Não sei se estarei a perceber bem o que se passa, mas quem é que acredita que a Grécia, ou outro País qualquer a quem sejam exigidos juros mirabolantes para obterem novos empréstimos para pagarem dívidas que contrairam quando os juros eram perto de zero por cento, possa alguma vez vir a pagar semelhante dívida? Melhor dizendo, quem é que pode, seriamente, esperar esse milagre? A Grécia submeteu-se a um programa de recuperação financeira determinado pelas instâncias internacionais competentes e entrou em recessão. Apesar da violência das medidas financeiras e fiscais, não conseguiu diminuir o defice, que entretanto vai sendo sobrecarregado por juros crescentes e por novas necessidades de empréstimos que são cada vez mais exigentes. Ou seja, aumenta a dívida, diminui a riqueza produzida, aumentam os juros para conseguir os empréstimos que obviamente não vai conseguir pagar e todos gritam que a Grécia vai entrar em bancarrota, como se fosse possível que não entrasse. Este processo e as reacções espantadas e conclusões que vamos ouvindo lembra a velha piada da mosca, a que um cientista resolveu ir tirando as patas para estudar o mecanismo que permitia ao animal voar. Tirou as primeiras e disse-lhe “voa!”, e a mosca voou. Tirou outras e disse-lhe “voa!” e ela voou, menos bem, mas voou. Tirou as últimas e ordenou-lhe “voa!” e ela ficou quieta. Gritou-lhe mais alto voa!!” e ela, muito quieta. E ele escreveu no seu relatório “quando se tiram todas as patas a uma mosca, o animal fica surdo!”
19 comentários:
É isso mesmo, Suzana.
O problema é que não se submeteu ao programa. Disse que se submeteu. E já ninguém acredita que os outros lhes continuem a dar dinheiro para que eles façam que fazem.
A bancarrota da Grécia há muito que era anunciada e, discretamente, o que o governo Alemão foi fazendo foi empurrar o problema com a barriga até a exposição dos seus bancos à dívida Alemã baixar para níveis comportaveis por forma a que a implosão da Grécia não arraste o sistema bancário Alemão, nesse momento já com uma exposição a niveis comportaveis para o governo local. Notícias deste fim de semana mostram que o que era discreto já não o é.
Se já nem os Alemães são propriamente discretos como é que alguém pode imaginar que a Grécia não vai cair na bancarrota?
Num outro registo, quando as barbas do vizinho vires a arder...
Suazana
Quando as taxas de juro atingem os 100% o que é que se pode esperar?
Caro Zuricher,
É irrelevante a exposição dos bancos alemães aos gregos para o problema. A questão é que a exposição aos húngaros, que estão expostos aos gregos, aos checos, que estão expostos aos húngaros, do italianos, que estão expostos aos russos que estão expostos aos búlgaros que estão expostos aos húngaros e aos gregos e aos checos....
E ainda não começamos a falar dos efeitos psicológicos em que para tudo o que há para parar e vamos juntar ao bolo os franceses, os italianos, os espanhóis, etc.
Até os alemães entendem que não há saída que não a saída de salvar a Grécia. O problema é que os gregos também já perceberam isso e estão a fazer ronha.
Caro Tonibler, até parece que está a falar da globalização ;)
Há uma coisa que não compreendo, provavelmente por causa dos meus fracos conhecimentos de economia e da nula sabedoria de finanças: Se bem percebo, desde o início do programa de ajuda da troika que a Grécia não recorre ao mercado financeiro ou pelo menos não recorre em escala apreciável, como acontece com Portugal. Até ao fim do programa de resgate, todo o financiamento é assegurado pelo FMI + BCE + UE, desde que a Grécia cumpra determinadas condições. Se é assim, as taxas mirabolantes a que os títulos de dívida da Grécia são transaccionados são, de certeza, os do mercado secundário. Portanto a Grécia não paga juros exorbitantes, paga os que contratou ao vender os títulos. O problema não estará portanto em a Grécia não ser capaz de pagar os juros altíssimos, está em ser capaz de cumprir ou não as medidas impostas, pois se não as cumprir terá de tentar voltar ao mercado e neste, embora mercado primário, as taxas são influenciadas pelo que se passa no secundário. Outra questão, mas que não se põe imediatamente, é que mesmo que cumpra tudo, quando o programa chegar ao seu termo, lá terá de ir ao mercado e então, embora cumpridora, é provável que os investidores não estejam muito dispostos a emprestar a juros compatíveis com as debilitadas possibilidades gregas. Gostava muito que alguém me dissesse se eu estou errado, ou se estão os que se assustam tanto com as taxas.
