O DN de notícias de ontem apresentou as linhas gerais do texto que se pretende venha a ser o novo Tratado da União. Fê-lo pela pena de um génio, dos poucos capazes de alcançar o sentido de um "texto jurídico muito complexo, de leitura apenas possível para especialistas". Graças a Deus que ainda existem jornalistas dotados de grande capacidade intelectual, preparados para trocar por miúdos o que o comum dos cidadãos não entende. O título do artigo era de resto, sugestivo: "Tratado Reformador ilegível para os cidadãos ".
Já pouco me emociona a hipocrisia reinante. Mas confesso que me incomodam aqueles que tanto exaltam a inteligência colectiva quando os resultados de algum pronunciamento lhes são favoráveis, como com a mesma facilidade chamam burro e ignorante ao Povo. Neste caso, prepara-se o terreno para que se incumpra uma promessa que constituía até há bem pouco tempo, talvez a questão mais consensual em todo o espectro partidário: o referendo do novo tratado.
Com a mais inaceitável das justificações. É que, para além de se menorizarem os eleitores menorizando a democracia, desresponsabilizam-se os políticos de fazer a pedagogia do novo quadro institucional e político da União Europeia.
E se é verdade que o Tratado é ilegível para os cidadãos, não o deveria ser, é um mau tratado. Apesar dos evidentes deficites democráticos das instituições europeias, não consta que a Europa dos cidadãos tenha sido substituída pela Europa dos aristocratas ou dos iluminados especialistas em Direito (a que se juntam mais umas sumidades - poucas - jornalistícas).
Depois admiram-se que, cada vez com mais frequência, quando é necessário chamar o Povo para legitimar o poder, boa parte desse mesmo Povo responda como Bordalo Pinheiro o retratou...
2 comentários:
Embora não concorde, as dúvidas do primeiro-ministro têm fudamento. O povo que o escolheu para tal cargo é competente para escolher o seu destino?
Meu caro Tonibler:
Não é correcto procurar as boas soluções pelo lado das patologias ;)
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