Ultimamente tenho sido confrontado com alguns doentes que me pedem receitas para produtos que desconheço. É certo que diariamente saem novas formulações e por isso poderei não ter conhecimento das mesmas. No entanto, tomo os cuidados necessários procurando saber do que é que se trata, mas não encontro informação nos formulários médicos.
Esta semana, um doente pediu-me que lhe passasse uma receita, ao mesmo tempo que me entrega um papel de um produto que desconhecia. Olho para o recibo da farmácia e vejo que o mesmo paga 21% de IVA. Transmiti este achado ao doente que ripostou que foi o farmacêutico que o prescreveu à mulher e que às tantas deverá ser um produto cosmético. Mas foi na farmácia que lhe disseram para pedir uma receita ao médico, porque descontava para o IRS. Pedi desculpa mas não me sentia à vontade para lhe fazer a vontade. Outros, no final da consulta, perguntam se podem tomar certos comprimidos. Mostram-me as embalagens, olho para as mesmas e concluo que não são especialidades farmacêuticas. Foram prescritas por farmacêuticos ou outros profissionais que se dedicam a estes produtos. Analiso as composições e, na maioria dos casos, são suplementos vitamínicos. Digo-lhes que em princípio, se o produto contém o que está escrito, não deverá haver qualquer problema não interferindo com o resto da medicação. Mas há situações mais complicadas quando trazem chás de diversas qualidades ou misturas dos mesmos, falando apenas dos que mostram, porque deverá haver muitos que não dizem nada.
Os doentes procuram quem lhes possam tratar das suas maleitas. A coisa mais natural do mundo. Mas, a par dos que procuram o médico, há os que procuram outros profissionais. Aqui a situação pode ficar complicada. Para além da excessiva medicação, cujos efeitos se vão acumulando – não esquecer que muitos doentes ao procurarem vários clínicos “esquecem-se” de dizer o que andam a tomar, acabando por coleccionar uma catrefada de drogas -, muitos adicionam produtos ditos “naturais”.
Há um tipo de doentes, bastante curioso, que denomino de “híbridos”! Gostam de ir ao médico para saber o que têm, mas dizem logo que não vão tomar quaisquer químicos. Preferem os produtos naturais. Outros, mais desconfiados, mais crédulos ou mais devotos vão aos herbanários ou a outros profissionais que se dedicam a tratar da saúde por “meios naturais”.
Cada dia que passa aumenta o número de pessoas que se entregam às opções alternativas alimentando uma das indústrias mais lucrativas: a medicina “natural”. Mas cuidado, os perigos existem!
No Reino Unido, 16 milhões de pessoas utilizam-na. Os inquéritos afirmam que quatro em cinco britânicos estão satisfeitos com os resultados a começar pelo próprio príncipe Carlos. As vendas duplicaram de 1999 até aos nossos dias, ultrapassando os 250 milhões de euros!
Dois investigadores britânicos acabam de recomendar a proibição da venda das “ervas” a menos que seja comprovada a eficácia das mesmas. Muitas são tóxicas, outras estão adulteradas e um número considerável interage com os medicamentos ortodoxos. Na sua análise sistemática de revisão desses produtos, baseando-se em 1.300 estudos, verificaram que só em três foram realizados estudos clínicos aleatorizados. Destes, dois não revelaram quaisquer vantagens versus placebo, e o terceiro uma mistura de vinte ervas chinesas não era superior ao tratamento com o chá clássico.
Solicitaram, igualmente, a quinze organizações de profissionais destas áreas que enviassem documentação sobre a evidência científica dos seus produtos. Nem uma respondeu!
Um produto farmacêutico passa por filtros e exigências muito rigorosas antes de ser disponibilizado aos doentes. As ervinhas e as suas misturas não precisam!
Uma directiva comunitária em preparação irá exigir provas de segurança das ervas medicinais mas não da sua eficácia! Ah! Já me esquecia! Ficam de fora as que são utilizadas há mais de 30 anos. Na prática, como as ervas são utilizadas há séculos, para que servirá uma directiva desta natureza?
Tenho que passar a ter mais cuidado perguntando aos doentes se não andam a tomar alguma mezinha ou cházito. Não vá o diabo tecê-las e ocorrer alguma interacção não prevista que lhes possam causar dano. Entretanto, comecei a estudar um pouco de botânica. Já conheço algumas ervas e os seus efeitos. Ainda acabo um dia destes por ler Dioscórides de Anazarba, médico grego do século I, que escreveu o primeiro tratado sobre as propriedades e uso medicinal das ervas. E vou começar pelo último volume, o “Livro dos Venenos”. Parafraseando Cristina Bajo, no seu livro “O Jardim dos Venenos”: ”Há duas coisas capazes de matar através do tempo e do espaço, e são elas o veneno e a palavra. Não consigo distinguir qual delas é a mais venenosa…” Eu também não! O melhor é prevenir.
