Faz hoje 10 anos que morreu Madre Teresa de Calcutá.
Não sendo necessário enaltecer a sua obra, a coragem e humildade com que se dedicou aos mais pobres dos pobres, não posso deixar de comentar as notícias que vieram a lume sobre a “confissão” de que muitas vezes terá vacilado na sua fé.
Essas notícias resultam da publicação de cartas escritas por Madre Teresa a confidentes e confessores, onde fala de “escuridão”, “silêncio” e “solidão”, três sentimentos fortíssimos que só podem tornar ainda mais admirável a sua força e a sua acção.
Diz quem sabe que a fé remove montanhas, que a força da fé é um arrimo que faz dos fracos fortes, que é uma luz e um guia. Também se diz que a fé é um dom, não um esforço intelectual ou um resultado do querer muito e, nesta perspectiva, poderíamos ser tentados a pensar que Madre Teresa, senhora de tão forte dom, seria distinta entre todos. A sua obra notável teria sido determinada por essa luz inquebrantável que a guiava, acima da compreensão dos homens, uma espécie de riqueza especial que lhe orientou os passos e guiou até onde os mais débeis de fé não ousariam chegar.
Agora, a dúvida terrível. Madre Teresa terá vacilado na sua fé, e isso é apresentado com foros de escândalo, como uma revelação capaz de destruir as almas mais confiantes. Se nem ela tinha fé!?.
Eu, que não fui iluminada por esse dom, pelo menos não o encontro com a clarividência com que muitos o invocam, vejo nas dúvidas de Madre Teresa o rosto humano da humildade, de quem põe em causa as suas certezas porque não se acha digna delas ou porque delas exige muito mais do que aquilo com que os outros se contentam.
Não sendo necessário enaltecer a sua obra, a coragem e humildade com que se dedicou aos mais pobres dos pobres, não posso deixar de comentar as notícias que vieram a lume sobre a “confissão” de que muitas vezes terá vacilado na sua fé.
Essas notícias resultam da publicação de cartas escritas por Madre Teresa a confidentes e confessores, onde fala de “escuridão”, “silêncio” e “solidão”, três sentimentos fortíssimos que só podem tornar ainda mais admirável a sua força e a sua acção.
Diz quem sabe que a fé remove montanhas, que a força da fé é um arrimo que faz dos fracos fortes, que é uma luz e um guia. Também se diz que a fé é um dom, não um esforço intelectual ou um resultado do querer muito e, nesta perspectiva, poderíamos ser tentados a pensar que Madre Teresa, senhora de tão forte dom, seria distinta entre todos. A sua obra notável teria sido determinada por essa luz inquebrantável que a guiava, acima da compreensão dos homens, uma espécie de riqueza especial que lhe orientou os passos e guiou até onde os mais débeis de fé não ousariam chegar.
Agora, a dúvida terrível. Madre Teresa terá vacilado na sua fé, e isso é apresentado com foros de escândalo, como uma revelação capaz de destruir as almas mais confiantes. Se nem ela tinha fé!?.
Eu, que não fui iluminada por esse dom, pelo menos não o encontro com a clarividência com que muitos o invocam, vejo nas dúvidas de Madre Teresa o rosto humano da humildade, de quem põe em causa as suas certezas porque não se acha digna delas ou porque delas exige muito mais do que aquilo com que os outros se contentam.
Se teve dúvidas, não descansou nelas, não se arredou do que faria caso tivesse certezas inabaláveis, não se desculpou com o “silêncio” quando precisava de estímulo e conforto e não o ouvia. Madre Teresa teria os seus diálogos de crente, e muitas vezes terá sentido que falava sozinha, e prosseguiu ainda assim.
Ficaria desapontada se me viessem dizer que Madre Teresa de Calcutá sempre tinha encontrado a resposta às suas angústias, que nunca tinha olhado perplexa a miséria, que sempre encontrou em todas as pessoas o corpo e a alma.
As confidências de Madre Teresa, as dúvidas que a torturavam, fazem dela um ser ainda mais extraordinário. Porque a sua vida não permitia tal suspeita, porque continuou o caminho como se acreditasse, porque fez da fraqueza forças, numa incrível manifestação de fé na possibilidade de fazer os outros menos infelizes e com isso trazer um pouco de Céu à Terra.
Teria sido mais fácil com luz, com respostas, com o diálogo permanente com Deus? Certamente que sim. Mas Deus, feito Homem, também viveu o silêncio e a solidão – “Pai, se puderes, afasta de mim este cálice”, ou “Pai, porque Me abandonaste?” e é essa fraqueza que O aproxima dos homens.
As crises de Fé de Madre Teresa só podem reforçar o dom de quem a tem e deixar sem desculpas os que, por a não terem, não encontram em si mesmo razão para olhar sem egoísmos à sua volta.
É nessa humanidade que está o seu exemplo, a Santidade é só uma forma de medir a exigência, de dizer que os graus de aproximação são quase infinitos…
Ficaria desapontada se me viessem dizer que Madre Teresa de Calcutá sempre tinha encontrado a resposta às suas angústias, que nunca tinha olhado perplexa a miséria, que sempre encontrou em todas as pessoas o corpo e a alma.
As confidências de Madre Teresa, as dúvidas que a torturavam, fazem dela um ser ainda mais extraordinário. Porque a sua vida não permitia tal suspeita, porque continuou o caminho como se acreditasse, porque fez da fraqueza forças, numa incrível manifestação de fé na possibilidade de fazer os outros menos infelizes e com isso trazer um pouco de Céu à Terra.
