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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ecologia fetal

Se me perguntarem qual é a representação mais bela da espécie humana respondo de imediato: - Uma grávida! Porquê? Por muitos motivos. O principal de todos é a forma orgulhosa com que transportam o globo da vida nas suas entranhas. Se olharmos para a face de uma grávida é difícil não vislumbrar, na maioria dos casos, uma sensação de felicidade, única, que só se revela daquela maneira durante este período. Orgulho, felicidade e também beleza. De facto é impossível não encontrar traços de beleza nas mulheres prenhas, eu, pelo menos, encontro-a sempre que esbarro com uma. Surpreendo-me com a facilidade com que me obrigam a parar e a olhá-las.
Gerar uma criança tem muito que se lhe diga. O feto não é apenas uma expressão da lotaria genética decorrente da contribuição dos progenitores. É muito mais do que isso, e o seu futuro depende de uma ecologia própria, a que poderia chamar ecologia fetal. A mãe transporta um mundo em si própria e influencia o feto de várias maneiras. Conhecer essas influências é determinante para a saúde e bem-estar do futuro ser humano. Mais tarde os adultos poderão vir a sofrer de muitas maleitas, grande parte delas atribuídas aos seus hábitos, comportamentos e exposições ambiental e profissional. No entanto, ultimamente, avolumam-se evidências de que a saúde futura dos novos indivíduos depende, também, e em larga medida, do que aconteceu e do que não aconteceu durante a gestação. A ecologia fetal é uma realidade ao ponto de poder explicar muitas coisas que irão ocorrer mais tarde. As alterações fisiológicas e comportamentais das grávidas, a exposição a poluentes do meio ambiente, as carências alimentares, o papel de muitas substâncias tóxicas utilizadas pela mãe, assim como o próprio estado de espírito, contribuirão, de forma decisiva, para uma maior ou menor sensibilização a inúmeras patologias no futuro. A diabetes gravídica, a obesidade materna, a não ingestão de certos nutrientes, a exposição ambiental geral ou no local do trabalho são determinantes ao ponto de a criança, ao chegar a adulto, poder correr mais riscos de diabetes, obesidade, doença cardíaca, cancro, depressão e outras doenças mentais graves. O conhecimento nestas áreas é muito importante porque permite a sua transformação em direitos que impeçam ou previnem muitas patologias. O problema é saber quando é que estes conhecimentos irão ser transformados em direitos da criança e do futuro adulto, porque esbarramos, para já, com múltiplos interesses, a maioria de natureza económica. Há aqui um conflito que mais tarde terá de ser resolvido, porque mais cedo é impossível devido ao enorme poder da política e da economia.
Olhar para uma grávida é olhar para um ser humano que orgulhosamente transporta um mundo novo. É preciso protegê-la e respeitá-la. É preciso que se criem condições para que as mulheres possam engravidar mais cedo, com intenção, e não por descuido, que sintam orgulho na sua espécie e que contribuam com seres mais saudáveis através de um comportamento adequado. Mas é preciso obrigar a sociedade a proteger, também, o novo ser, evitando exposições a tóxicos ambientais e criando condições para que as gravidezes decorram sem sobressaltos, sem pressões de qualquer natureza, financeira, profissional e ambiental. A instabilidade social, económica e política, aliadas à poluição crescente de origem diversa, ao adiamento da maternidade e ao futuro incerto transmitem-se ao feto através da mãe condicionando o futuro dos novos seres em termos de felicidade e de doenças. Há que tomar em conta tão importantes aspetos. A saúde dos futuros cidadãos e cidadãs assim o exige.

2 comentários:

Catarina disse...

Esse mundo a que o caro Prof se refere seria o ideal para as grávidas, mas esse mundo nem nos países supostamente mais ricos e evoluídos existe. Mesmo que o acompanhamento médico seja de excelente qualidade e de acessibilidade fácil, mesmo que os conhecimentos de como manter uma gravidez saudável lhes seja transmitido, as grávidas (tal como qualquer outro cidadão ou cidadã) estarão sempre sujeitas aos condicionalismos que menciona aos quais nunca poderão fugir. Para além disso, caro Prof, o facto das mulheres, por questões de carreira e autonomia (não necessariamente associadas a problemas financeiros) terem filhos mais tarde, por assim o desejarem, (a média não é de 30 anos?) não terá impacto na saúde da criança (para além dos riscos durante a própria gravidez)?

Catarina disse...

Por me ter referido a cidadão e cidadã (tal como o caro Prof) recordei-me daquele caso em que um homem (?) americano teve um filho e estava “grávido” outra vez. Não sei se já teve a criança ou não. Não tenho acompanhado a sua gravidez. : )
Uma pergunta, caro Prof: esta “pessoa” pode ser considerado “homem” ou é “mulher” ainda com aspecto masculino?