Não deixa de suscitar alguma perplexidade a entrevista do Procurador Geral da República. E não estou a referir-me ao que se soube (?) através dessa entrevista, estou a pensar que preocupante é que tenham sido ditas essas coisas numa entrevista.
Não querendo admitir que o objectivo era escandalizar ou sequer lançar desconfiança sobre o que se deveria ter como fiável, pergunto-me se não haverá por vezes alguma falta de experiência sobre a “convivência” com os media.
Não, também não estou a dizer que houve armadilhas, ou coisa parecida, pelo contrário. O que eu quero dizer é que, fazendo cada um a sua parte, com inteira lealdade, se assim se pode dizer, cabe ao jornalista perguntar, e tentar obter uma entrevista que traga novidades ou emoção, e cabe ao entrevistado dizer só o que deve ser dito ou seja, aquilo que ele queria e devia transmitir como útil e interessante quando decidiu dar a entrevista.
Ora, há que reconhecer que é geralmente ignorado no nosso país (já não noutros) a “aprendizagem” que é exigida para comunicar com os meios que hoje existem, com a sua agressividade, com a exposição permanente, com as “técnicas” para captar o que se pretende sem que a pessoa perceba logo que está a dizer mais, ou diferente, do que pretendia dizer.
Leva algum tempo até se aprender com a experiência, (se é que chega a aprender-se) por isso acho que já era altura de dar alguma formação neste aspecto a quem, institucionalmente, deve saber enfrentar e trabalhar com a comunicação social. É que não é só uma questão de jeito, ou de frontalidade. É uma questão de profissionalismo, o modo de transmitir informações, de falar com transparência e com honestidade, não pode arriscar ser desastrado no que se quer transmitir, dizer o que não se queria ou dizer da forma errada, causando às vezes mais prejuízo do que se tivesse ficado em silêncio. Por outro lado, a “informação” que se ganha com estes episódios é pouco mais que pretexto para hipocrisias políticas, uns assomos de indignação e no fundo todos estão é a pensar “…mas como é que ele foi dizer aquilo?...”. É mais que tempo de assumir que comunicar, e comunicar como deve ser, com consciência do que se diz e de como se diz, e do efeito que isso dará, é uma técnica que se aprende, e que é essencial para o bom desempenho de um cargo ou, pelo menos, para a ideia que fica dele que é, muitas vezes, o que subsiste…
Não querendo admitir que o objectivo era escandalizar ou sequer lançar desconfiança sobre o que se deveria ter como fiável, pergunto-me se não haverá por vezes alguma falta de experiência sobre a “convivência” com os media.
Não, também não estou a dizer que houve armadilhas, ou coisa parecida, pelo contrário. O que eu quero dizer é que, fazendo cada um a sua parte, com inteira lealdade, se assim se pode dizer, cabe ao jornalista perguntar, e tentar obter uma entrevista que traga novidades ou emoção, e cabe ao entrevistado dizer só o que deve ser dito ou seja, aquilo que ele queria e devia transmitir como útil e interessante quando decidiu dar a entrevista.
Ora, há que reconhecer que é geralmente ignorado no nosso país (já não noutros) a “aprendizagem” que é exigida para comunicar com os meios que hoje existem, com a sua agressividade, com a exposição permanente, com as “técnicas” para captar o que se pretende sem que a pessoa perceba logo que está a dizer mais, ou diferente, do que pretendia dizer.
Leva algum tempo até se aprender com a experiência, (se é que chega a aprender-se) por isso acho que já era altura de dar alguma formação neste aspecto a quem, institucionalmente, deve saber enfrentar e trabalhar com a comunicação social. É que não é só uma questão de jeito, ou de frontalidade. É uma questão de profissionalismo, o modo de transmitir informações, de falar com transparência e com honestidade, não pode arriscar ser desastrado no que se quer transmitir, dizer o que não se queria ou dizer da forma errada, causando às vezes mais prejuízo do que se tivesse ficado em silêncio. Por outro lado, a “informação” que se ganha com estes episódios é pouco mais que pretexto para hipocrisias políticas, uns assomos de indignação e no fundo todos estão é a pensar “…mas como é que ele foi dizer aquilo?...”. É mais que tempo de assumir que comunicar, e comunicar como deve ser, com consciência do que se diz e de como se diz, e do efeito que isso dará, é uma técnica que se aprende, e que é essencial para o bom desempenho de um cargo ou, pelo menos, para a ideia que fica dele que é, muitas vezes, o que subsiste…
12 comentários:
"Bem, isto está tudo um bocado desanimado, então eu vou contar uma anedota"
Foi com esta frase que Carlos Barreto,Professor na Universidade de Aveiro e Ministro do Ambiente no governo de Cavaco Silva, decorria o ano de 1993, iniciou a sua intervenção numa cerimónia pública.
