Ontem fui jantar a casa de uns amigos. Assisti, e acabei por trocar algumas palavras, a uma conversa entre o porteiro que estava de serviço à portaria do condomínio e uns amigos que tinham chegado há uns minutos para o mesmo jantar. O porteiro dizia então que tinha vivido um processo doloroso de passagem à reforma – ainda novo, segundo percebi com 57 anos – por imposição da empresa na qual trabalhava. Tinha começado a trabalhar muito jovem e nunca tinha tido a possibilidade de fazer estudos para além do secundário. Aos 57 anos viu-se então com o problema grave de reorganizar a sua vida, não querendo aceitar que pudesse ter que passar o resto do tempo em casa sem trabalhar, sem estar ocupado com uma actividade útil para si e para os outros. O cenário de aos 57 anos ter de ficar em frente a uma televisão ou ter de fazer passeios da "terceira idade" foi qualquer coisa que o deixou num estado de ansiedade muito grande. Foi então que decidiu ir à procura de “emprego”, o que viria a resultar na sua contratação por uma empresa de gestão de condomínios. O porteiro sorriu quando explicou que neste caso concreto a administração da empresa não teve dúvidas em escolher uma pessoa sénior em detrimento de um jovem porque a experiência e a maturidade eram valores a ter em conta no desempenho exigido. Estava satisfeito por ter encontrado uma “saída” mas revoltado com as "políticas cegas dos governos que varrem sem dó nem piedade pessoas capazes para debaixo do tapete".
Casos como este multiplicaram-se nos últimos anos. As reestruturações das empresas têm sido feitas à custa da dispensa dos mais velhos, ainda longe da idade legal de passagem à reforma, num quadro em que os empregadores invocam que o rejuvenescimento é fundamental para a eficiência.
Casos como este multiplicaram-se nos últimos anos. As reestruturações das empresas têm sido feitas à custa da dispensa dos mais velhos, ainda longe da idade legal de passagem à reforma, num quadro em que os empregadores invocam que o rejuvenescimento é fundamental para a eficiência.
O envelhecimento acabou por ser tema do jantar e todos fomos unânimes em concluir que o desenvolvimento não pode ser feito à custa da exclusão das pessoas “idosas” e que é preciso uma renovação ética que recupere a dimensão humanista.
O envelhecimento é um fenómeno estruturante das sociedades contemporâneas. A longevidade significa cada vez mais anos com elevados níveis de autonomia, de capacidades, de potencialidades de realização pessoal e de intervenção na sociedade. A confiança e a segurança são factores decisivos para o equilíbrio das pessoas ao longo da vida. As pessoas necessitam de sentir que estão incluídas na sociedade, que são úteis e amadas.
Vivemos uma época em que as pessoas idosas (erradamente assim chamadas, como também é errado classificá-las de terceira idade) são colocadas como que à margem da sociedade “viva”, submetidas a processos de exclusão social matematicamente calculados, redundando em pesos pesados para a sociedade e a economia. A desvalorização com que as pessoas idosas são etiquetadas surge como que uma fatalidade dos tempos modernos. Estamos a assistir ao desbaratar de um capital intelectual por força das políticas de rejuvenescimento do tecido económico.
Com efeito, o envelhecimento populacional lança o desafio de pensarmos muito para além dos complexos impactos na despesa do Estado com os sistemas de pensões e de cuidados de saúde ou na sustentabilidade financeira da segurança social. Esta é uma visão puramente tecnicista do problema que deixa de fora a dimensão humana. É nesta dimensão que temos, a meu ver, que fazer um esforço para reconhecermos que as pessoas idosas constituem um repositório de conhecimento, de sabedoria e de experiência, não apenas técnico mas humano e pessoal, que é necessário às novas gerações e ao progresso. Precisamos de abordar o envelhecimento não como um fenómeno de “guilhotina” em que subitamente o trabalho dá lugar à reforma, a capacidade se transforma em vulnerabilidade, a força de desvanece em fraqueza e a aceitação social redunda em rejeição, o conhecimento é trocado pela inexperiência e pelo vazio e o capital humano é dispensado, mas antes como uma etapa ou um processo fundamental para a construção de uma sociedade equilibrada. Assim como cada pessoa contém várias idades também a sociedade deve ser activamente constituída por todas as idades.
