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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Marketing e Contas da Saúde

Tenho aqui citado, com frequência, o conceito “marketing oficial” bem como a força avassaladora com que actualmente se manifesta.
Julgo que ninguém, minimamente avisado, estará à espera que o marketing oficial use critérios de rigor, objectividade, verdade e clareza nas notícias com que diariamente nos inunda, tentando convencer-nos de que vivemos num mar de rosas.
A função do marketing oficial é mesmo essa, agora como no passado: convencer os cidadãos que são bem governados, independentemente de o serem ou não.
A diferença da situação actual para o passado está na formidável intensidade com que a função é hoje utilizada e na facilidade com que usa os media para transmitir as suas mensagens cor-de-rosa.
Nas actuais circunstâncias é muito mais difícil aos cidadãos distinguir entre o real e a aparência da realidade que nos é dada pelo marketing, não lhes é mesmo possível distinguir uma coisa da outra, até porque são cada vez menos os órgãos de comunicação que informam com independência.
E mesmo quando assumem um estatuto de alguma independência, os "media" caem facilmente nos ardis que são montados pelo marketing oficial, como ainda há poucos dias assinalei na estranha entrevista do Ministro das Obras Publicas à R.R. a propósito da preparação de um Código da Contratação Pública – por falar nisto, alguém ouviu mais falar deste assunto?
Vêm estas considerações a propósito das notícias divulgadas no início desta semana sobre as contas da Saúde em 2006.
Segundo a generalidade dos órgãos de comunicação, estas contas “apresentaram saldo positivo”, (uma vez mais) pela primeira vez.
Não percebi, fez-me confusão este título: saldo positivo, como é isso possível se todos sabemos que as despesas são muito superiores às receitas?
A final não era bem isso de que se tratava. O que tinha acontecido, segundo a versão do marketing infra-título, é que a despesa do orçamento do Ministério da Saúde tinha sido contida dentro das dotações inscritas no Orçamento para 2006, até teria havido algumas “sobras”.
O Ministro da Saúde, que de parvo não tem nada, apressou-se a dizer que o importante é que este resultado se deve, finalmente, à contenção dos custos que nesta área da Administração nunca como agora tinham sido controlados.
Mas curiosamente falta conhecer as contas dos Hospitais EPE, que não foram ainda apresentadas e que são uma parcela muito importante das contas globais da saúde.
E se os passivos deste Hospitais aumentaram, para compensar a diminuição dos pagamentos que lhes foram feitos pelo SNS (ARS?s)? E se os resultados destes Hospitais se degradaram pelo mesmo motivo?
Só depois de conhecida esta realidade é que se poderá falar de efectivo sucesso no controlo dos gastos da saúde. E oxalá assim tenha sido, mas até lá não sabemos, qualquer conclusão é prematura.
A única coisa que sabemos é que a operação de marketing foi tão perfeita que nem uma palavra de partidos da oposição se ouviu sobre o assunto.

5 comentários:

Tonibler disse...

Comentador às 8:30 da manhã:

Parece, há informações, segundo algumas fontes, as contas do estado de 2006 são francamente positivas.

Jornais online às 10:30:

Défice em queda.


Rádios às 11:00:

Contas públicas em franca recuperação.

Ministros ao meio-dia:

Não posso confirmar ainda porque não tenho todos os dados na mão, mas, parece, cheira-me, talvez, ...
agora os 4,6% já estão garantidos.



Eu só quero ver desta vez se a venda da GALP e do que restava da Portucel também são receitas ordinárias...

Pinho Cardão disse...

Caro Tavares Moreira:

Pois...de facto... não ouvi o PSD a querer saber de mais explicações!...

Pedro Sérgio disse...

Meu Caro Dr.Tavares Moreira,

Concordo perfeitamente sobre este caso,somente, vivemos num pais de faz de conta, muito marketing (enganador) e pouca acção.Umas das mais-valias do governo rosa é ter uma oposição com pouca iniciativa de critica e de "Luta", que é preocupante, no meu ver.Vamos ver aonde vai parar esta politica de Marketing e quando os Portugueses assentam os pés na terra para ver a realidade.Bom, ainda á muita coisa para falar mas o tempo é curto...
Um abraço

Pedro Sérgio(Palmela)

Tavares Moreira disse...

Caro Pedro Sergio,

Bem vindo a este Blog, com o seu comentário de cidadão empenhado, atento e responsável.
Para além de lídimo representante do grande povo de Palmela, claro está!
Contamos consigo.

Carlos Sério disse...

Tem toda a razão, infelizmente o PSD está demasiado "apagado" para o meu gosto. Enquanto o PS criou, ainda com Guterres na oposição, uma "central de contra informação" que se foi aperfeiçoando ao longos dos anos, mostrando-se hoje uma máquina de mistificação altamente eficaz, o PSD voga ao saber das ondas sem a apresentação de um contraditório capaz. E não será por lhe faltar gente com capacidade como são prova os comentários contundentes deste Blog.