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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Casa onde não há pão...

Diz o povo que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Depois de termos sido o país que a crise não atingiria e logo depois o primeiro a sair da recessão técnica, eis-nos a braços com o verdadeiro quebra cabeças de desenhar o próximo Orçamento de Estado e as políticas económicas que nos permitam não ir tão ao fundo como a Grécia – que já nos tinha ultrapassado no desempenho, lembram-se? – e que a Irlanda – grande estrela no firmamento dos sucessos. Pelo caminho, fomos avançando a passo de caracol, ora afectados pela crise global, ora distraídos com o endividamento, ora a recear o desastre no Dubai, ora a temer o que quer que seja. Há anos que falamos no combate ao défice e na necessidade de o fazer pelo lado da despesa. Convém lembrar que, nessa linha, os salários e pensões da função pública foram congelados em 2003 e 2004, pelo menos os de montante superior a mil euros, e a seguir juntou-se o congelamento das progressões, fatia significativa das despesas com pessoal, e assim ficou pelo menos dois anos. Além disso limitaram-se anos a fio – ao menos em teoria – as admissões na função pública, uma vez que o que se passou a pagar a consultores e a outsourcing não entra nessa factura, aumentaram-se os descontos para a aposentação e segurança social, os descontos para a ADSE, reduziram-se regalias e agravaram-se substancialmente as condições de reforma. Segundo ouvi dizer há pouco tempo, a função pública perdeu, nos últimos anos, cerca de 8% do poder de compra, reformaram-se dezenas de milhares de pessoas, com particular destaque para médicos, enfermeiros, juízes e professores, desanimados com as perspectivas de vida profissional.
A conclusão disto tudo parece ser a de que o episódico controlo do défice se fez à custa do aumento de receitas e não da redução da despesa e que agora o que é preciso é…reduzir os salários dos funcionários, seguindo o exemplo da Irlanda e talvez da Espanha! O que me surpreende é que, perante um défice de descalabro, se fale na mesma receita, em termos ainda mais drásticos, sem que se explique porque é que o que se fez até agora não resultou. É que uma coisa é reconhecer que pura e simplesmente o Estado está falido, não há dinheiro para pagar aos seus trabalhadores, outra é falar disso como se fosse uma grande decisão, muito pensada, como um factor que até agora não foi considerado e que será a causa de todos os nossos problemas. É que não basta comparar medidas em cada momento, convém ver o caminho que cada País cumpriu até chegar onde está e o que para uns são medidas de excepção para outros, como nós, é mais do mesmo.

5 comentários:

Fartinho da Silva disse...

Cara Susana Toscano,

Excelente análise. Parece que depois das "reformas" que apenas congelaram salários e progressões desde 2002 como disse, parece que alguns dos "grandes" economistas nacionais oferecem como receita mais uma grande "reforma", a redução dos salários! Chegam mesmo a fazer propostas "geniais" como terminar com o "privilégio" do 13º mês e com as férias pagas...

Com esta visão, porque não atribuir o salário mínimo nacional a todos os portugueses? Julgo que estas receitas foram tomadas nos anos 80 na antiga URSS e parece que o regime naquelas bandas desapareceu, parece até que um império foi desmembrado, pelo menos é que ouço dizer :)

Pena tenho de ver alguns "grandes" economias e "gestores" de empresas demonstrarem desprezo pelos partidos de extrema-esquerda e depois aquilo que oferecem são as mesmas receitas com outra roupagem!

É habitual ouvir a conversa muito engraçada que os romanos afirmaram que os portugueses não se governam nem se deixam governar quando alguém protesta por ter mais de dois neurónios no cérebro, julgo é que quem faz estas afirmações ainda não percebeu bem o significado daquelas palavras... quando é que percebemos todos que somos muito bons no desenrasque e péssimos na organização e planeamento, ou seja na gestão? O que os romanos pretendiam dizer era que apesar de sermos péssimos gestores, não admitíamos ser governados por outros povos... tão simples quanto isto!

Fartinho da Silva disse...

Já alguém viu uma verdadeira reforma em Portugal desde 1992?

Pois, eu também não!

E assim continuamos rumo ao abismo...

Quem quiser ver ao vivo a cores o futuro de Portugal, basta passar um ano numa "escola" pública do 3º Ciclo e Secundário a observar no que foi transformada a "escola" pública, o "professor", o "aluno" e o "encarregado de educação"!
Depois de se fazer esta simples observação, rapidamente se conclui que o problema que temos no presente é uma brincadeira de crianças quando comparado com o problema que teremos dentro de 10, 15 anos...