É por isso necessário pensarmos num novo “contrato geracional” que estabeleça um compromisso de assegurar a educação e aprendizagem ao longo da vida.
A reforma parcial conjugada com o trabalho a tempo parcial, soluções diversificadas na combinação entre trabalho e outras ocupações ou o trabalho de voluntariado aliado à reforma e ao trabalho remunerado são formas de valorizar e aproveitar o saber dos mais velhos, são formas de vida que combinam aptidões variadas e que moderam o esforço físico e intelectual, são combinações que previnem “guetos” geracionais que dificultam o bem estar intergeracional, são afinal oportunidades para um melhor aproveitamento do capital humano e para uma melhor redistribuição do esforço e do contributo de todas as gerações para a riqueza comum.
Portugal tem despertado tarde para a necessidade de encontrar novas abordagens para os problemas económicos e sociais que caracterizam o desenvolvimento económico dos tempos de hoje. Gostamos de minimizar os problemas e deixamos passar o tempo à espera que se agravem ainda mais. Como em muitas outras matérias em que nos deixámos atrasar, seria importante tomarmos consciência dos problemas que se colocam ao envelhecimento e tomarmos medidas que garantam o direito de envelhecer com dignidade e segurança.
O envelhecimento é um fenómeno estruturante das sociedades contemporâneas. A longevidade significa cada vez mais anos com elevados níveis de autonomia, de capacidades, de potencialidades de realização pessoal e de intervenção na sociedade. A confiança e a segurança são factores decisivos para o equilíbrio das pessoas ao longo da vida. As pessoas necessitam de sentir que estão incluídas na sociedade, que são úteis e amadas.
Vivemos uma época em que as pessoas idosas (erradamente assim chamadas, como também é errado classificá-las de terceira idade) são colocadas como que à margem da sociedade “viva”, submetidas a processos de exclusão social matematicamente calculados, redundando em pesos pesados para a sociedade e a economia. A desvalorização com que as pessoas idosas são etiquetadas surge como que uma fatalidade dos tempos modernos. Estamos a assistir ao desbaratar de um capital intelectual por força das políticas de rejuvenescimento do tecido económico.
Com efeito, o envelhecimento populacional lança o desafio de pensarmos muito para além dos complexos impactos na despesa do Estado com os sistemas de pensões e de cuidados de saúde ou na sustentabilidade financeira da segurança social. Esta é uma visão puramente tecnicista do problema que deixa de fora a dimensão humana. É nesta dimensão que temos, a meu ver, que fazer um esforço para reconhecermos que as pessoas idosas constituem um repositório de conhecimento, de sabedoria e de experiência, não apenas técnico mas humano e pessoal, que é necessário às novas gerações e ao progresso. Precisamos de abordar o envelhecimento não como um fenómeno de “guilhotina” em que subitamente o trabalho dá lugar à reforma, a capacidade se transforma em vulnerabilidade, a força de desvanece em fraqueza e a aceitação social redunda em rejeição, o conhecimento é trocado pela inexperiência e pelo vazio e o capital humano é dispensado, mas antes como uma etapa ou um processo fundamental para a construção de uma sociedade equilibrada. Assim como cada pessoa contém várias idades também a sociedade deve ser activamente constituída por todas as idades.
É por isso necessário pensarmos num novo “contrato geracional” que estabeleça um compromisso de assegurar a educação e aprendizagem ao longo da vida.