Não! não foi ele que inventou a anedota da reciclagem dos hemofílicos do hospital de évora, para aproveitar o alumínio existente nos seus corpos e que tinha orgem na água utilizada. Aquilo era uma anedota que corria já na gíria, na boçalidade pública, motivada precisamente pela caricata situação de se conhecer o problema e pouco se fazer para lhe dar solução.
Cavaco Silva, imediatamente demitiu Carlos Borrego, que por sua vez não estrilhou, desconfio até que entendeu a demissão como um alívio.
Temos agora uma situação de novo caricata. A verdade é que as escutas estão a ser efectuadas. A verdade também, é que uma das principais entidades que deveria conhecer a origem da ordem dessas escutas telefónicas, a desconhece, incluindo-se impotentemente na orde dos hipotéticamente escutados.
A verdade ainda, é que as escutas só podem estar a ser feitas por um serviço de inteligência secreto, que, precisamente pelo facto de ser secreto, não se deverá conhecer.
O Sr. Procurador Geral da República, foi indicado pelo Sr. Primeiro Ministro e empossado pelo Sr. Presidente da República. Não sei se Cavaco Silva visita o 4 R, se o fizer, peço-lhe encarecidamente: Sr. Presidente, por favor, não destitua do cargo o Sr. PGR. Ele, como Carlos Borrego, são vítimas do Lusitano Porreirismo e um homem, de tanto lhe martelarem os ouvidos com aberrações, ás tantas ácaba por se confundir com elas.
Isto tudo faz-me lembrar os caçadores lá no meu sítio, andam pelos campos de espingarda às costas um dia inteiro e quando caçam, se caçam, é um coelhito desatento e meio-cego, porque os "finos", ainda o caçador vem a milhas, já eles se estão a esconder nas tocas. Ah, mas os caçadores sabem que eles andam lá, ah isso sabem, vêem-lhes as caganitas espalhadas pelo chão.
Cara Suzana:
Estou convencido que o Sr. Procurador Geral, dado o seu perfil, disse o que queria dizer e como queria dizer.
As afirmações perturbaram, porque todos estamos habituados ao politicamente correcto, à hipocrisia, ao não levantar ondas, às grandes posições públicas de que a justiça funciona.
Ora, não funciona, e isso é que é verdade. Mas pretende-se mostrar que funciona: ainda ontem Sócrates veio a "desvalorizar" as palavras do Procurador Geral.
Mas, se virem bem, o Ministério Público não as desvalorizou, ao ponto de um jornal referir que o Sindicato iria pedir a demissão do Procurador Geral.
Parece que toda a gente ignorava o sistema de poderes criado no Ministério Público, a influência associativa e sindical, as sucessivas tomadas de posição pública sobre as iniciativas legislativas, as sensibilidades sobre o comando da condução de processos, a demonstração pública de maior "produtividade" nas acusações de umas equipas em relação a outras, os feudos, e as dificuldades criadas a uma gestão hierarquizada de um órgão tão importante.
Neste momento, penso não só que o Procurador Geral disse o que queria dizer, como fez bem em dizer o que disse. É preciso é que seja consequente. Mas aqui, não pode agir sòzinho. Caso não tenha o apoio do Governo e do P.R. os seus esforços sossobrarão.
Procurar incompetência comunicacional nas afirmações do PGR é um erro. Quando no Domingo comecei a ouvir referência às duas afirmações bombásticas da entrevista, também pensei: como é que este senhor, que eu tenho por inteligente, competente e ponderado foi cometer um deslize destes? Mas depois reflecti: se este senhor é inteligente, competente, ponderado não pode ter sido um deslize, ele só pode ter dito o que queria dizer. E procurei ler a totalidade da entrevista. Se bem que só tenha lido a parte disponível em linha, concluí que se trata de facto de uma entrevista notável a todos os títulos, coerente, “constrída” ponto por ponto, de alguém que fala de forma desassombrada, lúcida, objectiva e, acima de tudo, com objectivos. Por isso, podemos discordar dos métodos utilizados pelo PGR na prossecução dos seus objectivos, é um direito de todos. Eu, por mim, prefiro esperar pelos resultados.
É claro que os resultados vão depender da forma como todos reagirmos à entrevista.
Só se quisermos é que “a informação que se ganha com estes episódios é pouco mais que pretexto para hipocrisias políticas, uns assomos de indignação e no fundo todos estão é a pensar “…mas como é que ele foi dizer aquilo?...”.
Com uma atitude de desvalorização do episódio (e dos factos), como já se viu da parte do PM, vai ser mesmo assim. Mas podemos ter uma atitude de considerar coisa muito séria o que foi dito. Como aliás já ouvi e li da parte de muita gente, notáveis e gente comum.
Agora, o que não podemos é considerar que este tipo de afirmações são deslizes ou incompetências de quem as profere. E muito menos considerar que se trata de queixas – e uma pessoa competente não se queixa, age – o que conduz ao argumento da demissão.
