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domingo, 4 de dezembro de 2016

Conivência com as ditaduras

Paradoxo é que uma imprensa como a nossa, e particularmente as televisões, tão ciosas, e bem, da sua liberdade de expressão, tenham passado os últimos dias em evocações, longas e laudatórias,  a um sanguinário ditador que, durante décadas, nunca permitiu qualquer liberdade à comunicação social do seu país, censurando tudo e todos e sancionando quaisquer desvios, por mais pequenos e inócuos que fossem. Um tirano que martirizou o seu povo foi erigido pela comunicação social, pelos seus comentadores escolhidos a dedo, e pelo teor das reportagens santificadoras do tirano, a líder carismático, patriota, estadista, farol da humanidade. 
Mas  não é de estranhar tal paradoxo. É que a nossa comunicação social, com as excepções da praxe que só confirmam a regra, é mesmo isso, uma comunicação social a soldo de ideologias que não podiam deixar de aproveitar a oportunidade da morte de Fidel Castro para mostrar o seu pendor e retrato.
E, nesta onda de permissividade das ditaduras de esquerda, também não é de estranhar o voto da Assembleia da República, de pesar pela morte e de louvor pela figura. Mas é de todo inadmissível e intolerável que um partido como o PSD tenha obrigado os seus deputados a absterem-se na votação. Lavar as mãos neste caso é uma conivência com uma tirania feroz que levava à letra o lema: na dúvida, mata-se...

23 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pinho Cardão, conquanto concorde com o seu comentário, parece-me haver um acrescento que é de saudar. Não me refiro apenas à comunicação social Portuguesa até porque o único meio que efectivamente sigo em Portugal é o Observador embora, acordar, olhe para as gordas do Público online. Refiro-me principalmente aos media internacionais em geral. Notou-se uma cobertura muito diferente agora com a morte do barbudo em relação a eventos similares anteriores. Desta vez viu-se pelo mundo fora um reportar também de Fidel ser um ditador, da opressão que levou a Cuba, da miséria e falta de evolução da ilha em relação à vizinhança e tutti quanti. É uma evolução em relação a tempos recentes em que se erigia essa gente à categória de herói coberto de aura divina. Vejo este ponto como muito positivo. Que, por fim!, os ídolos sinistros da sinistra estejam a ser um pouco mais chamados a prestar contas pelas tropelias que levaram a cabo. Não é ainda o pragmatismo que pratico e defendo. Mas é um passo, um grande passo, no sentido certo.

Uma notinha sobre o seu último parágrafo. Evidentemente concordo plenamente consigo na acepção do quão errado esteve o PSD ao abster-se na votação do tal voto de pesar. O PSD esteve francamente mal. Infelizmente parece estar a tornar-se um hábito...

José Domingos disse...

O PSD está prisioneiro dos aventais, Passos Coelho é um líder a prazo, até que mandem avançar Rui Rio, o candidato do PS ao PSD, gerando um partido do centrão, que por sua vez, controla o aparelho de estado, e como é tristemente sabido, quem controla o estado, pode-se perpetuar no
poder.
O PSD nunca foi um partido de direita, embora convenha apelidá-lo disso. Entretanto o jornalixo nacional vai batendo palminhas, com os comissários políticos, nas redacções a censurar o que não interessa.
Estamos no bom caminho, limitando-se o zé povinho a pagar para este circo, com figurantes cada vez mais caros.

Bartolomeu disse...

Sei com certeza, que a maioria dos que leres este comentário discordarão do que vou escrever.
A Europa começa a tender para a esquerda!
Não porque os partidos de esquerda estejam a ganhar a simpatia das populações, mas porque os governos de direita e as pressões emanadas dos governos dos países mais ricos, as desiludem, as asfixia e lhes mostra a cada dia,um futuro mais negro.
Talvez o rastilho tenha partido da Grécia e o braço de ferro que manteve com a Alemanha, tenha feito muita gente (quiça os ingleses também) perceber que a UE, no modelo actual de "governação" não serve os ideais que deram origem à sua criação, transformou-se numa fraude e pior, num carrasco para os países com uma economia mais débil.
Neste congresso da CDU, notou-se que os dirigentes do partido já deram por este fenómeno e ganharam "gás", convencidos muito provavelmente, que chegou a sua oportunidade de vir a ser governo.
Não creio que esse desejo possa vir a realizar-se. Os portugueses não se esqueceram ainda dos primeiros governos comunistas pós 25 de Abril e os resultados que deles se retiraram.
O CDU de hoje é incomparável ao de então, mas a memória daqueles tempos mantém-se viva.

luis barreiro disse...