Caro Andrade,
Está certo. A única coisa que está em causa é se o estado grego cumpre com as metas e o problema é quem, aparentemente, nem tentam. O que faz pensar quem está no mercado secundário que há dezenas de coisas melhores para ter na mão que obrigações do estado grego(e não da Grécia). Enquanto o BCE for servindo sustento à "euribor grega" os "mercados" não interessam para nada(agora parecia o M. Soares).
Quanto à outra questão. Os bancos não deixam de me emprestar dinheiro apesar de eu ser um pelintra. Desde que pague e tenha uma dívida compatível com a minha capacidade produtiva (que são as duas coisas comparáveis, não ouça os economistas neste aspecto!), então estamos bem. Quando o estado grego voltar aos mercados, se ainda houver estados independentes na UE, é só isso que vai estar em causa. A Grécia não está, nem vai estar debilitada. Não deixa de ser um dos maiores destinos turísticos do mundo, nem deixa de ser um potência comercial em muitos aspectos e isso não muda com a dívida do estado grego.
Penso que um terceiro membro desta equação, não está (e este por surdez absoluta) a ser tomado em consideração, e que é, do meu ponto de vista, a aptência do povo Grego, para se imolar e esperar com esse acto, renascer das cinzas.
Eles não se deixam dominar pelo poder económico, mas pretendem usufruir daquilo que o poder económico lhes pode proporcionar. Porque eles são descendentes de filósofos e foram já os senhores absolutos de toda a orla mediterrânica.
Do mesmo modo, nós, povo herdeiros de navegadores, senhores absolutos nos 5 continentes, lutamos subreptíciamente contra esse domínio, mas fingimos-nos subjugados, evocando amiúde, mentalmente, a ladaínha "enquanto o pau vai no ar, folgam as costas".
Os Irlandeses, descendentes dos bárbaros Viking, invasores da Europa do norte, descobridores da green-land, armam-se do martelo de Thor e daqueles capacetes com cornos, emborcam meia-dúzia de baldes de uma cerveja intragável e só para fazer ver aos que usam kilt e bebem scotch, lá vão dando umas marteladas no aço e compondo desse modo o ramalhete.
Por isso, caríssimos amigos, o deutch bank, não podia ter escolhido melhor, os toxico-económico-dependentes...
Pois meus caros amigos... eu alinho com a Suíça.
Penso que estão, os alemães em particular, a brincar com o fogo... grego. Os gregos, não são como os portugueses, nem como os irlandeses e as coisas podem mesmo acabar num conflito. E quando digo conflito, não estou meramente a designar uma divergência de opinião, estou a referir-me ao recurso à violência armada.
Se a Grécia entrar em bancarrota, este cenário tem mais de 50% de probabilidades de ocorrer e como calculam é um bocado aborrecido, a vários níveis; desde logo porque põe em causa o principal motivo que está na génese de toda a construção europeia. Esse princípio é o de evitar a ocorrência de conflitos armados em território europeu.
Por outro lado, aventarem a hipótese de expulsarem a Grécia da zona euro, tem o seu lado engraçado. Não estou a ver como é que poderão fazer isso sem ser à bruta, visto não existirem mecanismos legais para o fazer. É que esta cena da zona euro, em particular, e da UE, em geral, é um bocado tipo Hotel California. Entra-se mas não se sai, porque não estão previstos mecanismos para denunciar os tratados (e muito menos para expulsar um Estado-membro).
Ao longo da história, sempre existiram 3 grandes motivos pelos quais se faz a guerra: território, recursos e mulheres (sim, sim, podem rir-se à vontade, mas é verdade). O dinheiro (ou a falta dele)é um recurso, logo é um motivo legítimo para o conflito e o principal instigador é um Estado com características epirocratas, que padece de um complexo de cerco e que - por essa razão - tende a ser dominante.
Sinceramente, a continuarem neste rumo a coisa vai acabar mal para todos.
Cara Anthrax, refere-se a guerra entre a Grécia e algum outro país ou guerra civil na Grécia?
Camarada Anthrax,
Por defeito semi-profissional tenho uma enorme aversão a atribuição de valores de probabilidade. Não existe uma probabilidade de 0.5 da Grécia entrar em bancarrota, isso não corresponde minimamente à verdade.
Ora aí está, cara Anthrax!
O que nos leva a concluir que afinal, a mosca grega, pode até ser surda, mas a mosca alemã, é seguramente cega.
