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domingo, 27 de fevereiro de 2005

A raposa e o busto

Revisitei a edição das Fábulas de La Fontaine editada pela Temas e Debates. Oportunidade para me deliciar com a recriação dos fabulários de Esopo e Fedro. A obra tem um interesse acrescido porque é uma compilação de extraordinárias traduções e adaptações realizadas por poetas portugueses e brasileiros do século XIX. Pinheiro Chagas, Bocage, Couto Guerreiro, Curvo Semedo, Fernando Leal, Francico Palha, Filinto Elísio, são alguns deles.
A moral e a ironia crítica das fábulas são sempre actuais. Deixo aqui recordada a da raposa e o busto, traduzida por Moura Cabral, suspeitando que alguns dos que por aqui passam não resistirão à tentação de identificar o busto, o burro e a raposa...

Era um busto famoso, um todo teatral...
Por entre a multidão o burro, esse animal
Que não sabe julgar senão as aparências
Gabava da escultura as raras excelências.
A raposa, porém, um tanto mais sabida,
Aproxima-se e diz:
«Não vi, por minha vida,
Cabeça tão perfeita!... É mágoa verdadeira
A falta que lhe faz lá dentro a mioleira!»

Aos centos, pelo mundo, os homens conto
Que são bustos perfeitos nesse ponto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei, meu caro Luís, se o tradutor seria tão sagaz ;)

Suzana Toscano disse...

No original era uma máscara grega, usada no teatro. "Oh, quanta specie, inquit, cerebrum non habest...!" O Zé Mário ainda se deve lembrar das aulas de latim!