Certas frases, opiniões ou comentários têm o condão de desencadear lembranças como se tratasse de uma reacção química na presença de determinados reagentes.
Voei, em função de uma provocação, até aos meus 10/11 anos. Numa pequena e humilde sala o velho aparelho de televisão relatava a sentença a que foi condenado Adolf Eichmann. Explicaram-me quem era e os crimes que cometeu durante a Segunda Grande Guerra. Fiquei a saber o nome, a história do seu rapto, o julgamento a que foi sujeito, os crimes cometidos, a notícia da sua condenação à morte e o seu enforcamento. Mas o que me ficou na retina foram as imagens televisivas que revelavam um homem indiferente às acusações e frio quando lhe foi anunciado a morte.
Este episódio despertou-me a curiosidade sobre certos acontecimentos ocorridos durante a Grande Guerra. Perguntava aos mais velhos o que é que tinha acontecido mas diziam que era novo demais para essas coisas. Mas, uma enciclopédia histórica do pai de um amigo meu, com inúmeras fotografias, revelou o que se tinha passado. Às escondidas e com receio de ser apanhado, mirei, incrédulo, as fotos de mulheres e homens enforcados, corpos esqueléticos de crianças, homens e mulheres esquálidos a “sorrir” sofrimento. Não percebia bem as razões que estiveram na base daqueles acontecimentos. Também não conseguia perguntar aos mais velhos, com receio de ser alvo de alguma reprimenda. O que eu sei é que o meu sono se transformou em horríveis pesadelos. Com o tempo, a minha curiosidade não teve limites sobre o que efectivamente tinha acontecido. Acabei por saber que foi o resultado de uma política maldita da qual fazia parte Eichmann.
Muitos anos depois li o livro de Hanna Arendt, “Eichmann em Jerusalém”, onde a autora cunhou o termo “Banalidade do Mal” para designar que o grande criminoso “não era um demónio e um poço de maldade, mas alguém terrível e horrivelmente normal” incapaz de distinguir o bem do mal ou de se arrepender. Arendt considera que dada a complexidade da natureza humana é necessário manter uma vigilância permanente para garantir a defesa e a preservação da liberdade, de forma de controlar a tal “Banalidade do Mal”.
A maldade existe e exprime-se de muitas formas. Quanto à sua natureza chega a ser um verdadeiro enigma, constituindo um desafio para os filósofos.
Há quem aponte para as influências demoníacas (!), para factores genéticos ou como resultado do livre arbítrio. É difícil encontrar uma resposta adequada. Tudo aponta para que o enigma da maldade nunca seja esclarecido por completo. Não acredito na origem genética, até, porque seria uma caminho muito perigoso. Voltaire, também tinha horror à ideia da maldade nata. Certas pessoas revelam personalidades deformadas. São mesquinhas, invejosas e reagem muito mal às frustrações. Poderão ter alguma deficiência estrutural ou fisiológica, caso de um eventual défice em serotonina, por exemplo, tornando-os agressivos quer sob o ponto de vista físico e até verbal.
Não podemos deixar de afirmar que um certo grau de agressividade é útil para a sobrevivência, o pior é quando se transforma em actos de maldade. E, neste ponto, a ciência tem muita dificuldade em explicar a transformação. De facto, o ser humano é detentor de potencialidade únicas. Tem a capacidade de fabricar estratégias, utilizar a astúcia e manipular a agressividade para atingir o próximo. Em termos comparativos é muito mais digno o ataque de um animal, porque ataca no momento, não guarda rancor nem mágoas. Neste caso, prefiro ser um animal...
Voei, em função de uma provocação, até aos meus 10/11 anos. Numa pequena e humilde sala o velho aparelho de televisão relatava a sentença a que foi condenado Adolf Eichmann. Explicaram-me quem era e os crimes que cometeu durante a Segunda Grande Guerra. Fiquei a saber o nome, a história do seu rapto, o julgamento a que foi sujeito, os crimes cometidos, a notícia da sua condenação à morte e o seu enforcamento. Mas o que me ficou na retina foram as imagens televisivas que revelavam um homem indiferente às acusações e frio quando lhe foi anunciado a morte.