A reforma parcial conjugada com o trabalho a tempo parcial, soluções diversificadas na combinação entre trabalho e outras ocupações ou o trabalho de voluntariado aliado à reforma e ao trabalho remunerado são formas de valorizar e aproveitar o saber dos mais velhos, são formas de vida que combinam aptidões variadas e que moderam o esforço físico e intelectual, são combinações que previnem “guetos” geracionais que dificultam o bem estar intergeracional, são afinal oportunidades para um melhor aproveitamento do capital humano e para uma melhor redistribuição do esforço e do contributo de todas as gerações para a riqueza comum.
Portugal tem despertado tarde para a necessidade de encontrar novas abordagens para os problemas económicos e sociais que caracterizam o desenvolvimento económico dos tempos de hoje. Gostamos de minimizar os problemas e deixamos passar o tempo à espera que se agravem ainda mais. Como em muitas outras matérias em que nos deixámos atrasar, seria importante tomarmos consciência dos problemas que se colocam ao envelhecimento e tomarmos medidas que garantam o direito de envelhecer com dignidade e segurança.
14 comentários:
-Face ao envelhecimento da população, daqui a 20 anos, as empresas que pretenderem rejuvenescer os quadros, procurarão dispensar trabalhadores com 70 anos, para contratarem outros com 50. É analisar os estudos demográficos.
Cara Margarida
O tema que apresenta desta vez é no minimo fosfórico e polémico. Estive ligado à formação profissional acelerada, como então se chamava ; fizeram-se algumas maravilhas em termos de qualificação nesta área, decorrentes de métodos que os franceses puseram em marcha com grande sucesso. Em vez de enviarem para um "pré-cemitério" alguns magníficos profissionais que trabalharam muitos e bons anos, sobretudo ao nível da industria, melhor seria aplicá-los mediante condições favoráveis, na formação de novos profissionais, dada a sua experiência laboral e a sua capacidade técnica operativa em funções de produção justificáveis.É que qualidades como estas nem todos as possuem e fartos de amadorismos profissionais estamos nós todos.
Dra. Margarida Aguiar.
Corrija-me, se estiver errado, mas a ideia que eu tenho é a de que são poucos os casos de despedimento de trabalhadores por razões, apenas, de renovação de quadros. O que me parece é que, na maioria dos casos, as empresas dispensam trabalhadores mais por motivo da sua própria reestruturação, que quase sempre originam excesso RH+, do que pela necessidade de trabalhadores mais jovens.
Caro antoniodasiscas
Tenho-me perguntado muitas vezes porque razão as pessoas que já estão na situação de reforma, sendo muito novas e na posse das suas plenas capacidades, não podem ser preferencialmente aproveitadas para fazer formação profissional. O que vemos hoje é a formação profissional ser assegurada pelos trabalhadores no activo. O Estado tem aqui grandes responsabilidades, uma vez que uma a formação profissional é maioritariamente financiada com dinheiros públicos.
Caro jotaC
Os despedimentos, incluindo as pré-reformas e as reformas antecipadas, têm sido geridos essencialmente no quadro de políticas de reestruturação inseridas fundamentalmente em processos de downsizing, mas também com preocupações de rejuvenescimento e renovação de competências.
A minha reflexão centra-se essencialmente na necessidade de não desbaratarmos as mais-valias de capital humano acumuladas ao longo da vida activa e encontrarmos formas de aproveitarmos o conhecimento e a experiência dos mais velhos em lugar de pura e simplesmente os esquecermos como se de repente deixassem de ser úteis à sociedade.
Cara Margarida,
Mas foi o próprio estado que ainda recentemente, com o objectivo de moderar práticas supostamente enviezadas, criou um conjunto de regras para dificultar ao estado recrutar pessoas já aposentadas para tarefas em que a sua experiência é importante.
Mais uma vez, corrige-se um erro com um erro ainda maior.
Ou, quando se analisa um problema complexo apenas numa perspectiva (redutora)...