A Europa começa a tender para a esquerda!
Em França o parlamento aprovou o voto de condenação pelo regime repressivo para com os opositores cubanos.

Bartolomeu disse...

E na Bélgica (sede do PE)?
E em Itália?
E em Espanha?
E em França?
E na Holanda?

Asam disse...

Caro Pinho Cardão
Inteiramente de acordo. Vergonhoso para qualquer partido democrático e defensor da liberdade.

Asam disse...

A nao ser que fosse um louvor ao seu espírito empreendedor socialista/comunista.

http://www.infobae.com/america/america-latina/2016/11/27/la-fortuna-que-cosecho-fidel-castro-segun-la-revista-forbes/

É tudo uma questao de justiça social.

Carlos Sério disse...

"martirizou o seu povo".
Viu-se bem nas televisões o "repúdio" do povo nas ruas a essa "tirania".

Asam disse...

Sobre o assassino fidel:
http://www.theclinic.cl/2010/06/26/carta-de-un-cubano-en-chile/

e o que coloquei noutro post e repito:
O que fidel disse acerca do comunismo em 59 (nao tenho a fonte):

"El comunismo es una dictadura de clase, y yo he luchado toda mi vida contra las dictaduras. Por eso no soy comunista. El comunismo predica el odio de clases, la lucha de clases, y yo estoy contra de eso. No se puede confiar en los comunistas".

Como nao conseguiu o apoio dos EUA virou-se para a uniao sovietica. Ironias do destino, seria adorado por milhoes de comunistas fora de Cuba.
Outra ironia é o guevara que alimenta a industria capitalista.

Podia colocar aqui muito mais, mas seria fomentar a preguiça

Asam disse...

E para quem nao gostar do hitler uma história com algum humor:

http://c-ponto.blogspot.pt/2016/12/achtung-baby.html

SLGS disse...

Carlos Sério, estou a lembrar-me dos Norte Coreanos, chorando desalmadamente aquando da morte do seu "querido" líder. Também me lembro do povo anónimo que, dias antes do 25 de Abril 1974, beijava e adulava Marcelo Caetano, onde quer que ele passasse. E não falo dos que endeusaram Hitler e Estaline. A inconstância das massas, nada mais do que isso!

Carlos Sério disse...

"Também me lembro do povo anónimo que, dias antes do 25 de Abril 1974, beijava e adulava Marcelo Caetano onde quer que ele passasse"
O meu caro SLGS para falar assim porventura ainda não era nascido em 1974 e fala de cor.

Comparar as imagens que vieram dos norte coreanos com aquelas que que se vêm em Cuba não lembra ao diabo.

Pinho Cardão disse...

Pronto, o tirano era um democrata, não assassinou, não tiranizou, não foi, de forma nenhuma, um ditador. Não prendeu ninguém por ter opiniões diversas, a informação era livre, nunca permitiu que,na dúvida, se matasse de imediato e a sangue frio. Todos almejavam esse paraíso. O último paraíso terreal.
Estaline, para milhões, continua também a ser o farol da democracia. E Hitler. E muitos outros, dos kmers vermelhos ao grande e amado líder.

Asam disse...

No tempo do Salazar havia manifestações de apoio. Salazar dizia: "Obrigado meu povo" e alguns diziam "obrigados nós".


Mais alguns dados, entre outros que podia indicar, para fechar este tema porque me enoja.

1º Cuba é um dos paraísos de sexo infantil há mais de 20 anos
Algumas fontes:
http://www.miamiherald.com/latest-news/article1948284.html
http://media.elnuevoherald.com/smedia/2013/03/08/18/11/65hAf.So.84.pdf

2º Cuba fez parte de uma rede de tráfico de droga
http://www.revistabula.com/1305-pacto-cuba-traficantes-cocaina/

3º Hospitais em Cuba:
http://www.latinamericanstudies.org/cuba/health-myth.htm
http://www.therealcuba.com/?page_id=77

4º Cuba não tem imprensa livre - óbvio - Parece que há quem gostasse que assim
que assim fosse por cá!

5º Cuba antes de um assassino substituir outro era dos mais desenvolvidos da América
O Livro Negro de Cuba – Repórteres Sem Fronteiras

6º Fidel nunca recebeu um voto em eleições livres
etc.
etc.

Pinho Cardão disse...

