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sábado, 22 de novembro de 2008

Alguém arrisca fazer uma previsão?

Completa-se agora uma semana que escrevi aqui no 4R uma breve reflexão sobre o beco sem saída a que chegou o conflito que opõe o ministério da educação e os professores, deixando no ar a interrogação sobre como seria possível corrigir o braço de ferro da ruptura a que se chegou. Tudo o que escrevi se mantém válido e intacto.
Num dos comentários ao texto, o nosso Caro Manuel, escrevia: Neste conjunto de respostas, a Drª Margarida Aguiar referiu algo que considero ser uma verdade insofismável: todos temos culpas no cartório. Não posso estar mais de acordo. Culpas que até podem dever-se a omissão, mas sempre culpas. Este reconhecimento, e o reconhecimento de que todos somos devedores de interesse e de intervenção, poderá ajudar a desbloquear impasse e encontrar caminhos. Se todos reconhecerem as suas, ou pelo menos não andarem permanentemente a acentuar as culpas dos outros, talvez venha a haver (...).
Com efeito, numa situação de crise aberta de difícil resolução em que as partes estão em posições extremadas e irredutíveis, intransigentes nos seus pontos de vista, não querendo prescindir dos seus objectivos e das suas razões, o que se esperava é que não incendiassem acusações e não acentuassem culpas, não radicalizassem o essencial das suas posições, não entrassem por um caminho de ameaças e sobretudo não as verbalizassem, não as gerissem mediaticamente ao segundo. Seria, ainda assim, de esperar (ou não!), recato e descrição nas palavras, nas mensagens e nos comunicados e, a bem dizer, algum silêncio ao longo do processo negocial. Mas, não, passou-se exactamente o contrário. Para quem queria complicar uma situação, já de si, muito difícil não há dúvida que conseguiu!
O ministério da educação veio apresentar um regime “simplex” da avaliação do desempenho, evitando uma perda política pesada e ao mesmo tempo jogando na bondade da apreciação da opinião pública sobre a abertura e a boa vontade do governo em colaborar para uma solução que não prescinde de aplicar aos professores um sistema que gradualmente se vai generalizando.
Os sindicatos e os professores mantiveram as palavras de ordem de suspensão do sistema, condição sine qua non para voltarem à mesa das negociações com o ministério da educação.
A nova versão light da avaliação do desempenho não agradou nem convenceu os professores, para o que terá contribuído o tom crispado da ministra da educação e a imagem antipática de detentora de toda a razão, fazendo passar a mensagem de mudanças não para mudar mas antes para pouco ou nada mudar.
Os sindicatos partiram para mais esta etapa imbuídos de uma vontade de aproveitar o momento de crispação para reforçar o seu poder político, de levar a confrontação até às últimas consequências, numa lógica do tudo ou nada, e os professores descontentes com as “reformas” cerraram fileiras contra a ministra da educação, não reconhecendo no novo “simplex” a solução para muitos dos problemas da educação, os seus, os dos alunos e os da escola.
O “pugilato” político com que fomos brindados esta semana denota, por um lado, uma probabilidade cada vez mais reduzida de inversão da marcha e, por outro lado, que o sistema de educação precisa efectivamente de ser reformado.
E a pergunta inicial mantém-se sem resposta: Como sair do beco sem saída? Mas outras perguntas também carecem de resposta: Como é que vamos conseguir investir na qualidade da educação? O que podemos esperar? Alguém arrisca fazer uma previsão?

20 comentários:

Fartinho da Silva disse...

Este ministério e o Primeiro Ministro acharam que podiam fazer todas as afirmações populistas que entendessem durante o tempo que quisessem sobre os professores e as escolas, os professores foram enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, enchendo, até que... o saco rebentou!

Hoje, os sindicatos apenas tentem acompanhar a surpreendente (mesmo para eles) revolta dos professores. Os sindicatos só perceberam a dimensão do problema, quando os professores começaram a marcar uma grande manifestação em Lisboa para o dia 15 de Novembro, através de SMS, emails, blogs. páginas pessoas, etc.. Nesse momento os sindicatos tiveram que rapidamente organizar uma manifestação em Lisboa para dia 8 de Novembro de forma a esvaziar a primeira.

Acho que muito pouca gente tem a noção perfeita do que se passa no sector público do ensino. Os professores estão completamente atolados em burocracia inútil para o seu trabalho - ENSINAR. Os professores, hoje, trabalham para justificar o emprego de terceiros e a existência do monstro burocrático e esfomeado de recursos públicos e dos seus inúmeros tentáculos, oficialmente conhecido como Ministério da Educação.

Esta Ministra não representa o futuro, representa apenas e só o passado bolorento, burocrático e centralizado.

