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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Desemprego: as palavras difíceis

Os mais recentes números sobre o desemprego em Portugal publicados pelo INE mereceram dos mais importantes jornais diários um destaque pouco usual. Eventualmente, por se ter registado no último trimestre do ano de 2004 o valor de 7,1%, passando a barreira psicológica dos 7%, algo que já se tinha verificado em 1995-1996, bem como, indo um pouco mais atrás, de 1983 a 1987. Uma outra razão será o facto de o pequeno salto de 0,3% registado na passagem do 3.º para 4.º trimestre ter quebrado a estabilidade relativa dos trimestres anteriores.

Porém, há uma outra razão para esta dramatização: o Eng.º Sócrates e o PS colocaram o problema do desemprego na agenda da campanha ao prometer mais 150 mil empregos numa legislatura e ao dar-lhe lugar de destaque no seu discurso eleitoral.

O problema existe e é muito provável que se venha a agravar. Olhando um pouco para o passado poderemos rapidamente concluir que o aumento das taxas de desemprego sucedem com um ligeiro atraso aos anos de crise, prolongando-se por mais três a quatro anos. Ou seja, a retoma económica só gera emprego alguns anos depois, permitindo absorver uma parte significativa desse desemprego.

O drama de cada desempregado, das suas famílias, de partes significativas de comunidades, existe e não pode ser desvalorizado ou disfarçado.

Mas o que também existe é o mito do pleno emprego, construído sobre as mais baixas taxas de desemprego existentes na Europa e sobre políticas públicas geradoras de emprego artificial: os agora desempregados actuais andaram a pagar os impostos com os quais o Estado aumentou significativamente a oferta de emprego. As baixas taxas de desemprego são artificiais e sustentam a baixa competitividade da economia: foi assim entre 1988 e 1992, bem como entre 1997 e 2002.

Se olharmos para alguns dos mais dinâmicos parceiros europeus poderemos perceber a diferença. A Finlândia entre 1990 e 1993 passou de pouco mais de 3% para cerca de 16% de desemprego. A partir de então tem vindo a descer de forma sustentada aqueles valores. A Irlanda teve taxas acima dos 15% entre 1984 e 1989, bem como em 1992-93. Agora, está abaixo dos 5%. A Espanha atingiu valores superiores a 20% em 1985-1986 e 1993-1997. Mais recentemente oscila perto dos 10%.

As elevadas taxas desses países apenas denotam a extensão e profundidade da reconversão da sua economia. Agora são mais competitivos, crescem a ritmos superiores como se não existisse crise nenhuma e apresentam finanças públicas saudáveis.

O PS ainda não aprendeu a lição e aposta no mesmo erro. Prometer empregos é bom para ganhar eleições, mas é péssimo para a economia e para o futuro do país.

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