O Instituto de Conservação da Natureza deu parecer desfavorável ao aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete. Vejamos uma das peças investigatórias que possibilitou tal conclusão.
- Sr. Maçarico-de-Bico-Direito, nós somos o Instituto de Conservação da Natureza e andamos a analisar o impacto sobre a biodiversidade do novo Aeroporto de Alcochete.
- São do Estado?
- Não…sim…a bem dizer nós estamos acima do Estado. Mas é o Estado que nos paga!...
- Eu já desconfiava, pois vejo que têm muito pouco que fazer…Andam sempre por aí…apesar da minha dificuldade em distinguir humanos, a vossa cara não me é nada estranha…
- Nós, é a primeira vez desde há oito dias... Temos é passado por aqui com o nome de várias Associações Ambientalistas…
- É a mesma coisa…
- Não, são coisas diferentes; nós é que somos os mesmos!…
- E querem saber sempre as mesmas coisas. Irra, estou já farto de me repetir!...Além do mais, nunca concordam com o que eu digo!…
- Mas nós o queremos é proteger-vos. Não acha, Sr. Maçarico, que o aeroporto pode destruir o vosso habitat natural?
- Mas por que carga de água é que nos querem proteger? Nós nem confiamos no Governo…É por isso que temos milhões de anos, assistimos a muita coisa, não nos matamos uns aos outros como vocês e ainda cá andamos!...
- Mas não acha que os aviões poderão constituir um perigo potencial para vocês, quando, entre Janeiro e Março, atravessam os corredores de aterragem dos aviões, nas vossas deslocações do local de repouso, no Tejo, para o de alimentação, nos arrozais?
- Olhe, se acreditássemos em vocês, com as obras da Ponte Vasco da Gama, já devíamos estar todos mortos. Afinal, até temos aumentado a nossa população…
- Mas não nos podemos fixar numa visão local; não acha mesmo que o novo aeroporto poderá ter reflexos negativos a milhares de quilómetros, dado o impacto sobre as aves migradoras aquáticas que demandam o estuário do Tejo?
- Sabe, o que não falta a esses meus colegas é sentido de orientação…Andamos milhares de quilómetros sem nos perdermos. Acha que nos perderíamos entre Alcochete e o Montijo?
- Sr. Maçarico, está a exceder-se. Olhe que nós somos o Estado!...
- São do Estado?
- Não…sim…a bem dizer nós estamos acima do Estado. Mas é o Estado que nos paga!...
- Eu já desconfiava, pois vejo que têm muito pouco que fazer…Andam sempre por aí…apesar da minha dificuldade em distinguir humanos, a vossa cara não me é nada estranha…
- Nós, é a primeira vez desde há oito dias... Temos é passado por aqui com o nome de várias Associações Ambientalistas…
- É a mesma coisa…
- Não, são coisas diferentes; nós é que somos os mesmos!…
- E querem saber sempre as mesmas coisas. Irra, estou já farto de me repetir!...Além do mais, nunca concordam com o que eu digo!…
- Mas nós o queremos é proteger-vos. Não acha, Sr. Maçarico, que o aeroporto pode destruir o vosso habitat natural?
- Mas por que carga de água é que nos querem proteger? Nós nem confiamos no Governo…É por isso que temos milhões de anos, assistimos a muita coisa, não nos matamos uns aos outros como vocês e ainda cá andamos!...
- Mas não acha que os aviões poderão constituir um perigo potencial para vocês, quando, entre Janeiro e Março, atravessam os corredores de aterragem dos aviões, nas vossas deslocações do local de repouso, no Tejo, para o de alimentação, nos arrozais?
- Olhe, se acreditássemos em vocês, com as obras da Ponte Vasco da Gama, já devíamos estar todos mortos. Afinal, até temos aumentado a nossa população…
- Mas não nos podemos fixar numa visão local; não acha mesmo que o novo aeroporto poderá ter reflexos negativos a milhares de quilómetros, dado o impacto sobre as aves migradoras aquáticas que demandam o estuário do Tejo?
- Sabe, o que não falta a esses meus colegas é sentido de orientação…Andamos milhares de quilómetros sem nos perdermos. Acha que nos perderíamos entre Alcochete e o Montijo?
- Sr. Maçarico, está a exceder-se. Olhe que nós somos o Estado!...
- A exceder-me? Fiquem a saber que o meu bico anda sempre direito e faloo que me apetecer!...
- Estamos a perder o nosso tempo...
- E a fazer perder o meu!...Vá lá…deixem-me trabalhar, que o Estado não me paga excursões diárias a Alcochete!...E resolvam os vossos problemas, sem nos meterem ao barulho!...
- E a fazer perder o meu!...Vá lá…deixem-me trabalhar, que o Estado não me paga excursões diárias a Alcochete!...E resolvam os vossos problemas, sem nos meterem ao barulho!...
14 comentários:
Pois... o grande problema, apontado pela visão indiferenciado do Sr. Maçarico, é mesmo aquele com que termina o seu post, caro Dr. PC,"E resolvam os vossos problemas, sem nos meterem ao barulho!..."
