Celebra-se hoje o Dia Mundial da Poupança.
Para uma parcela significativa da população portuguesa, esta celebração tem um sentido quase misterioso/perverso:
- Que é isso da poupança, não é uma coisa de velhos?
- Para quê poupar, se há tanta coisa boa para comprar?
- Como poupar se os rendimentos líquidos não são suficientes para a satisfação das necessidades correntes e se para a aquisição de bens duradouros e de habitação temos uma infinidade de ofertas de crédito?
- Qual o interesse de poupar se os Bancos pagam taxas de juro nos depósitos que, líquidas de impostos, não cobrem ou quase não cobrem a inflação?
Todas estas interrogações são justificadas numa época em que os incentivos ao consumo e ao endividamento esmagam quaisquer sugestões ou recomendações em defesa da poupança.
Temo insistir numa tecla já gasta, mas era fundamental que, aquando da estrutural mudança de regime económico ocorrida com a adesão à zona Euro, em 1999, tivesse sido promovida em Portugal uma campanha a sério, chamando a atenção para os enormes riscos do endividamento fácil.
Com efeito, uma das consequências mais marcantes dessa mudança foi uma grande descida das taxas de juro que tornou o endividamento muito mais apetecível e mais fácil.
Recordo-me bem das fortíssimas recomendações que o Banco de Espanha emitiu na altura, especialmente dirigidas ao sistema bancário mas que serviram também como advertência para o público em geral, sobre os riscos do excesso de crédito que a entrada no Euro poderia induzir...
Em Portugal, não só o BdeP ficou mudo e quedo como todo o discurso oficial foi estruturado numa epopeia de folclore europeísta e “Eurista”: chegamos ao Euro, somos os maiores, os nossos problemas acabaram.
O Estado deu o exemplo, gastando até mais não poder, ficcionando um défice em 2001 que depois de provou ser mais de duas vezes o valor oficialmente declarado!
Foi o desastre que se viu e se continua a observar!
Os números hoje divulgados pela DECO (do crescimento) do número das famílias sobre-endividadas, que recorrem a seus préstimos é bem ilustrativo da paranóia de gastar a crédito que entre nós se instalou e que o aumento das taxas de juro põe agora a nu.
Mudando de registo: a propósito deste Dia Mundial da Poupança, a Secretária de Estado da Defesa do Consumidor – título curioso, diria Mota Amaral – faz esta notável recomendação, com a qual termino o POST para não repetir o desabafo do Pinho Cardão:
“Necessidade de os portugueses desenvolverem hábitos de gestão e de poupança e de hierarquizarem as suas necessidades, para NÃO PERDEREM A CABEÇA”!!!
11 comentários:
Iniciei a leitura do novo livro de José Rodrigues dos Santos "O sétimo selo". Ainda vou muito no início mas já deparei com uma teoria assaz interessante, resultante da conversa entre o prof. Noronha e um árabe da OPEP, onde o 2º faz ver ao primeiro que o preço do petróleo é baixo, se relacionado com o volume de riqueza que cria. ;)
Tal como o árabe refere, o petróleo encontra-se ligado a tudo o que é produzido e consumido, directa ou indirectamente, pelo que, existe uma sinergia entre petróleo, produção e riqueza. Não é difícil a qualquer um prespectivar esta teoria, o que nos leva a suspeitar da aplicação do termo poupança à realidade mundial. Eu deixo as minhas percepções correr mais longe. O anunciado anti-cristo do apocalipse, não será precisamente o petróleo?
O fim do mundo não está previsto que suceda pela acção do fogo?
Bom, mas isso sou eu a divagar, até porque não tem relação directa com a poupança.
;))
Éééé, caro Bartolomeu, não deixo de lhe dar alguma razão... ali aquela zona do Médio Oriente está pejadinha de anti-cristos com tendências apocalípticas.
Petróleo - fogo
Fogo - petróleo... é... gostei dessa ideia. :)
Relativamente à poupança é que já tenho algumas reservas. Sou poupadinho mas... não tenho filhos (nem grandes, nem pequenos, logo não pago escolas, creches, fraldas, nem comida extra para os alimentar), não comprei casa (optei pelas vantagens do arrendamento que não inclui coisas como o aumento das taxas de juro ou pagamento de condomínios, etc), o carrito que comprei em 2002, com a versão de pagamento em 36 meses, já está pago (e não incluia as novas modalidades de empréstimo a 84 meses, nem aquela coisa esquisita que é agora o I.A e que ninguém consegue explicar como funciona). Gosto muito de cartões de crédito e uso-os mas garanto sempre que posso liquidá-los a qualquer altura (mesmo que não goste).
Desta forma, eu não tenho as responsabilidades que muita gente normal tem. A minha única questão é que aquilo que eu pensava que tinha sido uma opção pessoal, neste momento, não sei se terá sido efectivamente uma opção.
Ora aqui está um bom dilema sobre o qual me debruçar...
Dr. TM, depois da casa arrombada, trancas na porta é sempre algo interessante. Agora, tarde piaram e a Inês está morta.
Dr. Tavares Moreira
Muito bem lembrado o Dia Mundial da Poupança, que no nosso caso é para a maioria dos cidadãos e das famílias "música celestial".
