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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Zás catrapás! Toma lá uma avaliação!

Está visto que a avaliação é finalmente assumida oficialmente como uma arma de arremesso e uma boa oportunidade para os vingativos acertarem as suas contas. É só passar os olhos pelos jornais e ficamos esclarecidos. A Fenprof avalia a Ministra com um “Não Satisfaz”, o Dr. Ricardo Salgado avalia Marcelo Rebelo de Sousa e o seu comentário sobre a venda da PT com um “Zero”. O Governo, em tempo de grandes apertos financeiros, resolveu de uma penada o problema da atribuição de prémios de desempenho aos dirigentes, exigindo que os que cobiçarem tal distinção têm que se submeter ao veredito dos seus subordinados. É uma forma curiosa de não correr riscos despesistas, pelos vistos o Governo está seguro de qual vai ser o teor da avaliação. Nada de espantar, sabendo-se que uma Ministra veio recentemente alegrar-se publicamente com a saída de um dos seus dirigentes, tal era o mal que ele lhe fazia e ela sem saber como o despachar. Também se vai resolver o problema dos serviços de saúde, talvez mesmo das listas de espera, dos erros médicos e da demora no atendimento, esperem só até estar em pleno o sistema da avaliação dos clínicos pelos doentes! Não passaram o “Tac” nem o antibiótico que eles queriam? Pois terão zero. Vai certamente ser dada formação específica aos avaliadores todos, doentes, funcionários, comentadores de televisão e sindicatos, e mais os que estiverem aí para vir, uma mina de ouro para quem já esteja a postos para decifrar as leis e regulamentos que terão que disciplinar isto tudo.
O pior é que o País também é avaliado, pelas empresas de rating, por exemplo, e essas parece que já sabiam o truque das avaliações, é sempre para baixo, que é para aprenderem!

14 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
E assim se destrói uma ferramenta de gestão que bem utilizada melhora a qualidade das organizações. A avaliação do desempenho foi introduzida na Administração Pública - processo que a Suzana muito bem conhece - num quadro de visão de modernidade em que supostamente funcionários públicos e cidadãos muito poderiam beneficiar. A sua implementação nunca poderia ser instantânea, teria que ser, como acontece nas empresas, um processo e os processos correm riscos de não serem bem sucedidos se não gozarem de estabilidade. A sua compreensão, o envolvimento de avaliadores e avaliados, a transparência e o cumprimento das regras do jogo, etc. são aspectos fundamentais para a aceitação e aculturação de uma cultura de mérito. Não foi, o que aconteceu, pelo que fui observando, devido em particular à sua excessiva politização, transformando uma ferramenta essencialmente técnica numa arma de arremesso político.

Bartolomeu disse...

Esta ideia peregrina, aplicada à realidade do funcionalismo português, só podia ter saído da cabeça e da imaginação de quem não conhece minimamente as características deste povo.
Desde a incompetência para avaliar, até à falta de carácter que pode conduzir a situações de vingança, tudo pode motivar uma avaliação por defeito, ou por excesso.
Mas deixe-me dizer-lhe, cara Drª. Suzana Toscano, em televisão, que me recorde, foi o Professor Marcelo o precursor dessa "moda".
Se não estiver a cometer um erro de memória, é esperável que o "feiticeiro" não se livre do efeito do feitiço.
;)

Henrique Pereira dos Santos disse...

É um erro colossal pensar em aplicar sistemas de avaliação na adminsitração pública que finjam desconhecer o problema principal do sistema: a irresponsabilidade dos dirigentes pelas suas decisões. Se qualquer cidadão pudesse provocar a demissão de um dirigente por incumprimento da lei resolvia-se o problema da qualidade na admnistração muito mais rapidamente e com menos complicações.
Mas se querem falaer avaliações na adminsitração pública (e acho bem) uma condição base é a de que as notas sejam públicas e não confidenciais. Doutra forma não há controlo pelos interessados e partir do princípio de que os dirigentes estão ali a tratar do bem público é mais ou menos como acreditar que o Governo não tem nenhuma influência nas decisões empresariais da PT.
henrique pereira dos santos

Fartinho da Silva disse...

Sem ter opinião formada no assunto em questão não posso de deixar de fazer um comentário irónico.

Julgo que há uns tempos atrás imensa gente ficou adepta da então Ministra da Educação por esta considerar que os alunos e os pais dos alunos deveriam avaliar os professores.

Assim, não percebo o espanto de agora os funcionários avaliarem os dirigentes.

Se adolescentes de 14 ou 15 anos podem avaliar adultos licenciados, mestres ou doutorados, porque não poderão funcionários já adultos e até vacinados não avaliar os seus dirigentes?

Como dizia o outro: "é a vida!"

:)

Suzana Toscano disse...