Srª Drª Margarida Aguiar
Apenas algumas reflexões:
1) É comum, cada vez mais comum, o excesso de horas de trabalho imposto a certas classes de trabalhadores "administrativos" (bancários, quadros superiores de Empresas e Estado). Poder-se-ia dizer que esse excesso de "horário" se justifica pela falta de produtividade. Mas essa é apenas uma pequena parte da verdade, uma vez que a organização do trabalho depende cada vez mais do enquadramento e liderança. Este excesso de ocupação resulta em prejuizo não apenas dos que a ele são, muitas vezes, compelidos, mas também de uma razoável política de emprego;
2) Os emagrecimentos por automatização e outsourcing. Sendo que neste último caso se começa, também em Portugal, a perceber que a perda de "conhecimento" interno e de controlo obvia a que sejam realizadas as poupanças previstas. Mesmo nos casos de reverse, já foram dispensados detentores de conhecimento apenas porque eram os mais velhos;
3) Alguma fobia racionalizadora, muito apoiada por empresas de consultores. É interessante verificar que grande parte dos "consultores" não tem suficiente experiência de trabalho em Empresas, pelo que apenas replica conceitos e "experiências". E, generalizadamente, considera obsoleta a "mão de obra" existente. Já todos nós assitimos a casos episódios destes, e alguns até sentiram os seus efeitos.
Parece-me que o recrutamento de aposentados/reformados não é razoável se for generalizado. Salvo casos muito pontuais, quem se reforma deve deixar o mercado normal de trabalho. Sob pena de se enviezar os processos naturais de rejuvenescimento que, ainda que não tão cegos como os que se têm verificado, devem ter o seu curso.
Caro SC
Lembra muito bem. Conheço algumas pessoas que de um momento para o outro foram "guilhotinadas" por causa dessa lamentável medida. São erros muito graves.
Também eu aplaudo as suas propostas, mas tenho as maiores dúvidas que sejam exequíveis.
A questão é altamente complexa e, lamentavelmente, do meu ponto de vista, não tem solução no campo das boas intenções.
O trabalho, com a configuração que hoje o entendemos, tenderá a reduzir-se em consequência do aumento da produtividade: a mais produção corresponderá menor emprego em termos relativos.
Há quem, apontando para o passado recente, diga que tem acontecido o contrário: a mais produtividade corresponde maior emprego. O que é verdade, mas só aparentemente. E só aparentemente, porque a produtividade é um conceito subtil e frequentemente ilude o observador se ele toma como período de análise um período de forte evolução tecnológica quando os efeitos dessa mesma evolução ainda estão por se repercutir em pleno.
Se admitirmos que o homem tem demonstrado capacidades antes insuspeitas para aumentar a produção mas também o consumo, o que, em princípio, é verdade, temos também de admitir que a capacidade de consumo tem limites inultrapassáveis: as 24 horas do dia.
Assim sendo, inexoravelmente, a oferta de trabalho está limitada ao aumento das possibilidades de crescimento do consumo.
É inevitável, portanto, o decréscimo do emprego (em termos relativos) para as produções (bens e serviços) consumíveis. A menos que se produza para desperdício ( e a economia já se sustenta hoje em grande parte nesta fuga para a frente) ou se observa um cataclismo que obrigue a uma reconstrução em larga escala.
Quando ouço pessoas referirem o excesso de horários de trabalho observados na banca, por exemplo, não posso deixar de pensar nos tempos, não tão longínquos assim, em que a generalidade das pessoas trabalhava de sol a sol.
Se tomarmos o caso da banca, como exemplo, da tendência futura do emprego, a situação não é risonha para a oferta de trabalho: Hoje é possível conceber um grande banco a funcionar com um número reduzidíssimo de empregados.
O trabalho tende a ser um "bem escasso" e eu costumo dizer aos meus amigos que um dia quem quiser trabalhar tem de pagar.
Por agora, ainda não é assim, salvo casos muito pontuais.
