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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Acabamentos de luxo

Este fim de semana fui dar uma espreitadela a uns apartamentos que estão a fazer aqui perto, um bairro todo novinho e que parece boa construção, embora só os prédios da frente é que tenham uma bela vista sobre o rio, os outros dão para o vizinho da frente.
O vendedor mostrou-nos um andar muito moderno, bem dividido e amplo e desfiava, umas atrás das outras, as maravilhas do conforto e da qualidade dos acabamentos. Climatização de Verão e de Inverno, com um processo especial de poupança de energia, vidros duplos para manter a temperatura, estores eléctricos (domótica, dizia ele, uma gestão inteligente dos equipamentos) e lâmpadas xpto. Além disso, a banheira tinha jacuzzi, o duche tinha massagem, o frigorífico, gigantesco, era “à americana”, de um lado congelador e arca, do outro só frigorífico, máquinas para todos os gostos, incluindo – grande atracção, que ele guardou para o fim para ver o efeito – um écran de plasma incrustado entre o forno e o micro ondas, certamente para ver uma novela em alta definição enquanto se tira o pirex do forno.
Admirei, como me competia, todas aquelas maravilhas, até que chegámos às varandas, lindíssimas, com os parapeitos em vidro, e estava a pensar com os meus botões no trabalhão que deve dar ter aqueles vidros todos limpinhos do pó e da chuva quando vejo a habitante da frente a abrir um estendal portátil para estender a roupa.
- Então não há estendal? Onde é que se seca a roupa?– perguntei, receosa de me ter escapado algum detalhe na apresentação.
- Não, estes prédios modernos não têm estendal, a máquina de lavar é também de secar, isso de pôr a roupa a secar ao sol já não se usa – disse-me o vendedor, a perceber que eu não era cliente à altura.
Não sei se o prédio tem painel solar, mas era uma boa pergunta...
O prédio tem ainda umas plantas intercaladas entre cada andar, que lhe dão muita graça mas que o meu sentido prático levou a inquirir como seria possível chegar lá para as cortar e regar, uma vez que as varandas fecham de cada lado do “jardim suspenso”. Aí o homem impacientou-se. – Isso não sei, nós colocamos lá no fim da construção e depois é com o condomínio, realmente não estou a ver como é que se chega lá por dentro das casas…
Vou continuar a ver casas, pelo menos volto à minha com uma redobrada sensação de conforto, mesmo sem plasma na cozinha (detesto televisões na cozinha), nem energia inteligente, tenho a roupa ao sol na marquise e rego as minhas plantas sem correr o risco de cair da varanda…

16 comentários:

Tonibler disse...

Não lhe disseram que era um prédio com "muito cachê", não? Quando me dizem essa já sei que me espera uma tarde divertida...

Anónimo disse...

Que conservadora, Suzana!
Com que então a minha Ex.ma Amiga vem aqui manifestar o seu desprezo por tudo quanto o progresso lhe pode proporcionar numa casa da nova geração? Plantas intersticiais que se alimentam só da água da chuva, sem mais cuidado algum. Monitor na cozinha, interactivo, que para além de permitir acompanhar as telenovelas todas permite ainda acessos ao 4R enquanto acaba de assar o faisão, após ter consultado o ciberlivro de receitas culinárias. Máquina de secar roupa, que a poupa à exibição perante a vizinhança do estendal repleto do rol mais intimo. Tecnologia que permite antecipar-se às conclusão da Cimeira de Copenhaga, fazendo de si uma pioneira do combate pela salvação do planeta...

demascarenhas disse...

Pois é, Cara Suzana, essa coisa de estender a roupa no estendal ao sol, ao vento e às vezes à mercê das inconveniências dos pombos, já é coisa do passado. Ninguém mais usa tais “tecnologias” que vêm de tempos ancestrais.

