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terça-feira, 8 de abril de 2008

Crise do ARROZ: exportadores não vendem; preços disparam; importadores sofrem

I. A situação das matérias-primas alimentares está a tornar a vida difícil a muitos países e a muita gente, sendo tema recorrente das notícias económicas.
A procura de bens alimentares tem sido pressionada por dois factores principais:
- O rápido crescimento do consumo nas economias emergentes, em especial na China e na Índia, beneficiando do crescimento económico;
- A política de subsidio dos bio-combustíveis em vigor nos países mais desenvolvidos, com o consequente crescimento das áreas de cultura cerealífera destinadas à produção dos bio-combustíveis, em detrimento de outros usos.
A estes factores de pressão da procura, junta-se uma oferta que tem ficado aquém do esperado, por diversos motivos, conjunturais e estruturais.

II. O caso do arroz tem características próprias, pois aconteceu que os principais produtores mundiais - China, Índia, Vietnam e Egipto - defrontados com um crescente consumo de arroz por parte da população residente, entre outras razões como forma de fugir ao encarecimento de outros bens alimentares, resolveram este ano suspender temporariamente a exportação de arroz.
Resultado: os preços do arroz dispararam nos mercados internacionais e nacionais, tendo mais do que duplicado nos últimos 3 meses e subido 50% só nas duas últimas semanas.

III. Esta crise afecta sobretudo as populações dos países de rendimentos com rendimentos mais baixos, em Africa e na Ásia, cuja dieta alimentar é feita em grande parte na base do arroz.
Alguns desses países ainda tentaram travar as importações, no início do ano, quando começaram a assistir à escalada dos preços, na expectativa de que fosse passageira - acabando por ser fortemente penalizados pois os preços subiram ainda muito mais...
Agora, perante esta nova realidade, suspenderam os direitos de importação que incidiam sobre o produto e estão mesmo apostados em subsidiar os preços no consumidor - política quase sempre pouco eficaz, pois se defronta com fenómenos de açambarcamento por intermediários especuladores, corridas ao consumo, quando não mesmo episódios de quase motim como se tem já verificado.

IV. Na Europa, sem deixar de ser também um problema social para as famílias de mais baixos recursos, releva-se o forte contributo para a subida dos preços e da inflação, sendo agora visível que o agravamento dos preços se está a verificar em quase todos os segmentos da cadeia alimentar.
E como os factores que determinam estas subidas de preços têm natureza estrutural, a escalada de custos-preços parece ter vindo para ficar...
A ver vamos o que ainda nos reserva esta crise do arroz.

V. Resta dizer que estes fenómenos não afectam Portugal (embora possam afectar os portugueses menos crentes...), como se sabe, graças à excepcional protecção jurídica de que goza a taxa de inflação.

10 comentários:

Bartolomeu disse...

Excelente análise, caro Dr. Tavares Moreira. O Sr. ironiza no último parágrafo, mas a verdade é que os agricultores-produtores de arroz do vale do Mondego e vale do Sado, lutam pela atribuição de subsídios e de regras de mercado, assim como de apois ao escoamento das produções. Afinal, neste país que já foi agrícula, pecuário e pescador, já não ha classe que subsista, sem os necessários apoios.
Adiante.
O fenómeno que refere neste post, relativamente ao crescimento do consumo nas economias emergentes, conduz-nos a uma reflexão:
Estamos perante um fenómeno que tende a ganhar rápidamente uma dimensão que vai exigir aos países produtores, a capacidade de uma resposta capazmente efectiva. Ou seja, as exigências desses mercados, não se vão restringir à matéria-prima alimentar. Com o crescimento económico, crescem também as exigências nos restantes sectores, apesar de o sector alimentar ser aquele que irá sofrer um desgaste maior, pela exigência da resposta. Assim, impõe-se uma questão: Os recursos disponíveis serão suficientes e capazes de dar essa resposta?
Temos de ter ainda presente um problema inerente a este crescimento económico, o crescimento demográfico. Conscientemente conhecemos as potencialidades ainda do continente Africano, no domínio da produção agrícula, serão talvez as políticas dos países desse continente, o entrave ao estabelecimento de projectos futuristas que respondam à carência que invitávelmente se irá notar.
A ver vamos...