Em todo o caso num mundo em que o emprego escasseia, o trabalho não é para velhos. Oxalá dê para os novos.
Dizendo isto não digo que a questão não coloque problemas sociais cada vez mais difíceis.
O que não sei é como se encontra solução. Salvo no caso de trabalho voluntário gratuito que não concorra com a procura de emprego jovem.
Concordo Caro Manuel que o "recrutamento de aposentados/reformados não é razoável se for generalizado". Mas temos que ter cuidado com as generalizações. Por exemplo, é razoável que um trabalhador com 60 anos colocado na reforma "compulsivamente" deve ser impedido de voltar a trabalhar?
A minha reflexão centra-se no processo de passagem à situação de reforma, em que à solução da "guilhotina" poderá considerar-se um processo gradual de descontinuidade. Será socialmente justo e vantajoso utilizar a via da "guilhotina" cortando subitamente com o trabalho remunerado (a relação laboral)? Que outras alternativas dispomos para assegurar que os ganhos de esperança de vida associados a uma maior capacidade de autonomia e bom nível de aptidões não se transformam numa "morte lenta"?
Evidentemente que há todo um conjunto de actividades de natureza lúdica e cívica que podem ser "aprendidas" e treinadas ao logo da vida activa, dando um contributo para o envelhecimento activo.
Tenho alguma dificuldade em acompanhar a sua opinião, Caro Rui Fonseca. Acrescentaria que o envelhecimento populacional é alimentado no topo através de ganhos de longevidade e na base através de perdas de natalidade.
As baixas taxas de natalidade provocarão no futuro menos população activa. Será esta suficiente para gerar a produção necessária para satisfazer o consumo de uma população mais envelhecida?
O trabalho voluntário é um bom caminho de aprendizagem ao longo da vida, não só durante a vida activa mas também na situação de reforma. Mas será a solução para o envelhecimento activo?
"As baixas taxas de natalidade provocarão no futuro menos população activa"
Não será necessariamente assim. Neste momento assistimos a um crescimento das taxas de natalidade nos países da Europa do Norte e decréscimo nos países da Europa do Sul. Situação inversa da que se observava há alguns anos.
Não creio, contudo, que seja por esse lado que se levantarão os problemas. No dia em que não houver trabalho jovem suficiente muito naturalmente o mercado vai reter mais tempo os mais velhos.
Acredito, contudo, que a evolução dos ganhos de produtividade no futuro vai continuar a dispensar muitos trabalhadores. E nesse caso, sim, colocar-se-á um problema de ajustamento (reduzindo o número de horas trabalhadas anuais) ou não haverá trabalho para muitos, o que conduzirá a convulsões sociais de consequências imprevisíveis.
De qualquer modo, o trabalho dos mais velhos funcionará como um buffer que se alarga ou comprime consoante as solicitações do mercado global de trabalho numa determinada área.
Salvo melhor opinião.
Há muitos países onde este desequilíbrio é quase dramático, com alta percentagem de pessoas com pouco mais de cinquenta anos já na reforma, formal ou fingida, e isso é sem dúvida um problema social, mesmo se não quisermos considerar a questão da própria vida das empresas, que é evidentemente muito importante também. Mas a geração dos que estão a ser atingidos e, muito provavelmente, vão continuar a ser, tem que aprender a preparar-se para isso, tentando criar outros pontos de interesse para além do profissional, é preciso cultivar amizades e convívios, para depois não se olhar um imenso vazio. Tudo difícil de conseguir, claro, sobretudo com intenso ritmo de trabalho, o pouco tempo para os filhos pequenos, os encargos da casa... É sempre mais fácil empurrar os problemas para a frente, mas se for possível fazer esse esforço talvez a "velhice" precoce seja menos amarga.Na era da comunicação, é tão difícil a relação afectiva!