Em contrapartida, e embora deteste, veja a vantagem que tem de, ao mesmo tempo que prepara o seu souflê de peixe, poder dar uma olhadela às últimas do mundo num sofisticado plasma incrustado entre o forno e o microondas. A menos que seja uma sessão transmitida da Assembleia da República, com intervenções tão violentas e desrespeitosas como as que ultimamente temos assistido. Aí até o souflê é capaz de não sair bem.

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
Mas que impertinência essa, cara Suzana...Estendal? Trabalho de pôr a roupa a secar?
Não tardará o tempo em que uma peça de roupa usada de dia é deitada fora à noite, o mesmo acontecendo ao pijama, de manhã.
Mas, como as coisas vão, há que pensar seriamente numa outra hipótese, a de a economia e a ecologia nos fazerem voltar ao tempo da aldeia da roupa branca e das Lavadeiras de Caneças...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Oh Suzana!
O que eu mais gosto nas casas ditas de luxo, às vezes com um pouco mais de modéstia com acabamentos de luxo, são os estendais à janela, ao sol e à chuva.
O colorido dos pijamas, calças, camisas e outras peças mais pequenas é uma festa popular. Há que dar animação às modernices que os "patos bravos" impigem a todo o transe. Qual secador da roupa, qual marquise ventilada, qual quê? É só mesmo para o currículo!

Suzana Toscano disse...

Já vejo que ficaram todos invejosos de tanta modernidade mas o que eu vos digo é que o mundo é redondo e, se eu persistir neste conservadorismos, como lhe chama o Pinho Cardão, na verdade já vos estou muitas léguas à frente,porque os que hoje usam tanta aparelhagem vão ser acusados de destruidores maléficos do planeta, então andamos a pagar horrores por essa praga inestética dos solares no telhado e depois é só desaproveitar o sol e o vento a secar as camisolas? Os meus amigos ainda hão-de aplaudir o velho tanque da roupa, a corda com molas e as clara em castelo batidas à mão (pegando no exemplo do souflé sugerido pelo caro demascarenhas). Ou bem que se é ecológico, ou bem que se é pela tecnologia assassina do ambiente, embora confortável do ponto de vista egoísta (como não deixaremos de ouvir nessa hostórica e certamente decisiva cimeira de Compenhaga)!

Anónimo disse...

Mas, Suzana, as máquinas de secar dessas casas já funcionam a vento e sol, porque preferem a electricidade produzida pelos aerogeradores e pelas centrais fotovoltaicas.Depois de Copenhaga vai ser ainda mais assim. Portanto esse argumento da roupa seca ao vento e ao sol não pega, mesmo que fosse a Quercus a utilizá-lo no seu "minuto verde"...

Catarina disse...

O estendal dá muita cor à cidade, ao campo! É pitoresco! Os turistas gostam muito de tirar fotos a estendais! E muitos deles já têm corrido meio mundo...
Estendal e poluição... estendal e bicharocos a trepar por ali acima...
Não, não há melhor que o secador de roupa!!!! Uma das grandes invenções. A roupa sai macia, quentinha....alguma nem necessita de ser passada a ferro...
Imaginem uma noite fria, daquelas bem frias, até muito mais frias que as beirãs ... e vestir um robe acabado de sair do secador de roupa!

Cara Suzana... prevejo que tenha muito mais que ler sobre o seu estendal antes que o dia acabe!

:)

Pinho Cardão disse...

Meus Caros:
Olhem que se essas cantigas do aquecimento global prosperarem, a sociedade de consumo, ou mesmo de meio consumo, vai acabar e ainda vão ter a roupa a corar ao sol.
Sabem o que isso é?

Suzana Toscano disse...