Esta semana, um doente pediu-me que lhe passasse uma receita, ao mesmo tempo que me entrega um papel de um produto que desconhecia. Olho para o recibo da farmácia e vejo que o mesmo paga 21% de IVA. Transmiti este achado ao doente que ripostou que foi o farmacêutico que o prescreveu à mulher e que às tantas deverá ser um produto cosmético. Mas foi na farmácia que lhe disseram para pedir uma receita ao médico, porque descontava para o IRS. Pedi desculpa mas não me sentia à vontade para lhe fazer a vontade. Outros, no final da consulta, perguntam se podem tomar certos comprimidos. Mostram-me as embalagens, olho para as mesmas e concluo que não são especialidades farmacêuticas. Foram prescritas por farmacêuticos ou outros profissionais que se dedicam a estes produtos. Analiso as composições e, na maioria dos casos, são suplementos vitamínicos. Digo-lhes que em princípio, se o produto contém o que está escrito, não deverá haver qualquer problema não interferindo com o resto da medicação. Mas há situações mais complicadas quando trazem chás de diversas qualidades ou misturas dos mesmos, falando apenas dos que mostram, porque deverá haver muitos que não dizem nada.
Os doentes procuram quem lhes possam tratar das suas maleitas. A coisa mais natural do mundo. Mas, a par dos que procuram o médico, há os que procuram outros profissionais. Aqui a situação pode ficar complicada. Para além da excessiva medicação, cujos efeitos se vão acumulando – não esquecer que muitos doentes ao procurarem vários clínicos “esquecem-se” de dizer o que andam a tomar, acabando por coleccionar uma catrefada de drogas -, muitos adicionam produtos ditos “naturais”.
Há um tipo de doentes, bastante curioso, que denomino de “híbridos”! Gostam de ir ao médico para saber o que têm, mas dizem logo que não vão tomar quaisquer químicos. Preferem os produtos naturais. Outros, mais desconfiados, mais crédulos ou mais devotos vão aos herbanários ou a outros profissionais que se dedicam a tratar da saúde por “meios naturais”.
Cada dia que passa aumenta o número de pessoas que se entregam às opções alternativas alimentando uma das indústrias mais lucrativas: a medicina “natural”. Mas cuidado, os perigos existem!
No Reino Unido, 16 milhões de pessoas utilizam-na. Os inquéritos afirmam que quatro em cinco britânicos estão satisfeitos com os resultados a começar pelo próprio príncipe Carlos. As vendas duplicaram de 1999 até aos nossos dias, ultrapassando os 250 milhões de euros!
Dois investigadores britânicos acabam de recomendar a proibição da venda das “ervas” a menos que seja comprovada a eficácia das mesmas. Muitas são tóxicas, outras estão adulteradas e um número considerável interage com os medicamentos ortodoxos. Na sua análise sistemática de revisão desses produtos, baseando-se em 1.300 estudos, verificaram que só em três foram realizados estudos clínicos aleatorizados. Destes, dois não revelaram quaisquer vantagens versus placebo, e o terceiro uma mistura de vinte ervas chinesas não era superior ao tratamento com o chá clássico.
Solicitaram, igualmente, a quinze organizações de profissionais destas áreas que enviassem documentação sobre a evidência científica dos seus produtos. Nem uma respondeu!
Um produto farmacêutico passa por filtros e exigências muito rigorosas antes de ser disponibilizado aos doentes. As ervinhas e as suas misturas não precisam!
Uma directiva comunitária em preparação irá exigir provas de segurança das ervas medicinais mas não da sua eficácia! Ah! Já me esquecia! Ficam de fora as que são utilizadas há mais de 30 anos. Na prática, como as ervas são utilizadas há séculos, para que servirá uma directiva desta natureza?
Tenho que passar a ter mais cuidado perguntando aos doentes se não andam a tomar alguma mezinha ou cházito. Não vá o diabo tecê-las e ocorrer alguma interacção não prevista que lhes possam causar dano. Entretanto, comecei a estudar um pouco de botânica. Já conheço algumas ervas e os seus efeitos. Ainda acabo um dia destes por ler Dioscórides de Anazarba, médico grego do século I, que escreveu o primeiro tratado sobre as propriedades e uso medicinal das ervas. E vou começar pelo último volume, o “Livro dos Venenos”. Parafraseando Cristina Bajo, no seu livro “O Jardim dos Venenos”: ”Há duas coisas capazes de matar através do tempo e do espaço, e são elas o veneno e a palavra. Não consigo distinguir qual delas é a mais venenosa…” Eu também não! O melhor é prevenir.
