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segunda-feira, 16 de outubro de 2006

"Procriação, educação e evolução "...

Os alemães procuram soluções para um "grave" problema que atinge muitos povos do mundo desenvolvido: a redução da taxa de fertilidade. As medidas de protecção familiar e estímulos económicos, que foram tomadas até ao momento, não conseguiram travar a descida. Agora, aprovaram o chamado "salário parental", que consiste no recebimento de 67% do vencimento, durante doze meses por parte de um dos cônjuges, desde que fique em casa. Se os pais alternarem durante seis meses ainda têm mais dois meses de bónus. O tecto deste "prémio de produtividade" é de 1.800 euros mensais e substitui a actual bonificação de 300 euros concedida durante os primeiros dois anos. Há ainda mais algumas particularidades: no caso de "produzirem" um novo filho nos 36 meses seguintes ao nascimento, têm mais uma bonificação. E os estímulos não ficam por aqui!
Apesar de ter havido concordância entre as principais forças políticas, mesmo assim, os conservadores do partido democrata-cristão continuam a afirmar que a mulher ideal deveria manter-se fiel à velha trilogia dos "3K" (Küche, Kinder, Kirche), "casa (cozinha), filhos e igreja". Evidentemente que as mulheres não vão nessa conversa. Até a actual chanceler, que em tempos foi uma acérrima defensora de que as mulheres deveriam, essencialmente, dedicar-se a criar os filhos, não deve partilhar desta opinião. Basta olhar para a sua ministra da Família que tem sete filhos.
As razões da diminuição da taxa de fecundidade são múltiplas. A par de darem prioridade às suas carreiras, terem filhos mais tarde e cada vez menos, adiciona-se um novo: cerca de metade das licenciadas germânicas não querem ter filhos! É verdade. Não querem ter filhos, porque "isso" equivaleria a renunciar às suas carreiras e liberdade. No mínimo, devemos considerar esta atitude como uma forma de egoísmo levado ao extremo, até, porque uma das maiores ambições de um ser humano é "produzir descendência", satisfazendo uma necessidade imposta pela espécie, além do privilégio em desfrutar uma experiência única, criar e educar um filho.
A confirmar-se este achado, poderemos estar perante um "atentado" contra um dos mais poderosos argumentos darwinianos! Será que a cultura, o bem-estar, a riqueza e o não "querer chatices" com os filhos têm mais força que o impulso da maternidade?
Tenho muitas dúvidas se as novas condições aprovadas na Alemanha conseguirão comprar a "falta de patriotismo" dos seus cidadãos em matéria de natalidade, e, caso consigam, os seus meninos, que nestas circunstâncias deverão ser considerados mais como um "brinde" do que a expressão de um desejo, vão ter dificuldades em encontrarem creches, já que não abundam, inexplicavelmente, neste país, apontando para a existência de uma pressão para que as mães fiquem em casa.
Portugal apresenta, igualmente, uma das taxas de fecundidade das mais baixas do mundo, e não goza, nem de perto nem de longe, do nível cultural e do bem-estar daquele povo. Também não vejo incentivos daquele cariz, porque se os houvesse ainda poderiam originar o aparecimento de uma nova classe, os procriadores profissionais!
Caso ocorresse um fenómeno de desenvolvimento semelhante ao alemão – o que não é muito provável – acabaríamos de deixar de procriar? Não se sabe. De qualquer modo, existem muitos povos que, continuando a obedecer às regras evolutivas, são capazes de virem a ocupar os nichos demográficos vazios, e sem ser à maneira de Vila de Rei!
Se um dia os braquicefálicos eslavos, os amarelinhos, ou os pobres negros africanos ocuparem os territórios dos que conseguiram neutralizar a força da paternidade e da maternidade graças a um desígnio hedonístico, não previsto em termos de evolução, então, passaremos, quem sabe, à categoria de "os nossos antepassados", verdadeiras curiosidades antropológicas...

2 comentários:

Antonio Almeida Felizes disse...

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Excelente texto.

O ... Regionalização
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Anónimo disse...

Sempre a aprender com os escritos do meu Ex.mo Amigo!