De que maneira?
PrevÊ-se a construcção de outra ponte?
... espere, acho que estou a acabar de dar uma excelente ideia ao Sr. Jamais... é isso!
Se ele anunciar a intenção fictícia de construir uma ponte entre Cascais e a Trafaria, leva em debandada as associações ambientalistas, ávidas de descobrir uma espécie que necessite ser protegida em toda aquela área.
Quem sabe as célebres Tágides, cantadas por Camões...?
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
... pois... tudo parece ter um preço...
;))))
Vivam!
O Sr. Mário Lino deve estar rir-se a bandeiras despregadas...
Cumprimentos,
Paulo.
Eu também ouvi a notícia, só não percebi que o bicho era maçarico e de bico direito!
Pois, está claro, temos de proteger o maçarico, afinal ele vem cá uma vez por ano dar uma kekita...
O aeroporto que passe ali para Badajoz, que eu saiba, lá não há maçaricos, só xicos espertos...
:))
Caro Bartolomeu:
Para proteger as Tágides, belas ninfas do Tejo cantadas por Camões,também estou disposto a tudo, a prescindir de todas as pontes e a viajar por bote!...
Porque, quando se fala em ninfas,"outros valores mais altos se alevantam"!...
Caro Pinho Cardão,
Se ler a notícia verá que o título é manifestamente exagerado.
Se ler a notícia verá que o ICNB limitou-se a dizer o que o relatório do LNEC dizia no parecer sectorial sobre as questões jurídicas.
Se procurar mais verá que as directivas europeias não foram feitas pelo ICNB: a das aves é anterior à entrada de Portugal nas Comunidades Europeias e dos habitats é subscrita por Arlindo Cunha numa altura em que Portugal assumia a presidência do Conselho.
Mas como em lado nenhum dos pareceres do ICNB se deve referir o maçarico como base para a decisão mas apenas, o que é normal num parecer sectorial, que os aspectos de conservação levantam questões que devem ser ponderadas(estranho seria é que o ICNB fizesse um parecer sobre as questões económicas, por exemplo) acho que o problema mesmo é de dificuldade de leitura.
Do ICNB? Do LNEC? De Pinho Cardão? Minha?
Pois não sei. Eu seguramente ando a adiar a minha ida ao oftalmologista, portanto devo ser eu que estou dificuldades de leitura.
Por isso nem percebi a tentativa de misturar o parecer do ICNB com as associações ambientalistas que aliás dizem coisas diferentes do ICNB.
Declaração de interesses: sou funcionário e dirigente do ICNB e já tive à minha responsabilidade estas matérias, embora não seja o caso neste momento.
henrique pereira dos santos
Caro Dr. Pc,
o meu amigo é "O" verdadeiro ícone o heroi dos herois, que vão escasseando já, no nobre e sagrado solo Lusitano. Sempre disposto a pelejar, de peito aberto,em defesa de uma nobre causa como esta... a das belas ninfas, elevando pendões e divisas, que a todos desta raça enobrecem. Qual Lancelote Do Lago, não teme enfrentar-lhe as fúrias, atravessando-o em frágil batel querendo com vontade férrea alcançar a ilha encantada de Avalon
e conquistar o coração da belíssima Guinevere.
Apeteceu-me transcrever para aqui o poema de Fernando Pessoa "A Minha Vida É Um Barco Abandonado"...
A minha vida é um barco abandonado Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
...mas desisti da ideia por ter achado que não tinha a ver com o assunto.
;)
Caro Bartolomeu:
Já que estamos em maré de poesia e de Fernando Pessoa...
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro
Esse seu Maçarico, Pinho Cardão, revela uma falta de paciência que até parece aparentado com a malta deste governo. Confesso que a certa altura me pareceu que o pássaro iria responder: "O quê!? Aeroporto aqui em Alcochete? Jamé!".
Mais a sério.
A questão estava já identificada no relatório do LNEC. Ouvi aliás o presidente da instituição, numa entrevista dada por alturas da apresentação do famoso relatório, dizendo que este era um ponto negativo da localização, mas que a investigação não poderia ir mais longe na determinação das consequências desse factor desfavorável porque como as aves arribam ao território nacional para a hibernagem (e não para a nidificação no Tejo, como já li), não havia aves para investigar na altura em que decorreram os estudos. Achei estanho o argumento, porque mesmo não sendo possivel o trabalho de campo, sempre deverão existir registos e elementos de estudos sobre a espécie, capazes de permitir uma conclusão sobre a compatibilização do interesse público na preservação da espécie (que pressupõe a manutenção do seu habitat) e o interesse, também ele público, da instalação de um novo aeroporto. Ou sobre as possíveis mitigações dos efeitos sobre a espécie e sobre o habitat.
Seja como for, há factos que não devem ser escamoteados sob pena de embaretecermos o que tem efectiva importância.
Facto: não se trata de uma ave qualquer. Trata-se de uma espécie com um estatuto internacional de protecção pela UICN, estando classificada entre as que se encontram em situação de quase extinção.
