O novo Estatuto do Aluno nos segundo e terceiro ciclos (até ao 9º ano de escolaridade), aprovado no Parlamento com o voto único do PS, acaba com os chumbos por faltas. Assim mesmo: se esta proposta entrar em vigor (e só Belém pode impedir que tal aconteça), passará a ser possível passar de ano sem pôr os pés na escola!...
Foi este o delirante contributo do grupo parlamentar do PS para o projecto-lei que havia sido aprovado em Conselho de Ministros e onde, apesar de tudo, ainda havia algum pudor: os alunos que excediam o limite de faltas injustificadas tinham que realizar uma prova de recuperação (ou mais do que uma, consoante a decisão da escola), em que reprovariam se não conseguissem as classificações necessárias, podendo, com recurso, apelar aos conselhos directivos. Com a “ajuda” do Grupo Parlamentar do PS, a(s) nota(s) da(s) prova(s) de recuperação de nada vale(m), pois os alunos faltosos passarão sempre, tendo os conselhos directivos que preparar planos de recuperação ou atribuir castigos (como determinado número de horas de estudo, por exemplo), para além de informarem os encarregados de educação.
A expressão é forte mas, em minha opinião, é a que melhor caracteriza esta alteração legislativa: vergonhosa. Sem dúvida mascarará as taxas de insucesso e o abandono escolar. Mas reparemos: a escolaridade obrigatória poderá ser completada com sucesso mesmo sem frequência de aulas e com notas negativas. Onde chegarão estes alunos? Estarão eles, com esta medida, melhor preparados para enfrentar os anos seguintes de escolaridade? E para enfrentar com sucesso uma carreira profissional? Creio que a resposta é sempre NÃO.
Onde a exigência já não era muita, ela passará, agora, a ser nula. O rigor é, uma vez mais reduzido – quando devia era ser aumentado. E, portanto, os alunos que forem formados num ambiente que é cada vez mais laxista (logo, desadequado) estarão cada vez menos preparados para enfrentar com sucesso as necessidades do mundo profissional. Porque nem sequer estão habituados a ser rigorosos ou a ser avaliados. E, como todos sabemos, no mundo real, a avaliação profissional ocorre todos os dias. Portanto…
Quando era preciso que se devolvesse a autoridade aos professores e fosse aumentada a exigência para com os alunos, caminha-se escandalosamente no sentido oposto. O “eduquês” volta a triunfar. E a qualificação dos nossos recursos humanos, o factor mais importante para que, a médio e longo prazo possamos ser mais competitivos e ambicionemos a um crescimento económico forte e duradouro, e em que aparecemos sistematicamente nos últimos lugares dos rankings internacionais, vai deteriorar-se ainda mais. Pobre Portugal, para onde estás a ser levado?!...
13 comentários:
É curioso como uma coisa, que à partida não era mal pensada, cai no poço da estupidez do parasita do estado.
Na realidade, o objectivo do sistema público de ensino é dar conhecimento aos alunos, não é chumbá-los por faltas. Isso será, quanto muito, um meio. E esse meio poderá ter meios alternativos, como reexaminar os alunos para os recolocar nos estudos. Até aqui a ideia não é má.
Na cabeça dos funcionários, tanto daqueles que foram "promovidos" a deputados e a membros do executivo, como dos altos funcionários, não viram nisto nenhuma vantagem nos seus objectivos, apenas mais trabalho. Se virmos bem, para eles não passa disso, mais trabalho.
Agora, se o exame de recuperação não servir para nada, torna-se num enorme progresso nos seus objectivos de mostrar melhores indicadores e demonstrar o enorme sucesso do sistema público de ensino que, em poucos anos, vai conseguir baixar a sua taxa de abandono pela razão maior de que vai deixar de haver abandono.
Parece-me sem alternativa matar de vez o sistema de ensino público e arranjarmos formas alternativas de garantir o acesso livre e gratuito sem, no entanto, o produzirmos.
Mas se as associações de pais acham bem, a culpa é de quem?
Caro Fonseca,
Também nunca entendi em que fase da nossa história as associações de pais se tornaram importantes, mas o contribuinte não paga educação aos pais, nem as associações de pais são os pais.