Este episódio despertou-me a curiosidade sobre certos acontecimentos ocorridos durante a Grande Guerra. Perguntava aos mais velhos o que é que tinha acontecido mas diziam que era novo demais para essas coisas. Mas, uma enciclopédia histórica do pai de um amigo meu, com inúmeras fotografias, revelou o que se tinha passado. Às escondidas e com receio de ser apanhado, mirei, incrédulo, as fotos de mulheres e homens enforcados, corpos esqueléticos de crianças, homens e mulheres esquálidos a “sorrir” sofrimento. Não percebia bem as razões que estiveram na base daqueles acontecimentos. Também não conseguia perguntar aos mais velhos, com receio de ser alvo de alguma reprimenda. O que eu sei é que o meu sono se transformou em horríveis pesadelos. Com o tempo, a minha curiosidade não teve limites sobre o que efectivamente tinha acontecido. Acabei por saber que foi o resultado de uma política maldita da qual fazia parte Eichmann.
Muitos anos depois li o livro de Hanna Arendt, “Eichmann em Jerusalém”, onde a autora cunhou o termo “Banalidade do Mal” para designar que o grande criminoso “não era um demónio e um poço de maldade, mas alguém terrível e horrivelmente normal” incapaz de distinguir o bem do mal ou de se arrepender. Arendt considera que dada a complexidade da natureza humana é necessário manter uma vigilância permanente para garantir a defesa e a preservação da liberdade, de forma de controlar a tal “Banalidade do Mal”.
A maldade existe e exprime-se de muitas formas. Quanto à sua natureza chega a ser um verdadeiro enigma, constituindo um desafio para os filósofos.
Há quem aponte para as influências demoníacas (!), para factores genéticos ou como resultado do livre arbítrio. É difícil encontrar uma resposta adequada. Tudo aponta para que o enigma da maldade nunca seja esclarecido por completo. Não acredito na origem genética, até, porque seria uma caminho muito perigoso. Voltaire, também tinha horror à ideia da maldade nata. Certas pessoas revelam personalidades deformadas. São mesquinhas, invejosas e reagem muito mal às frustrações. Poderão ter alguma deficiência estrutural ou fisiológica, caso de um eventual défice em serotonina, por exemplo, tornando-os agressivos quer sob o ponto de vista físico e até verbal.
Não podemos deixar de afirmar que um certo grau de agressividade é útil para a sobrevivência, o pior é quando se transforma em actos de maldade. E, neste ponto, a ciência tem muita dificuldade em explicar a transformação. De facto, o ser humano é detentor de potencialidade únicas. Tem a capacidade de fabricar estratégias, utilizar a astúcia e manipular a agressividade para atingir o próximo. Em termos comparativos é muito mais digno o ataque de um animal, porque ataca no momento, não guarda rancor nem mágoas. Neste caso, prefiro ser um animal...
5 comentários:
http://www.youtube.com/watch?v=HEHxAREUVdg&feature=related
Prefiro temer a diferença que nos iguala. Se recuarmos no tempo, até, por exemplo, à epoca em que Roma decidiu que iria ser dona do mundo, iremos encontrar holocaustos semelhantes, não em género mas em número àqueles perpetrados durante o "egime" e Hitler. Esta evidência não nos confere qualquer tipo de conforto, tão pouco nos garante que não volte a surgir no futuro um personagem com as características psicológicas idênticas às de Hitler, capaz de galvanizar e dirigir a vontade de um povo, conduzindo-os a actos de superior animalidade. A verdade Senhor Professor e penso que dela não poderemos dissossiar este aspecto, é que todos os tiranos que ao longo dos empos urgiram, contaram com a adesão inflamada das multidões que os seguiram, dando-lhes o apoio e a legitimidade de que necessitavam.
Este grandioso fenómeno, prova a primeira afirmação deste comentário. Não temo os ditadores e assassinos que possam surgir, mas sim as suas capacidades de arregimentar e de transmutar as personalidades de muitos que até ali se enquadravam nas regras morais e sociais comuns.
P.S.
Esqueci-me de aludir ao vídeo de Brel... "Aquelas pessoas, meu caro Senhor, não pensam, não pensam... eles rezam"
É preciso pensar e quando se rezar que seja a um Deus.
;)
Nem por isso. Matar faz parte do património antropológico da espécie, a civilização somente foi acrescentando motivações mais complexas. A motivação ideológica, seja religiosa ou política, substituiu as motivações simples da fome, do medo, do desejo ou da defesa. A grande maioria dos genocidas da história passariam como mentalmente sãos num diagnóstico clínico.
Lord of Erewhon
Não penso que alguém aja sabendo que está a fazer mal. Há muitos que se conseguem anestesiar em nome de um "bem".
É fácil arrastar outros quando esse bem é a colectividade, nós. É fácil tratar mal, e matar, quando o mal são os outros que estão contra o nós. Não há individualidade e a culpa exige-o. Todos matam todos, surge sem rosto, sem culpa, sem vítimas.
Enviar um comentário