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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Anjo



Olho para o quadro e a imagem não deixa qualquer dúvida, se houvesse anjos teriam de ter aquele olhar, aquela expressão pura e tranquilizadora. Se me tivessem dito em pequeno que os anjos tinham estas feições eu acreditava.
Não me lembro quando comecei a saber o que eram anjos. Dominava poucas palavras e conceitos, sabia o que era ter fome, sono e medo, mas não compreendia o que eram os anjos. Apontavam lá para cima, a sua casa, mas eu só via o azul do céu ou, então, nuvens brancas, escuras, brincalhonas, solitárias, rebeldes, e algumas deveriam ser mesmo más, porque assustavam-me. Eu perguntava se as nuvens eram os anjos. Não! Os anjos estão por cima e não se veem. Então se não se veem como é que sabes que existem? O silêncio das palavras era rapidamente cortado e a ladainha do costume vinha ao de cima. Os anjos têm asas. Ai têm! Então são pássaros. Não, não são pássaros, são seres criados por Deus para O servir e para nos guardar. Ah! Então são criados. Não, não são criados, são seres únicos e cada um de nós tem o seu anjo da guarda. Eu também tenho? Claro que tens. Mas eu não o vejo, nem o ouço. Pois não, não podes vê-lo e nem ouvi-lo. Mas ele vê-te e ouve tudo o que dizes. Tudo?! Sim. E quando faço asneiras também? Sim, sim, sobretudo quando fazes asneiras. E depois? O que é que ele vai fazer? Vai dizer ao Jesus. Para quê? Para saber as asneiras que fizeste. E depois? Depois o quê? Depois o que é que ele vai fazer. Ele quem? O Jesus. Sei lá, às tantas é capaz de não te dar nada no Natal. Não?! Então o anjo da guarda é um queixinhas. Assim não gosto dele. Mas ele é teu amigo e protege-te. Pois, mas assim não quero. Quando caio e faço uma ferida no joelho ele não me ajuda. Caio na mesma. De facto, os meus joelhos eram uma desgraça mais do que evidente e punham em causa a minha crença nos anjos da guarda. A conversa terminou naquele ponto. Já tinha reparado que era sempre assim quando o incómodo a atingia. Depois arranjava desculpas para mudar de conversa. O alívio era evidente ao mandar-me ir brincar para a rua. Ao sair ainda perguntei, o anjo da guarda também vai comigo, mãe? Vai-te embora meu malandro. Cala-te e vai brincar um pouco. Eu ia, mas depois acabava rapidamente por aperceber que o meu anjo da guarda não era muito dado a brincadeiras de crianças. Bastava esmurrar a perna e os joelhos para confirmar.
Ao ver este desenho fiquei com pena de não o ter visto na altura. Se me dissessem que era a cara de um anjo eu tinha mesmo acreditado.
Ainda vou a tempo...

5 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Não é a Teresinha?

Massano Cardoso disse...

Não. Não sei o seu nome, mas não é a Teresinha. É uma outra "Teresinha"! Trata-se de uma compilação de muitos desenhos que estão a ser feitos pela Inês para comemorar os 45 anos da APPACDM de Coimbra. Se os visse ficava admirada como é possível desenhar as almas destes seres tão especiais. Eu estou encantado e não consigo deixar de registar alguns deles...

JM Ferreira de Almeida disse...

Existem. Como ilustra, meu caro Professor.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

São desenhos tocantes!

MM disse...

So mesmo alguem com a sensibilidade do Prof Massano escreveria um post destes... Lindo! E lindo Anjo!