Dizia o meu sogro que mudar de actividade também descansa, que não é preciso ficar de papo para o ar à espera que o tempo passe para se conseguir recuperar das preocupações que nos ocupam a rotina.
Um passeio por terras mais distantes é sem dúvida um bela maneira de empregar o tempo livre de um fim de semana de 3 dias.
Desta vez rumámos até ao Vimioso, quase à raia de Espanha, meia hora para lá de Bragança. Vimioso é uma vila encantadora na sua quietude branca, com casas solarengas a marcar os traços de quem já conheceu tempos mais prósperos, mas com sinais de vitalidade recente na recuperação de muitas casas, a igreja matriz cheia de andaimes que ainda lhe escondem a beleza. No Verão ganha vida nova, há festas animadas no amplo terreiro, os bares abertos “à moda de Espanha” trazem um bulício nocturno que não enquadra com o silêncio apaziguador dos que agora a procuram. Ainda se vêem burros a carregar a lenha, algumas leiras cultivadas, mas a grande maioria das casas está de portadas fechadas e o sino da igreja chama para a missa sem que se forme o carreirinho de fiéis a acorrer à chamada. Os dias ainda estão cálidos, passada a bruma densa da manhã, mas à tardinha já se faz sentir o vento frio, a pedir uma brasa na lareira.
No sábado, fomos passear a Bragança, onde visitámos o Centro Ciência Viva, situado num edifício energeticamente "inteligente", a apontar o futuro. Muito interessante é também a Casa da Seda, que deu nova vida a uma casa local onde se tecia, tingia e vivia ao mesmo tempo. Uma recuperação notável, em que o piso térreo, confinante com o ribeiro, é agora visível através de uma placa de vidro colocada no chão do piso superior, fazendo o palco de um pequeno auditório confortável, de uma modernidade simples forrada pelas grossas paredes de pedra. A Casa Museu recorre às tecnologias modernas, com livros virtuais e quadros interactivos que dão vida às actividades de outrora, explicam lendas e borboletas, contam a história do tempo em que a indústria da seda era fonte de orgulho e promessa de trabalho para muita gente.
No centro histórico celebrava-se o dia dos Castelos com uma curiosa iniciativa da Junta de Freguesia. Num assador gigante manobrado com mestria e paciência assava-se um porco inteiro, espalhando pelas ruas um cheirinho de fazer crescer a água na boca. As pessoas juntavam-se no largo, saboreando nacos suculentos que iam sendo cortados à navalha, pão não faltava, vinho também não, em breve se confraternizava, conhecidos e desconhecidos, nada como um bom petisco para irmanar forasteiros e locais.
De repente, uma barulheira de guizos, uma arraial de cores, e apareceram os Caretos, grupos de mascarados que dão vida a uma tradição local, com os seus fatos de lãs coloridas, farripas e adereços de todas as espécies, a cara oculta por caraças de madeira, cartão ou metal, que lembram os rituais africanos, diabos e feiticeiros pintados de vermelho, terríveis cabeleiras de palha ou enfeites de pele de cabra ou cordeiro, roçam a cara das pessoas com uns molhos de lã que lhes pendem à cintura e agitam os guizos dando saltos enormes. Estas máscaras celebram a Festa dos Rapazes e fazem parte de um ritual associado ao solestício, com elementos religiosos, mágicos e profanos, em que a figura do Diabo ganha protagonismo como o grande impulsionador da procura do encontro amoroso. Uma visita ao fantástico Museu das Máscaras, ali bem no centro histórico, mostra a diversidade de figuras, a imaginação prodigiosa do povo, as mil e uma formas de dar vida diferente a objectos do dia a dia, num verdadeiro festival de criatividade, vida e cor.
Já de regresso a Lisboa, uma paragem gastronómica na Estalagem do Caçador, em Macedo de Cavaleiros, a lembrar como se come bem naquelas paragens, umas alheiras de caça de comer e chorar por mais, e um leite creme queimado a dar lições a muito restaurante com pergaminhos na matéria.
