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segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Reformados-activos

Um estudo efectuado nos EUA e divulgado em 2005 pela Putnam Investments, uma importante empresa de investimentos, que também gere planos de pensões, revela uma significativa mudança de comportamento dos reformados naquele País.
Assim, verifica-se que nos últimos anos, cerca de 7 milhões de americanos, entrados na reforma, voltaram ao trabalho depois de terem passado um período de inactividade médio inferior a 2 anos.
Esse grupo de reformados regressados ao activo apresenta uma idade média de 61 anos, trabalhando em média 29 horas por semana, havendo um grupo não despiciendo que trabalha mais de 41 horas.
Curiosamente, a maioria tinha já desejo de voltar ao trabalho no momento da passagem à reforma. Assim, 68% regressaram ao trabalho mais por vontade própria e gosto, enquanto que 32% disseram tê-lo feito sobretudo por necessidade financeira.
É também interessante constatar que neste grupo de 7 milhões:
- As poupanças pessoais voluntárias (entre nós chamado 3º pilar) representavam apenas 11% do rendimento do agregado familiar no momento da reforma;
- Os rendimentos de planos de pensões (2º pilar) representavam 24%;
- As pensões da segurança social (1º pilar), representavam 41%;
- Os restantes 24% provinham de diversas outras fontes.
Outro dado de interesse é o facto de o rendimento médio do agregado familiar destes reformados-activos, 86.800 USD, ser bastante superior ao dos reformados-não activos, que é de 54.200 USD. Parece que vale a pena continuar a trabalhar, pois.
Uma das razões específicas dos reformados-activos que indicaram as necessidades financeiras como motivo principal do regresso ao trabalho consiste na necessidade de pagar o serviço da dívida da hipoteca sobre a casa (vulgo empréstimo à habitação).
Também digno de nota é a indicação de que 45% deste grupo declara que a qualidade do acesso a cuidados de saúde (supostamente melhor enquanto activos) teve a mesma importância que a obtenção de um rendimento adicional na decisão de voltar ao trabalho.
O estudo em causa termina com algumas recomendações para os que se encontram ainda longe da reforma, a saber: (i) começar a poupar muito cedo, para valorizar a capitalização para o 3º pilar, (ii) desenvolver um plano de investimento, recorrendo ao conselho de profissionais, para tentar maximizar o rendimento do 3º pilar, (iii) poupar o máximo que for possível através do plano de reforma patrocinado pela entidade empregadora (2º pilar).
Elementares estes conselhos, mas são talvez indispensáveis numa sociedade em que os hábitos de poupança foram quase erradicados nas últimas décadas.
Parece-me que estes conselhos serão actualmente muito úteis entre nós.
Nomeadamente quando vamos discutir, espero que com alguma seriedade, as linhas mestras da reforma da segurança social.

17 comentários:

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Vou fazer uso da sua experiência para me esclarecer uma dúvida que tenho cada vez que se fala de SS. A Segurança Social portuguesa tem mecanismos de capitalização, certo? Portanto, em termos gerais, já temos um sistema misto de repartição e capitalização. Podem ser muito mal feitas as duas, mas já existe, ou não? Logo, no bolo total a distribuir o problema não está na estrutura da coisa, mas na forma como é feita. (afirmação em jeito de pergunta)

Só vou acrescentar dois conselhos aos portugueses em particular.

1.Aprendam a "quadrar" a vossa vida financeira. Se os vossos ordenados, hoje, não sobem por causa da Europa de Leste, então invistam as poupanças na Europa de Leste.

2. Não acreditem em gestoras de fundos de pensões que vos mostram rendibilidades de 2% ao ano. Para isso metam o dinheiro no colchão.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,
Não existe capitalização no sentido de um 2º pilar, mediante contribuição do futuro pensionista para uma conta em que essas contribuições sejam capitalizadas autonomamente, vindo a constituir, na passagem à reforma, uma fonte de rendimentos do titular.
Existem fundos de capitalização na segurança social, geridos por um Instituto de Gestão próprio (instituto público), os quais respondem globalmente pelo financiamento dos encargos da Segurança Social do Estado e de outros sistemas previdenciais.
São por assim dizer "redes de protecção" do financiamento da segurança social,em geral, sendo que a rede de última instância é o Orçamento do Estado.

Caro Jardim das Margaridas,
Parece-me continuar a existir um forte preconceito oficial contra a criação de um verdadeiro 2º pilar do sistema de formação da pensão de reforma.
Confesso que este preconceito´não é facilmente explicável numa época em que se fala tanto de inovação.
Mas já nada nos deve surpreender...
A preciei muito seus comentários.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Então, como pensava, aquilo de que estamos a falar, em termos de bolo global, é substituir a gestão do Instituto Público do "Fundo Global dos Portugueses" pela gestão de outras gestoras de fundos do "Fundo Particular de Cada Um".

