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quarta-feira, 2 de agosto de 2006

“Conversas de doenças”…

A maioria dos portugueses adora conversas de doenças, quase que poderíamos afirmar que são um dos pratos mais favoritos.
A ânsia em transmitir a má nova é tão forte como se fosse um ácido capaz de corroer a alma do seu portador. A notícia, verdadeiro acto explosivo, é, invariavelmente, precedida da tenebrosa frase: - Já sabe o que aconteceu a fulano? Pronto, lá vem mais uma. - O que é que aconteceu? Num ápice, como se tivessem necessidade de esconjurar o mal, contam, com mais ou menos pormenores, o acontecimento. As interjeições de espanto, usuais nestas circunstâncias, são acompanhadas do realce das qualidades, atributos e virtudes da vítima, tradutoras de uma morte anunciada. Também são referidas a precariedade da nossa existência e a inutilidade de certas ambições e comportamentos. Claro que estas atitudes duram apenas algumas décimas de horas ou centésimas de dias, findas as quais perdem a validade, ficando impróprias para consumo.
Uma parte significativa das pessoas, nestas ocasiões, muda de opinião, à velocidade da luz, como se as prévias atitudes, em grande parte negativas ou pouco abonatórias, lhes propiciassem o risco de virem a ser castigadas pelo mal da pessoa atingida. Mas há os que se condoem da vítima, garantindo alto, e em bom som, que vão rezar pela sua saúde.
As convicções religiosas não devem ser questionadas, já que é um assunto do íntimo de cada um. Mas o seu papel na cura ou na melhoria do estado de saúde das pessoas que recolhem os efeitos das orações não são diferentes dos que não têm quem reze por eles.
O estudo STEP (Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer) examinou 1.800 doentes que sofreram by-pass coronário. Os que receberam as preces não beneficiaram em termos de complicações ou de sobrevivência. Houve sim, um ligeiro agravamento, em termo de complicações, no grupo de doentes que tiveram conhecimento de que estavam a ser sujeitos às orações! A explicação é simples, o facto de saberem que as pessoas estão a rezar pela sua saúde é um importante factor de ansiedade, do género: - Estou mesmo mal! Sendo assim é provável que ocorram mais complicações provocadas pelo stress.
Este estudo não quer por em causa as intenções das orações, sendo muito provável que, noutras situações, possam haver efeito positivos, mas as razões deverão ser encontradas nos melhores cuidados e preocupações de familiares e amigos do que propriamente nas orações.
Já agora, os que tendo tido atitudes negativas ou mesmo hostis face às pessoas antes de serem declaradas doentes e que, repentinamente, passam a dizer bem, o melhor é não rezarem por elas. Em primeiro lugar, porque não há evidência científica do seu efeito, em segundo, porque pode ser pernicioso, ao permitir que as vítimas, ao terem conhecimento de semelhante atitude, pensem: - Era o que mais me faltava! Fulano quer rezar pela minha saúde? Devo estar mesmo muito mal!

3 comentários:

Tavares Moreira disse...

Caro Professor,

Creio que o Senhor não estará a ver o Pres. Bush orando com devoção pelo rápido restabelecimento do Pres. Fidel, ultrapassando a enfermidade que o obrigou a passar a pasta ao mano jovem Raul Castro...
Mas se isso acontecer, por alguma estranha motivação, a nota final do seu post estará prenhe de sentido e oportunidade.
Espero amanhã poder contar uma história real, curiosa e recente, tendo como protagonista o Pres.Fidel.

just-in-time disse...

Os portugueses, em geral, convivem mal com a saúde, como convivem mal com as pequenas indisposições. Muitos acham-se sempre "estoirados" e "esgotados". Esquecem o velho dito de que ao corpo se deve dar menos do que ele pede senão, quando precisamos dele, ele trai-nos.
A propósito do comentário do Dr. Tavares Moreira, agora é que vamos saber se o Presidente Bush é visitante do 4R!

Isa Maria disse...

é mesmo típico dos portugueses queixarem-se até à exaustão.