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domingo, 15 de junho de 2014

Uma Loja do terceiro mundo...

Desloquei-me há duas semanas à Loja do Cidadão das Laranjeiras em Lisboa para renovar o passaporte. A Loja do Cidadão dos Restauradores fechou. Encontrei um espaço próprio de um país do terceiro mundo. Um espaço sem condições para acolher as centenas de pessoas que em cada momento esperam e desesperam pela sua vez. Um serviço público de má qualidade, um mau exemplo, uma situação que já não é aceitável qualquer que seja a justificação. São horas de espera. As condições de acolhimento são verdadeiramente deprimentes. As pessoas estão amontoadas, a maior parte delas de pé, outras sentadas no chão, o número de cadeiras não é suficiente, a circulação no interior do espaço faz-se com dificuldade, a climatização é deficiente e muito mais haveria para dizer.
Esperei para cima de quatro horas, sem saber à partida qual seria o tempo de espera. Esta informação não está disponível. As pessoas são obrigadas a sujeitarem-se à burocracia. Tem que ser, afinal ninguém pode prescindir de documentos oficiais de identificação. Ainda tentei fazer uma marcação para um atendimento em hora pré-definida, o serviço está anunciado no site. O telefone tocou, mas ninguém atendeu.
Com que direito se exige que as pessoas tenham que faltar ao trabalho ou tenham que tirar um ou mais dias de férias para tratarem do cartão do cidadão? Como pode um serviço público gerar tantos custos económicos e sociais? Onde está a produtividade em nome da qual tantas medidas de austeridade têm sido tomadas? A que título um serviço público essencial desta natureza presta um tão péssimo exemplo do que não deve ser a administração pública? Um caso que não dignifica o Estado, que exige dos cidadãos uma paciência absurda. Ninguém ganha com este estado de coisas, confesso que fiquei envergonhada...

28 comentários:

Unknown disse...

São as consequências dos cortes cegos e do que lhe está subjacente.

Pinho Cardão disse...

...consequência, sim, da falta de organização e de liderança, política e funcional, e da burocracia instalada, para quem não existe qualquer respeito pelo cidadão.

Bartolomeu disse...

Viver na província, traz-nos variadas vantagens; uma delas é ter acesso aos mesmos serviços, sem ter de passar por tão desagradável experiência.
Provavelmente, a celeridade e eficiência dos serviços públicos - que raramente foi aceitável - ter-se-á deteriorado com a saída massiva de funcionários públicos e a sua não substituição.

Luis Moreira disse...

Cortes cegos? Essa é boa. Sempre foi assim. O estado presta maus serviços.

opjj disse...

V. Exª, foi a uma das casas mais procuradas, por isso não estranhe.
Eu tenho tratado alguns documentos no Algarve e foi rápido. Mas se for a Coimbra será tb + rápido.
Cumps.

Carlos disse...

Exactamente Luis, sempre foi assim. Falar da austeridade neste contexto é como aquele ditado acerca de a quem tem um martelo tudo lhe parecer um prego.
O conceito de base das lojas do cidadão foi das poucas coisas boas da época Guterres. Nos primeiros anos não houve simplesmente deslocalização de serviços diversos para um único local fisico (o que já de si seria bom), surgiu mesmo uma nova filosofia no atendimento, com atenção aos niveis de serviço e coisas tão revolucionárias como isto de saber quanto tempo se irá esperar. Infelizmente com o tempo a "velha guarda" parece ter tomado conta do castelo, erquendo de novo os seus muros anti-cidadão. Uma pena.

Carlos Sério disse...

Coisas do "estado mínimo" meu caro.

Unknown disse...

Qual Estado Minimo? Se edte é o minimo qual é o medio? A isto se chama incompetencia. E quem estagiou na funcao publica como eu, sabe que seria possivel cortar 50% dos funcionarios publicos e produzir mais, pois em cada 3, 1 nao trabalha e impede os outros de trabalhar, 1 so faz asneiras que tem de ser corrigidas por outro, sobrando 1 que acaba a fazer horas extra para dar conta do recado...

João Pires da Cruz disse...

Parece ser substancialmente complicado planear as coisas.

Eu precisei recentemente de tirar o passaporte. Como todos sabem o passaporte exige competências completamente diferentes, como tirar fotografia digital e assinar num papel para digitalizar a assinatura. Ao contrário do cartão do cidadão em que é preciso tirar uma fotografia digital e assinar num papel para digitalizar a assinatura. Pois que o sujeito do passaporte estava sem fazer nenhum à espera que aparecesse alguém enquanto os colegas se amanhavam com uma multidão para tirar o cartão do cidadão.

Não percebo como é que se pode falar de cortes para justificar a coisa. Que eu saiba ainda não se despediu ninguém, como é que os cortes podem afectar? Ou é uma sugestão de que os funcionários públicos andam a engonhar?

Carlos Sério disse...