Tonibler disse...

Sei de fonte segura que o ministro da agricultura, face à escassez de arroz, vai lançar um programa de plantação de esparguete. Nalguma coisa haveremos de ser líderes!...

Anónimo disse...

Essa foi a melhor que li hoje, Tonibler! :))

Anónimo disse...

Ahahahahah! Boa essa da plantação de esparguete. Mas, tonibler, diga-me cá! Essa plantação vai servir para o dispêndio que eu vejo sair da minha carteira ficar em linha com a inflacção decretada pelo governo?

Ruben Correia disse...

Portugal produz apenas 20% das suas necessidades alimentares. Hmmmm...can we panic now? Ou esperamos mais um bocadinho, a ver se o Euro nos traz alguma alegria?
Valha-nos um tonibler sempre em forma!

Luís Bonifácio disse...

Então é uma oportunidade para se aumentar a área de produção rizícola.

Tavares Moreira disse...

Pois fique sabendo, caro Bartolomeu, que os lavradores estão de novo em alta - e bem o merecem, pelo muito que trabalham, sobretudo aqueles que têm ligação efectiva à terra.
Ainda há poucos dias num almoço anual de celebração da lampreia do rio Lima, ali nas redondezas de Ponte com o mesmo nome, Pinho Cardão e eu fomos informados por pessoas que trabalham na lavoura que os espanhois têm vindo a comprar toda a produção de milho daquela região, a preços bem compensadores...com destino aos biocombustíveis, claro está.
Com a subida do arroz, já há muita gente no Ribatejo e no Alto Alentejo a fazer bom dinheiro...e ainda bem, volto a dizer!
Quem sabe se o nosso futuro não estará de novo na agricultura?
Ainda vamos assistir, por este andar, a uma febre de produção agrícola como aquela que assolou o País há cerca de 300 anos, a seguir ao Tratado de Metueen, em que de norte a sul o País ficou coberto de vinhedos...com a mira de vender para Inglaterra!

Magnífica sugestão, Tonibler, bem ao seu estilo inovador, arrojado, criativo!
Só não sei se essa produção de esparguete vai poder "beneficiar" da medida revolucionária anunciada ontem pelo Governo, consistindo na criação de uma linha de crédito de € 47 milhões para "apoio" aos bovinicultores que se encontram em grandes dificuldades para suportar os aumentos de custos das rações...
Como se uma medida jurássica de linha de crédito, típica dos anos 70 e da primeira metade dos anos 80resolvesse alguma coisa dos problemas que têm sido referenciados...
Mas neste caso do esparguete, se fosse possível combinar essa inovação com os produtores de carne, poderíamos ter um produto de mais alto valor acrescentado - esparguete à bolonhesa!
E Zuricher ficaria feliz, porque deste modo a inflação decretada abrangeria um produto mais elaborado...com um só decreto matavam-se dois preços...

Tonibler disse...

Ora, como vê, o meu caro está em linha com o propagandeado pelo ministro da ciência no suplemento do Financial Times de que Portugal consegue manter os seus cérebros. Talvez na colaboração com o MIT se consiga uma estirpe de vaca que cresce já picada e com aroma a refogado. Desta forma optimizaríamos os custos de produção.

Isto seria bem melhor que andar a usar arroz como combustível que, como sabemos, cheira a bispo.

Tavares Moreira disse...

A propósito deste assunto, é notícia hoje no Haiti o assalto de populares ao palácio presidencial, em protesto contra a subida dos preços dos bens alimentares incluindo o inevitável...ARROZ!

Quanto à sua sugestão, Tonibler, se o MIT/Min. da Ciência e Tecnologia a agarram, vamos ter mais uma revolução!

Tonibler disse...

Agora, falando a sério, acho graça àquelas campanhas de solidariedade para com os pobres povos martirizados quando pegamos na comida e metemos pelo depósito do SUV para ir dar uma passeata pela praia