O ensino precisa de regressar às escolas o mais depressa possível, os professores necessitam de voltar a ensinar, os alunos necessitam voltar a estudar e os pais necessitam de voltar a educar. São estas as reformas necessárias, tudo o resto é conversa para manter os empregos e o poder do gigantesco monstro sediado na 5 de Outubro e de todos os seus inúmeros tentáculos.

Enquanto estas reformas não acontecerem, os problemas neste sector tenderão a agravar-se ano após ano.

Bartolomeu disse...

A minha previsão é simplista:
Aquilo que começou por ser um "beco", transformou-se por acção das pressões e resistências dos agentes envolvidos, em "funil".
Dentro deste funil, revolvem-se duas massas consistentes e antagónicas, que se revelaram de igual poder desde que o primeiro ministro manifestou o seu apoio, à sua ministra. Então, assistimos neste momento a uma revolução dentro do funil em que nenhuma das duas massas tem a força suficiente para fazer passar a outra pelo buraco apertado do funil.
Ora bem, como as eleições estão para breve e as sondagens ainda dão uma relativa vantagem ao actual primeiro ministro, as continhas do governo devem ser estas: Aguentar a actual situação, quanto muito ir demonstrando alguma vontade de dialogar e de chegar a um acordo, até ver como é que vão decorrer as eleições. Se uma nova maioria acontecer... então nessa altura, vai ser como a menina Lurdes entender e "é para amigos".

Anónimo disse...

Eu arrisco, Margarida.
Ministério e sindicatos chegarão a um acordo por estes dias.

nelio sousa disse...

Viva.

Sugiro Entrincheirados, PSD não é alternativa e PSD não é laternativa 2, porque é ainda mais radical nas propostas para a Educação.

Cumprimentos.

Rui Fonseca disse...

Qualquer sistema de avaliação terá de conter um sistema de quotas consoante uma distribuição normal.

Sem quotas, todos serão excelentes ou bons.

O problema duro está nisso.

Até lá haverá discussões que resultarão num modelo aceitável pelos sindicatos.

Depois, quando se colocar o verdadeiro problema, não sei.

Rui Fonseca disse...

Qualquer sistema de avaliação terá de conter um sistema de quotas consoante uma distribuição normal.

Sem quotas, todos serão excelentes ou bons.

O problema duro está nisso.

Até lá haverá discussões que resultarão num modelo aceitável pelos sindicatos.

Depois, quando se colocar o verdadeiro problema, não sei.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Fartinho da Silva
O problema que se coloca é o de saber como fazer "regressar o ensino às escolas", envolvendo professores, alunos e pais. Há uma grande desmotivação por parte dos professores, os alunos precisam de ser recentrados na vontade de aprender e estudar, na disciplina e na exigência e os pais devem ser uma parte mais activa na educação dos filhos envolvendo-se mais activamente na escola.
Enquanto se mantiver o regime de gestão centralizada da educação, a partir da 5 de Outubro, de tudo estabelecer e ditar os problemas vão continuar. Estou totalmente de acordo, Caro Fartinho da Silva, com a necessidade das reformas que aponta. Trata-se, a meu ver, de repor a normalidade na educação. O sistema de avaliação do desempenho não é o grande problema. É uma distracção!

Caro Bartolomeu
Gostei da imagem do funil!
A educação transformou-se num palco de forças e pressões políticas. O risco de "politização" da educação era elevadíssimo e aconteceu mesmo. Fazer depender as reformas da educação de eleições é uma fatalidade, que infelizmente se vai repetindo. Assim não vamos lá!
E se o funil não aguentasse a pressão e rebentasse pelos lados?

José Mário
Fiquei curiosa de saber em que concordarão o ministério da educação e os sindicatos. Será que os sindicatos ainda representam os professores?

Caro Rui Fonseca
Penso que o problema está muito para além do sistema de avaliação do desempenho, em que o sistema das quotas é apenas um parâmetro de entre outras questões, a começar pelo modelo.
Sobre o sistema de quotas o caderno de economia do Expresso deste Sábado publica um texto com o título "Avaliação das Quotas" assinado pela Professora Fátima Barros cuja leitura recomendo. Aí é afirmado por exemplo que " O grupo que beneficia da existência de quotas vai ter vantagem (...) Quando isso acontece, a selecção pelo mérito é posta em causa e perde transparência uma vez que as quotas introduzem uma distorção no processo. A existência de quotas é também um sistema que não tem maturidade para conseguir seleccionar de acordo com o mérito e, por isso, precisa que o regulador defina quotas para garantir diversidade”.
Mas, Caro Rui Fonseca, qual é afinal o “verdadeiro problema” com que remata o seu comentário?

Rui Fonseca disse...

"qual é afinal o “verdadeiro problema” com que remata o seu comentário?"

O verdadeiro problema, suspeito, é precisamente o problema das quotas.