Os portugueses têm cada vez mais dificuldades em poupar. A realidade é muito dura. Para que não fiquem dúvidas: 2 milhões de pobres, 500.000 desempregados e um endividamento das famílias de 118% do rendimento disponível (números de 2004, BdP).
E como podem os governantes apelar à poupança se o Estado não dá o exemplo?
Boa chamada de atenção do Dr. Tavares Moreira para a questão do silêncio a que se remeteram as autoridades oficiais, ao não informarem o público em geral sobre os riscos do crédito "fácil" induzidos pela descida das taxas de juro que se perspectivavam após a adesão do País ao Euro.
Há erros que se pagam muito caro!
inda se dessem umas grades de bejekas... agora 3.000 éreos... pfhhh próque cum blogueiro quer o denheiro? denheiro nem dá flecedade...
Caro Professor Tavares Moreira.
O povo a falar:
Sabe, srº. fulano, isto está muito mau, não há obras, está tudo parado, dizia-me há uns meses um empreiteiro, do tipo faz tudo (daqueles que tem a sede social sempre em movimento: toyota hiace e telemóvel); e é por causa disto estar mau, continuava ele, que venho aqui a ver se srº. precisa de alguma coisita? Olhe, senão da maneira que isto está tenho que vender a casita, não aguento com a prestação do banco, são 900 euros por mês! Está a ver, eu sem trabalho? A culpa foi do Cavaco! Ah pois,aquela altura era trabalho que nunca mais acabava, ganhava o que queria e meti-me neste empréstimo a pensar que isto nunca mais vinha para trás, e agora estou agarrado!
A culpa é do Cavaco? Ora essa! Como assim? Interroguei eu!
Pois claro que é, ele devia ter desenvolvido isto mais devagarinho, não era assim tão rápido como ele fez! Agora vieram estes e “catrapumbas”!
Perante tal análise e convicção, confesso que fiquei sem palavras, e a única coisa que me ocorreu dizer-lhe foi que a crise tinha batido à porta de todos.
A história que aqui deixo é verdadeira, e o facto de a trazer aqui é para demonstrar que o aforro das famílias nesta altura é uma miragem! O esforço feito pelas famílias para honrarem os seus compromissos, é o máximo que nestes tempos se pode esperar.
São poucos os portugueses que na conjuntura actual, podem dizer, como li algures: somos felizes, sem dívidas nem créditos, sem fortuna nem, apertos!
Ideia peregrina essa da poupança. O facto é que se receber um AOV de um automóvel recebo 100% desse valor, se receber dinheiro já só posso poupar 50% desse valor porque,do dinheiro que o meu patrão aloca para me pagar, 23,75% vão para a segurança social, eu recebo 76,25% dos quais 46% vão para o estado. Por isso, vamos lá fazer uma sondagem :
Pessoal, querem andar de Honda ou que o Teixeira dos Santos ande de Mercedes? Querem receber metade em poupança ou inteiro em consumo???
Como diria o comendador Berardo...Hellooooooo!!!
Excelente tonibler!
Anthrax, mas que maravilha, para além de todas as qualidades que lhe são (justamente) reconhecidas, mais esta de cidadão prevenido...vale por dois!
Não se arrependa e se foi ou não opção não se preocupe, o que conta é que pode dormir (?) descansado...
E continuar a editar seus magníficos comentários, sem receio dos credores...
E lembre-se que nesta terra não se pode ser pequeno devedor... só com milhões, muitos, em dívida é que terá algum respeito dos credores.
Portanto, se um dia quiser fazer uma opção de "shortar" a sua posição em Euros - que não aconselho mas a opção é sempre sua - faça isso em grande, de outra forma pode meter-se em sarilhos...
Caro Dr. TM, não sei porquê, sempre ouvi darem esse conselho a outros (normalmente aos outros que têm esses euritos todos com muitos zeros). Há muitos anos, havia um industrial têxtil (ali da zona de Guimarães e com um humor extraordinário), que costumava dizer, que quanto mais endividado estivesse melhor dormia e menos o aborreciam.
Demorou algum tempo (e uma licenciatura) para conseguir perceber o que é que ele queria dizer com isso, mas a verdade é que ele tinha razão.
Estes nossos industriais do têxtil sabem muito e estão sempre muito tranquilos com a sua consciência.
Apesar de o empréstimo a habitação ser um mal, tendo em conta a especulação em torno dos imóveis o que provoca as altas prestações, temos um problema bem maior e mais grave. O crédito ao consumo. Qual o senso de pedir dinheiro emprestado para comprar um gadget de ultimo geração ou até mesmo umas férias?
Mais lamentável ainda é a febre publicitária com que essas emprezazexas nos chateam diáriamente (programas, jornais, rádio), isto para não falar dos irritantes e deploráveis anúncios.
A poupança deve ser algo de muito importante, mas temos dois problemas graves.
Primeiro o sistema bancário no seu melhor chega a gozar com as pessoas e a oferecer remunerações trimestrais que podem chegar aos miseros 1.75%. É melhor investilo em acções ou em valores imobiliários.
Segundo com o custo de vida a aumentar assustadoramente e com os ordenados a não acompanhar esse rimo, como poderão as pessoas poupar? Como custear a vida de uma familia com 500€ por mês cada um dos conjugues e ainda por cima poupar.
Poupar é uma virtude, mas em Portugal é preciso criar condições para tal ser possível!
Saudações Republicanas
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