Caro Zuricher,
Um conflito armado interno, pode muito rapidamente sair para fora das suas fronteiras. As vagas revolucionárias do século XIX começaram assim.
Para se chegar a uma situação de conflito armado entre 2 (ou mais) Estados, seria preciso que as relações entre os 2 se degradassem bastante (se bem que a ideia de se expulsar um Estado-membro de algum sitio, sem mecanismos previstos para o fazer, parece-me degradação suficiente)e numa situação dessas ainda haveria um outro elemento a considerar, que é o facto de os Estados em questão pertencerem à NATO.
Imaginando que isso poderia vir a acontecer, tal colocaria a NATO numa situação um tanto ou quanto estranha. Por outro lado, mesmo colocando o cenário de guerra civil (na Grécia) a situação continuaria a ser estranha, exactamente, porque estamos a falar de um Estado membro da NATO.
Por isso, quando tudo se põe a agoirar a falência da Grécia eu fico arrepiada porque as consequências de uma coisa dessas, são muito mais graves do que à partida se pensa e assim de repente, eu não estou a ver nenhum caso de um Estado falido que não tenha entrado em guerra civil.
Camarada Tóni, eu torço para que a Grécia não vá à falência.
Amigo Bartolomeu, a mosca alemã é a mosca alemã. Tem as manias de grandeza do costume e a única outra mosca com poder suficiente para a contra-balançar, não faz parte da zona euro.
Cara Anthrax, sinceramente, Guerra Civil na Grécia, problema dos Gregos. Sempre defendi a não ingerencia em guerras civis e mantenho a posição.
Quanto a instabilidade na Europa, claro que existirá e alguns países voltarão a regimes totalitários, não tenho qualquer dúvida. Mas isto com bancarrota Grega ou sem ela. É que a alternativa é vários países (Portugal incluído) passarem a ser satélites Alemães, algo que também não é aceite pelas populações.
Guerra na Europa, guerra mesmo entre países, é algo que não me surpreende, de todo. Será consequência normal da grande guerra global que se avizinha. E nisto tudo a NATO fica realmente numa posição estranha se é que a não tem já. Quando havia o inimigo comum várias outras coisas, vários interesses nacionais, subalternizavam-se ao combate a esse inimigo comum. Com o fim desse assunto o que anteriormente estava em segundo plano voltou ao palco principal e daí ser normal e natural que o desenrolar de vários aspectos possa levar a guerra no continente a médio prazo.
Fiiigo! E eu que achava que tinha uma visão pessimista!
Caro Zuricher, exposto dessa forma parece que voltámos às velhinhas polítiquices europeias no seu melhor. :)
Eu ainda espero que as coisas corram bem e que a situação grega não seja um catalisador para algo pior. Mas há muita gente a ficar tensa e impaciente.
Querida Anthrax (posso, não posso?), a minha visão para Portugal, a Europa e o Mundo começou a formar-se ao longo da primeira metade da década passada. Infelizmente o passar do tempo não me tem levado a alterar a análise e, se alguma coisa, tem levado é a reforça-la. De onde vejo, sempre apontei a guerra em grande escala para algures entre 2012 e 2015. Aliás, sempre a tive como certa desde o exacto momento em que o Irão iniciou o seu desenvolvimento armamentistico e em particular o programa nuclear. Agora mais os eventos no Egipto e em particular a Turquia também a atirar gasolina ao fogo. No que toca à Europa, claro, cada país falará e agirá de acordo com os seus interesses. O que se passou aquando do início da guerra no Iraque deveria ter servido de aviso quanto a estas coisas mas infelizmente não serviu. E, enfim, o que se passou no caso do Iraque foi apenas o evento mais visivel e mediático mas tem havido milhentos ao longo dos anos em que cada país faz o que quer e bem lhe apetece.
Enfim, por mais que tente não consigo ver algo distinto...
De certa forma, sem armas de guerra, é certo, mas já estamos a viver um conflito bastante sério e não se vê quem possa ou saiba atalhar a situação. Os gregos vão á frente, são os mais vulneráveis, por enquanto, mas também se dizia, ainda há bem pouco tempo, que não haveria "contágios" da situação financeira e depois viu-se.Pode ser que o caro Tonibler tenha razão e não seja mesmo possível deixar "cair" os gregos, mas o bluff parece muíto sério e, sobretudo, não se vê o fim à vista.
Meus caros, o que aconteceu com a grande depressão de 1929?
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