O Expresso vai abordar na próxima edição o tema do Genoma. A “democratização do genoma está para breve”. Pois está e não vai ser pacífica a abordagem.
Neste momento, alguns países já têm um registo de DNA de criminosos e até para efeitos de identificação civil que, segundo os proponentes, poderá ser muito útil em matéria de combate à criminalidade e em caso de catástrofe.
Também é do conhecimento geral o papel do DNA para efeitos de incriminação e de absolvição de muitas pessoas. O seu uso começa a generalizar-se e a transformar-se num meio de prova irrefutável. Mas a situação começa a ir longe de mais, ao ponto de transformar uma pessoa num mero objecto. Casos, devidamente relatados. apontam para a desculpabilização de indivíduos, porque são portadores de certos genes que os “levam” a cometer crimes. Coitados, não têm culpa é a “força dos genes”! Na Carolina do Sul, um assassino foi ilibado por causa de ser portador de uma “depressão geneticamente determinada”! Outros defensores provam que os seus constituintes são portadores de genes da violência, de algum atraso mental e até de “impiedade”, consequentemente não podem ser condenados! As implicações vão mais longe ao ponto de alguns responsáveis por produtos com efeitos tóxicos e pela poluição afirmarem que os problemas decorrentes não são devidos aos produtos em causa, mas sim aos genes dos indivíduos, porque muitos também estão sujeitos às mesmas agressões e não sofrem qualquer problema! A situação irá ser explorada, e de que maneira, pelas companhias de seguro quando começarem a exigir dados dos segurados para saber se têm ou não genes que estejam associados a uma vida longa, ou se os mesmos são portadores de genes que provoquem doenças. Face aos resultados determinarão se vale a pena ou não fazer o seguro e qual o prémio a pagar. Mais? Veja-se o caso de certos pais que acabam, através do genoma, por saber se o seu filhinho apresenta elevado “fitness” para a prática de certos desportos e, consequentemente, passarão a “explorá-los” nesse sentido.
Cada dia que passa avolumam-se evidências sobre o valor preditivo de muitos genes, não só em termos de saúde/doença, mas também sob o ponto de vista comportamental. Tudo leva a crer que estejamos a caminhar a passos largos para um determinismo preocupante.
Um dia destes a descodificação do genoma irá ser tão “simples” como algumas determinações bioquímicas. Então surgirão desculpas do género: - Oh Senhor Guarda, eu sei que ia com excesso de velocidade mas não tive culpa, foi o sacana do meu gene “Fórmula 1” que me obrigou a isso! Ou então o relato para o papá e a mamã: - O vosso filhinho tem uns genes da vigarice que eu nunca vi. Já sabem, agora é só treiná-lo para certas actividades profissionais. E também já estou a ver as astrólogas de serviço a combinar os padrões genéticos das pessoas com a posição ou acção dos astros à nascença! Já agora, antecipo uma outra preocupação. Como não é possível esconder o nosso genoma de quem quer que seja, já que andamos a libertá-lo às paletes em qualquer lugar por onde passamos, um coscuvilheiro genófilo poderá colher material suficiente para saber quem somos e o que é que o futuro poderá ditar!
Enfim, avizinha-se “fornicação genómica” a uma escala nunca imaginada...
Neste momento, alguns países já têm um registo de DNA de criminosos e até para efeitos de identificação civil que, segundo os proponentes, poderá ser muito útil em matéria de combate à criminalidade e em caso de catástrofe.
Também é do conhecimento geral o papel do DNA para efeitos de incriminação e de absolvição de muitas pessoas. O seu uso começa a generalizar-se e a transformar-se num meio de prova irrefutável. Mas a situação começa a ir longe de mais, ao ponto de transformar uma pessoa num mero objecto. Casos, devidamente relatados. apontam para a desculpabilização de indivíduos, porque são portadores de certos genes que os “levam” a cometer crimes. Coitados, não têm culpa é a “força dos genes”! Na Carolina do Sul, um assassino foi ilibado por causa de ser portador de uma “depressão geneticamente determinada”! Outros defensores provam que os seus constituintes são portadores de genes da violência, de algum atraso mental e até de “impiedade”, consequentemente não podem ser condenados! As implicações vão mais longe ao ponto de alguns responsáveis por produtos com efeitos tóxicos e pela poluição afirmarem que os problemas decorrentes não são devidos aos produtos em causa, mas sim aos genes dos indivíduos, porque muitos também estão sujeitos às mesmas agressões e não sofrem qualquer problema! A situação irá ser explorada, e de que maneira, pelas companhias de seguro quando começarem a exigir dados dos segurados para saber se têm ou não genes que estejam associados a uma vida longa, ou se os mesmos são portadores de genes que provoquem doenças. Face aos resultados determinarão se vale a pena ou não fazer o seguro e qual o prémio a pagar. Mais? Veja-se o caso de certos pais que acabam, através do genoma, por saber se o seu filhinho apresenta elevado “fitness” para a prática de certos desportos e, consequentemente, passarão a “explorá-los” nesse sentido.