PESO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS NA POPULAÇÃO ACTIVA
(Eurostadt 2004).
Suécia - - - - - -33,3%
Dinamarca - - -30,4%
Bélgica - - - - - 28,8%
Reino Unido - -27,4%
Finlândia - - - - 26,4%
Holanda - - - - -25,9%
França - - - - - --24,6%
Alemanha - - - 24,0%
Hungria - - - - -22,0%
Eslováquia - - -21,4%
Áustria - - - - - 20,9%
Grécia - - - - - 20,6%
Irlanda - - - - - 20,6%
Polónia - - - - -19,8%
Itália - - - - - - 19,2%
Rep. Checa - --19,2%
Portugal - - ----17,9%
Espanha - - - --17,2%
Luxemburgo - -16,0%

Hoje, em 2014, o peso dos funcionários públicos em Portugal desceu para cerca de 10,29%%.

Luis Moreira disse...

Este é o peso do estado máximo.Na administração pública, na economia, no controlo dos bancos, na Justiça que (não) temos e assim por diante...

Acaso disse...

Ainda há lojas piores.

Bartolomeu disse...

;) ;) ;)
As que vendem aventais...?!

JM Ferreira de Almeida disse...

Margarida, o seu retrato é correto e as suas interrogações pertinentes. Tenho observado, nos últimos tempos, imensas filas que se formam antes da abertura da loja desde muito cedo. Dizem que se trata de uma acumulação extraordinária pelo facto de coincidir nesta altura a renovação dos cartões de cidadão. Pode ser esse o fenómeno, agravado em Lisboa pelo fecho da loja que existia na Baixa, como a Margarida recordou.
Mas também é verdade que a Loja das Laranjeiras apresenta toda a falta de cómodos que a Margarida relata, seja por falta de espaço, seja pela vetustez do material e equipamentos, seja por ali se acumularem serviços públicos com balcões de empresas privadas de energia, de telecomunicações e de venda de outros serviços.
Quanto à degradação das instalações e equipamentos, não tenhamos ilusões. A falta de dinheiro vai fazer-se sentir sobretudo aqui, nestas estruturas que exigem uma forte aposta na modernização. Creio, no entanto, que este conceito de loja do Cidadão, onde se trata da burocracia mas onde os guiches da burocracia coexistem com as lojas das energéticas, das que vendem telemóveis e sinal de TV, com os CTT ou os bancos ou a Via Verde, deveria ser repensado. Não duvido que é uma mais valia a existência destes balcões de empresas de prestação de serviços essenciais. Mas já não compreendo que não se situem fora do recinto dos serviços públicos. Deveriam aproveitar a existência de uma Loja do Cidadão que concentre os serviços burocráticos de grande afluência para se instalarem em local próprio, nas imediações, imprimindo, aliás, outra dinâmica ao comércio local.

Bartolomeu disse...

Caro Dr. José Mário, estas constatações levam-nos a concluir que em Portugal, existiu um único governante com visão de futuro; chamou-se, Sebastião José de Carvalho e Melo. Aquilo que este ministro de D. José I mandou construir à quase 300 anos atrás, mantem-se nos nossos dias, atual.
A informatização global e a desborocratização que foram bandeira no governo do Engenheiro António Guterres, falharam, não no timing, mas, no pós-timing. E hoje, verificamos que para além de não existir uma alternativa funcional ao sistema, também parece não existir forma de o reconverter e aligeirar. Do meu ponto de vista, o problema assenta na desconfiança que o estado tem dos cidadãos, reflexo da desconfiança que os cidadãos têm do estado.
Solução?!
Olhe, se os estádios construídos para o Euro 2004 não estivessem tão fora de mão... era reconverte-los em Lojas do Cidadão, com a vantagem de no relvado, poder semear umas barraquinhas de comes e bebes para os utentes irem refrescando a goela e aconchegando os bandulhos, enquanto esperavam que uma voz nasalada chamasse: senha 325 ao balcão 5.

Anónimo disse...

É muito certo que o processo para obtenção do Cartão do Cidadão é kafkiano. E nem tentem faze-lo num consulado... Mas e já que estamos a reflectir sobre o assunto das demoras porque não subir um degrau e ver todo o absurdo processo de obtenção do CC e do Passaporte? Faz sentido esta segarrega de pede cartão, volta para casa, espera carta, volta à loja a buscar cartão? Penso que não, de todo. A desconcentração já existe e penso que pode tratar-se disso em qualquer Conservatória o que ajuda... mas não elimina o absurdo do processo. O Bartolomeu deu a sugestão de acorrer a um serviço numa localização mais rural e não é a primeira vez que ouço que é mais rápido dessa forma. Algo a tentar. Mas a questão principal é mesmo o processo em si.

E, já agora, porque não subir dois degraus e pôr em causa a existência mesmo do Cartão do Cidadão. Faz sentido nos tempos que correm?

IsabelPS disse...