Outro facto: o parecer do ICNB NÃO É A DECISÃO de localização do aeroporto. Limita-se a pondera um dos interesses sectoriais que têm de ser considerados a par de outros, de natureza ambiental, económica, social, etc..
A conjugação destes factos implica: (a) havendo agravamento do risco para a espécie ou para o seu habitat natural de hibernagem, é DEVER LEGAL do ICNB dizê-lo; (b) o que não implica que o ICNB "chumbe" a localização do ICNB pela simples razão de não ter o poder de "chumbar" (o parecer não é vinculativo); (c) a imprensa distorce a importância do caso e, julgando aqueles que fomentam a divulgação, nestes termos, destas notícias, que prestam um grande serviço à causa da conservação da natureza e da biodiversidade, o que obtêm é o efeito exactamente contrário na opinião pública.
Nota final.
A questão dos Maçaricos não se põe, ao que me dizem, somente na perspectiva da sua conservação. Pode pôr-se ao nível da segurança do tráfego aéreo. É que sendo uma ave já com algum tamanho (35cm-50cm) desloca-se em bandos de centenas e por vezes milhares para as zonas de alimento, os arrozais situados a norte do local escolhido para o aeroporto. Se esses corredores de deslocação coincidirem com os corredores das aeronaves pode ser um problema. E também isto deve ser obviamente ponderado.
Caro Henrique Pereira dos Santos:
Obrigado pela sua participação.
Não, não está com dificuldades de leitura, nem de vista e até concordo consigo.
Eu é que fiz um enviezamento de análise, pois sem isso não haveria caricatura!...
E, por esta vez, as aves nem têm de que se queixar. Dei ao maçarico todo o protagonismo; mas, aproveitando o seu bico direito, não resisti em dar uma bicadas no ICNB. Amigáveis.
E "sans rancune", muito menos para o meu amigo, cujos méritos o meu colega Ferreira de Almeida é o primeiro a corroborar!...
Caro Ferreira de Almeida:
Como sempre, uma lição de ambientalismo!...
Agora a brincar!...
Parece então que irá haver luta intensa entre maçaricos e aviões?
E logo maçaricos de bico direito a investir contra as aeronaves?
Creio que a passarada é inteligente, vê onde está a força e altera facilmente a rota!...
Em último caso, o ICN arranja equipas de batedores para espantar os aviões!...O assunto fica resolvido, porque voltar à OTA, jamè!...
Ocorre-me perguntar, e faça-me a gentileza de responder quem quiser e souber, se, aquando da construção do aeroporto da Portela, foram feitos estudos de impacto ambiental, nomeadamente, sobre aves. A sério! Não encontrei nada sobre o assunto, e gostaria de saber se, precisamente naquele local(Portela), havia algum inconveniente ambiental que foi desvalorizado.
Se os estudos foram feitos, e consideraram todas as questões que hoje se levantam para a construção do novo aeroporto então, concluo, que a Portela foi na altura sabiamente escolhida, pois nenhuma ave, até agora, provocou algum acidente…
Bom, meu caro JotaC, ainda bem que não houve. Mas o facto de não ter havido até hoje não significa que não se deva prevenir. O meu Amigo mantém certamente o seu seguro de responsabilidade civil em dia apesar de, espero, não ter sofrido ultimamente nenhum acidente...
A primeira regra na segurança aérea como em qualquer actividade que envolva risco é prevenir.
Obrigado pela "achega", caro Drº. Ferreira de Almeida.
Caro jotac,
Não foram feitos estudos ambientais para a construção do aeroporto da Portela é um facto. Da mesma forma que nessa altura se usava DDT ou os carros não tinham catalizadores, por exemplo.
Já quanto à interacção entre o aeroportos e as aves, nomeadamente em questões de segurança, aconselho a ir ao google e escrever bird strikes e ficará com certeza surpreendido com o que lerá (apenas um aperitivo a aprtir da wikipedia: "The Federal Aviation Administration estimates the problem costs US aviation 600 million dollars annually and has resulted in over 200 worldwide deaths since 1988. In the United Kingdom the Central Science Laboratory estimates that, worldwide, the cost of birdstrikes to airlines is around US$1.2 billion annually. This cost includes direct repair cost and lost revenue opportunities while the damaged aircraft is out of service. Estimating that 80% of bird strikes are unreported, there were 4,300 bird strikes listed by the United States Air Force and 5,900 by US civil aircraft in 2003.".
Por esta razão a ANA tem programas de afastamento de aves dos aeroportos (incluindo a Portela) com recurso a vários métodos incluindo a falcoaria.
Pela mesma razão na iniciativa business and biodiversity a ANA assume, voluntariamente, um compromisso de suporte aos centros de recuperação de aves no quadro da sua responsabilidade corporativa.
Não vale a pena desvalorizar problemas reais. É mais seguro e barato estudá-los e encontrar as melhores decisões para os gerir.
henrique pereira dos santos
Muito obrigado, também, caro henrique pereira dos santos, por partilhar o seu conhecimento desta forma.
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