Têm sido muito criticados em Portugal os ordenados de alguns gestores e sobretudo as remunerações variáveis que recebem por atingirem determinados objectivos.
Todavia, nunca ouvi a mais leve referência ao ordenado de perto de 1,5 milhões de euros do Seleccionador Nacional de Futebol. Pois o nosso Seleccionador é o sétimo mais bem pago do mundo, ganhando mais do que os seus homólogos das grandes potências futebolísticas, como o Brasil ou Argentina, ou de ricos países como a França, Estados Unidos ou Dinamarca, ou Austrália ou Japão. Ficando ao nível dos seleccionadores da Holanda, Suiça e Espanha, e um pouco abaixo do italiano e alemão. O seleccionador inglês destaca-se com larga margem.
A que haverá que juntar os prémios referentes a objectivos de classificação, se atingidos. Entre os quais a classificação para o Campeonato do Mundo, já conseguida.
Acontece que a Federação Portuguesa de Futebol recebe importantes subsídios do Estado, para além das enormes receitas próprias que obtém dos jogos da selecção, das televisões, dos patrocínios, do merchandising, etc. Não esquecendo as contribuições das Câmaras Municipais com que a Federação descaradamente negoceia a presença em estágios de preparação.
E se os altos ordenados dos gestores de empresas privadas não são pagos com os nossos impostos, o mesmo já não acontece com a Federação de Futebol. São os nossos impostos que, embora indirectamente, possibilitam ordenados tão elevados como eram os de Scolari ou Carlos Queirós. Face aos dias de trabalho e responsabilidade social, de longe os maiores vencimentos do país!...
Mas, pelos vistos, aqui o silêncio é total. Mas politicamente muito correcto!...
Nota: Acresce que, quando se fala de vencimentos no futebol, normalmente se fala de vencimentos líquidos de impostos.
10 comentários:
Caro Pinho Cardão,
Eu contínuo a criticar duramente os salários, prémios, seguros, casas, reformas, cartões de crédito, subvenções vitalícias, etc. que os nossos gestores recebem, trabalhem eles no sector público ou no privado, recebam as suas empresas benesses do Estado ou não.
Estou convencido que este país enlouqueceu. Temos gestores de empresas monopolistas a receber 3,1 milhões de euros; 7,5 milhões, etc., etc.. E temos a economia que todos sabemos! Se os nossos gestores públicos ou privados merecessem estes salários teríamos uma das economias mais pujantes do mundo, mas parece não ser esse o caso. Assim, e como já aqui afirmei anteriormente, ou percebemos todos que temos que resolver isto ou um ano destes temos a governar o país uma enorme surpresa!
Portugal já viu este filme e todos sabemos como terminou, espero que a história não se repita!
Caro Pinho Cardão
Está a esquecer-se de uma “pequena” diferença.
No caso do seleccionador nacional, a maioria esmagadora dos portugueses dá por bem empregue o dinheiro que lhe é pago, na expectativa dos muitos e grandes êxitos futebolísticos da equipa de todos nós. Se ele os alcança, ou não, é outra conversa.
No caso dos gestores, por exemplo, do António Mexia, para referir o que ultimamente tem estado mais em foco pelos motivos conhecidos, quantos portugueses aprovam as remunerações que o homem recebe? Provavelmente só ele e a família ! E, obviamente, aqueles que se perfilam para o substituir no lugar…
Não façamos confusão. Os gestores que o caro Pinho Cardão refere despertam a antipatia da maioria esmagadora dos portugueses porque toda a gente sabe que eles chegaram àqueles cargos por obra e graça do “espírito santo”. Nalguns casos, como o que exemplifiquei, possivelmente de forma literal…
Quanto ao argumento de que as remunerações desses gestores não são pagas com os nossos impostos, porventura estaremos perante uma situação ainda mais criticável. As empresas em que encontramos a maioria desses gestores de sucesso fornecem serviços básicos (electricidade, combustíveis, telecomunicações…) de que ninguém pode prescindir e de que todos os portugueses são clientes. Em suma, essas empresas têm o cliente na mão e o que não pagamos como contribuintes, pagamos como consumidores.