Caro Alberto Sampaio:
Trata-se de algo tão nítido que até dói como há quem não queira ver e, pior, queira deitar poeira para os olhos dos outros.

Caro Zuricher:

Tem razão no que diz. Quanto ao Observador, é uma das tais raras excepções na nossa imprensa e não é um órgão de massas. As televisões, sim, e aí passaram horas e horas a endeusar o homem.

Caro SLGS:
Mas há quem não queira ver...

Rui Fonseca disse...


Acontece com alguma frequência ao meu perclaro e muito estimado amigo António PC zangar-se com os jornalistas que abusam da sua paciência escrevendo ou transmitindo em doses enjoativas notícias, geralmente tragédias porque as boas notícias vendem-se pouco, que exploram até ao tutano. A tragédia do Chapecoense é apenas o caso mais recente desta degustação do horror servida em doses infindas.

Percebo-lhe bem a indignação mas parece-me que lhe falta algum tempero.
Os jornalistas são produtores de serviços que colocam à disposição da apetência dos seus clientes. Sem clientes com apetite para os produtos apresentados seriam obrigados a mudar de mercado.
Podemos concordar ou discordar mas não podemos negar-lhe a liberdade de usar o sentido de negócio em contrapartida da nossa liberdade de não os ler, ouvir ou ver. É o que eu faço sempre que o artigo não me atrai.

Conheço muitos fulanos que mamam da Sport tv de manhã à noite e muita senhora e cavalheiro que podem perder tudo menos meia dúzia de telenovelas diárias. Por que não? Posso não gabar-lhes os gostos mas não posso negar-lhes o direito de os terem.

A propósito, recordo-me da história de um tipo bem apanhado que alimentava o cão com sopas de cavalo cansado.

- E não lhe faz cair o pelo?, perguntava um
- E não lhe arruína o fígado?, queria saber outro
- E não lhe tolda o faro nem a vista?, estranhava um terceiro

- Porquê sopas de cavalo cansado e não aquilo que os cães costumam comer?, perguntou o mais cientista dos perguntadores
- Porque este cão do que gosta mesmo é de sopas de cavalo cansado.


É assim, penso eu, que pensam os jornalistas, colunistas, comentadores e outros com ofícios afins.

Bartolomeu disse...

Chapelada, Rui Fonseca!
Afinal, ainda há quem entenda o significado da palavra liberdade!

Pinho Cardão disse...

Caro Rui Fonseca:
Encurtando razões. Não duvidas, por certo, que eu sou um defensor da economia de mercado e da liberdade de escolha. Acontece, todavia, que existem leis democráticas a que a informação, num estado de direito, se deve submeter. E uma delas consiste no dever de não fazer a apologia de ditaduras e de ditadores. Ora, nas horas e horas que as televisões e rádios gastaram com o tema Fidel nas páginas da imprensa escrita o que predominantemente perpassava era o elogio do ditador e da ditadura cubana, quer através das reportagens feitas a gosto e a medida, quer através da redacção da notícia e também dos comentários dos pivots e pensadores arregimentados.
Portanto, caro Rui, há que distinguir as coisas.
Por outro lado, e do ponto de vista mais genérico em matéria de media, eu distingo entre aqueles que não escondem a sua opção por conteúdos que lhes proporcionam as mais largas audiências, com o objectivo de arrecadar receitas custe o que custar, daqueles que se assumem e querem ser vistos como media de referência, rigorosos na informação e na programação geral, cumpridores das normais legais e dos princípios de deontologia que tanto apregoam. Se para os primeiros a informação é um produto para vender como qualquer outro, já para os segundos a qualidade, a verdade, a precisão, deve ser o critério. Acontece, non entanto, que razões ideológicas levam a subverter por completo os princípios que tanto apregoam, com toda a complacência, senão iniciativa, dos seus responsáveis.
Caro Rui, como não se podem vender medicamentos adulterados, também é intolerável uma informação adulterada e laudatória de ditadores e ditaduras. O que se diria se Pinochet fosse tratado de tal forma? De facto, a esquerda lava tudo e branqueia por completos as suas ditaduras!...

Caro Bartolomeu:
De facto, há; e há também quem não entende. E, lamentavelmente, muitos entendem que a liberdade se estende a poder matar e torturar.

Bartolomeu disse...