Caro Rui Fonseca
O que seria desejável seria a melhoria das taxas de natalidade para assegurar a renovação de gerações. A manter-se a tendência de redução das taxas de natalidade na larga maioria dos países desenvolvidos e em vias desenvolvimento iremos ter (já estamos a ter) problemas económicos, sociais e de finanças públicas.
De acordo com o seu pensamento, se bem entendi, os ganhos de produtividade irão dispensar trabalhadores. No limite quase que se poderia dizer que não havendo trabalho e a manter-se o ritmo de ganhos de produtividade seria até positivo que a baixa da natalidade prosseguisse. Não comungo Caro Rui Fonseca desta perspectiva catastrofista do futuro.
Mas a propósito da “escassez” do trabalho, lembro-me sempre do exemplo da companhia de aviação SAS (julgo que é este o nome) em que os seus trabalhadores aceitaram, numa decisão conjunta, reduzir o horário de trabalho e o salário evitando assim o despedimento de largas centenas de trabalhadores.
Suzana
Trata-se justamente de encontrar formas que possibilitem que a "velhice" precoce seja menos amarga. Há toda uma nova aprendizagem a fazer, que inclui a reponderação de interesses, alterações de hábitos de vida e de ocupações do tempo, etc. Trata-se de uma revolução "sócio cultural" para a qual não estamos preparados, o que constitui de facto um grande problema.
Não quero ser demasiado impertinente mas há no seu comentário um ponto que não ficaria de bem comigo se não o esclarecesse.
"seria até positivo que a baixa da natalidade prosseguisse"
Eu não disse isso, não penso isso, não desejo isso. A minha maior alegria nesta minha fase da vida são os meus netos.
O que eu disse foi que, irremediavelmente, o mundo caminha para automatização da maior parte das tarefas a que hoje chamamos trabalho. Nesse (deplorável? admirável?) mundo novo escasseará o trabalho, tal qual hoje o concebemos. E, naturalmente, serão os mais idosos aqueles que serão dispensados de trabalhar.
Vai esta evolução provocar crises sociais? Provavelmente sim. Já está, aliás, a provocar. Se v. levanta a questão, se muiota gente a levanta, é porque o problema já existe. Acontece que, do meu ponto de vista, não tem solução dentro dos mecanismos actuais de funcionamento do mercado. Claro que os horários de trabalho irão reduzir-se progressivamente, mas irão reduzir-se para acolher as camadas mais jovens.
Nada disto me parece trágico. Permita que transcreva aqui o começo de um post que coloquei nas minhas palavras cruzadas, a propósito deste seu post:
"De vez em quando ouvimos ou lemos uma alma condoída com a sorte dos velhos desocupados, e vem-nos à ideia o versículo bíblico que penitencia o pecado original com o a obrigação de ganhar o homem o pão com o suor do seu rosto. A mim, sempre me pareceu que não pode a bondade divina consentir que uma pena, mesmo que para alguns seja leve, não se extinga com o decorrer do tempo. É natural, portanto, que ao fim de milénios de espiação a humanidade caminhe, finalmente para a libertação e a desfrute no jardim das delícias onde os frutos abundarão sem ninguém seja obrigado a semear para colher. A curto prazo, e enquanto a alforria não abranger todos, percebe-se que os mais velhos tenham direito a sentar-se descansados à porta do jardim delicioso."
Os velhos não devem reapreender a trabalhar, devem aprender a viver a reforma.
Caro Rui Fonseca
Deixemos por uns “posts” a economia da eficiência e a economia da equidade.
Muito bonito o seu "hino" à velhice. Com muito bem lembra "...percebe-se que os mais velhos tenham direito a sentar-se descansados à porta do jardim delicioso."
Tenhamos esperança que todos os velhos (os que são realmente velhos) possam desfrutar de um tempo de descanso num jardim plantado de lindas flores...
Aqueles que não são ainda verdadeiramente velhos talvez possam ir caminhando para o jardim, devagarinho, sem pressas porque há um tempo para tudo. As flores podem esperar...
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