Mas se hoje os resultados das carteiras da SS contribuem para a tal "repartição", no cenário da gestora escolhida pelo contribuinte essa repartição tem que ser directa do orçamento de estado, porque o resultado do fundo vai directo à pensão de cada um dos contribuintes. Logo, o sistema misto, em rigor, não existe!

Isto não me parece necessariamente mau, mas vou-lhe ser franco, não me parece assunto para ser tratado por "governo" e "oposição"(às vezes fico a pensar qual será?...;) ).

Estes dados americanos são muito interessantes porque são aqueles que reflectem a nossa sociedade daqui a 10 anos e que deveriam ser a base de uma reforma da SS. Mas entre "governo" e "oposição", nada disso se vai passar, certo?? Não espero que me responda...;)

Carlos Monteiro disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Carlos Monteiro disse...

Estavas a tirar a prova dos nove?...

;)

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,
Na minha perspectiva, que não é única nem inovadora, uma das razões mais fortes para a consagração do 2º e 3º pilares no sistema de pensões, para além da sustentabilidade financeira, é a transformação do processo de formação da pensão num assunto em que o pensionista intervem, está directamente envolvido, "faz pela vida".
No actual sistema é o Estado que trata de tudo, aliena o contribuinte/pensionista da preocupação de resolver um dos mais importantes parâmetros da sua vida pós-activo.
Deixe-me dizer-lhe, se bem tenho entendido as suas habituais dissertações acerca do papel central da iniciativa individual na resolução de problemas colectivos, que esta desejável mudança na organização da segurança social está exactamente na lógica dessas dissertações.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Eu concordo consigo no abstracto. Estamos a passar a gestão do estado para as mãos de cada um. Aquilo que me assusta é o concreto português, que reforma de um lado, deixa tudo na mesma do outro e chama "misto" ao resultado final.

Se há coisa que devemos estar mais assustados que com a falência da Segurança Social é com a reforma que vai ser feita com ela. Vai-se colocar muita ideologia em algo que é puramente técnico. E vai dar asneira.

Por isso andava à procura de perceber o que era exactamente um sistema "misto". Mas concordo consigo.

Anthrax disse...

Caro dr. TM,

Como sabe, eu não percebo nada desta "horta" mas, gostaria de lhe colocar uma questão.

Este estudo que apresenta parece-me bonito. A sério que parece. E após uma primeira leitura, a minha primeira tendência até foi a de concordar. Depois, fui almoçar e agora vim ler o texto novamente. Assim, a pergunta que me "assaltou o espírito" foi; porquê levantar a questão das poupanças e dos reformados agora?

Bom, quanto ao momento a resposta é simples, "agora" é tão boa altura como outra qualquer. Mas, resta a questão principal, salvaguardando o facto da realidade norte-americana não ser idêntica à realidade portuguesa.

Assim relativamente à poupanças dos portugueses, pergunto como é que é possível pedir a uma pessoa da classe média, trabalhador por conta de outrém, que poupe quando o seu ordenado médio é de 717,50 € mensais.

Se viver numa casa (tipo T1) arrendada, numa zona razoável, paga pelo arrendamento cerca de 500,00 € (sem recibo, porque se for com recibo é mais caro). Assim esta nossa cobaia fica com a módica quantia de 217,50 € para viver e pagar as restantes despesas durante o resto do mês.

Portanto, eu pergunto, esta criatura vai poupar -exactamente - no quê?

Se virmos as coisas na perspectiva de uma família, classe média, ambos trabalhadores por conta de outrém, com dois filhos e perfeitamente saudáveis (porque esta gente, simplesmente, não pode estar doente, nem sofrer de nada), o cenário pode ficar ainda mais negro.

Se em termos médios o rendimento de uma família da classe média for de 1.033,60 €, logo para a casa (seja arrendada ou seja comprada, numa zona razoável), não pagam menos de 750,00 €. Sobra-lhes 283.60 € para o resto das despesas do mês.

Portanto, a pergunta mantém-se. Estas criaturas vão poupar - exactamente - no quê?

Ah sim, e atenção, porque nós aqui não estamos a contar com o recurso ao crédito.