Acabam-se os chumbos por faltas, excluem-se os "clássicos" dos exames nacionais de português e, ao que parece o exame de matemática também é muito difícil. O melhor será mesmo assumir que andamos a trabalhar arduamente para formar incompetentes, em quantidades industriais, para aumentar a competitividade dos portugueses ao concorrerem no mercado de trabalho.
As assossiações de pais (e as que refere devem ser compostas por pais inconscientes) preocupam-se mais em que os filhos terminem os seus estudos e tenham o canudo na mão do que na real formação dos mesmos. Afinal de contas é mais útil dizer-se que se é engenheiro do que sê-lo na realidade. O inglês técnico pode nunca ter servido de nada à maior parte das pessoas, mas sem dúvida que certificar aptências no mesmo pode ser proveitoso. Ora, quando o nosso Primeiro dá exemplos destes, que mais se pode pedir a pais e filhos cuja formação é deficiente (por culpa de reformas como esta)? Deste modo entra-se num ciclo vicioso perigosíssimo: ao descurar a eduação, formamos pessoas menos capazes que, ao ocuparem lugares de relevo tomarão medidas menos eficazes que resultarão na formação de pessoas menos capazes ainda e assim sucessivamente.
A responsabilização tem que partir de cima. Dos verdadeiros interessados. O verdadeiro interessado na formação competente dos jovens é o país, o Estado.
Mas porque raio o aluno que falta injustificadamente tem a possibilidade de fazer um exame de recuperação? Quais são as circunstancias especiais que esta alternativa pretende abarcar? Será para os alunos que não sabem preencher o papel da justificação das faltas?
Por amor de Deus, não inventem!!
Não haverá nada mais para fazer, melhorar no ensino? É com estas tretas que o sistema se entretem.
Tem de haver hierarquia de importância de assuntos, e não podemos estar a introduzir optimizações no sistema (neste caso não vislumbro qual será)sem resolver os assuntos básicos. Acabamos por perder a noção da realidade e depois queremos ir sempre mais além (parece q é o caso)
Qual é o propósito do ensino?
Preparar as futuras gerações de cidadãos, para que sejam activos mais valiosos e livres.
Não é para dar emprego aos professores, ou poder ao ministério.
Os factos parecem comprovar que o ensino privado consegue obter melhores resultados que o ensino público.
Se (como referido aqui: http://www.recursoseb1.com/portal/content/view/91/53/
Portugal gasta anualmente 4.900 euros em despesas de educação por aluno, desde o básico até ao ensino superior, ou seja 400/500 euros por mês e por aluno.
Não era preferível acabar com o ministério da educação, gastar o mesmo dinheiro, ou menos, e ter melhores resultados para todos?
Caros comentadores,
Mas será que o tal estatuto do estudante não tem mais artigo algum que este, agora afamado, que acaba com o conceito de falta injustificada?
Meus caros, insisto, o ensino (e a sociedade portuguesa em geral) precisa de se saber conduzir em níveis de responsabilidade. Todos dizemos isso.
Mas alguém acredita que o nível de responsabilidade muda por decreto?
E a prova dessa irresponsabilidade colectiva é que estamos todos aqui a discutir um pequeno pormenor de um documento que há-de ter coisas bem mais importantes, espero eu, sem termos lido mais nada (falo por mim)do dito documento.
Será isto uma atitude socialmente responsável?
Desculpem a provocação, mas é o que, me vai na alma...
As coisas são o que são e não o que nós supomos que são, e devem ser avaliados os resultados.
Ora, à luz do resultados, o tal regime de faltas injustificadas, e consequente chumbo por faltas, foi o que vigorou em Portugal.
E os resultados são os que conhecemos.
A estabelecer relação de causa-efeito seria, pois, no sentido da sua abolição...
O que quer dizer, a meu ver, que este assunto não tem importância nenhuma.
As questões importantes hão-de ser outras!...
Na realidade eu ia insultar, efusiva e entusiasticamente, as criaturas lobotomizadas que fizeram este lindo estatuto. Entretanto lembrei-me que isto era um blog sério onde não se insultam as pessoas por muita vontade que se tenha. Desta forma, vejo-me obrigado a ter tento na língua.
Assim sendo, eu não sei se aquelas criaturas são intelectualmente pouco articuladas porque não se esforçaram para aprender ou se durante os seus "early years" sofreram de algum tipo de paralisia cerebral que os deixasse assim, mas a verdade é que o novo estatuto do aluno é obra de um verdadeiro acéfalo que não sabe o que anda a fazer. É obra de alguém cuja preocupação máxima é a unicamente a estatística a curto prazo e não a formação de um futuro cidadão. Coisas como esta apenas contribuem para uma sociedade de mentecaptos iguais àqueles que propuseram aquela barbaridade.
