Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Euro em colapso? Será exagero, mas sinais estranhos de desconforto acumulam-se...

1.Alan Greespan afirmou hoje que o Euro estará a entrar em colapso, ecoando, com especial ressonância, uma opinião muito popular do outro lado do Atlântico acerca de um futuro pouco auspicioso da zona Euro.
2.Embora considerando (eventualmente) excessiva a opinião de Greenspan, tenho a noção de que a moeda única europeia chegou a um ponto crítico a partir do qual se torna muito arriscado definir cenários para os meses mais próximos, já nem digo anos...
3.Vêm estas considerações a propósito de um bizarro negócio que parece ter sido já ajustado entre a Finlândia e a Grécia para que a primeira aceite participar no segundo programa de ajuda à segunda, genericamente acordado na cimeira europeia de 21 de Julho último.
4.Segundo esse negócio, a Grécia prestará à Finlândia uma caução especial, de € 500 milhões ao que consta, para viabilizar a participação da Finlândia no programa de ajuda, sob a forma de depósito numa “escrow account” que assim garantirá, exclusivamente a favor da Finlândia, o cumprimento das obrigações da Grécia no âmbito do dito programa...
5.Mas isto configura benefício para um credor apenas, situação absolutamente atípica e moralmente contestável, nomeadamente neste caso em que um conjunto de credores soberanos se une para prestar apoio a um dos membros do grupo que se encontra em extremas dificuldades financeiras...
6.O que parece extraordinário é o facto de este negócio, segundo consta, ter sido já alvitrado na dita cimeira de 21 de Julho sem que ninguém na altura tivesse levantado objecções – provavelmente ninguém se terá apercebido dos contornos extravagantes do mesmo...
7.Mas agora, que os contornos se tornaram conhecidos, levantou-se um coro de protestos por parte de outros países credores, com destaque para a Holanda que afirma querer igual tratamento sem o que não participará na ajuda à Grécia...
8.Mas a Finlândia já fez saber que, caso este acordo seja rejeitado por outros países, não será parte no programa de ajuda...
9.Este “súbito” imbróglio mais um - se não for ultrapassado rapidamente, é susceptível de bloquear a aprovação do programa de ajuda, atirando a Grécia, mais cedo do que se podia supor, para as águas revoltas do incumprimento da sua dívida pública...
10....E lançando novamente a confusão no seio do Euro, com as taxas de juro da dívida dos países em maior dificuldade a subirem de novo para patamares alucinantes...
11.Greespan pode estar a exagerar, admito que sim, mas antevê-se um Setembro muito agitado na zona Euro se este imbróglio não for urgentemente resolvido...e os sinais de desconforto vão-se acumulando...

14 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Como alguém dizia, fazer previsões, especialmente sobre o futuro, é uma actividade muito arriscada. Não obstante, como ontem escrevi por aqui, mantenho que o default português é inevitável (e o grego, o espanhol,...)

O colapso do euro que Greenspan anuncia funda-se na improbabilidade do ECB, via Bundesbank, prosseguir um programa de inundação de nova moeda à mesma escala que a Fed vem fazendo e vai continuar a fazer. Por isso, no video, Greenspan diz que os EUA nunca entrarão em default (nominalmente falando). Basta que ponham as rotativas a funcionar a toda a velocidade. A inflação subsequente tratará do resto (do default real).

Tonibler disse...

Granda bronca... Pois, assim vai ser difícil e nem imagino como é que isto se desfaz. E nem imagino melhor aplicação para a expressão "...mandam putos às compras e depois...". Que bronca...

Jorge Oliveira disse...

Dá ideia de que quem deveria sair do euro seria a Finlândia...

MM disse...

Receio bem que, nao tarda, haja uma corrida aos depósitos e transferência para paraísos fiscais e/ou outras moedas.

Anónimo disse...

O problema da Europa é, antes de mais, político. À mediocridade das lideranças soma-se não já a incompreensão de que a união se tinha de fazer pelo reconhecimento das diferenças entre os Estados mas sobretudo os sinais de desagregação que esta atitude da Finlândia traduz, com a complacência dos demais. Pode ser que seja exagerada a visão de Greespan, mas que é legítimo que do outro lado do atlântico se interpretem as coisas como ele as interpreta, lá isso é.

Anthrax disse...

Olá olá :))

Bem sei que tenho estado caladinha mas tenho estado a seguir os posts e os comentários com atenção, e a esforçar-me para perceber o que querem dizer quando começam a ficar tecnicamente densos.

