O mesmo Governo constituiu uma sociedade para gerir os espaços ribeirinhos que descobriu finalmente fazerem parte da Cidade e que quis, por via de lei, entregar à Câmara.
A sociedade criada pelo Governo para gerir os espaços que se destinavam a ser administrados pela autarquia, não integra a Câmara de Lisboa por esta não estar em condições de realizar a sua parte no capital social - segundo informa a imprensa, cerca de 4 milhões de euros.
O Governo já nomeou José Miguel Júdice, exímio especialista em assuntos ribeirinhos, administador da sociedade que vai gerir os espaços que o Governo entregou à Câmara para gerir, sociedade em que a Câmara não quis entrar, pese embora ter como escopo social intervir nos espaços que o Governo quer entregar à Câmara.
O administrador da sociedade que vai gerir os bens do domínio público que o Governo quer entregar à Câmara para devolver à Cidade, apareceu ontem na sessão do Executivo camarário para expor aos senhores vereadores o seu plano para a zona riberinha de Lisboa.
A Câmara que não integra a sociedade porque não tem 4 milhões, ouviu da boca do senhor administrador de uma zona da cidade que era suposto a Câmara passar a administrar, dizer que vai fazer uma festarola com fogo de artificio, ali para os lados de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos, orçamentada em 5 milhões de euros.
A minoria maioritária aplaude, a oposição diz que tem dúvidas, e o Zé, que faz sempre falta às estórias de Lisboa e que segundo a Al Jazeera é mais herói que o entalado Martim Moniz, diz que não é nada disto e que Judice vai ser afinal uma "espécie de capataz da Câmara".
Lisboa, capital do circo.
Adenda: o Dr. José Miguel Judice já desmentiu que estivesse nas suas intenções a festarola. Afinal a proposta é construir um suporte a eventos naquela zona, que seria financiado pelo Instituto do Turismo de Portugal. E mais. Não será uma despesa (porque não é para queimar) mas um investimento (porque é para ficar)
6 comentários:
Mais ainda havia, aqui há uns dias, quem acreditasse que nada disto era apenas para fazer dinheiro e que até era uma medida muito positiva....:)
Esta passagem da zona ribeirinha para a câmara é puro roubo.
Mas o Cavaco não tinha mandado isto tudo às urtigas?
O sr. Presidente da República devolveu o diploma para esclarecimentos pelo Governo, sem contudo o vetar tanto quanto percebi das noticias.
Há alguns dias, alguém efectivamente entendia, neste blogue, que a integração das zonas geridas pelas administrações portuárias nas cidades de que fazem parte, era uma boa medida. Sobretudo aquelas que não têm qualquer interesse portuário actual ou expectante.
Continua a entender assim, meu caro Tonibler.
Caro Ferreira de Almeida:
De facto, o circo desceu à cidade.
Se bem entendi:
1.foi criada uma empresa da Câmara, mas de que a Câmara não faz parte, porque não tem dinheiro para isso.
2. foi criada uma empresa da Câmara com accionistas que não são a Câmara. Admirável!...
3. foi criada uma empresa da Câmara para administrar terrenos que não são da Câmara.
4. foi criada uma empresa da Cãmara, de que a Câmara não é accionista e que vai gerir terrenos que não são da Cãmara nem da empresa e de que o actual dono não quer prescindir, nem lei que o faça prescindir.
5. foi criada uma empresa da Câmara dotada de um Presidente e Conselho de Administração, para ser capataz da Câmara, segundo o seu mais ilustre Vereador.
6. assim se compreende perfeitamente que, não tendo objecto, a empresa se dedique a uns fogachos. E, neste contexto, o fogacho de artifício tem toda a razão de ser. Aliás, 5 milhões para tão artificioso desiderato parece-me pouco, muito pouco.
Mas como a Câmara não tem dinheiro, nem para ser accionista,nem para pagar a quem deve, compreende-se que só possa dispôr de 5 milhões para o foguetório!...
Viva a república!...
Exactamente, Pinho Cardão!
Melhor ainda é ouvir o sr.Presidente da Câmara dizer aos munícipes da freguesia de Camarate que a Câmara nem "dinheiro para as coisas comezinhas tem" (como mandar tapar sarjetas)
Acredito piamente, meu caro cmonteiro.
Comezinho deveria ser, por exemplo, manter transitáveis as ruas da cidade. A quantidade de crateras, que se alargam e afundam a cada chuva que passa, é tal, que hoje só de todo-o-terreno se consegue circular nalgumas zonas.
Para já não falar no estado lastimável dos passeios, que reduz cada dia que passa as condições de mobilidade sobretudo a quem tem dificuldades acrescidas.
Salvo ter a Câmara descoberto que este é o método que torna desnecessário sofrer o onus político de por quem trabalha ou vive em Lisboa a pagar portagens para entrar na cidade, o estado a que chegaram as infra-estruturas mais básicas não tem qualquer justificação. Mesmo a mais pobre das câmaras municipais cumpre esse dever público elementar de garantir a circulação e a mobilidade dos cidadãos em segurança.
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