5 comentários:
Excelente texto Caríssimo Professor, confesso a minha surpreza, ao lêr a sua "declaração" de intenção.
Eu entendi que não se rendeu (desculpe-me a brincadeira), a intenção é de prevenir, que o doente não se intoxique, sendo-lhe prescrito um medicamento que interaja com alguma mezinha que ele já venha tomando e por outro lado, livra-se o caro professor de lhe cairem em cima responsabilidades por aquilo de que não é responsável.
Porém quero deixar expresso o meu apreço por aqueles "especimens" que o caro professor designa de "hibridos". Não serão chicos-espertos? Seja como for, temos de lhes conferir algum bom senso.
Estava aqui a pensar com os meus botões... Pelo andar da carroagem, será que um dia destes os novos médicos passarão a ter de estagiar em Vilar de Perdizes?
Estou ainda a pensar:Pelo andar da carroagem, será que um dia destes começarà a ser praticada cirurgia nas herbanárias?
Essa de Vilar de Perdizes tem a sua piada! Não me parece que sirva para alguma coisa nem para ajudar a resolver a crise que passamos. A este propósito fui ver onde pairava um texto escrito há mais de um ano a pensar em Vilar de Perdizes.
Encontrei-o,
“Não há ervas medicinais para a crise”…
As medidas tomadas pelo senhor ministro da saúde têm originado preocupações sociais nada despiciendas, provocando ansiedade, tristeza e desmotivação nas populações do interior. As justificações de carácter técnico podem ser, em parte, até correctas, mas têm uma componente economicista mais do que evidente, prejudicando as populações mais desprotegidas e abrindo o caminho à “liberalização” do sector da saúde com as inevitáveis consequências que não se esgotam neste tão importante sector da nossa vida.
- É a crise, estúpido! - Pois é! Mas não somos todos estúpidos.
A luta contra a ignorância deve ser uma constante em todas as sociedades. Para o efeito, todos os cidadãos deverão ter meios e possibilidades de acesso ao conhecimento que corresponda à realidade e à verdade. É preciso lutar contra a falsidade, a mentira e o abuso da credibilidade e boa-fé das pessoas.
As medicinas alternativas ou populares encerram, em muitos casos, princípios e técnicas sancionadas ao longo do tempo com as vantagens inerentes, face à impossibilidade do acesso ou à inexistência de tecnologias científicas. Muitas, inclusive, foram o ponto de partida para a obtenção de novos conhecimentos, outras, entretanto, não são mais do que manifestações de puro charlatanismo, cujo objectivo é obter proventos à custa da credibilidade de muitos, incultos, mas também “cultos”.
Quando foi organizado, pela primeira vez, o Congresso de Vilar de Perdizes suscitou de imediato atenção, e uma notável mediatização, permitindo congregar, no mesmo espaço, diferentes manifestações populares relacionadas com as medicinas ditas populares. Inicialmente foi muito interessante, porque permitiu aos estudiosos da antropologia cultural, da sociologia e da medicina verificar o que se faz ou o que se fazia entre nós. Mas, com o tempo, houve uma franca deterioração dos objectivos, passando o congresso a ser uma verdadeira feira de charlatães, videntes, bruxos, cartomantes, adivinhos a cativar e a atrair inúmeras pessoas à procura de soluções para os seus males.
Não deixa de ser curioso a ideia expressa pelo principal responsável, o Senhor Padre Fontes, segundo o qual, compete, em última análise, a cada um a tarefa de estabelecer a distinção entre a verdade e a mentira, como se um congresso deste tipo possibilitasse aos menos capazes encontrar ou definir a fronteira entre as duas! Afinal, o mínimo que se consegue alcançar com eventos desta natureza, ou pelo menos com este perfil, é reforçar a falsidade e alimentá-la junto dos que mais precisam.
Claro que no meio disto tudo, ainda vão aparecendo pessoas simpáticas, como foi o caso de uma velhinha que, com o seu lenço preto a emoldurar um rosto cheio de rugas de trabalho e dois incisivos solitários sorridentes, veio afirmar que é ela própria que semeia as suas sementes e que as suas plantas tratam muitas doenças: a hipertensão, a diabetes, o colesterol (e não disse castrol!) e os cardiácos (aqui trocou o acento). Aqui está, senhor ministro, um bom ponto de partida para combater as principais causas de morte dos portugueses! É só pedir à simpática terapeuta que distribua pela nação as suas maravilhosas plantas. Poupava-se tanto dinheiro e cuidados diferenciados. No meio disto tudo, foi extraordinária a resposta dada ao jornalista, quando lhe perguntou se tinha também alguma planta para a crise. – Para a crise? O que é isso? Não conheço! Logo vi que não há remédio alternativo para a malvada. Nem em Vilar de Perdizes…
Caro Professor Massano Cardoso
Interessante o seu texto sobre as "Ervas". Tenho lido alguma coisa sobre o simbolismo das plantas.
