Juiz-Conselheiro Presidente do STJ na tomada de posse do cargo:
"A comunicação social portuguesa beneficia e, simultaneamente, comparticipa do centralismo de poderes, típico no nosso país. Daí que, salvo uma única excepção na imprensa escrita, tudo o resto se localiza no mesmo espaço metropolitano, com o mesmo conjunto de actores comentando as mesmas notícias e transmitindo para o resto do território opiniões nuclearmente formatadas"
E disse mais, sabendo bem o que estas suas palavras vão convocar, o que só abona pela coragem de quem as proferiu:
Aquilo que "era impensável há décadas é hoje um acontecimento banal: jornalistas transformados em comentadores vão-se revezando no tratamento repetitivo do assunto que estiver na ordem do dia, expulsando cada vez mais os especialistas da matéria".
O meu aplauso.
"A comunicação social portuguesa beneficia e, simultaneamente, comparticipa do centralismo de poderes, típico no nosso país. Daí que, salvo uma única excepção na imprensa escrita, tudo o resto se localiza no mesmo espaço metropolitano, com o mesmo conjunto de actores comentando as mesmas notícias e transmitindo para o resto do território opiniões nuclearmente formatadas"
E disse mais, sabendo bem o que estas suas palavras vão convocar, o que só abona pela coragem de quem as proferiu:
Aquilo que "era impensável há décadas é hoje um acontecimento banal: jornalistas transformados em comentadores vão-se revezando no tratamento repetitivo do assunto que estiver na ordem do dia, expulsando cada vez mais os especialistas da matéria".
O meu aplauso.
16 comentários:
Caro Ferreira de Almeida:
É para dizer que mais vale tarde do que nunca. Contudo, o Presidente do STJ não descobriu a pólvora. Dezenas e dezenas de vezes o temos dito aqui no 4R.
Os mesmos comentadores, os mesmos analistas, os mesmos jornalistas, os mesmos "pensadores", os mesmos entrevistados de sempre. As mesmas ideias velhas, a mesma ideologia gasta, o mesmo apoio ao indefensável, o mesmo seguidismo às posições oficiais. Só por excepção há uma brisa de ar fresco, mas logo apagada. E quem sai da norma é visto como um extra-terrestre!...
Infelizmente não é só no jornalismo, também é na Administração Pública, cada vez mais se vai criando a cultura do currículo da treta, recheado quanto baste, depois para fazer alguém há-de saber...
...Mas tem razão o caro Drº Pinho Cardão, já por mais de uma vez este tipo de jornalismo "copy paste" foi aqui aflorado, provavelmente o Srº Presidente do STJ é leitor do que aqui no 4R se vai debitando...
O meu aplauso também. Mas foi preciso que a Justiça estivesse na berlinda para que os sininhos tocassem a rebate e merecesse destaque.
A “classe” dos comentadores, jornalistas, especialistas, etc. pertence à classe elitista, um grupo de (salvo raras excepções) “convencidos”, que estão sempre prontos a mostrar os seus vastos e diversos conhecimentos – muitas vezes em áreas em que, obviamente, não brilham, mas que, não obstante, ali estão a dar o seu parecer de peritos! Não há mesmo hipótese para os “novos”!
Consideremos o campo literário. Quem são os “best-sellers”?
Um novo escritor ou uma nova escritora, por muito bom(boa) que seja, terá muita dificultade em lançar os seus livros. Falta-lhe os contactos. Não pertence à classe. É pena. Portugal tem muitos talentos ainda por descobrir...
Fico com a sensação que as palavras do Senhor Conselheiro resolveu endereçar ao país a propósito dos jornalistas, não estão desligadas de um certo taticismo provocado por acontecimentos recentes envolvendo o aparelho judicial e, particularmente, o Senhor Conselheiro.
Não sei meu caro Eduardo F.. Certo é que, independentemente da motivação, ficam ditas, são corajosas, certeiras e pena tenho eu que não sejam ditas mais vezes por pessoas com a visibilidade do Presidente do STJ, muitas vezes por falta de coragem perante o mais agressivo dos poderes que em nome de uma liberdade fundamental (a de informação) tem procurado, como diz o Dr. Noronha do Nascimento, formatar. Ora, formatação nada tem que ver com liberdade...
Quererá o Sr. Presidente do STJ dizer que os jornalista é que não deixam a justiça funcionar?
Não seria mais das competências do presidente do STJ falar da miséria que é o trabalho (pelo menos pelo lado dos resultados) de quem trabalha na justiça?
Mas é mais fácil arranjar um inimigo externo.
Se não consigo controlar os meus funcionários quanto às fugas ao segredo de justiça, então vou mandar controlar os outros. A velha história de matar o mensageiro.
Por isso, não posso receber com aplauso este discurso. Pelo contrário, é para mim muito triste. E estranho mesmo esta unanimidade de aplauso, desculpem-me. Para mim foi mesmo uma vergonha, mais uma.
É que já estou cansado de ver toda a gente a dar palpites de como resolver os problemas dos outros. A parte que lhe cabe é que mais complicado!
Por graça costumo dizer que os problemas do país se resolviam todos se todos mudassem de profissão, a julgar pela assertividade com que o sapateiro fala dos problemas da informática, do informático dos problemas da justiça, do juís dos problemas da imprensa, etc, etc, etc.
Meu caro SC:
Não posso estar mais de acordo com o seu último parágrafo.