Para além disso, presumo que sabem que só contribuo para a discussão quando tenho alguma coisa - olimpicamente - esparveirada para dizer. É o caso.

Mas antes, queria dizer uma coisita ao comentador Jorge Oliveira: Isso é uma coisa que os finlandeses estão a pensar, seriamente, em fazer e para o qual têm 100% do apoio da população. Relativamente a este assunto, eles não querem continuar a ajudar os Estados em dificuldades (e caso venham a ser chamados para o fazer novamente, vai haver uma séria oposição), porque têm a noção clara de que esse dinheiro é para sustentar os bancos e isto eles não aceitam. Para eles, ajudar as pessoas é uma coisa. Sustentar o sector bancário é outra completamente diferente. Por isso sim, a saída do euro (e da U.E) é algo que é discutida na sociedade finlandesa como uma eventual possibilidade.

Caro JMFA, estou plenamente de acordo consigo. Nem vou acrescentar nada.

Quanto ao resto e no seguimento do comentário do Eduardo F. epá... Vocês conhecem a profecia Maia (dos maias, não da astróloga:S)?

A profecia Maia diz que; os maias acreditavam, que a partir do ano 1999 AD a humanidade teria 13 anos para reconhecer os seus próprios padrões de autodestruição. Assim mundo - tal como é conhecido actualmente - sofrerá uma mudança absoluta no dia 21/12/2012. Diz também, que todas as nossas vidas serão testadas e que apenas aqueles mais em sintonia com o seu lado espiritual sobreviverão. Eles não são específicos quanto à natureza do desastre, apenas se refere que pode ser um desastre natural, ou um desastre causado pelo homem mas, que atirará o mundo civilizado de volta ao tempo da pedra lascada... bom... talvez um pouquinho mais à frente.

Bom, quanto ao resto do mundo, eu não sei, mas no que respeita a nós - portuguesinhos - estamos a regredir a olhos vistos e até ao final deste ano, estou convicta que pelo andar da carruagem, deveremos chegar - pelo menos - às condições de vida da alta idade média.

Por outro lado, os alemães e os franceses conseguiram fazer, através da economia, aquilo que o Hitler e o Napoleão nunca conseguiram fazer através das respectivas máquinas de guerra. Ou seja, dominar a Europa.

Tavares Moreira disse...

Caros Comentadores, de Eduardo F a Anthrax,

Registo, com imenso júbilo, a vossa valiosíssima contribuição para o debate aberto com este modesto Post...
Permitam-me que vos recorde que os problemas actuais da zona Euro são consequência de uma política inspirada nos costumes da avestruz, que prevaleceu aquando do advento do Euro e se prolongou até há 2 anos...
Toda a gente se convenceu ou auis convencer - os líderes da partida do Euro em 1º lugar - que a zona Euro tinha todas as condições para vingar, sabendo-se que não tinha.
Para que a zona Euro funcionasse com regularidade era indispensável pelo menos uma vigilância fortíssima sobre as políticas económicas e orçamentais dos estados-membros, especialmente daqueles que eram conhecidos por terem hábitos de vida e políticas incompatíveis com a convivência num sistema de moeda forte...
Ninguém quis saber, deixaram correr a procissão e agora, com desequilíbrios tão acentuados como aqueles que são exibidos pelas economias grega e portuguesa, por exemplo, vai ser difícil, muito difícil mesmo, encontrar uma solução de convívio estável nesta união monetária ...
Neste ponto da responsabilidade política, é pois necessário por os pontos nos iii...
Essa responsabilidade, muito mais do que dos actuais líderes europeus, pertence aqueles que foram líderes no advento do Euro e ao longo dos primeiros 10 anos da sua existência, que não se mostraram capazes de criar as condições para a sua subsistência estável...
Também me parece, na esteira da oportuna intervenção da Anthrax, que o maior problema começa a ser a hostilidade das opiniões públicas nacionais - na Finlândia, na Alemanha, na Holanda, na Austria, etc,etc - ao projecto do Euro e à necessidade de apoiar os países financeiramente mais recalcitrantes...
E essa hostitlidade será tanto maior quanto mais alto se ouvirem os cânticos dos europeístas literários - que por cá abundam, como sabemos - reclamando soluções europeias "fraternais" (que lhes permitam continuar a gastar sem fazer contas, entenda-se) como a da urgente necessidade da emissão de Eurobonds...