Depois, na questão dos reformados fiquei com vontade de rir :). Isto porque, de facto, alguns reformados podem fazer aplicações financeiras mas, a grande maioria anda na penúria e quando transmitem uma reportagem a dizer que 60% dos idosos portugueses são pobres (embora a população de reformados possa incluir outros não-idosos)pois... Pessoalmente, acho que é preocupante mas para os decisores, estamos em 4º lugar e isso quer dizer que há mais 3 países à nossa frente, quando estivermos em 1º lugar, logo nos preocupamos.

Quanto à SS, não sou fatalista mas, acho que pessoas - como moi même - que ainda têm muitos anos de trabalho pela frente é melhor tratarem de arranjar um "Plano B", porque muito, honestamente, quando chegar a nossa altura "vamos ver Braga por um canudo". E com toda a minha generosidade e bom coração, não percebo porque tenho de estar a pagar a SS dos outros, é egocentrismo? Pois, provavelmente, será mas, em 1º lugar está a minha sobrevivência e a dos meus. Se eventualmente tiver rendimentos para ser altruísta, sê-lo-ei. Mas, a minha prioridade, não é essa.

Para concluir, no que respeita àqueles valores médios que utilizei, foram publicados na reportagem "Retrato de Família", na revista do Expresso do dia 29/04/2006, como eu achei aquilo escandaloso retirei os dados e pus-me a fazer contas. Infelizmente, não posso dizer que sejam representativos porque eram só 6 famílias.

Tavares Moreira disse...

Caro Antrax,

Muito interessante a sua interpelação. Começa a discordar e, não sei se por distracção acaba por...concordar e de forma exuberante!
Quanto ao estudo que referi ele retrata a realidade de de um País em que as Famílias deixaram de poupar, embora tenham rendimentos bastante superiores aos das Famílias portuguesas.
Os números que referiu, embora significativos, pecam por defeito pois não incluem fontes de rendimento não convencionais, com bens herdados, trabalho informal e outros.
Portanto não se impressione demasiadamente com essas médias estatísticas da "pobreza" nacional.
A sua confissão final é que me parece de grande significado, a favor nos "novos pilares".
Um bom testemunho, sem dúvida.

Anthrax disse...

Ah ah ah ah ah ah ah ah! :))

É verdade dr. TM, eu sou um pouco exuberante mas, pelo menos, fui logo avisando que não percebia nada disto. :)

Também é verdade que a reportagem não incluia rendimentos alternativos, mas eu só me lembrei dos cartões de crédito. No entanto, não me parece que se possa generalizar, nem para um lado, nem para o outro. Além disso, no que é que nos tornaríamos se estivessemos à espera que alguém morresse para herdar alguma coisa?

Portugal é uma catástrofe económica sempre à espera de acontecer e quando as coisas estão bem é porque houve algum acidente de percurso. Sempre foi assim. Sempre gastámos o que tivemos e o que não tivemos. Sempre quisemos mais parecê-lo do que sê-lo e sempre que encontrámos riqueza, foi por acidente. Mas sejamos positivos, se estivessemos no Gana era pior... ou talvez não, afinal as prioridades são outras.

Quanto à minha confissão final, pois disponha dela à vontade :) mas, desde que tenha em atenção que eu ainda não percebi nada dos pilares que está a falar.

Virus disse...

Caros comentadores,

muito me apraz ver um estudo deste género ser aqui comentado e fazer-se uma projecção para a realidade portuguesa daqui a uns anitos, mas sejamos francos se nos pusermos a dissecar os valores e o que se passa nos EUA então qualquer semelhança entre o estudo apresentado e a realidade portuguesa é pura fantasia, nem daqui a 100 anos, senão veja-se apenas pelo prisma mais simples:

1- Uma familia média americana de reformados, que não exerça nenhum tipo de ocupação remunerada, ganha em média uma reforma de cerca de 4500 USD (+/- 3400 EUR) mensais.

2- Uma familia média americana nas mesmas condições, mas que exerça alguma tipo de actividade remunerada, recebe cerca de 7.250 USD (cerca de 5.500 EUR) mensais.

Digam-me lá onde é que algum de vós aqui julga que isto é viável em Portugal nos próximos 25 anos? Já agora este rendimento mensal das famílias chega e sobra para viverem nos EUA, sobretudo se se deslocarem e forem viver para Estados tipo a Florida (onde aliás é para onde vão quase todos os reformados), uma vez que nos Estados mais... activos (na falta de melhor palavra) género Nova Iorque, Connecticut, Califórnia, Delaware, Maryland, Nova Jersy, Michigan, bla bla bla, a vida é considerávelmente mais cara!

Agora deixem-me que vos diga, viver na Florida não é propriamente viver mal, e é mais barato um mês na Florida que 15 dias no Algarve em Agosto.