A mim o que me custa é o título. Será que as pessoas já perderam a noção do que é o terceiro mundo?

Luis Moreira disse...

No Canadá estas lojas já existiam há 20 anos, Fui lá numa visita de estudo para a modernização da administração pública. Funcionavam em paralelo em estruturas já existentes como os correios. Está tudo inventado. Nós aqui em Portugal é que achamos sempre que vamos inventar a roda

Luis Moreira disse...

No Canadá estas lojas já existiam há 20 anos, Fui lá numa visita de estudo para a modernização da administração pública. Funcionavam em paralelo em estruturas já existentes como os correios. Está tudo inventado. Nós aqui em Portugal é que achamos sempre que vamos inventar a roda

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Comentadores
Desde o início que me agradou o conceito de loja do cidadão. Por várias vezes tirei partido deste espaço. É evidente que nenhum serviço pode responder com qualidade se estiver subdimensionado face ao nível da procura. Os problemas da loja das Laranjeiras não são novos, mas realmente atingiu um patamar de degradação inaceitável. Uma falta de respeito, um péssimo exemplo.
Os serviços não são pagos? Sim e os preços são muito elevados tendo em conta o custo de vida. Aqui não há cortes, a inflação é outra.
A falta de liderança e de gestão, as disfunções de organização e de processos são evidentes. O que é feito da reforma do Estado? Aqui está uma área a necessitar de reforma.
Fizemos tantos progressos em matéria de inovação tecnológica, mas não fomos capazes de progredir em coisas tão simples como fazer gestão.

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

De um lirismo atroz. Os neo-liberais do genocídio actual confundem intensidade do trabalho com peso do Estado. Para fazer gestão era preciso gestores, algo incompatível com o Estado de Partidos. Bem como deputados que não andassem a brinc ar aos legisladores, desfasados totalmente das realidades. Ora vá-se lá saber porque há gestores com mestrados e MBA desempregados. Talvez porque este país é um concentrado de gente mal formada e facciosa.

lena disse...

Será que de todos os que aqui comentam algum apresenta queixa? Nem que seja no livro de reclamações. Não vale de nada o desabafo em post e comentários...só mesmo de catarse...

Tété disse...

O que lhe falta dizer são as condições obsoletas de sistemas informáticas que bloqueiam e com uma lentidão fenomenal, falta-lhe ainda dizer que muitos destes funcionários não conseguem sair do seu local de trabalho ás 18h, muitos deles ás 19h ainda lá estão, ah, e sem horas extras remuneradas. A velha desculpa de que funcionário público não produz é treta de quem não quer ver a realidade dos cortes sistemáticos que têm sido feitos, fecham-se repartições, colocam-se sistemas informáticos a funcionar ao ralenti e temos a mistura explosiva.

Suzana Toscano disse...

Tem razão a cara TeTé, o que não diminui as filas mas ao menos não deixa que se ignore o que as determina, às vezes não há trabalho que resista.

csilva disse...

O grave é que este já foi um bom serviço e agora, por força dos cortes generalizados ( e cegos, sim) nos organismos públicos, a Loja do Cidadão, em Lisboa, lembra o terceiro mundo, sem dúvida. Há, no entanto, algumas alternativas, pelo menos no que toca ao CC. Para o meu, fui, há 3 anos, ao Centro de Atendimento da Defensores de Chaves, de manhã e, da senha à chamada, não esperei 5 minutos. Já este ano fu ao Camo da Justiça enão estive lá mais de meia hora. E como levosempre um livro...
Como diz o ditado, atrás do Simplex veio... quem dele bom faz". Clara Silva

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Tété
Não deixa de ser paradoxal se pensarmos nas tecnologias avançadas que suportam os cartões electrónicos, com vantagens claras em muitos domínios. Somos bons em muitas coisas, mas em gestão e organização temos realmente grandes défices.
Caro csilva
Há uns anos atrás fiz a renovação do bilhete de identidade justamente no local de atendimento da Av. Defensores de Chaves. Um serviço de cinco estrelas. Fechou, a justificação foi a necessidade de racionalização dos serviços!

Lisdengard disse...

É incrivel como ha pessoas que continuam a por o ónus nos fp! Continuam a nao entender que tudo nao passa de um esquema para concentrar riqueza, e que os fp e restantes cidadaos sao os bodes expiatórios! Pensando bem, nao é assim tao incrivel - tem de haver pessoas burras para que os sucessivos governos consigam destruir servicos que sao dos interesses de todos e mesmo assim serem (re)eleitos! Acordem porra!

Unknown disse...

O culpado desta situação são os governos, que não organizam os serviços e atiram para os trabalhadores a responsabilidade da sua incapacidade, é pena que os fazedores de opinião não sejam verdadeiros e sigam a norma,atirar para os de baixo as responsabilidades que lhes cabem. O Estado, o Estado, quem é o Estado, é este governo de Passos e Portas, eles sim os responsáveis pelo estado das coisas que estamos a viver.