Cada dia que passa avolumam-se evidências sobre o valor preditivo de muitos genes, não só em termos de saúde/doença, mas também sob o ponto de vista comportamental. Tudo leva a crer que estejamos a caminhar a passos largos para um determinismo preocupante.
Um dia destes a descodificação do genoma irá ser tão “simples” como algumas determinações bioquímicas. Então surgirão desculpas do género: - Oh Senhor Guarda, eu sei que ia com excesso de velocidade mas não tive culpa, foi o sacana do meu gene “Fórmula 1” que me obrigou a isso! Ou então o relato para o papá e a mamã: - O vosso filhinho tem uns genes da vigarice que eu nunca vi. Já sabem, agora é só treiná-lo para certas actividades profissionais. E também já estou a ver as astrólogas de serviço a combinar os padrões genéticos das pessoas com a posição ou acção dos astros à nascença! Já agora, antecipo uma outra preocupação. Como não é possível esconder o nosso genoma de quem quer que seja, já que andamos a libertá-lo às paletes em qualquer lugar por onde passamos, um coscuvilheiro genófilo poderá colher material suficiente para saber quem somos e o que é que o futuro poderá ditar!
Enfim, avizinha-se “fornicação genómica” a uma escala nunca imaginada...
3 comentários:
Permita-me, caro Professor Massano Cardoso, que partilhe este e-mail que me enviaram. Bom fim de semana.
"Eu quero viver a minha próxima vida ao contrário ...
Começo morto e livro-me logo dessa 'chatisse'...
- Depois acordo num lar para a terceira idade, sentindo-me melhor cada dia que passa.
- A seguir sou expulso, por estar demasiadamente saudável.
- Durante uns anos gozo a minha reforma, recebo a minha pensão de velhice e a saúde vai sempre melhorando.
- Então começo a trabalhar. Recebo um relógio em ouro, como presente, logo no primeiro dia.
- Trabalho 40 anos, até ser demasiadamente novo para trabalhar.
- Aí vou para a faculdade e depois para o liceu. Bebo álcool, vou a festas e sou promíscuo.
- Depois vou para a escola primária, brinco e não tenho responsabilidades.
- A seguir transformo-me num bébé, dão-me banho, muitos mimos e farto-me de mamar.
- Finalmente, passo os últimos 9 meses a flutuar pacifica e luxuosamente, em condições equivalentes a um spa, com ar condicionado, serviço de quartos, todas as comodidades, e depois...
- Bem, e depois ... acabo num grande orgasmo.........
Digam-me lá se eu não tive uma grande ideia?
Caro Professor, lembrei-me desta notícia que li recentemente, e permita-me que lhe peça a sua opinião:
Reino Unido
Amostras de ADN a crianças para combater o crime
Recolher amostras de ADN a crianças do primeiro ciclo que revelem comportamentos indicadores de virem a cometer actos criminosos mais tarde é a ideia defendida por um dos maiores especialistas da polícia britânica, Gary Pugh. O médico-legista português Pinto da Costa contrapõe que «não há um gene da facada»
Reconhece que a base de dados pode criar problemas de estigmatização das crianças e que o consentimento dos pais e o papel dos professores na identificação dos futuros delinquentes teria de ser discutido. Mas sustenta que é necessário um debate aberto e maduro sobre a melhor forma de lidar com o crime antes de ele ocorrer.
Um cenário semelhante ao do recente sucesso de bilheteira, com o actor Tom Cruise, Minority Report, classifica Pedro Sales, assessor do Bloco de Esquerda, no blogue Zero de Conduta.
