Se Cavaco Silva se lembrou da lei de Sir Thomas Gresham, eu prefiro recordar as palavras certeiras de Aristófanes na fala do Corifeu (As Rãs):
"Muitas vezes nos pareceu que esta cidade se conduz com os cidadãos honestos como a moeda antiga em relação à nova moeda. Com efeito, das antigas, que não são adulteradas mas as mais belas de todas as moedas, e as únicas bem cunhadas e bem sonantes em curso entre os gregos e os bárbaros por toda a parte, não usamos, como parece que devia ser, mas fazemos uso destas más de cobre barato, cunhadas de ontem e anteontem, com a pior das cunhagens. Assim, aos cidadãos que nós sabemos que são bem nascidos e prudentes, homens não só justos mas pessoas de bem, educados nos ginásios, nos coros e na música, nós afastamo-los, e fazemos uso para tudo dos de cobre, estrangeiros, ruivos, maus e de má gente, os últimos chegados, de quem a cidade anteriormente se não serviria com facilidade, por ventura, nem como vítimas expiatórias. Agora, ao menos, ó insensatos, mudai de hábitos, seleccionai de novo os seleccionáveis. E se fordes bem sucedidos, a glória é vossa. No caso de insucesso, se sofrerdes algum mal, dareis aos sábios a impressão de vos terdes enforcado de boa árvore."
"As Rãs" foi representada pela primeira vez no começo de Fevereiro de 405 a. C., nas festas Leneias. Viviam-se os últimos momentos da guerra do Peloponeso. No verão, a esquadra ateniense é surpreendida e destruída pelo general espartano Lisandro. Atenas rende-se em Abril do ano seguinte.
Em política, quando a "boa moeda" expulsa a "má moeda", as consequências podem ser terríveis.
Pelo menos, poderiam dar a "impressão de vos terdes enforcado de boa árvore".
Sem comentários:
Enviar um comentário