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sexta-feira, 22 de setembro de 2006

O exemplo (quase) inacreditável da Cantor Fitzgerald

No ataque terrorista às torres gémeas de New York, de 11.09.01, uma empresa sofreu danos inimagináveis e, numa primeira análise, irreparáveis: a “broker-dealer” Cantor Fitzgerald, um dos mais importantes intermediários da Bolsa de Valores.
A Cantor Fitzgerald ocupava cinco pisos da Torre Um, do 101º ao 105º, no World Financial Center.
Em consequência daquele ataque, pereceram 658 dos seus colaboradores, incluindo os sócios, brokers (executam ordens de compra e venda de títulos dos clientes), traders (compram e vendem títulos segundo estratégias próprias), especialistas em tecnologias da informação, empregados administrativos e secretárias.
Morreram todos os que se encontravam ao serviço nos 5 pisos naquela fatídica manhã.
A Empresa ficou quase totalmente dizimada, escapando apenas aqueles que por razões acidentais não se encontravam no edifício na altura, bem como dois colaboradores que se encontravam nos elevadores e que ainda puderam salvar-se, um deles sofrendo graves queimaduras.
Um dos poucos que escaparam foi Howard Lutnick, um dos sócio da Cantor com seu irmão Gary e alguns amigos próximos, todos estes mortos no ataque.
Howard encontrava-se fora do escritório para levar um filho ao jardim de infância, naquele que era o primeiro dia de “aulas”. Salvou-se por isso.
Outra meia dúzia de colaboradores escaparam à carnificina por se encontrarem em trabalho no exterior.
E ficaram também, por óbvias razões, os que trabalhavam no escritório de Londres.
Os anos que se seguiram constituem uma verdadeira epopeia de trabalho, que em Portugal será por certo entendida como fenómeno estranho e exemplo a evitar.
Howard Lutnick e os poucos que com ele sobreviveram lançaram-se numa tarefa quase impossível de recuperação do que restava de capital da Cantor.
Mudaram três vezes de instalações encontrando-se agora num escritório ocupando os primeiros pisos de um prédio entre a rua 59 e a Lexington Ave, muito próximo do conhecido Bloomingdales.
Howard nunca mais quis instalar-se em pisos elevados.
Estiveram várias vezes à beira de desistir, de fechar a porta, mas persistiram sempre.
A grande parte dos colaboradores tem trabalhado – ainda hoje trabalham – cerca de 90 horas por semana. Howard só excepcionalmente não trabalha aos fins-de-semana.
E o que aconteceu cinco anos volvidos?
A Cantor tem hoje mais empregados do que tinha em 11.09.01.
Recuperou o seu lugar no mercado, voltando a ser uma das mais prestigiadas “broker-dealer” da Bolsa de New York, nomeadamente no mercado de dívida que foi sempre a sua principal especialidade.
Até parece mentira, mas é verdade factual.
Para quem estiver interessado em mais pormenores, designadamente histórias pessoais nalguns aspectos impressionantes, sugere-se a leitura da edição da BusinessWeek de 11/09 último.

3 comentários:

Tavares Moreira disse...

Caro Pinho Cardão,
Sugiro uma hipótese alternativa, não menos provável.
em Portugal Mr. Howard teria sido impedido de continuar a actividade pela autoridade de supervisão,por não preencher requisitos de fundos próprios, e seria então nomeada uma comissão administrativa, composta por burocratas, para proceder à liquidação do que restava do negócio.
Essa comissão, remunerada de forma luxuosa, teria hoje cumprido sensivelmente 50% do seu trabalho, e apresentado alguns volumosos relatórios de progresso (ou "progress reports", mais bonito).
Quanto aos activos, já não existiria nem rasto.

Tonibler disse...

Exemplo notável de como o que vale, ao fim do dia, são as pessoas e aquilo que elas vão fazendo com o seu conhecimento e com a sua vontade.

Penso que colocar a hipótese de tal acontecer cá não é sequer razoável. É quase impossível começar do zero, quanto mais recomeçar.

RuiVasco disse...

Eu cá por mim acho que o problema ia ser os Sindicatos...os programas opiniâo Pública e Forum TSF...a exploração do homem pelo homem ou pela mulher...o não pagamento de horas extraordinárias...e outra trafulhices capitalistas que o Tonibler descobriu há dias no determinismo puro e no mercado de capitais! E havia mais, mas não tenho tempo porque, como não sou sindicalizado, tenho de trabalhar...
Obrigado TM pelo "mau" exemplo que nos trouxe!