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domingo, 14 de dezembro de 2008

Jorge Luís Borges

Ao ler a descrição do memorial inaugurado na passada sexta-feira, em Lisboa, ao Arco do Cego, a Jorge Luís Borges, concluo que deve ser muito belo.
O poeta cego, que via mais do que os que vêem e que continua a ensinar-nos a ver a vida, tem um monumento entre nós. Um dos meus poetas preferidos. Um encantador. Um mágico da alma.
Na próxima vez que for a Lisboa tenho que ir dar uma mirada ao monumento do autor do “Poema aos amigos”.
Um grande amigo.

Poema aos amigos

Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas ou temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.

Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.

Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.

As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.

Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.

Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.

Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.

Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.

Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabeças
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.

E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo

Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.

Obrigado por seres meu amigo.

Jorge Luís Borges

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Uma das "qualidades" que se podem atribuir ao "4R", é precisamente a de exercer pedagogia. Isto deve-se indubitávelmente não só aos fabulosos conhecimentos que os autores demonstram possuir, mas sobretudo ao permanente desejo de os partilhar.
Confesso: Se por um acaso fosse apanhado num desses inquéritos de rua que surpreendem os transeuntes com questões que muitas vezes unca colocaram a si mesmo e me perguntassem: sabe quem foi o cego do arco?
A minha resposta só seria: foi um poeta, creio que espanhol, por meríssimo acaso.
É verdade, mas o post colocado pelo caríssimo professor, remeteu-me à pesquisa e, se é verdade que encontrei alguns poemas de Jorge Luis Borges, publicados por admiradores do poeta, dos quais transcrevo o que vem a seguir:
UM CEGO


Não sei qual é a face que me mira

quando miro essa face que há no espelho;

e desconheço no reflexo o velho

que o escruta, com silente e exausta ira.

Lento na sombra, com a mão exploro

meus traços invisíveis. Um lampejo

me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,

é todo cinza ou é ainda de ouro.

Repito que perdi unicamente

a superfície vã das simples coisas.

Meu consolo é de Milton e é valente,

porém penso nas letras e nas rosas.

Penso que se pudesse ver meu rosto

saberia quem sou neste sol-posto.

Tambem é verdade que não encontrei referências à pessoa do poeta, tão pouco à origem da toponímia da rua, do largo, do bairro, ou do jardim, o site da wikipédia, dá-nos diversas informações mas nada aceca do poeta... será porque era cego?, ou fui eu que não pesquisei convenientemente?

jotaC disse...

Caro Professor Massano Cardoso:
Trouxe-nos um poema muito bonito bem a propósito desta quadra que vivemos, de bondade e amor ao próximo. Por isso este poema bem pode ser dedicado a todos, amigos e inimigos, como certamente o autor quis. Vou passar também no Arco Cego.