Mas na vida real, a polícia britânica já recolhe amostras de ADN de jovens entre os 10 e os 18 anos que sejam presos, desde 2004. E ainda na semana passada, as autoridades divulgaram que os dados recolhidos rondarão 1,5 milhões de amostras no próximo ano.
As associações da sociedade civil relacionam a ideia com ‘livros de ficção’, condenando-a veementemente. Um dos sindicatos de professores avisou que a medida podia aproximar o país de um «estado autoritário», de acordo com o Guardian.
Mas um relatório do Instituto de Investigação para Política Pública do Reino Unido, sustenta que «a prevenção deve começar cedo, porque os criminosos costumam começar a cometer delitos entre os 10 e os 13 anos».
'Não há um gene da facada'
«Não há um gene do crime», diz o médico-legista Pinto da Costa. «Mas há uma hipótese de haver certas alterações genéticas que revelem condição para que um indivíduo seja mais susceptível de entrar na vida do crime».
Nós somos 30% de genética e 70% de aprendizagem, explica o especialista que trabalhou 40 anos no Instituto de Medicina Legal.
Porém, o médico, também docente universitário, afirma que «na grande criminalidade, como os homícídios violentos, parece ter mais importância a genética do que a aprendizagem».
«O valor que me parece máximo a cultivar é a liberdade», diz defendendo, no entanto, que para a investigação criminal «há conveniente em registar antecedentes genéticos».
Mas, em última análise, sustenta: «Artificializar tudo, não leva à minha concordância».
'Deviam era investir em segurança'
«Não há base científica nenhuma», sustenta o médico geneticista Mário de Sousa. O especialista do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, sustenta que «todos os estudos revelam que os comportamentos agressivos derivam do ambiente que se proporciona às crianças».
«Não querem é investir em boas escolas, boas casas e polícia na rua, como cá também não querem. Mas deviam era investir em meios seguros para as crianças».
O geneticista é peremptório: «Se não cometeram nenhum crime, não devem constar de nenhuma base de dados, pois no ADN vem outra informação como as doenças e já se está a ver onde isso pode levar…»
«Nós [médicos-geneticistas] sempre fomos contra bases de dados genéticas da população sem antecedentes criminais».
Sol
Por outro lado, diz o Caro Professor Salvador que, ..."Como não é possível esconder o nosso genoma de quem quer que seja, , já que andamos a libertá-lo às paletes em qualquer lugar por onde passamos, um coscuvilheiro genófilo poderá colher material suficiente para saber quem somos e o que é que o futuro poderá ditar!
" ... e eu faço-lhe mais uma pergunta:
- E os limites da Lei ? Não haverá impedimento legal, para que determinadas práticas de coscuvelhice genómica, não seja possível ?
Cara Pézinhos
Preocupa-me muito seriamente algumas correntes de pensamento que pretendem prever certos comportamentos com base em características genéticas. É muito perigoso, porque o facto de haver genes que predispõem mais para certas atitudes, nada garante que tal venha a acontecer. Nós somos o resultado da interacção entre a Nature e a Nurture. Também não posso aceitar a separação dos mesmos, ou seja não somos “Nature mais Nurture”, mas sim “Nature e Nurture” o que é radicalmente diferente. Também não é de excluir a hipótese de que certas tendências, menos positivas, face aos nossos padrões, não deixarem de ser uma espécie de “garantia” em determinadas circunstâncias que ainda não ocorreram. O que é “mau” numa altura pode ser “bom” noutra! Esta observação assenta num pressuposto já aceite: quanto maior é a diversidade maior é a garantia da perpetuação da espécie.
Quanto ao “gene da facada”, lembrei-me de estudos que apontam para certos comportamentos favorecedores da promiscuidade. Obviamente trata-se de outro tipo de “facada”!
Quanto à sua pergunta “- E os limites da Lei ? Não haverá impedimento legal, para que determinadas práticas de coscuvilhice genómica, não seja possível ?” Claro que tem que haver. Mas o problema é que hoje em dia muitas leis não são cumpridas e até violentadas mesmo ao mais alto nível, fazendo perigar os direitos e as liberdades dos cidadãos.
O perigo do uso de dados genéticos é real, ao ponto de podermos a vir deixar de ser “sujeitos” e passarmos a “objectos”, o que não me agrada nada...
Caro jotaC
Quando li o texto senti uma vontade imensa de fazer a mesma viagem...
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