Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um cenário dantesco, andamos há décadas nisto...


Um cenário dantesco, de novo. Incêndios devastadores que ceifam vidas, espalham terror, afectam a vida de milhares de pessoas, destroem riquezas naturais. Populações inteiras entregues a si próprias que não têm tempo para ter medo. Com meios escassos tudo serve para salvar as suas casas e os bens de toda uma vida. Um drama. Os mesmos problemas, as mesmas dificuldades há décadas.
Faltam políticas florestais, faltam comportamentos adequados, faltam acções de prevenção estruturais e perante a tragédia de enfrentar o fogo falta estratégia e coordenação de meios de combate aos incêndios.
Há pouco ouvi alguém dizer que não é possível ter um polícia em cada esquina da floresta, que não estamos preparados para a dimensão de incêndios como aquela que estamos a viver. É a temperatura e o clima  mediterrânicos, dizem. E de novo surge uma lista de medidas e políticas que é preciso implementar, de novo repetem-se as mesmas críticas e ideias que todos os anos perante a tragédia são debitadas. Andamos há décadas nisto. Como é possível?

18 comentários:

Unknown disse...

Cara Margarida, concordo plenamente consigo. É um terror. Sendo certo que há incêndios por causas naturais não o é menos que muitos (a maioria, provavelmente) são provocados e aí - como em tudo na política criminal dos países Europeus - falta a força necessária à dissuassão. Conforme tenho dito algumas vezes sou acérrimo fã tanto dos castigos corporais segundo o modelo de Singapura como dos trabalhos forçados daí que, para coisas destas, penas, tanto para incendiários como para mandantes, variando entre os 40 anos e a prisão perpétua com trabalhos forçados e castigos corporais anuais são algo que não só não me choca como aplaudo. Juntando a isto, para tirar o incentivo financeiro, havendo-o, perda integral dos bens do incendiário e dos mandantes, se os houver, a favor do Estado. Por último, área ardida, excepto em meio urbano, deveria reverter sempre, para uso florestal por um período muito longo, género 99 anos.

Desta forma desaparecem todos os incentivos economicos aos incêndios e, pelo contrário, criam-se fortes elementos de dissuassão. Que, de onde vejo a coisa, deveria ser o objectivo das políticas criminais. Nisto como em tudo.

Unknown disse...

P.S.: Por algum motivo hoje apareço como Unknown mas o post de cima é meu, Zuricher. Há algo estranho aqui...

Unknown disse...

Como é possível? Mudando de governo por tudo e por nada.

Tiro ao Alvo disse...

Nisto dos incêndios, a parte que progrediu foi o da industria de os combater.Nalgumas zonas do interior, as corporações de Bombeiros reinam: são dos maiores empregadores, frequentemente homenageados com monumentos nas principais rotundas, dispondo de óptimas instalações, etc. etc.; a protecção civil é o que se vê: fardas de encher o olho, equipamentos do melhor que há, meios de combate modernos, incluindo aéreos, dirigentes bem-falantes, etc., etc.. A parte mais abandonada é, sem dúvida, a da prevenção, a par do correcto ordenamento da floresta.
Não sendo possível acabar com os fogos - nunca acamarão as negligências e todos os dias nascem pirómanos -, não se entende que iniciado um fogo ele só termine quando mais nada houver para arder, durante quilómetros e quilómetros.
Para quando a abertura de aceiros? Para quando o cadastro das propriedades privadas? Para quando o envolvimento das juntas de freguesia no combate às matas abandonadas? Para quando o envolvimento do bombeiros na prevenção e na limpeza da floresta pública, nos meses de inverno?
Tantas perguntas sem respostas, na minha opinião.

IsabelPS disse...

Por acaso li isto ontem:
http://www.icnf.pt/portal/florestas/dfci/Resource/doc/causas-incendios/Relatorio-Causas-incendios-2003-2013.pdf
Não sabia que já havia números tão consistentes. Embora o número de incêndios investigados tenha vindo a aumentar (e atinja agora uns razoáveis 75%), as percentagensdas das diversas origens mantêm-se constantes (excepto as causas deesconhecidas, que são agora alimentadas pelos reacendimentos). As causas intencionais mantêm-se em cerca de 25% (a negligência anda pelos 35%).

Tiro ao Alvo disse...

