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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Não vale tudo...

Escrito em Outubro de 2008:
(...) Considero, por isso, escandalosa e vergonhosa a decisão de transformar uma parte central da zona ribeirinha, mais precisamente Alcântara, num gigantesco porto de carga e descarga de contentores de mercadorias que irá ocupar 1,5 km de extensão, mandando embora para Santa Apolónia o actual terminal de cruzeiros considerado um ponto turístico de referência para os turistas que chegam e para os lisboetas que gostam de os apreciar. Porquê interromper a reabilitação paisagística que, embora muito lentamente, tem vindo a ser feita na zona ribeirinha devolvendo-a aos cidadãos? (...)

Valeu a pena o movimento popular que se insurgiu contra a mega construção do terminal de contentores de Alcântara. Depois de a Assembleia da República ter anulado o prolongamento do contrato de exploração do terminal celebrado entre o Governo e a Liscont, agora foi a vez do Ministério do Ambiente chumbar a expansão do terminal de contentores de Alcântara, depois de o estudo de impacte ambiental, entretanto realizado, considerar que “os impactes paisagísticos são negativos e muito significativos, afectando em permanência a qualidade visual e o equilíbrio da paisagem ribeirinha, envolvendo um grande número de utentes da cidade, residentes e turistas”.
Fiquei muito satisfeita com este desfecho. Espero que a zona ribeirinha continue a ser reabilitada e devolvida à Cidade, respeitando a sua beleza e potenciando a sua fruição enquanto espaço público...

18 comentários:

Anónimo disse...

Cara Margarida, esta questão toda do porto de Lisboa levantou vários ânimos e é perfeitamente compreensivel que assim seja. No entanto passou-se ao lado da questão principal tendo a discussão sido centrada nas questões da paisagem, do negócio com a Mota-Engil ser legal ou não, enfim, várias questões (às quais não nego relevância, note-se) mas que passam ao lado da questão fundamental e essa é se efectivamente se quer ter um porto comercial em Lisboa ou não. Sendo que a resposta a esta questão tem impactos na actividade produtiva da região. Já hoje em dia o porto de Lisboa tem um hinterland muito curto dado a sua capacidade esgotar-se com as necessidades existentes apenas na região de Lisboa, principalmente na parte norte do Rio. Ora, parece-me que o fulcro da questão é este: queremos ou não ter um porto comercial em Lisboa? Tanto o sim como o não têm impactos na atractibilidade de Lisboa para o investimento.

Bartolomeu disse...

Mas o caro Zuricher não acha que as margens do Tejo em Lisboa oferecem alternativas até mais cómodas e funcionais em termos de espaço e de vias rodoviárias e ferroviárias para escoamento e recpção das mercadorias, que Alcântara?
Eu coloco mais uma questão; que é saber até que ponto, o tráfego de mercadorias via marítima, justifica uma obra de fundo capaz de requalificar e adequar um espaço destinado a receber navios e cargas. Não sei se "quem manda" já pensou na viabilidade de um porto para cargas e descargas e um espaço separado para gestão e armazenamento de mercadorias.
A mim, parece-me uma solução razoável e capaz de conciliar estética com funcionalidade, em lugar de um porto, encostado a um amontuado de contentores ferrugentos, machucados, torcidos, etc.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Zuricher
A sua questão é totalmente pertinente. Não sei responder se o país precisa de um grande porto comercial. E provável que sim. Esta é a primeira pergunta. Se sim, coloca-se então a segunda questão de saber onde deve ser colocado o terminal. Porquê em Lisboa? As respostas a estas perguntas elementares nunca foram respondidas. Será que há estudos que analisam vários cenários e os respectivos impactos económicos e ambientais?

Caro Bartolomeu
O estudo de impacto ambiental que originou o chumbo da operação chama justamente a atenção para a necessidade de conjugar objectivos logísticos e económicos e preocupações ambientais e de qualidade de vida.

Anónimo disse...

Cara Margarida, não é o país, é a região de Lisboa. Se fosse uma questão nacional então para isso teríamos Sines. É uma questão específica mesmo da região de Lisboa.

