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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os recados do senado


Portugal tem, sem ter disso consciência, um senado. Não um órgão constituído segundo os canônes constitucionais, mas uma instância de poder composta por alguns ex-presidentes, ex-primeiros-ministros, ex-secretários-gerais, ex-ministros, ex-gurus. Todos subitamente inspirados e esquecidos de responsabilidades pessoais pretéritas, opinam agora como nunca opinaram. E as suas sentenças são objecto de veneração pelos comentadores e analistas do reino como se a salvação da Pátria repousasse nas ideias de algumas dessas personagens.
Pelo que fui lendo na comunicação social do fim-de-semana, o senado informal apresenta-se incomodado com a alegada falta de sensatez do PS e do PSD a propósito do orçamento do Estado e do que virá a seguir. É indisfarçável que de soslaio olham só para Pedro Passos Coelho, lançando sibilinamente a ideia venenosa de não ser homem à altura de cada um dos senadores, isto é, à altura das circunstâncias. A ele, Coelho, dirigem constantes apelos à sensatez, sem que apelos nesse mesmo sentido tenham sido ouvidos no passado, ou dirigidos actualmente, ao PM José Sócrates. Devo dizer que compreendo que alguns o fazem seriamente convencidos que tais chamadas de atenção não operam junto de quem, ao longo dos anos, demonstrou ser insensível à prudência, à sensatez e à responsabilidade governativas. Mas imagino o que não diriam as mesmas personagens de Passos Coelho se ele, a bem da Nação, se apresentasse desde já a anunciar que aceita uma proposta de orçamento do Estado que ninguém conhece, ou que instruirá o grupo parlamentar a abster-se antes de a conhecer ou de conhecer os desvios e as razões dos desvios da execução orçamental do ano financeiro em curso. Ou mesmo que viesse dizer agora o contrário do que muitos aplaudiram há meses, isto é, que a economia não suporta que o Estado subtraia às famílias e às empresas mais recursos através de um aumento adicional da carga fiscal para 2011!

5 comentários:

Anónimo disse...

Ah! Ainda é o "Se o orçamento não passar não governo!". Faço birra, pronto. Vou ali amuadinho para um canto da sala e recuso-me a falar com os outros meninos.

Pergunta: E então?... Detecto aí alguma insinuação de que tem estado a governar até agora?

Bom, felizmente há um senado. Assim podem governar eles sempre que alguém ficar amuado.

jotaC disse...

Ora aqui está uma grande verdade...
E é curioso como o mais pequeno e insubstancial palpite deste senado, gera de imediato largo consenso!.
Esta nossa tendência para "endeusar", não tem limites...

Adriano Volframista disse...

Caro JMF Almeida

Não tenho dúvidas que a maioria dos portugueses considerarão como pouco sério alguêm, pedir a outrêm para assinar um documento que não conheçe; com consideram, no mínimo,pouco sensato, que alguêm assine sem ver.
Aparentemente, um conjunto de figuras de "proa", acham normal um tal comportamento; embora não tenha qualquer dúvida que, nas suas empresas, despediriam os funcionários que tivessem um ou outro comportamento acima descrito. A rés publica é menos exigente que a rés privada....
O interesse nacional reside em criar condições para viabilizar uma restruturação da nossa economia, finanças e demais artefactos (AP, banca, empresas, legislação laboral etc);
O interesse nacional e o nível das nossas reservas impõe medidas imediatas e rápidas;
O histórico de seis anos do actual PM não permite sequer, duvidar da incapacidade para realizar a tarefa acima descrita;
Tenho dificuldade em admitir que o interesse nacional seja viabilizar uma lei que apenas propõe que nos endividemos para pagar juros, quando o que todos consideramos como necessário diminuir a dívida e criar condições para que essa dívida diminua ou desapareça.
Tenho dificuldade em perceber que se possam criar condições secando o aforro nacional para pagar serviço de dívida.
Tenho dificuldade em compreender como se pode supor que o país acaba em Novembro sem orçamento, quando estão criadas as condições para que as próximas duas gerações venham a pagar as dívidas de hoje e que, muito provavelmente, nem sequer nos poderão apoiar na velhice.
Tenho dificuldade em compreender como mais um ano com o eng Sócrates é preferível a uma crise que clarifique a situação o mais rapidamente possível.
Tenho dificuldade em admitir que, os portugueses, desde que lhes seja contada a verdade, prefiram que lhes continuem a escondê-la e suportem meias medidas e meias curas;
Tenho dificuldade em acreditar que os portugueses aceitem que se lhes sejam pedidos sacríficios prolongados e dolorosos, sem que lhes apresentem alternativas mesmo que mais dolorosas, mas mais curtas.

Por isso, qualquer decisão que não seja acompanhada de uma explicação e de alternativas está, mesmo que siga os bonzos pensantes, será sempre péssima e suicidária para quem a toma

Cumprimentos
joão

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
Infelizmente entrámos por um caminho em que o poder se joga na táctica diária de condicionamento do dia seguinte do adversário ou do inimigo.
Faz lembrar uma batalha em que aí se joga a derradeira vitória ou derrota de uma guerra.
Aplicar esta carga bélica no dia-a-dia da vida de um país, reduzindo-o a uma espécie de plateia que assiste quase impotente aos sistemáticos ataques e contra-ataques, conduzirá à destruição.
E num cenário de guerra não poderiam faltar as altas patentes, que cheias de grandes virtudes vão largando as suas ordens…

Anónimo disse...

É bem verdade o que escreve, Margarida. Algumas das altas patentes esqueceram-se rapidamente do que as suas ordens e as suas omissões provocaram no passado.