Porque qualquer sistema será considerado bom pelos professores desde que não haja restrições ao número dos que podem ser considerados excelentes ou bons. E serão, se não houver quotas, quase todos. Aliás, como até agora. Daí que metade já esteja colocada no topo da carreira.

Evidentemente que, para além das quotas para professores, deveria haver uma avaliação das escolas subordinada a quotas segundo uma distribuição normal.

Tal avaliação, do meu ponto de vista, deveria atender a um conjunto de circunstâncias relevantes (sucesso escolar, ambiente social da escola, evolução nos últimos anos, etc.) e ser realizada por uma comissão mista de inspectores e representantes das escolas, sorteados anualmente.

Porque o modelo do ministério poderia evoluir para um consenso se houvesse da parte dos sindicatos interesse nisso.

Aos sindicatos, contudo, não nos iludamos, interessa a confrontação, porque essa é a receita mais eficaz para os seus dirigentes se perdurarem no cargo.

Entretanto, os sindicatos da administração pública, os únicos que mobilizam porque o desemprego não atormenta os funcionários públicos, andam de braço dado com os comunistas nesta tarefa, que os alimenta, de tentarem abalar todas as tentativas de reforma.

Dizendo isto, não digo que considere que todas as propostas na área da saúde, da educação, da justiça, etc. são boas. Como apartidário, o que me indigna é a falta de capacidade ou o excesso de umbiguismo, para concertar estratégias de reforma.

Evidentemente que se passamos a vida a puxar cada um a brasa à sua sardinha nunca mais teremos o peixe assado.

Foram atitudes destas que levaram a Primeira República ao fundo.

Precisamos de uma Quarta República?
Talvez. Mas repudio com todas as minhas forças que isso tenha de acontecer após seis meses de ditadura.

Sem ironia.

Adriano Volframista disse...

Cara Margarida Aguiar

Respondendo directamente à pergunta arrisco que não vamos ter acordo: a Ministra mantêm esta avaliação e os Sindicatos querem outra. Na próxima 6º vamos continuar o diálogo de surdos, porque, desde a semana passada que o importante é nâo perder nem, a face nem, o apoio junto da opinião pública; acessoriamente, acabar com a maioria absoluta do PS.

Agora, três notas:
Se estava mal, porque demorou um ano a reconhecer? Se estava mal, porque não começaram com um projecto piloto?
Se a avaliação é a alavanca para as outras medidas: quotas e resultados, porque não usaram um esquema que estava em funcionamento, impedindo a contestação, de professores e sindicatos'
Por último, desde quando a avalição pelo pares, com efeitos limitadores no acessoa a regalias, vai aumentar a qualidade e legitimar as escolhas?
Cumprimentos
João

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Rui Fonseca
Tenho muitas dúvidas, que já aqui expressei nas conversas que temos tido sobre este assunto, que o verdadeiro problema sejam as quotas. Admito que os sindicatos mão queiram quotas, defendendo assim o primado da (falsa) igualdade. É tudo corrido a Muito Bom e Bom. Penso, contudo, que no que diz respeito ao sistema de avaliação do desempenho o problema esteja no modelo. Por exemplo, que sentido faz avaliar o trabalho dos professores com base no sucesso escolar? Trata-se de um critério perverso em que ao fixar-se um determinado objectivo de resultados para os alunos sem conhecimento prévio sobre quem são - a incerteza é um dado, a que acresce o facto de que os alunos não são todos iguais - está-se a dizer que independentemente do nível de aprendizagem efectivamente obtido o objectivo vai ser, ex-ante, cumprido. Não faz, a meu ver, qualquer sentido.
Concordo, Caro Rui Fonseca, com o seu apontamento sobre a "confrontação" que move os sindicatos. Tenho para mim que a falta de capacidade e competência técnica impede muitas vezes a discussão inteligente e proveitosa, porque o ataque e a política do "contra" são actuações bem mais fáceis para quem não quer mudanças e não quer ceder hoje para amanhã colher frutos. A ideia de poder está muito colada ao curto prazo!

Caro joão
A sua previsão é bem possível que se verifique, até porque havendo um "acordo" poderemos estar na presença de um acordo de desacordo, em que ambas as partes acordam por um tempo calar-se como que por milagre.
Sobre a implementação do sistema de avaliação do desempenho fosse ele qual fosse, o gradualismo teria sido preferível, apesar dos inconvenientes. Um sistema totalmente novo, a par com outras reformas também em curso e a adoptar, uma grande heterogeneidade de escolas, a existência objectiva de falta de requisitos mínimos em algumas escolas para avançar, entre outras realidades, aconselharia prudência na implementação universal do sistema.
O gradualismo poderia passar, entre outras hipóteses, pela adopção de pilotos, em regime de voluntariado, que serviriam de teste, mas também, se as coisas corressem bem, de bom exemplo, ajudando ao aparecimento de seguidores.
Seria, porventura, uma forma de "ganhar" os professores e de conter os sindicatos de saltarem para a rua a manifestarem-se contra.

