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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Pela diferença mínima ...

Manuel Caldeira Cabral, professor de economia da Universidade do Minho, tem sido apresentado como o homem que António Costa escolheu para estudar as propostas do PS na área da economia e finanças e, penso eu, municiar o lider do PS com argumentos que permitam perceber a diferença entre as propostas do PS e as políticas da coligação no poder. Vem aparecendo como o sempre útil académico, que usa a sua auréola de sábio contra as tenebrosas políticas da não menos tenebrosa direita neoliberal. O professor Caldeira Cabral, na sua dupla qualidade de sábio e conselheiro daquele que já todos anunciam como futuro PM, deu uma entrevista a Maria João Avilez, reproduzida no Observador e que pode ser lida aqui. Entrevista que, apesar de ter passado despercebida, é muito significativa do estado da arte da oposição que quer ser governo.
Registo, em primeiro lugar, o estilo. E o estilo revela uma curiosa ingenuidade de quem provavelmente não se apercebeu que a política, esta política dos políticos desta república, não é feita de verdade e esbarra, sem dó nem piedade, com a realidade.
Vejamos o que de nu e cru, mas sobretudo surpreendente, revelou Caldeira Cabral, revelações imputáveis ao lider da oposição, que de resto não as desmentiu ou veio corrigir. 
Entre muitas coisas interessantes - que cada leitor apreciará de acordo com o seu interesse ou sensibilidade - veio louvar as cautelas e moderação do PS e do seu líder em relação às políticas futuras, muito em especial quanto à política financeira do Estado. Afirma, por exemplo, que  PS segue a linha de uma consolidação orçamental "clarissima" a médio prazo, cedendo no propósito no curto prazo, pois no curto prazo admite e propugna "uma pequena oscilação no déficite". Não quantificou a pequenez, e seria importante conhecê-la na sua concreta dimensão, atentos os limites impostos de fora e a que Portugal está vinculado. Mas adiante. Tudo lido e ponderado, creio que Caldeira Cabral me quis dizer, em nome e representação do PS, que é tudo, pois, uma questão de escala e prazo. Curto ou médio, pequeno ou nem tanto. A pergunta que tal declaração suscita é intuitiva e foi-lhe dirigida. Então e que diferença existe entre essa proposta e a política do governo? A resposta é que foi inesperada, pois, como antes disse, não estava à espera de aparecer alguém com ambições políticas mas que se recusa a enganar a realidade: “É só ligeiramente diferente, nesse aspeto, mas é importante: pode evitar aumentos substanciais de desemprego e pode ter efeito na retoma do investimento”, diz o economista, professor na Universidade do Minho. Ou seja, o PS, pelo menos nesta fase, só tem propostas ligeiramente diferentes dos tenebrosos neoliberais no governo. Mas esta curta diferença faz, pelos vistos, toda a diferença. Afinal, meu caro Dr. Tavares Moreira, bem vistas as coisas os seus "crescimentistas" contentam-se com pouco...

3 comentários:

Pinho Cardão disse...

A bondade intrínseca, a elegância de modo e de processos e a suprema ironia do meu amigo José Mário Ferreira de Almeida ficaram, mais uma vez, abundantemente espelhadas no fino humor texto.
Já tenho ouvido o Professor Caldeira Cabral várias vezes, em simpósios, conferências e similares. Nunca consegui saber o que pensa, como pensa, qual a política, qual o objectivo, quais os meios, qual a diferença.
O Professor Caldeira é uma verdadeira caldeira de ementas mornas, muito misturadas e remexidas, sem sal e sem gosto, incapazes de serem servidas, quanto mais apreciadas.
Ementas que não são peixe, nem carne, talvez mais uma açorda insípida sem coentros.
Aquilo dá para tudo. Diz que é diferente, para realçar a importância. Mas diminui de imediato o impacto, já que tal diferença pode ser o que quer que seja, tudo e mais alguma coisa. Mas, ao dizer pode, pode estar a dizer não pode. Ou pode zero.
Enfim, sinal dos tempos: voltamos ao mundo dos oráculos, que quanto mais misteriosamente falam mais são ouvidos. O mundo é deles: Sampaio da Nóvoa, Costa, Caldeira Cabral.
Só que vão nus.

Tavares Moreira disse...

Caro Ferreira de Almeida,

Por alguma razão as sondagens sobre intenções de voto dos lusos estão ficando pouco agradáveis para as bandas do Crescimentismo...e quem sabe se não é por causa destas indefinições...
Podem estar a precisar de syriziar o discurso, com urgência!

Suzana Toscano disse...

Também ouvi uma entrevista na rádio e confesso que fiquei muito confusa....