Quanto ao resto, respeito naturalmente a opinião que expressa, mas não li nem retiro das palavras do Conselheiro o sentido e alcance que lhes dá.
Mas a liberdade é isso mesmo. Cada um de nós fazer os juizos que entenda sobre o que vê, sobre o que lê, sobre os factos da vida. O contrário disso é a mediação manipuladora a que se referia - penso eu - o Dr. Noronha do Nascimento, a que se dedica a maioria dos órgãos de comunicação que dão guarida ao exército de analista e comentadores que chegam ao ponto de se comentarem uns aos outros numa espiral patética. Estará em causa tudo o que disse sobre o sistema de justiça. Mas o significado do discurso vai muito para além disso. Pelo menos assim o entendi.
Caro Ferreira de Almeida,
Eu não estou em desacordo com a análise que o Senhor Presidente do Supremo fez, antes pelo contrário.
Mas,
1. Nada do que disse é novidade, nem na forma, nem no conteúdo. Aqui mesmo, quer nos posts quer nos comentários, já inúmeras vezes vimos escritas aquelas ideias, porventura melhor e com maior profundidade.
2. O assunto é um problema geral da sociedade portuguesa e não é específico da justiça. Manifesta-se também na justiça, naturalmente. Mas não é exclusivo da justiça.
3. A justiça não pode alegar que se sente prisioneira desta disfunção. A Justiça nunca o será, se Ela, Independente, Soberana, Inimputável e Definitiva, não for capaz de viver por cima dessas "balelas". Mas, para isso, tem que ter Qualidade. E só a terá se os seus principais agentes a tiverem.
4. O Presidente do STJ não se limitou a "alertar" para esta questão. Ele também "palpitou" sobre a solução (ia para dizer teve o desplante para palpitar mas esta forma retórica já não se aplica em Portugal).
5. A Justiça tem problemas demais, seus e só seus, que não dizem respeito a mais "ninguém". E que só a Justiça pode resolver. É desses problemas, e do programa que tem para os atacar, que eu espero ver um presidente falar na sua tomada de posse.
6. Se um dia o Presidente da República (portuguesa), na sua tomada de posse, falar dos problemas do Brasil e de como os brasileiros os devem resolver (foi exactamente isto que o presidente do STJ fez) nenhum de nós vai gostar. Eu, por mim, fazia novas eleições no dia seguinte.
7. O que é natural (certo?)é cada um falar, em acto oficial, daquilo que é a sua responsabilidade. Falar de outra coisa, mesmo que verdade, de forma inteligente e em momento oportuno (tenho muitas dúvidas que o caso em apreço preencha qualquer destas condições!) é desviar as atenções. Logo, um atestado de impotência (incompetência?) para as funções que desempenha.
Por isso, não sou capaz de apludir, só consigo indignar-me!
Boa noite caríssimo e mui estimado Ferreira de Almeida, estranho o aplauso a tais palavras vindo de um dos bloggers, de um dos blogues, que mais aprecio ler.
Preciso de desenvolver?...
Se o quiser, meu caro cmonteiro. Sabe como aprecio os seus comentários, em especial os menos lacónicos. Normalmente abrem campo a uma saudável discussão.
Na realidade, não há muito a desenvolver; a aversão - ou pelo menos alguma antipatia - do meu caro aos comentadores é incompreensível para mim, dado que o meu caro Ferreira de Almeida é um dos meus "comentadores" favoritos, e nem tenho que pagar para o ler, com a vantagem adicional que até podemos interagir.
Só existem comentadores se existir uma audiência interessada. E parece que há.
Obrigado, meu caro cmonteiro. As suas palavras lisonjeiam-me. Mas o meu Amigo exagera manifestamente no valor e no alcance das minhas análises e dos meus comentários, que são mais uma espécie de desabafo que outra coisa.
Mas voltando ao discurso do sr. Conselheiro, não é destes fazedores de opinião que se ocupa. Tanto quanto entendi, o Presidente do STJ referia-se a detentores de um verdadeiro poder - desregulado, sem limites e insidicável -, como é a comunicação social. De meros intermediários entre os factos e destinatários da notícia, evoluíram para interpretes da realidade, substituindo a objectividade da notícia pela notícia segundo a visão do seu autor. Não são nuncios dos factos, como era suposto, são os criadores ou se quiser, os recriadores dos factos que noticiam. A nova geração dos chamados "papas" da comunicação social - como lhe chamava uma jornalista que trabalhou comigo em tempos - não dão a notícia. Têm a pretensão de fazer a notícia, para depois a comentar e analisar. Nunca assistiu a este fenómeno? Há vários programas, em especial nos chamados canais noticiosos em que a coisa aparece clarinha como água. Os factos que chegam ao público pouco têm que ver com o que acontece, mas sim com o que estes "papas" dizem que acontece. E sim, normalmente sob um pré-determinado formato com diz Noronha do Nascimento.
Compreendido. Concordo, se bem que nos dias que correm, nesse capitulo da pura invenção e maledicência tenho mais a recear na blogosfera do que dos jornais. Estes últimos têm uma morada, e sabe-se quem são.
Sim, mas a blogosfera desse ponto de vista é quase inofensiva. Não tem, nem nada que se pareça, a capacidade de "formatação" da TV ou mesmo dos jornais e da rádio.
Além de que o acesso à blogosfera impõe a intervenção do consumidor. Enquanto os analistas entram-nos pela porta a dentro, às vezes sob as formas mais rebuscadas, disfarçadas de programas de humor, de cronismo ou outras menos prováveis.
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