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quinta-feira, 16 de junho de 2005

A “farmacolização” do vinho.


Vinho ou fármaco?


Há muitos anos começaram a surgir evidências de que o vinho e outras bebidas alcoólicas poderiam ter um efeito protector cardiovascular. De facto, a presença de algumas substâncias, tais como os polifenóis e o resveratrol, poderão explicar parte daqueles efeitos.
A divulgação reiterada desse papel atingiu e continua a atingir todas as pessoas. Ainda bem, porque a informação nunca fez mal a ninguém, desde que seja transformada em conhecimento. Só que esta última transformação não é nada fácil.
A forma como, por vezes, se faz a informação pode ser perigosa, ao acabar por legitimar ou, mesmo, incentivar o consumo de bebidas alcoólicas.
Há muito para fazer no combate ao flagelo do alcoolismo. Tentar moderar o consumo do álcool é a única solução.
Hoje, ao ler um jornal, não fiquei surpreendido com a notícia de que “os produtores vitivinícolas de Vila Nova de Foz Côa vão conhecer os benefícios na prevenção das doenças cardiovasculares e os seus efeitos anticancerígenos numa iniciativa da cooperativa para promover a qualidade”.
Aqui está uma tentativa de “medicalização” do vinho. A meu ver, errada. Até porque só vão falar dos efeitos benéficos, “esquecendo-se” dos efeitos negativos que, mesmo nos consumidores moderados, podem ser muito graves.
O vinho sabe bem, faz parte da nossa cultura, simboliza parte do nosso hedonismo, deve ser ingerido com regra, até pode ser benéfico em termos de saúde, mas daí a “farmacolizá-lo” é um perfeito disparate.
Na mesma linha andam os produtores de cerveja e, qualquer dia, até a ginjinha passa à categoria de genérico (mas com “elas”), isto para não falar do vinho do Porto ou do clássico cordial…

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