O que é uma metáfora? A “metáfora”, escreveu Aristóteles, “consiste em dar a uma coisa um nome que pertence a outra coisa”.
Susan Sontag, uma escritora que muito admiro, e que sofreu três doenças malignas, no seu ensaio sobre a “Sida e as suas metáforas”, afirmou que “dizer que uma coisa é ou semelha uma-coisa-que-não-é traduz-se numa operação mental tão antiga como a filosofia, a poesia e o terreno gerador da maior parte dos modos de expressão e de pensamento”.
Se olharmos para as diferentes formas de arte podemos verificar que são, indiscutivelmente, metafóricas. O que leva alguém a “ouvir cores” ou a “ver fragrâncias”? Os comportamentos “sinestésicos” podem ser meras mentiras, ser frutos de drogas alucinatórias, revelar anomalias do funcionamento mental ou traduzir verdadeiros curto-circuitos cerebrais.
Alguns neurocientistas explicam que este fenómeno, sinestesia, teve vantagens selectivas ao contribuir para subir às arvores! Para subir às arvores é preciso uma boa visão, desenhar previamente um mapa mental dos ramos e ter informação da posição dos nossos membros e depois correlacioná-los! Logo, a metáfora seria apenas uma abreviação conveniente para a ligação dos fenómenos cognitivos não relacionados! Imaginem se os nossos antepassados não tivessem subido às arvores. Nunca conseguiríamos desenvolver o nosso sentido artístico! Deu uma grande ajuda para fugir aos tigres dentes de sabre e, ao mesmo tempo, propiciar o sentido da arte e da representação. Nos dias actuais já não subimos às arvores, até, porque é perigoso, mas muitos sobem a árvores imaginárias através do álcool, do café, de drogas, da contemplação, do silêncio absoluto, de forma a encontrar a magia de uma metáfora que simplifique relações complexas. E ouvem cores, vêem aromas e cheiram sentimentos! E deliciam-nos com as suas construções. Mas, às vezes, não é preciso usar estes meios para metaforizar. Basta, por exemplo, sentar, novamente, numa esplanada ao fim de alguns anos, na mesma mesa, na mesma cadeira de ferro, ver a mesma brisa, tocar o mesmo sol e ouvir as mesmas sombras. Convidado para beber uma água, enquanto aguardava o transfer para o aeroporto, subitamente substituí o pedido por uma cerveja. E, como que por magia, senti transportar-me uns anos atrás em que na companhia de um amigo, entretanto falecido com cancro, conversávamos pachorrentamente. Mais novo, colega de campanhas eleitorais e no Parlamento, tinha um enorme apego à vida e à família. Defendia-a com dentes e garras. Indignava-se facilmente com as injustiças ou quaisquer ameaças e, logo de seguida, querendo mostrar que também era capaz de ser violento, usava, metaforicamente, as suas armas – era um caçador –, para matar tudo e todos! Nesses momentos, o seu timbre agudizava-se e subia mais uns tons, como a querer demonstrar a sua agressividade. Era a altura - mais do que esperada -, em que me enchia de risos interiores, ao ponto de lhe sugerir que usasse a da caça grossa que tinha mira e tudo. Assim não falharia o alvo. Indiferente à minha suposta ironia lá ia desfiando as suas soluções “mortíferas”.
Falava dos filhos e da mulher com uma ternura impossível de transmitir, a não ser através de metáforas. Não encontro nenhuma à sua altura. Sei que fui despertado deste pensamento quando me disseram que o carro estava à espera. Bebi o último golo da cerveja, já amornada, a mesma que tinha bebido anos antes com o meu amigo, e, numa estranha sensação “sinestésica”, ao dar-lhe uma palmada nas costas, saiu-me: “Até um dia destes”!
Susan Sontag, uma escritora que muito admiro, e que sofreu três doenças malignas, no seu ensaio sobre a “Sida e as suas metáforas”, afirmou que “dizer que uma coisa é ou semelha uma-coisa-que-não-é traduz-se numa operação mental tão antiga como a filosofia, a poesia e o terreno gerador da maior parte dos modos de expressão e de pensamento”.
