Coche da Embaixada ao Papa Clemente XI - Século XVIII (1716) |
Confesso que tinha alguma curiosidade em ir ver como é que a colecção de coches está apresentada no novo museu dos coches. Decidi, portanto, dedicar uma tarde à nossa preciosa colecção de coches.
Iria, assim, conhecer por dentro o bloco de cimento que por fora está mais que visto. Impressiona por não lhe encontrar nenhuma beleza e harmonia, não me faz sentido que esteja ali naquele sítio e daquele modo.
A visita não começou bem. Um edifício daquela envergadura, situado numa zona história de grande afluência de turistas, não tem estacionamento. Não tem. E na zona não há alternativas. Como é possível construir de raiz sem equacionar a hipótese do transporte em viatura própria. Esqueceram-se? Não compreendo que concepção pode justificar esta opção.
A colecção é maravilhosa e única. Considerada a melhor e a mais rica da Europa, juntamente com a de Viena de Áustria, para aqui foi transferida, arrancada à força do seu ambiente natural que foi o do antigo Museu dos Coches, mesmo ali ao lado, no antigo Picadeiro Real.
Curiosamente somos “convidados” - desde que paguemos um complemento de tarifa - a admirar uma parte da colecção que, por força das circunstâncias não consegui perceber quais - aí teve que permanecer. Teria sido falta de espaço no Novo Museu ou um estranho e inesperado arremesso de saudosismo? A primeira hipótese parece-me mais plausível mas de uma total incongruência. Mas então constrói-se um edifício de raiz e a colecção não cabe lá toda?
Curiosamente somos “convidados” - desde que paguemos um complemento de tarifa - a admirar uma parte da colecção que, por força das circunstâncias não consegui perceber quais - aí teve que permanecer. Teria sido falta de espaço no Novo Museu ou um estranho e inesperado arremesso de saudosismo? A primeira hipótese parece-me mais plausível mas de uma total incongruência. Mas então constrói-se um edifício de raiz e a colecção não cabe lá toda?
Tiremos no entanto partido deste facto, pois ele dá-nos a vantagem de podermos fazer, no mesmo dia e praticamente à mesma hora, a nossa visita por estes dois espaços antagónicos, sem quaisquer perdas de tempo. Sugiro que comecemos pelo Novo Museu para nos consolarmos posteriormente com a visita do Antigo Museu. Uma visita a Vila Viçosa é que já não será fácil de compatibilizar. Daqui foram transferidas mais de duas dezenas de coches para o Novo Museu, mas ainda lá continua um conjunto de exemplares históricos.
Voltando ao Novo Museu, o que dizer do enquadramento do seu espaço destinado a uma colecção única e específica? É o vazio total em todos os sentidos, onde na mais completa nudez se amontoam obras de arte carregadas de história, à espera de uma explicação convincente - o letreirinho ao lado com a data do exemplar e pouco mais, de nada serve, se não tivermos outros suportes com a descrição histórica, feita por quem sabe. Uma pobreza em termos de componente multimédia de explicação e contextualização dos coches. Uma componente inexistente. Uma verdadeira desolação acrescida da convicção que nada irá mudar pelo menos no que respeita às estruturas, já que o edifício foi feito de raiz.
Consolemo-nos, então, com a visita do Picadeiro Real que conserva um pequeno núcleo de exemplares, menos monumentais, mas enquadrados no seu espaço natural - um espaço áulico do melhor gosto, imposto pela época, a de 1905. Tudo aqui é beleza e harmonia, a valorizar os objectos de arte que são os coches; os quais, por sua vez, se inscrevem naquela que foi a nossa história, quer queiramos, quer não.
Enfim, a colecção é grandiosa e cheia de encanto para não merecer a nossa atenção, mas merecia melhor e quem a quer ver também...
4 comentários:
Pois é, Cara Dra. Margarida, ficamos atónitos quando vimos nascer de raiz um templo "faraónico", assinado por arquitectos topo-de-gama, empregando técnicas, estilos e materiais do mais nobre que se conhece na actualidade, para acolher objectos de arte, que antes já tinham a sua própria casa.
Que os coches estavam a necessitar de intervenções urgentíssimas ao nível do restauro de quase todos os elementos que os compõem, é uma verdade. Que o espaço, dados as suas naturais características necessitava da instalação de um sistema de climatização ambiental, garantia quem sabe, que sim (Não sei se o fizeram relativamente aos exemplares que permaneceram na casa-mãe. Agora, ha uma realidade muito dolorosa no nosso país da qual não nos podemos orgulhar, antes pelo contrário... temos, de Norte a Sul, em todo o território nacional, urg~encias muito maiores e prementes a nível social que não vêm solução por falta de verbas e de vontades.
É muito estranho, como é que tudo isso surge espontâneamente quando uma coroada cabeça, um dia, por capricho ou desfastio, acorda, chama o seu camareiro e lhe comunica; olha, hoje apetece-me um novo museu para guardar a cocharia d'antenho.
Ainda a propósito de coches e dos cavalos que os tiram, lembrou-me uma anedota em que são intervenientes Ramalho Eanes enquanto PR e a Rainha de Inglaterra, durante uma visita de Estado. Conta a história que durante o percurso feito de coche, até ao Palácio de Buckingham, indo sua alteza real sentada de costas para o cocheiro e para os cavalos, em certa altura, um dos animais (manda a regra da discrição não distinguir qual), soltou um sonoro "traque". A rainha ruborizou, mas, mantendo a pose aristocrática, olhou para o nosso presidente e em jeito de desculpa, proferiu: I beg your pardon. Ramalho Eanes, mantendo a sua pose republicna/militar respondeu com toda a naturalidade: Não tem qualquer importância... até supus que tivesse sido um dos cavalos!
Resumindo e fazendo uso da letra de um tema musical dos meus tempos de jovem, intitulada "Chiclete", interpretada pelos "TAXI" (uma evolução dos antigos coches, apesar de os cavalos se manterem, tanto dentro do motor como sentados nos bancos) ... e como tudo que é coisa que promete, a gente vê como uma chiclete, que se prova mastiga e deita fora se demora...
Sim, o actual Picadeiro Real era pequeno para a colecção e tinha (e tem) as limitações que o Caro Bartolomeu indicou e outras. Nestas coisas, é necessário ponderar várias soluções que devem aliás, em casos tão importantes como o presente, ser do conhecimento público.
Não me convence a solução encontrada, é uma pena que a colecção dos coches, tão rica e única, esteja entregue a um espaço tão pobre. O bloco de cimento é grande, mas não é para mim um elemento distintivo.
Ainda não conheço o novo museu mas já vi o que ficou no antigo e é desolador, realmente não se percebe qual o critério para deixar ali uns poucos coches mais ou menos a compor um espaço vazio. Mas devemos lembrar que, depois de tão grande e ambiciosa construção, se chegou à brilhante conclusão de que era preciso dinheiro para manter as instalações e tudo o que daria alma e dinâmica ãquele espaço, que esteve vazio imenso tempo. Esperemos que os turistas e visitantes se deixem encantar com a beleza e raridade dos coches, que era o museu mais visitado de Lisboa, e cujas antigas instalações realmente não tinham já as condições que mereciam.
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