Um excelente fim de semana, com todos os condimentos, de que o melhor foi sem dúvida um convívio fantástico com amigos, com alguns dos responsáveis pela obra feita e, claro, com as pessoas que de modo tão acolhedor nos deixam ver os encantos desta região. Um passeio que recomendo, sem reservas.
Um passeio por terras mais distantes é sem dúvida um bela maneira de empregar o tempo livre de um fim de semana de 3 dias.
Desta vez rumámos até ao Vimioso, quase à raia de Espanha, meia hora para lá de Bragança. Vimioso é uma vila encantadora na sua quietude branca, com casas solarengas a marcar os traços de quem já conheceu tempos mais prósperos, mas com sinais de vitalidade recente na recuperação de muitas casas, a igreja matriz cheia de andaimes que ainda lhe escondem a beleza. No Verão ganha vida nova, há festas animadas no amplo terreiro, os bares abertos “à moda de Espanha” trazem um bulício nocturno que não enquadra com o silêncio apaziguador dos que agora a procuram. Ainda se vêem burros a carregar a lenha, algumas leiras cultivadas, mas a grande maioria das casas está de portadas fechadas e o sino da igreja chama para a missa sem que se forme o carreirinho de fiéis a acorrer à chamada. Os dias ainda estão cálidos, passada a bruma densa da manhã, mas à tardinha já se faz sentir o vento frio, a pedir uma brasa na lareira.
No sábado, fomos passear a Bragança, onde visitámos o Centro Ciência Viva, situado num edifício energeticamente "inteligente", a apontar o futuro. Muito interessante é também a Casa da Seda, que deu nova vida a uma casa local onde se tecia, tingia e vivia ao mesmo tempo. Uma recuperação notável, em que o piso térreo, confinante com o ribeiro, é agora visível através de uma placa de vidro colocada no chão do piso superior, fazendo o palco de um pequeno auditório confortável, de uma modernidade simples forrada pelas grossas paredes de pedra. A Casa Museu recorre às tecnologias modernas, com livros virtuais e quadros interactivos que dão vida às actividades de outrora, explicam lendas e borboletas, contam a história do tempo em que a indústria da seda era fonte de orgulho e promessa de trabalho para muita gente.
No centro histórico celebrava-se o dia dos Castelos com uma curiosa iniciativa da Junta de Freguesia. Num assador gigante manobrado com mestria e paciência assava-se um porco inteiro, espalhando pelas ruas um cheirinho de fazer crescer a água na boca. As pessoas juntavam-se no largo, saboreando nacos suculentos que iam sendo cortados à navalha, pão não faltava, vinho também não, em breve se confraternizava, conhecidos e desconhecidos, nada como um bom petisco para irmanar forasteiros e locais.
De repente, uma barulheira de guizos, uma arraial de cores, e apareceram os Caretos, grupos de mascarados que dão vida a uma tradição local, com os seus fatos de lãs coloridas, farripas e adereços de todas as espécies, a cara oculta por caraças de madeira, cartão ou metal, que lembram os rituais africanos, diabos e feiticeiros pintados de vermelho, terríveis cabeleiras de palha ou enfeites de pele de cabra ou cordeiro, roçam a cara das pessoas com uns molhos de lã que lhes pendem à cintura e agitam os guizos dando saltos enormes. Estas máscaras celebram a Festa dos Rapazes e fazem parte de um ritual associado ao solestício, com elementos religiosos, mágicos e profanos, em que a figura do Diabo ganha protagonismo como o grande impulsionador da procura do encontro amoroso. Uma visita ao fantástico Museu das Máscaras, ali bem no centro histórico, mostra a diversidade de figuras, a imaginação prodigiosa do povo, as mil e uma formas de dar vida diferente a objectos do dia a dia, num verdadeiro festival de criatividade, vida e cor.
Já de regresso a Lisboa, uma paragem gastronómica na Estalagem do Caçador, em Macedo de Cavaleiros, a lembrar como se come bem naquelas paragens, umas alheiras de caça de comer e chorar por mais, e um leite creme queimado a dar lições a muito restaurante com pergaminhos na matéria.