Teria sido mais fácil com luz, com respostas, com o diálogo permanente com Deus? Certamente que sim. Mas Deus, feito Homem, também viveu o silêncio e a solidão – “Pai, se puderes, afasta de mim este cálice”, ou “Pai, porque Me abandonaste?” e é essa fraqueza que O aproxima dos homens.
As crises de Fé de Madre Teresa só podem reforçar o dom de quem a tem e deixar sem desculpas os que, por a não terem, não encontram em si mesmo razão para olhar sem egoísmos à sua volta.
É nessa humanidade que está o seu exemplo, a Santidade é só uma forma de medir a exigência, de dizer que os graus de aproximação são quase infinitos…
5 comentários:
O grande mandamento é "amai-vos uns aos outros". Madre Teresa cumpriu-o heroicamente. A sua "caridade" está na razão directa da sua fé. E quem não vacilaria, uma ou outra vez, ou mesmo muitas vezes, perante a miséria humana extrema com que a Madre Teresa se confrontava? Madre Teresa foi, de facto, uma santa. O resto, as suas crises, não apagam o seu exemplo. Mas muito se especulará com o tema!...
Belíssima reflexão, Suzana.
É claro que para o mundo essencialmente hedonista e (supostamente) auto-suficiente de hoje, as possíveis crises de fé de Madre Teresa soam quase a heresia.
Este mundo não consegue nem pode entender que a grandeza de personalidades como a da Madre Teresa, que entregaram totalmente a sua vida ao serviço do próximo, não é construída na acumulação de sucessos e de benesses.
Essa grandeza é feita de sofrimento, de solidão tantas vezes, de ausência de reconhecimento - a não ser na experiência sublime da cura ou da mitigação do sofrimento do próximo.
Nesse processo de engrandecimento no sacrifício, a alma humana, por maior que seja a fé que a alimente, tem inevitavelmente momentos de fraqueza, de incerteza, de angústia...
É isso, como muito bem diz, que torna ainda mais admirável a personalidade desta Santa criatura que dedicou a sua vida exclusivamente a aliviar a dor do seu próximo.
Obrigado Suzana pela partilha desta reflexão. Desconhecia, confesso, essas crises de fé de Madre Teresa. O que torna de facto ainda mais admirável o exemplo de uma das personalidades mais extraordinárias.
Sempre vi Madre Teresa como a personificação do bem. E nessa medida as dúvidas que tenha tido (quem não é tentado a duvidar da existência de Deus quando se convive com a mais miserável miséria das ruas das cidades indianas?)não a tornam menos santa.
Um pormenor magnífico: a foto.
Por acaso já tinha tido a oportunidade de ler vários textos sobre este tema, e inclusivé ler as ditas cartas (uma transcrição), onde ela se questiona profundamente sobre a existência de Deus.
Quem me conhece sabe bem que sou, à falta de melhor termo, um não-crente em qualquer tipo de religião. Antes pelo contrário considero a religião um dos maiores, se não mesmo o maior acima inclusivé das lutas pelos recursos naturais, contribuintes para os maleficios que sempre assolaram este planeta ao longo da sua curta história.
No entanto algo me fez sentir vontade de ler o que levaria uma pessoa tão crente em Deus e na Fé a duvidar da sua existência. Talvez porque quando uma figura destas questiona aquilo que eu, também, sempre questionei tenha sentido poder estar aí algum tipo de explicação, ou confirmação, da minha atitude perante a religião.
A conclusão a que cheguei foi que a Madre Teresa de Calcutá acabava por confirmar (interpretação minha), através das suas dúvidas, aquilo que eu sempre digo que é tão simplesmente que Deus está em cada um de nós, e que cabe-nos a nós fazer com que ele chegue e atinja todos aqueles que nos rodeiam e que connosco interagem diáriamente. Não é por ir à igreja e rezar muito que as coisas melhoram, é pelas nossas atitudes no dia-a-dia e pelo nosso contributo para que tudo o que se passa à nossa volta se passe bem que fazemos com que Deus e a sua bondade chegue a todos os que nos rodeiam. Tudo o resto é conversa...
Este tema faz-me lembrar um outro texto aqui deixado, julgo que também pela Suzana Toscano, sobre um velhote e uns sorrisos e umas boleias que no fundo ia dar ao mesmo.
Aliás as dúvidas dela centravam-se exactamente nesse ponto sobre a existência de Deus num mundo onde tantos de nós passam o seu tempo a fazer mal a tantos outros em todos os campos da nossa coexistência com outras pessoas, e ao ver como era possível tanto egoísmo e desinteresse pelo próximo entre as pessoas ela tinha desta forma uma enorme dificuldade em acreditar nessa Fé e Deus que supostamente nos deveria unir.
Enfim... uma reflexão rápida que eu poderia continuar por muito mais tempo e linhas, mas que fica por aqui, até porque não me convém que isto se espalhe! Dava cabo da minha reputação :)!
Lindíssimas palavras, Suzana.
Madre Teresa dedicou o seu infinito amor aos mais pobres dos pobres. A sua paixão por Deus e pelos pobres conduziram-na a querer dar cada vez mais a quem mais precisava, com a alegria de quem na fé ganha as forças necessária para avançar.
As dúvidas da sua fé, sinal da sua humildade e simplicidade perante Deus e os homens, só lhe elevam a memória. A sua grandiosa obra foi possível porque Madre Teresa cresceu na fé. Dúvidas de fé só as tem quem tem fé e procura na certeza da existência de Deus o conforto para o seu sofrimento e o dos outros.
Suzana
Vou transcrever num post, num gesto singelo de ternura pela Madre Teresa, uma mensagem muito sentida de esperança e de força para a vida que Madre Teresa escreveu.
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