Caro Bartolomeu, em termos de acessibilidades rodo e ferroviarias a zona de Alcântara não está nada má mas num outro capitulo, o da operação portuária em si, o movimento dos navios, não há outra melhor em toda a margem norte do Tejo e tenho dúvidas que alguma haja no lado sul embora o lado sul seja irrelevante dada a necessidade que imporia de se construirem acessibilidades rodo e ferroviarias de grande capacidade entre o porto no lado sul e a margem norte. Todas as localizações a montante, para manterem a sua utilidade permanente, requerem trabalhos custosos e permanentes de dragagem. Em vários casos dragagem até dos extensos percursos rio acima até serem alcançados. Há um terminal de contentores em Xabregas, até. Mas só a duras penas e muito dinheiro se poderia torna-lo acessivel para os mesmos navios que atracam em Alcântara.

Bartolomeu disse...

Não querendo ser teimoso e ir além da minha chinela, caro Zuricher, tenho a sensação de que a quase totalidade dos navios que transportam contentores, são de fundo chato, o que lhes permite navegar em águas pouco profundas.
Não quero dizer com isto, que qualquer localização escolhida para construção de um porto de cargas e descargas, a montante do Terreiro do Paço, não tivesse de sofrer trabalhos de desaçoreamento e de manutenção do mesmo, ou de uma infra-estructura que impedisse a acomulação de areias, lodos e outros sedimentos.
A zona de Xabregas, é a meu ver, a melhor localizada, na medida em que possui acessos directos às principais vias rodo e ferroviárias, aos terminais de carga e descarga do actual aeroporto e ao futuro, que será construído no deserto de "Jamais" e além do mais, é o local mais largo do estuário do Tejo.
Esta localização tem ainda a vantagem de eliminar o trânsito de pesados, das vias centrais da cidade.

Anónimo disse...

Caro Bartolomeu, navios de fundo chato usam-se apenas em portos, rios, lagos e outros similares de águas pouco movimentadas. Qualquer navio oceânico tem quilha, seja normal, seja hidrodinâmica, tem-na. Mas, repare, a quilha não é a única coisa que está debaixo de água. Dependendo do carregado que esteja um navio, a sua superestrutura está mais ou menos abaixo da linha de água e este é o factor primordial até na quota necessária para os fundos.

Bartolomeu disse...

Claro que sim, caro Zuricher, no entanto, não estamos a falar de petroleiros, não é verdade?!

Anónimo disse...

A maior ou menor subida ou descida do navio acima da linha de água consoante a carga não é um exclusivo dos graneleiros. É comum a todos os navios ou, em geral, a tudo o que flutue. Mas posso propor-lhe um exercício simples que pode fazer em casa. Agarre em meia casca de noz e ponha-a no lavatório cheio de água. Vá enchendo a meia casca com esferas de metal, pouco a pouco. Verificará que quanto mais esferas põe mais a casca afunda.

A titulo de exemplo e como ilustração duas fotografias que encontrei por aí do Emma Maersk:

http://motorfull.com/2006/09/emma-maersk-el-mayor-carguero-del-mundo - Aqui totalmente vazio. A linha encarnada delimita o ponto até onde pode estar a linha de água.

http://images.vesseltracker.com/images/vessels/midres/Emma-Maersk-363195.jpg - E aqui o mesmo navio carregado.

Bartolomeu disse...

Lamento, caro Zuricher, mas ainda não consegui atingir o seu ponto de vista.
Sei perfeitamente, sem ter de recorrer ao exercício infantil que propõe, que qualquer navio seja de transporte de mercadorias ou de passageiros, ou mesmo um barco de recreio, cala em função de um trinómio; superfície, peso e densidade do líquido onde flutua.
Dou-lhe quatro exemplos demonstrativos; um porta-contentores com a arqueção bruta de 15.800 tn dos que habitualmente escalam os portos nacionais, cala 7,50m, outro de 22.500 AB, cala 9,90m, mais um de 37.000, cala 12 m e ainda um de 150.000 tn de arquação bruta, cala 15,50m.
Não faço a menor ideia da profundidade mínima do leito do Tejo na zona de Xabregas, mas acredito que na pior das hipoteses, não ande longe do valor máximo que demonstrei.

Anónimo disse...

Caro Bartolomeu, peço desculpa se sentiu o meu post anterior como um exercício infantil. É velho hábito meu, quando escrevo em locais generalistas, tentar simplificar ao máximo o que escrevo evitando ao máximo recorrer a tecnicismos desnecessários, por um lado, e tentando ilustrar com exemplos muito simplezinhos, por outro.

