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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

OTA em causa? Bom demais para ser verdade...

Foi hoje noticiado que o projecto OTA terá de ser sujeito a um novo estudo, desta vez para ser apreciado na óptica “custos-benefícios”.
A especulação jornalística referia inicialmente tratar-se de uma nova etapa neste projecto, desta vez justificada por reservas ou exigências suscitadas pelo Presidente da República.
O marketing oficial, como lhe cumpre, rapidamente esclareceu que não se tratava de dúvidas do Presidente (que, nesse plano oficial deve estimar o projecto tanto quanto o Governo) mas sim de exigências da Comissão Europeia, exigências essas normais (pois claro) uma vez que se trata de um projecto que deverá beneficiar de financiamento comunitário.
Para já duas coisas extraordinárias, a assinalar:
1.A primeira, que só se vá agora proceder a uma análise custos-benefícios, quando tudo o que tem sido dito pelo mesmo marketing oficial é que (i) o projecto vai seguir em frente, (ii) não existem dúvidas quanto à sua viabilidade técnica, comercial, económica e financeira (nenhumas, mesmo...) e (iii) os modelos de execução, financiamento, exploração, gestão, etc, se encontram definidos. Então depois de tudo isto é que se vai submeter o projecto a uma avaliação custos-benefícios? E se a avaliação custos-benefícios for desfavorável, o projecto vai “por água abaixo” e desmontam-se todos os compromissos assumidos e as verdades até agora absolutas caem fragorosamente perante custos esperados maiores que benefícios previsíveis? Ou já se sabe, de antemão, que a avaliação custos-benefícios terá de evidenciar resultado positivo, está “pré-fabricada”, constituindo somente um pró-forma para satisfação do algumas almas mais inquietas?
2.Mais extraordinário ainda, a absoluta tranquilidade com que os nossos “media”, após uma abordagem mais sanguínea, aceitaram estas explicações oficiais que bordejam a ( ou entram mesmo generosamente na) esfera do surrealismo mais avançado. Estamos a chegar ao ponto de “acriticidade” absoluta, onde estes “media” tudo admitem e tudo ingerem com a mais seráfica e cândida suavidade, desde que lhes seja ministrado pelo marketing oficial ( que espécie de tranquilizante estará a ser utilizado...).
“The madness of crowds” foi frequentemente antecedida por um fenómeno quase sobrenatural de “sleepy media”, a história dos nossos dias há-de mais tarde contar.
Quanto a mim, quando ouvi a notícia na primeira versão, limitei-me a pensar: bom demais para ser verdade. Era mesmo bom demais, pelos vistos...

8 comentários:

Clara Carneiro disse...

É bom demais para ser verdade, de facto, Dr. Tavares Moreira!
A "acriticidade" de que fala é o balanço "prozaquiano" real: entre a euforia das multidões e o alheamento torpe das razões.
O célebre "Prozac" tem esse efeito!

PedroP disse...

"Estamos a chegar ao ponto de “acriticidade” absoluta, onde estes “media” tudo admitem e tudo ingerem com a mais seráfica e cândida suavidade, desde que lhes seja ministrado pelo marketing oficial ( que espécie de tranquilizante estará a ser utilizado...)."
Estamos a chegar? Acho que já chegámos há um ano e meio..

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

A "acriticidade" da comunicação social já não me espanta, assim como me deixou de surpreender o contrário.
É um absurdo!
Mas surpresa das surpresas é que tenha sido encomendado mais um estudo, desta feita na óptica do custo /benefício, depois da decisão ter sido tomada, vezes sem conta afirmada e reafirmada.
Mais outro absurdo!
É tudo tão absurdo, que se fica sem saber o que mais dizer!

Pinho Cardão disse...

Caro Tavares Moreira:
E o Ministro Mário Lino revelou logo toda a sua alma de grande patriota, negando que fosse qualquer exigência de Cavaco, mas sim de Bruxelas!...Com isso, sentiu-se confortado, porque obedecer a Bruxelas é uma honra para o homem, mas seguir palavras de um bom senso mínimo seria capitular sem honra nem proveito...
O folhetim da OTA está para durar!...
E ainda haverá um referendo a perguntar se se despenaliza Mário Lino e Sócrates pelos erros primários que estão a cometer nesta matéria.

Nuno Nasoni disse...

Trabalho no planeamento de uma grande empresa, e tenho a responsabilidade de identificar e propor oportunidades de investimento à administração.

Se fizesse um estudo com as características, que se vai apurando aos poucos, deste caso da Ota (inexistência de "cenário-base", número de alternativas limitado, consequências da opção pela alternativa avaliadas de forma leviana - como se vê pelas alterações que a Ota introduz nos planos do TGV e das travessias do Tejo associadas, baixo período de vida útil da solução apresentada - e, para cereja em cima do bolo, inexistência de uma análise benefício/custo), não digo que fosse imediatamente despedido, mas lá que ia passar um mau bocado, lá isso ia.

Como referência, avalio investimentos que podem atingir, no máximo, alguns - poucos - milhões de euros. Nunca milhares de milhões...

Tavares Moreira disse...

Caríssima Clara,

O Prozac só por si é suficiente para produzir um tal efeito tranquilizante?
Conheço esse medicamento, nunca o tomei (não sei se com o avanço da OTA não serei obrigado a toma-lo, antes e depois da apresentação da declaração de rendimentos à DGI), mas tenho dúvidas que consiga efeitos tão dominadores...
Não acha que haverá um aditivo ao Prozac, bem mais aliciante e sedutor e sem necessidade de receita médica?

Clara Carneiro disse...

Também nunca tomei...mas está descrito que a euforia é uma reacção adversa frequente!
De facto, essa ideia de o tomar antes e depois da declaração de rendimentos à DGI parece-me uma boa ideia: o Prof. Massano, de certeza, que aceita fazer a prescrição, o motivo é mais que justificado!!!!

MAR disse...

Caro Prof. Tavares Moreira
Como Eng. estou muito interessado em tentar entrar em contacto por e-mail com o senhor para lhe dar conhecimento das conclusões a que cheguei após um trabalho que fiz de análise sobre a localização do NAL na OTA.
Quer ter a gentileza de me fornecer um seu endereço para
marioribeiro99@clix.pt
Agradeço em antecipação.