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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

“As meninas do papá”...

As mudanças sociais e culturais ocorridas nas últimas décadas têm encrencado aquilo que nunca foi fácil: educar as crianças e os jovens. Os pais preocupam-se com as novas tecnologias, com os novos conceitos, entretanto criados, com a saúde, segurança e bem-estar dos seus filhos numa perspectiva que é tão antiga como o homem, só que agora um pouco mais complicada. Mais complicada, porque a velocidade de maturação biológica está acelerada, sobretudo nas raparigas.
Uma das formas de avaliar o desenvolvimento das garotas é através da idade da menarca. Há 150 anos ocorria, geralmente, ao redor dos 17 anos. Agora, aos 12 anos, e até menos, muitas são confrontadas com a primeira menstruação. Os factores citados para explicar este fenómeno são, habitualmente, de natureza alimentar. No entanto, parece que existem outros, não menos importantes e pouco conhecidos.
Há alguns anos, psicologistas desenvolveram uma teoria psicossocial, segundo a qual as raparigas, que sofrem experiências stressantes nas fases precoces das suas vidas, adoptam, perante um hipotético futuro com dificuldades, estratégias reprodutivas aceleradas, das quais se destacam o início precoce da puberdade, gravidez precoce e relações de curto prazo. É curioso verificar que a ausência do pai biológico constitui um factor de precocidade. Em contrapartida, em ambientes mais estáveis, a puberdade é mais tardia, assim como o início da actividade sexual, além de maior solidez nas relações.
O stress familiar pode acelerar o início da menarca ao redor de seis meses. Pode parecer pouco, mas tem implicações interessantes, já que após aquele marco, a fertilidade não é total, ou seja, as meninas não ovulam todos os meses. Mas se a menarquia for precoce a ovulação é mais rápida. No caso de ocorrer antes dos 12 anos é preciso um ano para que 50% dos ciclos se acompanhem de ovulação, mas se ocorrer depois dos 13 anos são precisos 4,5 anos para que tal aconteça! Pequeníssimas alterações podem ter impactos muito importantes em termos de fertilidade e de consequências sociais.
Hoje, sabe-se relativamente bem como é que o stress actua ao acelerar a puberdade, estimulando a produção de hormonas.
Um estudo efectuado recentemente revela que as filhas, cujos pais estão presentes, tendem a pubescer e a terem a primeira relação sexual mais tarde do que as que não têm pai ou esteja ausente. É muito provável que as raparigas desenvolvam capacidades de adaptação ao ambiente social, adoptando diferentes estratégias reprodutivas de acordo com as circunstâncias em que crescem. As sociedades mais pobres são caracterizadas por puberdades mais tardias em virtude de falta de alimentos, mas, nalgumas, o efeito é o oposto, ou seja: se o risco de morte prematura for muito elevado, devido a violência, infanticídio ou doença, as raparigas alcançam rapidamente a puberdade de forma idêntica ao observado nas sociedades ocidentais. Adoptam uma estratégia que lhes permita reproduzir o mais precocemente possível.
O desfasamento entre uma puberdade precoce e a maturação intelectual e emocional gera conflitos delicados nas nossas sociedades, embora, em termos evolutivos, não deixe de apresentar vantagens...

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