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sábado, 12 de agosto de 2006

Fogos florestais, o ritual

Quando o número e o impacto dos incêndios demonstram a insensatez dos optimismos exagerados, o insucesso das medidas e a temeridade das promessas de que este ano é que vai ser diferente, é certo e sabido que lá vem um ministro ou um secretário de Estado acusar as populações de negligência na conservação das matas.
É um clássico. Não estranhei por isso ouvi-lo de novo este ano.
Há tempos, aqui no 4R anotaram-se e discutiram-se razões que levam à incapacidade dos proprietários florestais, em especial os pequenos, de proceder a uma exploração que diminua as quantidades de combustível nas matas.
A resolução do problema concerteza que não dispensa quer o esclarecimento, quer a chamada de atenção ou o estímulo a boas práticas de conservação das matas e manchas florestais, não só das privadas mas também das públicas, muitas delas raramente objecto de limpeza.
Mas exigem-se outras medidas, imaginativas e bem mais eficazes no que respeita à prevenção do que o recorrente queixume ministerial.
Porque não canaliza o Governo, por exemplo, apoios para a instalação de unidades de aproveitamento da biomassa que todos os anos alimenta milhares de incêndios, designadamente os que Bruxelas tem disponíveis para o desenvolvimento das energias alternativas?
Para além de se conseguir o indispensável estímulo económico à recolha dos resíduos florestais, o efeito ambiental é significativo. Para além da diminuição do combustível nas matas, o aproveitamento energético de um só metro cúblico de biomassa significa a poupança de 250 litros de petróleo e evita a emissão de 600 kilos de gazes com efeito de estufa.

1 comentário:

RuiVasco disse...

Fujo à questão concreta levantada nesta mensagem de J.M Ferreira de Almeida, para arremessar mais achas para o tema geral, do Ambiente e dos Fogos.
Acabo de chegar a casa depois de um dia esplendoroso, em excelente companhias, interessantes cavaqueiras, e muitos ensinamentos recebidos. Tudo isto, no meio de frondosos e belos arvoredos da Serra de Sintra. A meio da encosta, que vai da Vila ao Palácio da Pena. De um miradouro que a casa onde passei o dia possui, alcança-se um boa parte de um património espantoso, culminando, bem alto, com o Castelo e o Real e Magnífico Palácio. Ponto de parte o entusiasmo que me tocou, que ainda trago comigo, e que me levaria a escrever sobre este dia durante uma hora,( coitados de vós) vamos à razão da minha intromissão no blog.
Passam-se os anos e cada ano se repetem erros, palavras e destruição. Nunca alguém se debruça com seriedade e coragem sobre o tema, embora todos prometam fazê-lo. Sobre os interesses de madeireiros e celusoses, mas também dos interesses corporativos e pessoais de bombeiros. (politicamente incorrecto mas demasiado verdadeiro para ser escamoteado como muitos desejam). Só que há mais. E são muitos os elementos para análise, porque hoje durante a tarde tambem deste tema se falou. Deixo o assunto para os técnicos e apenas dois casos ouvidos e ali passados:
- uma experiência positiva - um trabalhador de uma das casas da serra, em dia de chuviscos, mas já, em mês de verão, decidiu fazer uma pequena queimada de folhas secas, num espaço aberto, e que provocou, naturalmente, fumo. Cinco minutos depois chegava um carro de bombeiros. Uma das brigadas permanentes, ali colocadas pela câmara, detectou o fumo e ao primeiro indício actuou. Os responsáveis arriscaram coimas ou outras penas que não sei se foram ou não concretizadas.Excelente!
- outro, preocupante: o proprietário de uma pequena quinta na mesma serra quis limpar o seu terreno. Deu conhecimento à Câmara e esta não autorizou, pois há no local vegetação rasteira por entre àrvores de porte, cuja preservação tem de ser garantida, e bem, por gente especializada. Só que, agora ninguém o faz, porque a Câmara não tem gente, nem dinheiro. E o Ministério do Ambiente, da Cultura, da Administração Interna algumas vez se entendem e resolvem estas questões? Quando derem conta o cenário de há 39/40 anos( se não erro) repete-se e a serra arde, com o lixo e o património que se diz querer defender! Só com palavras e legislação nada se faz! Entretanto tudo se destrói! Em todos os casos, para além de Sintra, é riqueza nacional e ambiental que se perde. E para que não se venha a dizer que para defender 10, se mataram 1.000!
Do mesmo miradouro, contaram-me, via-se, há alguns anos, lá bem longe, as Berlengas. Hoje, o ar que separa os dois terrenos, não permite a visibilidade. Aos poucos vai-se a terra, o ar, e a àgua há muito que a destruimos.
Queixem-se,um dia,quando a Terra arder!
(perdoem-me a dimensão do texto!)