O conceito de que um medicamento à base de ervas consiste numa substância que possui propriedades curativas ou medicinais é exclusivo da sociedade ocidental. Em muitas culturas antigas, a definição é mais abrangente, incluindo preparações "mágicas" que se destinam a fazer com que as pessoas que as tomam se apaixonem ou tenham sorte nos negócios. Certo é que há plantas com valor terapêutico. As plantas desmpenharam um papel fundamental na história da medicina e há muitos medicamentos que vêm do reino vegetal, embora algumas plantas medicinais outrora apreciadas sejam hoje consideradas apenas placebos. O descrédito farmacêutico pelos medicamentos naturais baseia-se no facto de constituírem uma ameaça aos lucros das empresas farmacêuticas. Será pacífica uma directiva comunitária para estabelecer provas de segurança das ervas medicinais? Suspeito que, embora não se destine a estabelecer provas de eficácia, sejam grandes as barreiras à sua aprovação...
Ninguém discute o papel de muitas plantas como tendo propriedades curativas e como fonte de substâncias extraordinárias, caso por exemplo do tamoxifeno usado no tratamento do cancro da mama e obtido a partir do teixo. Claro que ninguém vai tomar chá de teixo para esse fim!
A procura por parte da grande indústria farmacêutica de novas substâncias na natureza é uma realidade.
No entanto, muitas das finalidades propostas por parte dos “industriais” do sector não são correctas. As concentrações variam, a forma de confeccionar o produto também e o perigo de intoxicação é uma realidade.
Tinha um simpático vizinho, amante excessivo do bom tinto, que volta e não volta me acenava da sua janela com uma erva e dizia: - Oh senhor doutor! Isto é que um medicamento a valer. Então para o fígado não há melhor. Chá de hipericão senhor doutor, chá de hipericão! Comprimidos? Nem pensar. Ria e dizia-lhe: - Tenha cuidado que esses chás em excesso podem ser perigosos e veja lá se tem mais cuidado com essas pichorrras– Qual quê? O chá corta tudo!
Caro professor Massano Cardoso, confesso que desconhecia este seu texto “Não há ervas medicinais para a crise”…, brilhante e incisivo.
Da referência ao Padre Fontes, responsável pela criação do evento, e da ideia expressa, acerca da distinção individual entre a verdade e a mentira encontrada nas práticas alternativas, infiro que seria sua intenção refrir o poder da fé.
Estou certo que na sua vasta experiência como médico, assistiu a casos de pessoas com quadros clínicos muito difíceis que obtiveram curas pussívelmente contrariando talvez, aquilo que na medicina seria expectável. A vontade de cura, associada talvez À esperança e à confiança no médico, operam milagres na recuperação de certos doentes. Por outro lado, os médicos debatem-se com a recuperação de casos em que a medicina dispõe de meios eficazes de tratamento, mas que devido ao desespero e desânimo dos pacientes, quase que se domonstram ineficazes. Soube recentemente que um senhor brasileiro vem a lisboa operar pessoas.
Opera a tudo, sem anestesiar. O senhor tem por trás uma história de vida, envolta num acontecimento familiar de saúde e uma premonição divina. Eu conheço pessoalmente 2 pessoas que o consultaram e testemunharam algo de transcendental, uma das pessoas, possuia um desvio numa vertebra e tinha os exames feitos para ser operada, porem ao ter conhecimento do Sr. Brasileiro, optou por ele. Levou as rádiografias e os relatórios médicos, o Sr. Brasileiro olhou para as radiografias e perguntou-lhe... então quer ser tratada?
Ela respondeu que tinha muito medo, mas que sim. Então ele mandou que se sentasse num banco, fez-lhe um corte no pescoço, que segundo a pessoa não sangrou e depois, com aquilo que lhe pareceu ser um escopro e um martelo, martelou-lhe a vertebra. Coisa de minutos. Em seguida o médico que o assiste, suturou o corte e receitou-lhe um anti-inflamatório. As queixas dos membros superiores desapareceram, as dores de cabeça, etc. Uma irmã desta pessoa, que tinha tb de ser operada ao peito, para remover um "caroço", ao conhecer o sucesso com a irmã, decidiu consultar o Sr. Brasileiro e levou o marido que tinha um problema no joelho. Ao serrem atendidos, o Sr. Brasileiro decidiu opera-la ao peito, do mesmo modo simples que operou a irmã, mas ao marido não, porque entendeu que ele não tinha fé e sem fé não operáva.
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