Não era de matar e torturar que se comentava, caro Dr. Pinho Cardão.
Era sim da náusea e do enjoo que causam a insistência de um e de outro lado, de defensores e de opositores de concordantes e discordantes.
Pelo menos, foi assim que entendi... Algo que se auto-excluísse de "uma democracia de qualidade".
Já agora, a título de curiosidade, permita-me que lhe pergunte: No período de tempo que exerceu as funções de administrador na RTP, devo presumir que todos os jornalistas se enquadravam no figurino que desenhou; eram todos: "...daqueles que se assumem e querem ser vistos como media de referência, rigorosos na informação e na programação geral, cumpridores das normais legais e dos princípios de deontologia..."?

SLGS disse...

Meu caro Carlos Sério, este "jovem" que, segundo o meu amigo, ainda não deveria ser nascido em 25 de Abril, tem 72 anos e viu muitas coisas que o meu caro nem sequer sonha. Aproveito também para lhe dizer que em 25 de Abril de 1974 era Capitão Miliciano (não Capitão de Abril, embora de acordo com o movimento) a cumprir Serviço Militar no Norte de Moçambique (Niassa) e também aí viu e viveu muitas coisas que lhe não passam pela cabeça, por exemplo ver cair de um dia para o outro "heróis" da véspera, voltarmos as costas a quem nos apoiou, etc. etc. etc...
Quanto à comparação do que se passou na Coreia do Norte com o que se passou em Cuba, digo-lhe: foram encenações com coreografia diferente. Nada mais do que isso.
Ainda lhe digo, se duvida das manifestações pró Marcelo Caetano, como eu as descrevi, vá aos arquivos da RTP e aí terá boa prova.

Pinho Cardão disse...

Caro Bartolomeu:
Lamentavelmente, nem todos, o que dificultava o trabalho das direcções que se enquadravam nesse figurino. De qualquer forma, a qualidade informação era bem melhor do que a de hoje. Nesse tempo,os telejornais tinham meia-hora, e havia que seleccionar o que era verdadeiramente importante. O Dr. Cunha Rego, com quem estive na RTP, era ele o Presidente , foi o primeiro a procurar que a informação se regesse pelo rigor, pela seriedade, pela objectividade e pela isenção. E sofria muito quando havia desvios a essa orientação. Uma vez, desagradado com a forma como a informação foi dada, desabafou assim comigo:
-Está a ver isto? E está a ver que que eu pouco posso fazer, não tenho poder nenhum...
-É o Presidente do CA, tem, disse eu.
-Não, não tenho, que o poder é poder admitir e demitir e na informação não podemos nem admitir, nem demitir. Provavelmente, demito-me eu, se não conseguir a informação séria em que me revejo.
E tinha toda a razão. Passados uns meses, já com novo Presidente, um jornalista foi alvo de processo disciplinar e demitido com justa causa. E o que aconteceu? A Assembleia da República aprovou um indulto, ou amnistia, ou coisa semelhante, não sei bem a natureza da figura jurídica, que tinha como único beneficiário o sujeito em causa. Que, naturalmente, teve que ser readmitido.
Por curiosidade, e era geral em toda a Europa, não havia directos de manifestações partidárias, e entradas em directo só em casos excepcionais e respeitantes apenas ao 1º Ministro e PR. A primeira estação que começou nessa onda foi a francesa, no início dos anos 80, com os directos das entradas triunfantes de Mitterrand nos comícios do partido socialista francês, em campanha eleitoral. Foi um escândalo. Na propaganda, os socialistas andam sempre à frente...
Mas olhe, caro Bartolomeu, apesar das dificuldades (o PREC ainda estava próximo, tal como o censor Saramago no DN) tomaram os portugueses ter agora a qualidade da informação (conteúdo, não técnica, agora incomparavelmente melhor) que tiveram no tempo em que eu lá estive, digo no tempo, porque nunca tive qualquer responsabilidade directa nessa área.

Pinho Cardão disse...

Caro SLGS:
Tem toda a razão!

Bartolomeu disse...

Pronto, caro DR. Pinho Cardão!
Ai está o quê e o porquê da questão que lhe coloquei.
Demonstrado ainda pela resposta que obteve do Dr. Cunha Rego que conheci pessoalmente mas melhor, ao filho e à nora.
O jornalismo é assim mesmo, tanto por formação como por deformação do modo de desempenhar a profissão. De certo modo, um sacerdócio. Tal como há bons e maus padres, uns que se dedicam a ministrar os preceitos religiosos, a pregar a bondade e o amor pelo próximo, e outros que fazem daquilo um negócio e praticam os actos mais escabrosos, no entanto, todos colegas de profissão.