Não menosprezemos a inteligência e a qualidade das pessoas.
Alguém teve a coragem desassombrada (raridade!) de nos dizer a verdade “inconveniente”?
Penaliza-se esta pessoa por nos dizer que, afinal, “o rei vai nu”?
Ou, de que serve crucificar o mensageiro?
E no momento em que, já passado o tirocínio, objectivamente será a pessoa melhor preparada para a realização do que houver a fazer?
Acabemos com esta lusitana autofagia!
Bem, quando escrevi o meu texto ainda não tinha lido o post de Dr. Pinho Cardão.
Parece que eu disse o mesmo. Só que ele de forma muito mais clara. E concisa!
Em "bloguês",gostava de o ter escrito.
Cara Drª Suzana Toscano:
«Engenho ou arte de comunicar?».
Excelente título este que encima o texto e obriga a um momento de reflexão, sobre o quão difícil é comunicar.
Sou de opinião que, comunicar ao nível do caso que sustenta este post, foi um exercício de liberdade das partes: nem o entrevistado foi atraído a dizer o que não devia, nem o jornalista poderia imaginar que daquela entrevista iria sair tal “monarquia”! Portanto, não querendo aqui usar de mãozinhas e pezinhos de lã, como é hábito nos casos em que as asneiras são cometidas por entidades de nome, há que dizer, sem sombras de hipocrisia, da forma que se diria a um Zé Ningúem que estas revelações demonstram falta de bom senso!
Contudo, noutras situações, naquelas em que o entrevistado é apanhado numa teia construída pelo jornalista, aí sim, o entrevistado tem de ter uma ou duas das coisas: engenho e arte.
Por isso, quando eu “for grande”, capaz de fazer um texto igual ao seu, vou modificar-lhe ligeiramente o título; vai passar a ser: Engenho, arte, ou bom – senso a comunicar?
Alinho pelos comentários de Dr. PC e SC.
Não sou conhecedor dos assuntos da justiça, mas por vezes é preciso agitar para, após identificar, acertar no alvo.
Subscrevo inteiramente o comentário de Pinho Cardão e, acrecento, que se calhar falta mais vernáculo na forma como se dizem as coisas.
Reporto-me aos comentários do Drº PC e dos meus caros Agitador e Tonibler.
Faço votos para que as vossas reflexões estejam correctas...a ver vamos, estamos cá para isso.
Também eu subscrevo o comentário de Pinho Cardão. Inteirinho.
A perspectiva de que esta entrevista foi um descuido é a porta aberta para a deixar sem consequências.
Só que afirmações daquelas, proferidas por um magistrado independente, sério, experiente e competente como é o Conselheiro Pinto Monteiro, não podem ser desvalorizadas. A bem da credibilidade não somente da Justiça. A bem da credibilidade do Estado!
Mesmo que seja grande o incómodo que possam causar ao poder instituído como ontem à saída da Gulbenkian foi perceptível da fuga do senhor Primeiro-Ministro.
Suzana
Excelente assunto para pensarmos.
A comunicação é uma aptidão fundamental para o desempenho de funções, sobretudo quando há uma necessidade de transmitir informação ou conhecimento a terceiros.
Muitas pessoas que desempenham cargos que implicam exposição pública não estão preparadas para comunicar com a "plateia" e lidar com os media. Uma regra que parece ser básica, passa por o entrevistado traçar previamente os objectivos da entrevista; deve saber o que é que quer transmitir, que mensagens quer fazer passar, o que deve dizer e o que não deve dizer. Parece ser uma coisa simples, mas não é.
É claro que a experiência nestas andanças facilita muito. Mas mesmo as pessoas com experiência, calculistas, resistentes à pressão, habituadas a comunicar com a opinião pública, conhecedoras das manhas dos jornalistas, confiantes no domínio das situações, podem ter falhas.
E "no melhor pano cai a nódoa". Foi o que aconteceu com o PGR. A entrevista estaria a correr bem, e talvez num gesto de "à vontade" disse aquilo que não podia ter dito. Há coisas que depois de ditas, não há nada a fazer...Não tem correcção possível!
Caro SC:
Tivemos o mesmo pensamento pela mesma hora!...E eles completam-se muito bem!...
Caro Ferreira de Almeida:
Muito obrigado pela concordância!...
Vamos ver no que a coisa dá.
Para já, a questão das escutas parece-me que está a ser valorizada; ao contrário, a questão dos feudos e baronatos está a passar a segundo plano.
Vamos ver...
Caros 4republicanos,concordo com o caro Invisível e com a Margarida, por isso mesmo me ocorreu abordar o assunto na óptica da comunicação. Não se trata de desvalorizar o que foi dito mas de questionar se era assim mesmo que se queria dizer. De facto, só no futuro poderemos tirar alguma conclusão.
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