Um excelente fim de semana, com todos os condimentos, de que o melhor foi sem dúvida um convívio fantástico com amigos, com alguns dos responsáveis pela obra feita e, claro, com as pessoas que de modo tão acolhedor nos deixam ver os encantos desta região. Um passeio que recomendo, sem reservas.
7 comentários:
Boas terras, bons comeres, bons beberes e sobretudo uma boa gente.
Uma pontinha de inveja de não ter podido, neste fim-de-semana prolongado, mudar para esses saudáveis ares...
E ainda há quem despreze a "provincia"!
Excelente tela, cara "pintora" Suzana Toscano.
Menos virtual que os livros e os quadros interactivos expostos na Casa Museu. Nesta tela podemos admirar as cores os sons, os aromas e os paladares numa rigorosa descrição etnográfica.
Plagiando o caro Dr. JM Ferreira de Almeida... "Uma pontinha de inveja por não ter podido, neste fim-de-semana prolongado, mudar para esses saudáveis ares..."
Neste contexto, aludindo aquela que foi uma importante indústria, tanto no distrito de Bragança, como em muitos outros no norte de Portugal, é justo (penso eu) referir que a introducção desta indústria se ficou a dever ao espírito iluminista e reformista do Marquês de Pombal. Esta indústria da seda conheceu o seu período de pujança entre os séculos XVIII e XIX. Após ter sido criada a Real Fábrica das Sedas, no local hoje conhecido por Amoreiras, a indústria estendeu-se a vários outros distritos do norte de portugal e floresceu por um período aproximado de 70 anos.
Suzana
Portugal tem muitas gentes e terras bonitas para visitar. O seu sogro tinha toda a razão: ficar de "papo para o ar" sem fazer nada não é forma de descansar. É uma perda de tempo.
Trocar as voltas às rotinas quebra-nos o cansaço e dá-nos forças para de novo retomar o dia a dia. E nada melhor do que passar uns dias na "província" como gosto de dizer. Passear, saborear as paisagens, respirar ar puro, observar as diferenças, reviver as tradições, olhar e tocar as gentes locais ... faz bem à alma! É reconfortante, sobretudo quando temos laços afectivos à "terra" que nos ajudou a crescer e que lá está, sempre, à nossa espera, para nos acolher!
Pois foi para atenuar essas "invejas" que aqui pintei, como diz o simpático comentário do caro Bartolomeu, o que de melhor pude admirar naquelas paragens.Quando se conta, vive-se a experiência uma segunda vez e, quando se lê, passeia-se o espírito, já são dois ganhos :)Mas, realmente, não há nada como ir lá, o nosso país é lindíssimo e sempre surpreendente...
Drª. Suzana Toscano,
Excelente roteiro (não tem nada a ver com os outros!), para um fim de semana prolongado!
Além de aumentar os conhecimentos, aumenta também o peso! Mas como diz o povo: perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe! E não é nada que um ginásio não deite abaixo.
Por acaso, também estive para ir comer um cozidito, mas surgiu um contratempo. Se souber de algum roteiro parecido com o seu, que inclua cozido, e queira queira divulgar fico-lhe muito grato.
Caro Invisível, não se esqueça que o quilograma perdeu peso, pode ser pouco mas sempre dá alguma folga! Quanto ao cozido, sem querer fazer sombra ao Pinho Cardão, grande guru (também) na orientação gastronómica dos republicanos, sempre lhe digo que não conheço nada melhor que o Tibério, ali a seguir a Bucelas. Serve à 4ª feira, convém ter a tarde livre! E, já agora, à 6ª tem uns pastelinhos de massa tenra que são um manjar dos deuses! Bom apetite!
Se um dia houver um concurso Mrs. SIMPATIA, e a Drª.Suzana Toscano concorrer, tenho a certeza que fica em primeiro lugar!
Muito obrigado pela sua informação...e lá irei com certeza.
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