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, caros Amigos, estamos a assistir à implosão da moeda única (esperada desde o dia em que nasceu...) ou à implosão da União Europeia (algo também esperado)?

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

Não sou muito dado a interpretações catastrofistas ou apocalípticas, mas o facto de as taxas de juro da dívida grega no prazo de 2 anos terem esta manhã ultrapassado os 41%, dá mesmo muito que pensar...
Os investidores não acreditam, manifestamente, na capacidade de reembolso da Grécia, mesmo após a aprovação do 2º Programa de Ajuda...
Sobretudo agora que a Finlândia e a endividada Grécia arranjaram este bizarro negócio que pode colocar tudo em polvorosa novamente...

Tonibler disse...

Caro Zuricher, não haverá uma sem a outra e dificilmente se ficaria por aí.

Eu acho que estamos a assistir a algo mais definitivo e que me parece a única saída. O fim dos estados europeus. Mesmo que os estados entendam agora querer sair, os seus cidadãos não têm essa possibilidade e o estado tornou-se um peso na dinâmica que se criou. Mesmo que o estado entenda sair do Euro, o meu empréstimo à habitação é em euros e o banco vai cobrar-me euros como eu vou cobrar ao banco esses euros e os credores do banco estrangeiros vão cobrar euros. A parte fraca em tudo isto é mesmo a parte que se tornou inútil - o estado. E, se pensarmos bem, porque é que temos um estado português se a única coisa para que serve é chatear?? Portugal não morre por causa disso.

Suzana Toscano disse...

Caro tavares Moreira, no meio de tanto atarantamento,o que não veremos ainda...!

António Transtagano disse...

Ou muito me engano ou a culpa é do Sócrates, que anda agora em roda livre!

Que é feito do Presidente da Comissão Europeia? Andará à caça do ex-1º Ministro?

Anthrax disse...

Pois cá para mim, a culpa é mesmo é dos Maias.

A sorte deles é terem desaparecido do mapa há uns anitos largos, senão os americanos já tinham ordenado um ataque aéreo e lá ido bombardear-lhes as casitas, que era para não andarem a anunciar profecias parvas... bom e pelo caminho abarbatavam-se ao ouro, que hoje em dia tem uma boa cotação e os coitaditos também têm um problemazito com o défice.

Nós temos tanto azar que ninguém nos quer bombardear. Não é que seja preciso, porque somos perfeitamente capazes de dar conta do recado sozinhos, só que o reverso da medalha é não haver o esforço de reconstrução que, normalmente, se segue a estas coisas e implica os outros darem-nos, generosamente e a título solidário, o seu contributo financeiro para nos ajudarem a repor a ordem.

Meus amigos, conformem-se. Os Deuses conspiram contra nós, pese embora isso também não seja necessário dado que fazemos um bom serviço nessa área e com excelentes resultados.

Ó senhores, larguem-se de stresses. Andam muito tensos e é um verdadeiro disparate, porque nós elegemos um governo para ficar stressado por nós e para ter sincopes cardíacas e cabelos brancos, etc.

É difícil aceitar que durante anos andámos a viver numa ilusão de segurança e bem-estar, patrocinada pela Europa, por sucessivos governos e pelas instituições bancárias. É difícil aceitar que vamos ter por um estilo de vida mais simples e mais regrado. Mas o mais difícil de aceitar é a consciência de sabermos que não vai ser assim para todos e que a constante delapidação da classe média vai ter consequências desagradáveis.

Na minha óptica, e na gestão desta situação toda, o governo só está a cometer um único erro, que é achar que só porque tem uma maioria "absoluta" não cai. O problema, é que há tantas maneiras de se cair.

Vá não stressem. A culpa é dos Maias.

Tavares Moreira disse...

Cara Suzana,

Esteja certa de que ainda vamos ver muito, mas muito mais episódios rocambolescos, e já nas próxims semanas, com a Grécia em cima do fio da espada!

Cara Anthrax,

A ilustre comentadora ainda não reparou que este 4R, plataforma de fresca e desinibida troca de ideias, é mesmo um instrumento de combate ao stress?
Quanto aos erros do Governo, nesta sua análise encontro aquela nota de generosidade de que só o sexo feminino é capaz...
Se aquele que aponta como único erro fosse mesmo único, então teríamos um Governo quase sem mácula...será possível?!