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domingo, 5 de junho de 2011

Lições de vida...

Fui logo pela manhã votar e ajudar a votar. Foi uma manhã bastante gratificante. Fui acompanhar uma senhora amiga que tem 84 anos ao local de voto. É uma senhora que tem grandes dificuldades de mobilidade. A meio da semana telefonou-me para me dizer que gostava de ir votar, que apesar de estar doente, o dever chamava-a. Não queria ficar em casa, como das outras vezes, a ver na televisão as pessoas importantes a votar, sem se rever no dia de hoje, votando também. Pediu-me se a poderia ir buscar a casa e levá-la a votar. Fique descansada, disse-me ela, vamos cedo, pelo fresco da manhã, ainda há pouca gente, que não é coisa para demorar muito tempo, numa manifestação de quem tem na sua ideia que tudo funciona muito bem.
Lá fomos. De facto os locais eleitorais não estão preparados para as pessoas idosas com problemas de mobilidade, nem para as pessoas doentes. São as distâncias grandes até às secções de voto, com muitas escadas no exterior e dentro dos pavilhões, são as rampas, o sobe e desce próprio de uma escola onde se respira juventude e saúde. Mas não são apenas as barreiras físicas. As barreiras humanas são facilmente apanhadas. É nítida a falta de uma presença humana para acompanhar e orientar estas pessoas, nada está organizado em função delas. Não admira que estejam perdidas no meio de um mundo automatizado, feito para quem está na plenitude das suas faculdades. Pensei, como poderia a minha amiga exercer o voto. De facto, sozinha não o poderia fazer.
Já estávamos de saída e encontrei uma senhora meia perdida, desorientada, com o andar muito dificultado, amparada numa canadiana, de óculos escuros porque a visão já era pouca e a luz não ajudava. Prontifiquei-me para a ajudar. Tinha 87 anos, sem família em Lisboa, a viver numa residencial do outro lado da cidade. Tinha saído de casa pelas 8h da manhã, porque o caminho era longo, com três autocarros para apanhar, do Chile até Benfica. Fiquei espantada com a sua vitalidade de vida, apesar de grandes contrariedades e barreiras, a debilidade física, a falta de ajuda e a solidão. Perguntei-lhe porque razão não tinha alterado o local de voto, se já tinha ido à junta de freguesia, ao que me respondeu que era muito complicado, era muita a burocracia, e depois ainda tinha esperança de voltar ao bairro de Benfica onde tinha vivido parte da sua vida. Tinha saudades da sua casinha. Mas logo me declarou, eu sou da Covilhã, é para lá que quero ir. Disse-me, com aquela sabedoria das pessoas de idade, que estava emigrada por uns tempos. Sorrimos, como que sabendo as duas que os sonhos também são alimento.
Dois exemplos de cidadania, dois casos que nos ajudam a estimar e respeitar as pessoas idosas e a compreender os seus anseios e, também, a perceber que a nossa sociedade se tem esquecido delas, que vivem rodeadas de muitas adversidades. Não querem desistir, contam com a sua vontade e a força da resistência, querem alcançar o dito mundo automatizado…

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Ora aí estão dois belos exemplos de solideriedade e de amor pelo próximo!
Hmmm?
Não, peço desculpa mas, referia-me às duas Senhoras idosas.
Ambas as Senhoras, ofereceram à cara Drª Margarida, duas preciosas formas de entender a vida e o sentido que lhe está reservado.
;)
E como já são conhecidos os resultados eleitorais, aqui ficam as minhas felicitações ao PSD e aos seus membros.
Agora, é preciso que o partido consiga gerir a vitória, tão bem ou melhor que geriu a campanha.

Tavares Moreira disse...

Gesto admirável, Margarida!
Mais um importante crédito a registar, para reforço do imenso saldo positivo que o seu lado humano contabiliza!
Só peço que me releve a utilização de linguagem algo contabilística num plano em que se aprecia, em 1º lugar, a grandeza da alma!