Camarada Tóni, estou apardalado com a sua afirmação.«o objectivo do sistema público de ensino é dar conhecimento aos alunos, não é chumbá-los por faltas.» caro amigo, qualquer objectivo de qualquer estabelecimento de ensino é formar pessoas, não é chumbá-las por faltas. Mas, como tudo na vida, há regras e o cumprimento dessas regras e a obrigação quanto ao cumprimento das mesmas serve para responsabilizar os individuos. Com este novo estatuto a mensagem que estão a passar aos miúdos é que não faz mal quebrar essas regras porque se as quebrarem não são sancionados. Aquilo que estão a fazer é a a promover a criação de uma geração de atrasados mentais, que além de burros serão também irresponsáveis. E tudo porque um dia alguém teve uma ideia peregrina como esta.
Camarada Anthrax,
As regras são um meio, não é um fim. E, como todos os meios, têm alternativas para chegar ao fim. Por isso é que as regras não são imutáveis, só os fins é que são. O exame de recuperação não era má ideia. O não servir para nada é uma asneira de lesa-a-pátria.
A evolução do nível de grunheza das gerações ao longo do tempo é comparável à da qualidade dos sistemas operativos Microsoft: uma boa, a seguinte má, a próxima boa, a seguinte má, e por aí adiante...
Exemplos notáveis sempre evidentemente considerados, o pessoal que agora está na casa dos sessenta não tem educação básica ou formação cívica, são incapazes de lidar com mudança e tecnologia, demasiado hipócritas e mal-formados para admitir as suas próprias limitações, e não se conseguem relacionar com os próprios filhos. Estamos nessa geração perante o estereotipo do grunho de meia idade às cabeçadas a um telemóvel ou a um ATM, porque é mentalmente incapaz de aprender a usá-los e demasiado estúpido e arrogante para pedir ajuda para o efeito, acabando por desistir e preferir fazer as coisas "à antiga" sobrecarregando os serviços públicos com bichas, ou delegar os seus assuntos a familiares mais novos, para que sejam eles a ter que puxar pela cabeça para resolver os problemas dos seus pais. CLASSIFICAÇÃO FINAL: GRUNHOS!
A geração seguinte, que agora está na casa dos quarenta, terá com certeza os seus próprios defeitos, mas, caramba - por comparação com os anteriores, pelo menos comportam-se como seres humanos a viver no século actual - são auto-suficientes para tratar dos seus assuntos pessoais, capazes de se adaptar a situações e tecnologias novas para fazer o que precisam, têm um nível básico de cultura e conhecimento à altura dos tempos em que vivem, são suficientemente inteligentes para se informarem quando não sabem, e formados quanto-basta para permitir o diálogo como forma de viabilizar soluções. CLASSIFICAÇÃO FINAL: SUFICIENTE!
Saltamos para a próxima geração, agora na casa dos vinte, e pronto - caldo novamente entornado. Têm mais acesso a informação e tecnologia do que qualquer geração anterior, mas não fazem uso da mesma para o que quer que seja de útil, criativo ou construtivo. Sabem ler, mas não lêm o que interessa. Têm níveis elevados de escolaridade, mas menos cultura que os indígenas do Gamba. Têm tudo de mão beijada e de colher à boca deixado pelas gerações anteriores (e é aí que está o problema - não aprenderam a subir à bananeira para poder comer a banana), mas não sabem como ou para quê o usar, optando antes pelo vandalismo e delinquência sem causa ou propósito, uma espécie de retro-James Dean sem rumo ou sentido. CLASSIFICAÇÃO FINAL: ATRASADINHOS MENTAIS!
Ora, mantendo o optimismo e seguindo a "fórmula Microsoft" enunciada acima, é de esperar que dentro de vinte anos tenhamos uma geração de autênticos génios e intelectuais, de pessoas bem formadas e úteis à sociedade e à civilização... cruzemos os dedos!
Pequena auto-correcção - onde acima se lê "exemplos notáveis", deveria ser "EXCEPÇÕES notáveis", como é óbvio no contexto.
Enviar um comentário