Pois é mesmo isso que eu quero dizer, Pinho Cardão, a darmos crédito a tanta catásrofe ainda acabamos na Aldeia da Roupa Branca!
Ze´Mário, eu gostaria muito de não contribuir para o défice tarifário que resulta do crescente recurso a essas energias tão verdinhas!
Catarina, também acho confortável, não digo que não, mas que é completamente ao arrepio da "evolução mental" actual, ao menos a suposta, isso é. O que eu acho graça é à contradição dos discursos, por um lado tudo super eficiente para poupar, por outro janela fechada e máquina a funcionar. É como os sacos plásticos do supermercado, esses são péssimos, é melhor levar de casa a sacola de pano - vê-se mesmo que não costumam abastecer a dispensa - mas depois as aparas do jardim, a relva cortada ou os galhos secos não se podem ir deitar no baldio porque a junta de freguesia vedou e manda que se recolha tudo num daqueles sacos de plástico preto, enormes e grossos, que devem levar um milénio até começarem a deteriorar-se. Vá lá perceber-se esta gente.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catarina disse...

Vamos ver que a cara Suzana vai ter razão...em manter o seu estendal!
Tudo o que se fabrica hoje em dia é com a eficiência de energia em mente.
E se cada um de nós estiver bem informada(o) e formos ambientalistas, podemos fazer uma grande diferença como membros da comunidade... é uma realidade.

Ainda me recordo de ver roupa a corar, caro Pinho Cardão!
Pensar numa secadora em Beja... a secar roupa no verão.... pois...
Mas por outro lado houve uma grande evolução na vida familiar. Uma família de 4 ou 5 em que ambos os pais trabalham fora de casa, podem achar o dito secador uma grande invenção! Nem imagino como poderão passar sem ele.

E a propósito do meio ambiente, do aquecimento global e do grande aparato que rodeia a cimeira em Copenhague, ouvi agora mesmo que os 15 000 participantes terão 100 chefes a preparar as suas refeições, das quais fazem parte 10mil galinhas... orgânicas! E que ou não são aconselhados (não estou certa) ou não vão ter acesso a água engarrafada, mas sim a água da torneira! Será possível ?!

Não há uma expressão mais ou menos assim: “É só p’ró Inglês ver” ?!

Freire de Andrade disse...

Foi com grande prazer que li a sua crónica sobre os luxos das casas modernas e principalmente sobre a ausência de estendais. Eu e minha mulher muitas vezes temos comentado essa mania, ou melhor: essa modernice, que vem completamente ao arrepio da necessidade de poupança energética. Então obrigam-nos a trocar as velhas lâmpadas de incandescência por horríveis lâmpadas economizadores, mas depois fazem-nos gastar muitos kWh na máquina de secar! Não tem qualquer lógica. Este e outros desperdícios vão ficar-nos caros.

Suzana Toscano disse...

Caro Paulo, fiquei com a mesma sensação, a de que o que impressiona os compradores são as aparências de luxo (eu não chamo luxo a um jacuzzi, é só um extra)e depois o essencial falha, por exemplo haver quem concerte um daqueles equipamentos fantásticos quando se avariam...
Catarina, acho que devemos fazer o que pudermos para preservar o ambiente e não desperdiçar os recursos de energia, até para pouparmos na conta da electricidade! A cimeira já é um bom sinal de que o tema merece respeito, embora pessoalmente dispense os exageros catastróficos com que nos ameaçam o tempo todo, tal como já fizeram com o buraco do ozono e as lacas do cabelo, e os frigoríficos, etc. Esta forma de nos atirarem com cataclismos definitivos a cada 5 minutos já cansa e acaba por ter o efeito contrário. Se eu fosse cientista nesta matéria ficava muito contrariada com esta forma de explorar o medo dos ignorantes. Informar não é isto.

DL disse...

O que a Suzana se foi lembrar de perguntar.

Suspeito que 1/5 da electricidade da minha casa seja gasta com a máquina de secar. Precisamente porque "já não se usam estendais". Os pombais ainda percebo, agora os estendais...

Suzana Toscano disse...

Caro Levy, desde que não nos massacrem com as eficiências energéticas e o recurso à natureza, tudo bem. O pior é que, por um lado, querem mudar-nos os hábitos todos: os pouco ecológicos para mais ecológicos e os muito ecológicos (como secar a roupa ao sol)para nada ecológicos...