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domingo, 23 de setembro de 2007

Esqueçamos por momentos o Outono "político"...

Bem-vindo Outono! Cá estamos de novo na sua companhia. Chegou de mansinho e aos poucos irá entrando devagarinho…É melhor assim. Mais um ciclo se completou. Sinto no meu imaginário do tempo que é no Outono que se inicia a “volta ao mundo”, quero dizer que se inicia a viagem das quatro estações que nos levará no final ao Verão. Para outros não haverá propriamente uma viagem. Para outros, ainda, a viagem terá o seu ponto de partida numa outra qualquer estação. Sinto que é no Outono que o ciclo “recomeça”. Olho para o Outono recordando os meus anos de juventude, associando-lhe o regresso a casa e às aulas, o reencontro com os colegas da escola e com as amigas e a retoma do contacto com os vizinhos e com o movimento do bairro, depois do período das então chamadas “férias grandes” que terminava com um mês e meio bem passado na casa que temos na Beira. Era um período do ano vivido no campo, em contacto com a natureza, junto das gentes da nossa aldeia, em que se multiplicavam os passeios por lugares escondidos e esquecidos, não falhavam as visitas às feiras locais e regionais, as festas padroeiras das aldeias e vilas circundantes eram motivo de romaria familiar, não faltavam os piqueniques e os banhos nos açudes do rio, o pão de forno de lenha com marmelada e a limonada fresca faziam a chamada obrigatória para os lanches debaixo do caramanchão dos jardins lá de casa, seguidos de uma espécie de sesta que fazíamos à sombra dos plátanos e outras infinitas coisas que aconteciam repetida e variadamente todos os anos.
Gosto do Outono. A tristeza e a depressão que muitos dizem sentir nesta estação não me atingem particularmente. Sinto que há uma mudança significativa do clima, com consequências importantes nos hábitos e nas vontades e, talvez, nos estados de espírito.
Nesta época a natureza também tem o seu encanto. Gosto dos perfumes da época, de sentir o cheiro húmido da terra, das árvores e das folhas, de olhar o cheiro que paira no ar mesmo na cidade. Gosto de reparar nas árvores que dia após dia se vão despindo porque gosto de ver o tapete colorido que as folhas formam. Gosto das cores quentes dessas folhas: dos amarelos, dos vermelhos, dos castanhos e dos laranjas. Gosto da chegada das temperaturas amenas, das aragens frescas da manhã e do cair da noite. Gosto do frio quente do sol. Gosto de vestir os primeiros casacos de malha, macios e aconchegantes. Gosto do Verão de S. Martinho, das castanhas e da água-pé. Gosto de fazer compotas, marmelada e geleias, de as guardar e etiquetar para depois saborear ao longo do ano. Gosto da jardinagem, de planear e plantar os arbustos e as árvores da próxima Primavera.
E depois, o Outono convida-nos ao recolhimento. Podemos ficar em casa mais tempo nos fins-de-semana e à noite que ninguém repara, porque o tempo frio e a chuva são uma boa desculpa. É um tempo em que podemos repousar mais sossegadamente.
Gosto de muitas outras coisas do Outono. Não gosto, é verdade, de outras. Mas estas desvalorizo-as, centrando as minhas atenções nas vantagens que o Outono tem para nos dar.

3 comentários:

invisivel disse...

Cara Margarida Aguiar,

Nem ontem, que passei um belo par de horas na praia, nem hoje, que é dia de "bulir", notei esse ar de Outono que acaricia, habitualmente, a minha barba do dia anterior!
O calendário e as memórias são inalteráveis. O Outono, pelo contrário, parece-me não cumprir a tradição.
Acho, Drª. Margarida Aguiar, que não tem muito de nostálgica, nada disso...só tem um bocadinho!
:)

Bartolomeu disse...

Belíssimo texto, cara Margarida.
Evocativo de doces memórias, pretexto sempre válido para acreditar na renovação da alma e do romantismo que ela encerra.
Para complementar, permita-me deixar aqui o meu pequeníssimo contributo em verso.

Sinto este vento Outonal
Afagar os meus cabelos
Sereno, plácido, divinal
Traz-me os aromas de longe
Memórias dos sítios mais belos
Neste tempo que me cinge
A uma vida que em novelos
Vai-se desfolhando o rosal
Nesse vento que me foge

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro invisivel
As estações já não são o que eram: quando deve estar quente não está, quando deve chover não chove, quando deve fazer frio não faz...Tantas ou tão poucas fizemos que as estações ficaram baralhadas. Mas as datas de início, essas, continuam inalteradas. Tenho saudades das quatro estações de antigamente e muito boas recordações desses tempos. Mas não nostalgia...

Bela inspiração, Caro Bartolomeu.
As coisas pequenas são normalmente as maiores!
Já dizia o meu Avô que "As recordações são as flores da nossa memória"! E um jardim florido é sempre mais bonito... O Outono também pode ser um jardim!