Margarida, uma vez um político inglês não queria acreditar que fosse preciso fazer uma lei para adoptar a avaliação nas organizações públicas, isso era uma competência de gestão e uma cultura interna que tinha que ser acompanhada e desenvolvida. Aqui mudamos de sistemas nas leis mas a cultura fica pelo caminho.
Caro Bartolomeu, os professores têm o hábito de avaliar, por isso é compreensível. QUanto à vingança, é esse o problema, que não se compreenda que a avaliação não devia ser uma ameaça mas uma forma de melhorar.
Caro Henrique Pereira dos Santos, quando a desconfiança for a base da actuação de avaliadores e avaliados está tudo errado, não há sistema que resista. Nas empresas, melhor ou pior, a avaliação tem que funcionar, nem sempre é justo, nem sempre é pacífico, mas implica responsabilidade de todos.
Caro Fartinho da Silva, tinha-me esquecido desse exemplo...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Cara Suzana Toscano,
Por mim pode partir do princípio de que não há desconfiança entre avaliadores e avaliados mas depois não se queixe da realidade não encaixar nos mais perfeitos sistemas.
Fico com a sensação de que a enorme maioria dos decisores que fazem as opções sobre as regras de gestão da administração pública não foram trabalhadores da dita (sem contar dirigentes, situações especiais como universidades e coisas dos género) mais que um ano seguido.
Nas empresas premiar incompetentes e penalizar bons trabalhadores sente-se na carteira do accionista que escolhe os dirigentes, na administração apenas se sente na carteira do contribuinte, que como sabe não mete prego nem estopa na escolha dos dirigentes.
Tem a menor dúvida de que o Código do Procedimento Administrativo é todos os dias violado várias vezes ao dia por mais de 90% dos dirigentes da administração pública (e, já agora, dos restantes funcionários)? Tem consciência de que isso não tem nenhuma consequência prática para quem não cumpre a lei, mesmo nos raríssimos casos em que alguém reclama desse incumprimento?
Por bastante mais vezes do que seria normal supôr tive de citar o CPA para me recusar cumprir ordens (ou sugestões, ou conselhos e outras formas mais suaves de condicionamento) ilegais e se nunca essa recusa foi posta em causa por falta de fundamentação isso teve evidente implicações na minha carreira da administração pública (sendo certo que muitos anos foi como dirigente intermédio, de maneira geral por concurso).
henrique pereira dos santos

Unknown disse...

Dra. Suzana Toscano

Lendo o seu texto (e os comentários de Margarida Aguiar e Henrique Santos) de que administração pública é que a Sra. fala? Da portuguesa? De que parte do país?
Cumprimentos
Orlando Sousa

Lusitano disse...

Cara
Suzana Toscano,
As avaliações dos "subordinados", até poderíam ter algum interesse, e contribuir para uma melhoria da eficácia de todo o sistema, se fossemos justos e deixássemos de lado, uma particularidade muito comum aos portugueses, a nossa "inveja de estimação".
Concordo, que todos devemos ser avaliados, mas de uma forma justa e correcta, isso far-nos-á melhorar, agora, se isso visar, não o interesse de atingirmos patamares mais altos, mas sim, reduzir a nossa auto-estima, então será melhor não ir por esse caminho.
Mas este tipo de artimanhas, baseadas no princípio "dividir para reinar", é típica de regimes caducos e à beira do fim, penso que é disso que se trata.
Os meus cumprimentos.

LUSITANO

aristófanes disse...

Uma coisa me parece inquestionável a Administração Pública é hoje mais "imprevisível" do que antes da entrada em vigor do SIADAP. Porque será? O nível de "entropia" do sistema é hoje demasiadamente elevado, pelo que não me parece possível aplicar (a este sistema) um modelo de avaliação de desempenho que efectivamente reconheça o mérito. Muito menos este que a Dr.º Suzana advoga

Suzana Toscano disse...

Caros comentadores, eu sei que é um lugar comum dizer isto mas a avalição não é um fim em si mesmo, ao contrário do que parece estar a aacontecer. Enquanto for vista como uma espécie de castigo à disposição de quem tem oportunidade de se vingar, nem vale a pena falar nisso. Mas é pena porque se houvesse uma forma de a avaliação ser bem feita acho que seria mais fácil corrigir a má ideia que há da administração pública, pelo menos dos muitos que trabalham bem.Mas isso não se faz por lei.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Cara Suzana Toscano,
Não tenho nada contra a avaliação, bem pelo contrário, tenho tudo a favor.
O que gostaria é que fosse uma avaliação pensada para uma realidade concreta e não para coisas que não existem (como as ideias erradas de confiança entre avaliadores e avaliados na adminsitração pública e de que os dirigentes da administração pública prosseguem o bem comum).
Por mim sugiro alguns princípios básicos: os resultados da avaliação em cada unidade orgânica serem públicos e os dirigentes serem responsabilizados pelo que fazem (por exemplo, no caso da mediana da avaliação dos seus funcionários ser claramente discrepante em relação à avaliação de desempenho da respectiva unidade orgânica).
A questão não é a avaliação. O sistema anterior ao SIADAP era tão fiável como o SIADAP mas era muito mais simples.
As distorções que tinha decorriam da inexistência de quotas de avaliação, do secretismo associado e da ausência de efeitos práticos.
Mas se querem mudar, eu proponho outra coisa também mais simples: todos os funcionários são avaliados em provas públicas por um júri que inclua a sua chefia directa. Meia hora de entrevista, documentos de suporte e já está, com provas públicas e notas públicas.
Simples, claro e responsabilizante.
Os sindicatos protestarão, mas isso para mim é o menos. Podem até adoptar um princípio razoável: a prestação de provas é facultativa, mas não há alterações de remuneração sem prestação de provas.
henrique pereira dos santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

Já agora, e para explicar melhor o que penso sem ocupar demasiado a caixa de comentários os interessados podem dar um salto a um post que escrevi há já algum tempo:
http://ambio.blogspot.com/2010/04/meritocracia.html
henrique pereira dos santos

Isabel disse...

Vivi cerca de quarenta anos sem ouvir ou ler a palavra "avaliação". Existiam, isso sim, classificações, que eram bem mais objectivas e, por conseguinte, justas. A meu ver, quanto maior é o número de parâmetros pelo qual se é avaliado, maior a subjectividade possível. Neste país de clientelismo, não será talvez necessário acrescentar mais.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.