Fui ler o relatório, sugerido pela Isabel, de ANÁLISE DAS CAUSAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS - 2003 - 2013, editado pelo ICN, que contém bastante informação útil.
Notei, todavia, que ali não se propõe quaisquer medidas para combater os fogos de origem natural. Ora, se é certo que não se podem prevenir incêndios com origem nas trovoadas, é possível evitar que um incêndio destes se propale por quilómetros e quilómetros, como acontece frequentemente e aconteceu, de forma dramática, há alguns uns anos na serra algarvia. Para parar um incêndio é necessário florestal, é fundamental que, na floresta, sejam criados aceiros e que estes se mantenham limpos, por forma a evitar a progressão do incêndio, facilitando combate. No meu entender, se isso não for feito, vamos continuar a assistir, infelizmente, a fogos devastadores "evitáveis".

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Zuricher
O País está a arder há décadas. Todos os anos falhamos, é um exercício de autoflagelação.
Invariavelmente os incêndios chegam em Agosto e não nos questionamos sobre o que não estamos a fazer para evitar e minimizar esta tragédia nacional.
Chamo a isto incompetência política que, pelos vistos, não conseguimos combater. Precisamos de reduzir drasticamente a área ardida. Falta prevenção de fogos florestais, mas este objectivo só se consegue com uma estratégia articulada, consistente e persistente.

Caro Fernando Vouga
É incompetência política.

Caro Tiro ao Alvo
Com pouco mais de tempo fui pesquisar mais informação sobre os incêndios.
Esta notícia de 2015 (http://24.sapo.pt/article/lusa-sapo-pt_2015_05_05_886357282_estudo-revela-que-ha-mais-incendios-em-portugal-do-que-noutros-paises-da-europa) divulga um estudo sobre fogos florestais que incidiu sobre os países do Mediterrâneo.
Os números são arrasadores: entre 2000 e 2013 verificaram-se mais de 19 mil fogos florestais em Espanha, França, Grécia, Itália e Portugal, dos quais mais de 10 mil, ou seja, mais de 50%, ocorreram em Portugal continental. Do total da área ardida cerca de 38% foi em Portugal. No período de 2000 a 2013, 14,7% do nosso território foi consumido pelas chamas.
A questão central é: qual é o plano nacional para fazer frente a este drama? Não conheço, procurei e não encontrei. Se existe deveria ser do domínio público, deveria ser discutido e monitorizado para se conhecerem os resultados e tomar novas acções/medidas para melhorar a sua eficácia. O País tem de ser envolvido num plano nacional e perceber o desafio colectivo. É necessário fixar metas. Onde é que elas estão?

Cara IsabelPS
Também fui ler o documento que indicou e partilho dos comentários do Caro Tiro ao Alvo.
São números importantes para apoiar uma estratégia/um plano nacional de prevenção.
Nas leituras que andei a fazer encontrei esta página do CITAB (http://www.citab.utad.pt/networking/?p=1254) que me parece interessante. A fatalidade dos incêndios é o resultado de falta de intervenção estratégica.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

E já agora mais este estudo. Bem que os técnicos alertam para o que é necessário fazer: http://www.dn.pt/sociedade/interior/balanco-de-dez-anos-de-combate-a-incendios-e-francamente-negativo-5329022.html

Tiro ao Alvo disse...

Como se pode ver na edição de hoje do PÚBLICO (“falta uma medida que não custa mais dinheiro”), nem todas as Câmaras Municipais estão empenhadas em prevenir os fogos florestais. E é raro ver as Juntas de Freguesia preocupadas com isso.
Ora, sabendo-se que muitos fogos acontecem em terrenos baldios ou abandonados, de que não se conhecem, frequentemente, quem são os proprietários, este seria um aspecto a atacar de imediato, tanto mais que muitos desses terrenos não pagam IMI, ou pagam-no por valores tão baixos que não incomodam os donos.
Quero com isto dizer que é urgentíssimo actualizar o cadastro dos prédios rústicos e agravar o IMI dos terrenos que constituem perigo para a propagação dos incêndios. E isso só pode ser feito com eficácia com o envolvimento das Juntas de Freguesia e se elas virem nisso vantagens, afectando-lhes, p.e. as receitas provenientes desses agravamentos do IMI, ou concedendo-lhe parte do direito de propriedade de terrenos abandonados há mais de 20 anos, p.e., e que são muitos por esse País fora.
Neste capítulo, não fazer nada é criminoso. Parece-me.