Não considere a profundidade do leito do Tejo apenas no seu centro. Tem que considerar a quota nos corredores de acesso aos molhes e nos próprios molhes. No meio do rio não há problemas, de todo. Se a memória me não atraiçoa, a quota em Alcântara na baixa-mar é de -13m. E isto em Alcântara. Em Santa Apolónia, no terminal de cruzeiros, inferior a -10m sendo inferior a -7,5m nalguns pontos.

Bartolomeu disse...

Caro Zuricher;
Não tem nada que pedir desculpa, não entendi de forma ofensiva.
Esses valores que refere, desconheço-os. No entanto, provam que seria necessário, no caso de escolha daquele local, que fossem efectuadas obras de dragagem e de manutenção do leito. Nada que as actuais tecnologias não resolvam.
Outras de execução bem mais complicada têm sido levadas a cabo, por exemplo na Holanda e em condições excepcionalmente difíceis, tendo sido obtidos resultados excepcionais.

Anónimo disse...

Não é, de todo, uma questão de não ser possivel tecnicamente fazer-se. Em última análise com uma bateria de dragas em permanencia conseguia-se ter um molhe acostavel, contínuo, de Alcântara ao Parque das Nações com fundos de -20m... Isto assumindo que há areia até aí. Se for rocha então outros trabalhos são requeridos. O problema é o que custa e, note, custos permanentes, manter uma coisa dessas. Por isto é que Alcântara é uma localização previlegiada e, contando desde a foz, arrisco mesmo dizer que a mais acima possivel com viabilidade para localizar um porto de mercadorias.

Bartolomeu disse...

Não haveria necessidade da permanência dessas dragas, caro Zuricher.
Sabe com certeza que o açoreamento é fruto sazonal e fruto das escorrências das encostas para o leito, devido ao efeito das chuvas fortes, que provocam a erosão das margens, sobretudo se durante a época estival, ocorrerem muitos fogos nas margens do rio e seus afluentes.
Mas para além das dragas, existem outros recursos, como sejam, por exemplo a colocação de barreiras submersas, que desviam os sedimentos para zonas onde a corrente de fundo as arrasta para além da foz.

Bartolomeu disse...

Rect. O primeiro "fruto" deve ser podado...
;))))

Anónimo disse...

Bartolomeu, isso já não poderei dizer assim tão directamente. O assoreamento, a forma como acontece, o rumo percorrido pelos sedimentos, entre outras variaveis têm que ser estudadas caso a caso para determinar as operações necessárias à manutenção dos fundos nos valores de referência. Não é algo igual em todo o lado.

Sinceramente no Tejo não sei qual o padrão.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Zuricher, Caro Bartolomeu
Cheguei agora! Tenho a maior das dificuldades em entrar na conversa, pois não tenho base técnica para tamanha discussão.
Mas gostava de ter a opinião do nosso Caro Zuricher enquanto especialista sobre a solução que preconiza para Lisboa. Em termos ambientais a plataforma em Alcântara tal como projectada não é viável. Não faço ideia se a solução logística propriamente dita e os impactos económicos e outros eram defensáveis face a outras alternativas que não conheceram a luz do dia. Que estudos foram feitos, que alternativas foram consideradas e que análises de sensibilidade e de rendibilidade foram realizadas não sabemos.
Os aspectos jurídicos e legais constituem uma questão totalmente independente. Com efeito, a forma como foi prolongada a concessão existente não respeitou as regras estabelecidas da contratação pública. O princípio da transparência não foi observado.

Anónimo disse...

Cara Margarida, sinceramente, não vejo nenhum motivo para os motivos do chumbo ambiental, a questão paisagistica, serem relevantes o suficiente para inviabilizar o projecto. Lisboa tem sido cada vez mais virada para o rio, tem-se construído cada vez mais e mais estruturas que permitem fruir da água. É assim tão grave se 1km ficar sem vistas, sendo que já hoje em dia praticamente as não tem?

Tirar o terminal de contentores dali nem sequer considero, claro. Assumindo que precisa ser ampliado, pois não vejo outro sitio para onde o ampliar. Fazer o serviço de Lisboa pelos portos de Sines e Setubal, bem, é uma possibilidade. Encarece o transporte, claro e não tenhamos ilusões: aí estamos a falar inevitavelmente numa outra travessia ferroviaria do Tejo.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Zuricher
Têm sido feitos verdadeiros atentados na zona ribeirinha. Na minha modesta opinião o facto de muitos erros terem sido cometidos não pode nem deve aliviar a necessidade de preservar o que ainda resta. Isto é, aliás, válido para muitos outros domínios da cidade de Lisboa.