitivamente escola entre nos...
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