IsabelPS disse...

Tanto quanto sei, das pessoas que mais sabe sobre incêndios em Portugal é precisamente o Paulo Fernandes citado no artigo da UTAD que a Margarida Corrêa de Aguiar pôs aqui. E, de um modo geral, desmonta a maior parte das ideias feitas sobre incêndios: que há espécies que ardem e espécies que não ardem (é mais importante a qualidade da gestão do que as espécies envolvidas), que se poderiam evitar os incêndios em Portugal (podem diminuir com uma melhor gestão do combustível mas nas nossas condições climáticas são inevitáveis), etc. Há cada vez mais informação de qualidade (por exemplo, com uma previsão de x dias de vento leste, humidade do ar abaixo de y, temperaturas de z, pode contar-se com ignições em série, com uma segurança bastante grande); o problema é que há também um ruído enorme na informação, como por exemplo chefes dos bombeiros a dizer que 98% dos incêndios são devidos a fogo posto, como ainda hoje li. Como as pessoas odeiam pensar em causas sobre as quais não têm controlo, a ideia do fogo posto é poderosíssima e confunde imenso a discussão.

Pelo que sei, o regime de incêndios em Portugal mudou muito nas últimas décadas (eram muito mais frequentes mas mais pequenos e controláveis) porque a utilização do território mudou. O grande, enorme, desafio é procurar formas de gerir o combustível (que existe em muito maior quantidade em Portugal do que nos resto dos países mediterrânicos, basta para isso ver um mapa da produção primária de Península Ibérica) que sejam economicamente rentáveis. Não serve de nada dizer às pessoas para limparem as matas se elas não tiverem dinheiro e/ou forças para o fazer e não tiverem qualquer utilização a dar ao combustível recolhido (que antigamente adubava as terras e era utilizado para aquecer, cozinhar, etc).

IsabelPS disse...

O que é extremamente curioso é que, seguindo o link para o artigo que suscitou os comentários do Paulo Fernandes no artigo citado pela margarida Corrêa de Aguiar, é que se refere exclusivamente a fogo controlado, ou seja, ao efeito do fogo controlado na área ardida em incêndiso subsequentes . Ninguém diria, lendo o artigo da UTAD...

Bmonteiro disse...

«a arder há décadas», para citar a Sra autora do post,
e com taantos sectores envolvidos, tantos especialistas a debitar nas TV*. Nada que um qq estudo encomendado a empresa externa não vá em breve analisar. E mesmo assim, esperemos pelo verão 17, como Sísifo.
No princípio era o fogo, e a estupidez de um Secr Estado que retirou a FAP do combate aos fogos florestais-dois Hécules C-130 (Mr Vara I supose). Why?
Depois a EMA, que Portugal é grande e sucessivos MAI** seus profetas guardiões.
Na vizinha e pequena Espanha, vi há anos onde estava a frota de Canadair. Uma Esquadra do Exercito del Aire. Mau exemplo?
Imaginação de há anos no Jornal do Fundão:
Final de Maio, numa base aérea no centro do país, Tancos ou Monte Real: instalado um Quartel-General de chefia militar, presenças do MAI, SNPC-Bombeiros...
Plano de vilgilância do território com base meios ligeiros FAP; meios ligeiros para postos de controlo aéreo no ataque a cada incêndio, com quadro bombeiro experiente a bordo.
Do Exército, em vêz de uma centena de militares de há um dia no norte, cinco centenas a um milhar prontos para ajuda aos bombeiros, entre Jun-Set.
...para não alongar:
*Há pouco numa TV, Alto Especialista: análise de ordem geo-econ-florestal de quem tudo sabe. Forçado a não continuar numa das autarquias mais endividadas do país e depois de cheia de obras inúteis, o regime tem que o colocar: preside a Liga de Bombeiros - o Partido impôe-se calar alguns dos seus e facilitar-lhes a ocupação do tempo (acumula aliás no SCP)
**A ex do todo poderoso MAI que paga a duas consultoras externas a reforma idiota da GNR anos 2006-7, Mr Costa.
E em vez de uma Liga de Bombeiros super profissionalizada, a ex dos Sapeurs Pompiers FR, esta miscelânia de tugas a atropelar-se uns aos outros: um Unidade de Bombeiros especiais na GNR!
A bem do Regime.