Para se ter uma breve ideia, ontem levei alguns alunos do meu colégio a assistir a uma peça de teatro falada em inglês. Nesse espaço estava o meu colégio e duas "escolas" públicas representadas. Os actores iam chamando dois ou três alunos por cada acto para participarem na peça..., coitados dos actores, dos 5 ou 6 "alunos" das "escolas" públicas NENHUM percebia RIGOROSAMENTE nada daquilo que lhes estavam a pedir. Chegou-se ao ridículo de um dos "alunos" não conseguir saber que número vinha a seguir ao nine e muito menos ao ten! Quando um dos actores reentrou em palco no papel de professor, apenas o aluno do meu colégio se levantou, mesmo depois do actor ter gritado: "Stand-up"! Foi curioso verificar que os "alunos" só perceberam o que se pretendia quando o aluno do colégio lhes gritou em bom português: "Levantem-se, será possível que não entendam algo tão básico?".
Quando o desgraçado do actor solicitou a um dos "alunos" para "lift your left leg up" e percebeu que o "aluno" apenas sorria e nada percebia, tentou "stand-up your left leg", depois gritou "your left leg" e levantou ele a sua própria perna... mas mesmo assim o "aluno" continuava a sorrir (com muito estilo), então o actor tomou medidas drásticas, levantou ele próprio a perna esquerda do "aluno".
Mas, o mais caricato foi no final quando um dos "alunos" deveria morrer. Assim que o coitado do actor lhe solicitou para "die, man, die" e percebeu que nada acontecia, tentou "please, die, please die" até que perdeu a paciência agarrou no "aluno" e deitou-o no chão, deitando-se ele imediatamente a seguir para que o "aluno" percebesse que deveria manter-se deitado :)

Tudo isto foi verdade, passou-se na Avenida Estados Unidos da América em Lisboa!

Estamos a falar de alunos dos 9º e 10º anos de escolaridade!

Quando o aluno standard é este, que futuro temos enquanto nação?

Fenix disse...

Parece-me que o futuro de Portugal enquanto "nação" não estará em risco por não sabermos falar e entender o inglês, não???!!! Se calhar o risco está mais associado à falta de conhecimentos das disciplinas ditas "científicas" e ao não incremento de valores morais e sociais!

Catarina disse...

Na minha opinião, a falta de competências em Inglês no 9º e 10º denota uma falha no ensino: ou no currículo ou na instituição de ensino. A aprendizagem e o desenvolvimento das competências em várias línguas (nesta tão falada era da globalização) é absolutamente imprescindível e viabilizam o acesso, no futuro, a melhores postos de trabalho, a fazer frente a um mercado cada vez mais competitivo. É evidente que isso não deverá minimizar a importância das tais matérias científicas, claro que não, nem deverá, indiscutivelmente, negligenciar o ensino e a aprendizagem do Português – parece que os resultados não estão a ser muito risonhos...

Mas não me vou alongar sobre este tema: Educação Há tantas coisas erradas... e que não há forma de serem corrigidas.

Sob um ponto de vista mais “prático”, digamos assim... é muito agradável visitar alguns países e não necessitarmos de intérprete. No ano passado, visitei um país cuja língua não domino. Fiquei apreensiva! Mas não houve dificuldade absolutamente nenhuma: toda a gente falava Inglês. Desde o dono do quiosque (talvez eu tivesse tido a sorte de pedir informações àqueles que sabiam falar Inglês), aos empregados das lojas, restaurantes, etc. Alguns daqueles funcionários talvez fossem estudantes universitários a trabalhar no verão, mas outros não me pareceram ser e, todavia, dominavam bem o Inglês.

Nesta área das línguas não creio que se possa afirmar sobre a falta de adequação dos programas à idade, da falta de relação entre o conteúdo e a vida e por aí fora...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Um pouco na linha do comentário do nosso Caro Fartinho da Silva, a receita principal de uma qualquer empresa para sobreviver e ser bem sucedida - um país é uma grande "empresa" - utiliza dois ingredientes indispensáveis: estratégia, no sentido de ter um caminho e um rumo bem definidos, e união, no sentido de que todos juntos constituem uma vontade colectiva.
A falta destes ingredientes ajuda a explicar porque é que os "remédios" também não curam...