Se olharmos para as diferentes formas de arte podemos verificar que são, indiscutivelmente, metafóricas. O que leva alguém a “ouvir cores” ou a “ver fragrâncias”? Os comportamentos “sinestésicos” podem ser meras mentiras, ser frutos de drogas alucinatórias, revelar anomalias do funcionamento mental ou traduzir verdadeiros curto-circuitos cerebrais.
Alguns neurocientistas explicam que este fenómeno, sinestesia, teve vantagens selectivas ao contribuir para subir às arvores! Para subir às arvores é preciso uma boa visão, desenhar previamente um mapa mental dos ramos e ter informação da posição dos nossos membros e depois correlacioná-los! Logo, a metáfora seria apenas uma abreviação conveniente para a ligação dos fenómenos cognitivos não relacionados! Imaginem se os nossos antepassados não tivessem subido às arvores. Nunca conseguiríamos desenvolver o nosso sentido artístico! Deu uma grande ajuda para fugir aos tigres dentes de sabre e, ao mesmo tempo, propiciar o sentido da arte e da representação. Nos dias actuais já não subimos às arvores, até, porque é perigoso, mas muitos sobem a árvores imaginárias através do álcool, do café, de drogas, da contemplação, do silêncio absoluto, de forma a encontrar a magia de uma metáfora que simplifique relações complexas. E ouvem cores, vêem aromas e cheiram sentimentos! E deliciam-nos com as suas construções. Mas, às vezes, não é preciso usar estes meios para metaforizar. Basta, por exemplo, sentar, novamente, numa esplanada ao fim de alguns anos, na mesma mesa, na mesma cadeira de ferro, ver a mesma brisa, tocar o mesmo sol e ouvir as mesmas sombras. Convidado para beber uma água, enquanto aguardava o transfer para o aeroporto, subitamente substituí o pedido por uma cerveja. E, como que por magia, senti transportar-me uns anos atrás em que na companhia de um amigo, entretanto falecido com cancro, conversávamos pachorrentamente. Mais novo, colega de campanhas eleitorais e no Parlamento, tinha um enorme apego à vida e à família. Defendia-a com dentes e garras. Indignava-se facilmente com as injustiças ou quaisquer ameaças e, logo de seguida, querendo mostrar que também era capaz de ser violento, usava, metaforicamente, as suas armas – era um caçador –, para matar tudo e todos! Nesses momentos, o seu timbre agudizava-se e subia mais uns tons, como a querer demonstrar a sua agressividade. Era a altura - mais do que esperada -, em que me enchia de risos interiores, ao ponto de lhe sugerir que usasse a da caça grossa que tinha mira e tudo. Assim não falharia o alvo. Indiferente à minha suposta ironia lá ia desfiando as suas soluções “mortíferas”.
Falava dos filhos e da mulher com uma ternura impossível de transmitir, a não ser através de metáforas. Não encontro nenhuma à sua altura. Sei que fui despertado deste pensamento quando me disseram que o carro estava à espera. Bebi o último golo da cerveja, já amornada, a mesma que tinha bebido anos antes com o meu amigo, e, numa estranha sensação “sinestésica”, ao dar-lhe uma palmada nas costas, saiu-me: “Até um dia destes”!
1 comentário:
Com que então, "Até um dia destes"!?
;)
A verdade é que, nem usando de toda a sinestésica, se pode concluir à sensação dessa certeza.
Este seu texto,prezado amigo, lembra-me a personagem fictícia de nome Blimunda, que José Saramago criou para fazer par com o soldado sete-sois e que "via" através de corpos opacos. Mas, via somente se estivesse em jejum.
Hmmm... suspeito que aqui o autor pretendeu associar um indefinido conceito religioso a qualquer coisa de pagão, ou até de anti-religioso, talvez a tal dicotomia que se encontra presente ainda na sinestésica e que tanto Aristóteles como Boudelaire, consideravam a metáfora da metáfora.
Mas, deixemos Saramago e os filósofos e olhemos para Beethoven e para Van Gogh, não lhes chamaria paradígmas da sinestésica, porque esta em si mesma requer obrigatóriamente um estímulo para que se manifeste, tal como o paladar ou o olfacto. Então qual é o elemento catalizador que lhe permite enquadrar num quadro sinestésico este "encontro" com o seu amigo?
O amigo tenta levar o seu fiel leitor a crer que a culpa foi da cerveja...
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