IsabelPS disse...

Já agora, uma explicação muito sucinta de alguém que se interessa bastante por esta temática e, não por acaso, é meu irmão:

"As razões são as mesmas que fazem de Portugal o maior produtor mundial de cortiça: condições edafoclimáticas excepcionalmente favoráveis aos fogos.
Como durante séculos isto foi gerido pela agricultura e pastorícia, não se desenvolveu uma cultura de gestão racional do fogo (e a situação actual é historicamente diferente das outras).
Quando o problema começou a tornar-se um problema socialmente relevante (cerca de vinte a trinta anos depois do abandono rural), estávamos em plena afirmação do poder local, umbilicalmente ligado às suas corporações de bombeiros, com os serviços florestais em desagregação, o que fez com que o conhecimento do assunto que residia em quem gere as matas não tivesse passado para quem passou a ter o poder de decidir sobre o fogo: as corporações de bombeiros treinadas para fogos urbanos."

Henrique Pereira dos Santos disse...

Como é que é possível? Deixando de comer cabritos.

Anónimo disse...

Cara Margarida, uma boa forma de prevenção seria a limpeza das florestas, aquela coisa que antigamente era feita de forma natural pelo uso agrícola e agora já não é. É, porém, relativamente fácil de resolverse se puser o politicamente correcto de lado. É uma tarefa óptima para os presos fazerem. Pelo menos aqueles que, desde onde vejo a coisa, devem ser condenados a trabalhos forçados.

Tenho plena noção das dificuldades de organizar o trabalho fora da penitenciária. Porém grande parte dessas dificuldades advêm da mentalidade - errada desde onde vejo a coisa - de que os presos têm direito a ser bem tratados. Eu, como nunca alinhei nessa história da Carochinha e até acho que quem agride a sociedade opta por perder quaisquer direitos sejam eles quais forem, não tenho essa restrição mental. Se se eliminar esse aspecto e se adoptar o pragmatismo ver-se-á que é relativamente simples organizar tudo isso. O perigo de fuga, pelo menos, fica eliminado o que facilita as coisas e diminui largamente o número de guardas necessário.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Zuricher
Sempre achei que quem está a cumprir pena deve trabalhar, deve ser útil à sociedade. Dizem os defensores do contrário que a Constitução não permite. Pois então que se altere a lei fundamental se reside aí o obstáculo.
A limpeza das florestas é um trabalho necessário e muito útil. Com o despovoamento das terras e o envelhecimento da população que não as abandonou é necessário encontrar soluções para a limpeza da floresta e cultivo das terras. Claro que há certamente muitas outras coisas a fazer em matéria de prevenção e valorização da floresta e repovoamento. A gestão da floresta está muito ligada ao ordenamento do território. Temos dificuldade que olhar para toda esta problemática fora da lógica dos "silos".
Ainda ontem a ministra da administração interna numa entrevista a uma televisão respondeu, quando questionada pelo jornalista sobre a articulação das políticas de prevenção dos incêndios com as políticas agrícolas, que o assunto não era da sua responsabilidade ou tutela, não me lembro da expressão utilizada.
Insistir na organização da vida colectiva em silos não tem futuro. Muitos dos nossos problemas têm que com esta concepção completamente errada e ultrapassada pela realidade.

Anónimo disse...

Cara Margarida, estamos de acordo. Porém, na forma em que o sistema prisional existe hoje em dia não é viavel uma coisa destas. Por um lado os presos têm que ser pagos e, por outro e o grande motivo que inviabiliza tudo isto, como é que impede que eles fujam? Na forma em que tudo isto existe hoje em dia não tem como impedir essa fuga sem um dispêndio incomportavel de meios humanos que levaria a que andasse a poupar no farelo para gastar na farinha. Pelo contrário, se se usassem umas boas grilhetas, umas boas correntes e umas boas bolas de ferro com peso suficiente para impedir a fuga haveria possibilidade de tudo isto ser feito. Isto e muito mais, aliás. Só que esta solução não pode usar-se. Não só é politicamente incorrecta como, dizem os paladinos da coisa, vai contra os direitos humanos.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bmonteiro
O que nos conta não faz sentido, pode fazer mas é para meia dúzia de iluminados que anda preocupada com outras coisas...