Quanto à ideia de reformados-activos parece-me algo complicada tendo em atenção que se não conseguimos sequer ter mercado de trabalho para os mais jovens, se praticamente ninguém contrata pessoas com mais de 35-40 anos para fazer o que quer que seja, se os salários continuam a ser a miséria que são como é que esperam fomentar ou sequer pensar que será possível uma evolução no sentido do que se passa nos EUA?

Anthrax disse...

Esta, é a parte em que me poderiam ver a bater com a cabeça nas paredes até ficar inconsciente.

É por causa de exemplos destes que fico deprimido e me pergunto: "O que é que eu estou aqui a fazer?", depois vou a correr para o armário dos medicamentos, com um copinho de água na mão, para tomar ansiolíticos e aqueles pacotinhos para as úlceras - note-se que são medicamentos não genéricos e não comparticipados - felizmente, agora não os tenho aqui à mão, pelo que, vou ficar a ressacar até chegar a casa.

Que deprimente!

Tavares Moreira disse...

Caro Anthrax,
Não se sinta tão deprimido, pois até acho que está no bom caminho.
Comece a tratar do seu 3º pilar de reforma desde já, não perca tempo.
Ponha em execução as suas reflexões, não se deixe ficar pelo plano intelectual.
Se seguir este aviso, daqui por uns anos reconhecerá que lhe dei um bom conselho, no momento certo.
Terei aliás muito gosto em aconselha-lo de forma mais específica, sem qualquer interesse pessoal, desde já esclareço.
Não se entregue nas mãos de um qualquer gestor de investimentos ou de patrimónios, não aceite atribuir mandato de "gestão discricionária" da sua carteira de investimentos.
Mas não perca tempo, por que ainda está a tempo!

Anthrax disse...

Caro dr. TM,

Acredite que muito estimo os seus conselhos e assim que puder, tratarei do meu 3º pilar mas, quando me ponho a pensar: «Praga - Viena ou poupança», ainda fico muito baralhado com as minhas prioridades.

Feliz e excepcionalmente, ainda não me encontro numa situação em que uma coisa possa invalidar a outra (o que não quer dizer que a 31 de Dezembro as coisas se mantenham).

Também vejo com muito bons olhos a ideia de investir em qualquer coisa. No entanto, não só, não percebo nada disso, como também, acredito muito naquele mito de que, só investe quem tem muito dinheiro (não tenho nenhuma explicação racional para isto. É mais na onda de uma questão de fé em que, uma pessoa acredita sem saber muito bem porquê).

Tonibler disse...

Oh camarada Anthrax, também não deve ser exactamente assim. Por exemplo os meus investimentos (para a reforma)foram pensados assim : "Se tivesse investido em Portugal em 1986, quanto é que tinha ganho até 1995?" Parece óbvio, ou não? É porque é mesmo. Então investi nos países que entraram há pouco tempo na UE.

A questão nunca está no perceber, as gestoras de fundos estão repletas de palermas que "percebem muito disto" mas só sabem trabalhar com o meu dinheiro. Está naquilo em que acredita. Eu acredito nos novos países da UE. Já me valorizou mais de 80%. Sugiro-lhe que aceite (entusiasmado!) a oferta do camarada Tavares Moreira para saber construir aquilo em que "acredita". Nem que seja para pôr 1 euro de lado todos os dias...

Tavares Moreira disse...

Caro Antrax,
Deixe-me acrescentar um último conselho: ouça o Tonibler que, pelo que vejo, é mesmo seu Amigo (com A).

Anthrax disse...

Camarada Tóni! :)

Passo a explicar, se o meu Tico perguntasse ao meu Teco: "Se tivessemos investido em Portugal em 1986, quanto é que tinhamos ganho até 1995?"

Sabe qual era a resposta? Uma embolia cerebral. :))

Eu estou-me a rir mas, é muito triste. Eu não sei fazer essas contas (tudo bem que não sei fazer porque não as percebo).

De qualquer forma, essa opção de investir nos novos países da UE parece ter sido uma excelente ideia.

E depois é assim, a minha gestão caseira resume-se a duas contas. Uma para gastar e outra - carinhosamente designada de "Fundos SOS", não vá haver alguma emergência - para poupar. Provavelmente por estupidez natural ou burrice, pura e dura, estão as duas à ordem.

Tudo que vai além disto, o Tico e o Teco entram em colapso. :))

Eu gostava de saber fazer o que vocês fazem, a sério que gostava, só que eu não sei fazer e também não sei separar "o trigo" do "joio".

De qualquer forma, agora fiquei curioso. Por isso, acho que vou tratar de me informar.