Aliás, ainda há pouco tempo essas empresas eram monopólios nacionalizados. Se hoje em dia são tratadas como empresas privadas, não deixam de ser monopólios e o estatuto de empresa privada não passa de uma habilidade formal, na medida em que são apenas parcialmente privadas e o Estado continua lá dentro com tanta força que os respectivos gestores não são nomeados sem o beneplácito do Governo. Se isto é uma empresa privada, vou ali e já venho…
Nalguns casos, como se viu agora com a PT, a dependência dos gestores da autoridade do Governo é tal que chegam ao ponto de se sujeitar a participar em esquemas repugnantes como foi a tentativa de colocar a TVI sob controlo do partido do Governo.
Pensar, nem que seja por um mero exercício de retórica, que estes gestores da treta merecem uma remuneração mais elevada do que o seleccionador da equipa de todos nós, é ofender desnecessariamente o seleccionador…
Sem depreciar as funções, a competência e a importância desses cargos que “justificam” (aos olhos dos próprios e das respectivas empresas) os avultados vencimentos que recebem, não deixa de ser um insulto aos ordenados baixos.. num país que economicamente nem emergente é!
Caro Fartinho da Silva:
Embora o meu post não fosse sobre a justiça, equidade ou legitimidade de tais remunerações, mas apenas sobre o julgamento de umas como iníquas, silenciando-se outras por razões meramente oportunísticas, claro que entendo perfeitamente a sua posição e grito de alma, plenamente justificados.
Caro Jorge Oliveira:
Aqui discordamos.
Os gestores não podem nem devem ser pagos pela antipatia ou simpatia que despertam, mas pelo valor acrescentado que efectivamente trazem, ponderadas questões de conjuntura, equidade, justiça, tanto no universo da empresa como no ambiente geral do país. Distinguindo muito claramente posições monopolistas ou posições de concorrência. Passo também ao lado da referência a algumas empresas como monopolistas. Como, por exemplo, o caso da EDP. Muitas empresas industriais, por exemplo, têm contratos com a Indesa, que fornece a energia a um preço incomparavelmente mais barato. Na electricidade há, aliás, várias empresas no mercado. Mas não é esse o caso, já que o meu post foi sobre a avaliação diferente de situações que, no fundo, são iguais.
Portugal, país pobre, e com a Federação a receber subsídios do Estado, tem o sétimo seleccionador mais caro do mundo. Ao vencimento fixo será adicionado prémio por resultados. É uma perfeita e acabada anormalidade.
Por isso, e ao contrário do meu amigo, penso que o vencimento de Queirós envergonha o de qualquer gestor português ou internacional. Mas, mais do que isso, envergonha os portugueses.
Sei que o futebol é emoção; mas emoção sem o mínimo de razão também leva ao desastre.
Caro Pinho Cardão
Não esperava que estivesse de acordo comigo. Eu mantenho integralmente o que disse, mas uma eventual réplica minha levava-me longe e não quero monopolizar o espaço de comentários. Para monopólios, já chegam os administrados por gestores de eleição...
Claro, caro Paulo, o meu pobre intelecto não consegue erguer-se a tão altas subtilezas. Mas o meu amigo teorizou a coisa de forma precisa e científica. Merece um pós-doc em teorias de jogos queirosianos...
Caro Pinho Cardão,
O meu comentário teve como objectivo único reforçar o seu post.
Apreciei o comentário do Paulo, especialmente quando se refere ao ISCTE! É muito bom sentir que se começa a apontar o dedo a algumas instituições que muito têm contribuído para o que se tem passado neste país. E Caro Paulo, a casa referida não "ajudou" apenas a nossa economia a "florescer" como ajudou a criar um monstro que afogou a nossa educação pública no facilitismo, laxismo, indisciplina, violência e burocracia. Há mesmo quem diga e apresente evidências do nascimento do lobby das "ciências" da educação no ISCTE.
Caro Fartinho:
Compreendi perfeitamente. O meu comentário é que não terá saído lá muito claro!...
Quanto ao ISCTE, não creio ser único culpado. Muitas Faculdades, nomeadamente de Economia, e muitos dos seus professores, têm muitas culpas e responsabilidades no cartório. Lamentavelmente, também o meu ISCEF, agora ISEG.
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