Arnaldo Madureira disse...

A avaliação dos professores termina com a atribuição de uma menção qualitativa: excelente, muito bom, bom, regular ou insuficiente. As menções de excelente e de muito bom estão, posteriormente, sujeitas a quotas. Caso não possa haver tantos excelentes e muito bons, terá de ser falseada a avaliação para respeitar as quotas obrigatórias. Caso haja poucos, terá de ser falseada a avaliação para respeitar as quotas obrigatórias. Os professores não têm culpa de o governo ter feito tudo em cima do joelho. Mas, já agora, que importância têm as quotas? Por acaso impedirão algum professor de progredir? Não, porque para progredir basta ter a menção de bom, que não tem quota. As quotas só decidem quem progride antes do período normal: por exemplo, ao fim de 4 em vez de 5 anos. Já há algum tempo tinha sugerido que lessem as leis antes de opinarem.

Rui Fonseca disse...

"Mas, já agora, que importância têm as quotas? Por acaso impedirão algum professor de progredir? Não, porque para progredir basta ter a menção de bom, que não tem quota."

Assim sendo, e enquanto assim for, a avaliação não fará muito sentido porque quase todos serão bons.

Rest saber se será sempre assim.

Fartinho da Silva disse...

Deixo aqui uma carta de um professor do "ensino" público que resume bem o problema. Enquanto as pessoas não perceberem o REAL problema dos professores, continuarão com a cassete, não do PCP, mas do PS. Enfim...

Mas antes, tenho a dizer que alguns dos melhores professores já FUGIRAM da escola pública, continuam a FUGIR e continuarão a FUGIR. Portanto é tempo de se perceber de vez o problema e parar de assobiar para o lado.

Bom, aqui vai a tal carta:

"- Para quem “está de fora”, a questão da “avaliação” e o que lhe está a montante, ou seja, o novo estatuto da carreira docente, são as causas mais visíveis da nossa luta. Mas não se deixem iludir…Para muitos professores, como eu, isso não é sequer o principal.

- O principal é estarmos cansados por anos de burocracia absurda que o ministério nos impõe e à qual não vemos utilidade prática na melhoria do ensino que praticamos. E estamos confusos…Dois exemplos:

1) O “Plano Nacional da Matemática foi uma boa medida. Mas, seriam necessários anos para avaliar das suas reais implicações no combate ao insucesso à disciplina. A meio do processo, o Ministério cansou-se de esperar e decidiu baixar, nitidamente, o nível de exigência nas Provas de Aferição e nos Exames Nacionais.
Desta forma, jamais saberemos sobre o real impacto do dito Plano ou de qualquer outra estratégia aplicada nas nossas aulas. Quando o nível de dificuldade das provas nacionais não é constante ao longo dos anos, que tipo de conclusões se poderá retirar destes processos?

2) No ano passado uma amiga minha, que lecciona Química numa secundária, teve um ano difícil com os pais dos alunos de uma das suas turmas. Os pais acusavam-na de ser “demasiado” exigente. Ela limitou-se a exigir de acordo com os níveis de exigência do exame da disciplina do ano anterior e com o nível esperado destes alunos, futuramente, numa universidade.
No final desse ano lectivo, o nível de exigência do exame foi claramente inferior ao do ano anterior. Para os pais a conclusão foi fácil: tinham razão, a professora era muito exigente.

- A questão é apenas esta: o que espera o ministério de nós, rigor ou facilitismo?

- Há depois ainda coisas aberrantes, como uma nova prova para ingressar na profissão de professor.
Claro que há coisas erradas nos cursos para professores. Mas não se pode escolher o caminho mais fácil. Reformulem esses cursos, aumentem o grau de exigência para entrar nos mesmos e na respectiva exigência.

Mas não se pode passar um atestado de completa incompetência às universidades. Os professores começam a dar aulas, após um ano de estágio onde foram avaliados por orientadores científicos e pedagógicos, na própria escola e na universidade.
Se o governo considera que após 3 ou 4 anos de estudo e um ano de estágio é uma simples prova que permitirá aferir quem, de entre todos esses candidatos, reúne condições para ensinar, a conclusão é fácil de tirar: o ministério da educação não confia nas universidades portuguesas!

A partir deste exemplo poderia ainda retirar outro para a minha prática docente: não vale a pena passar um ano a avaliar, de forma contínua, um aluno. Basta fazê-lo numa simples prova no final de cada ano para ver se é capaz. Acabe-se com a avaliação contínua!

- O ano passado tive uma inspecção na minha escola. Não assistiram a nenhuma aula. Poderia ter sido interessante, poderiam ter dado sugestões para melhorarmos.
Também não se referiram às nossas actividades extra-curriculares. É pena, ficámos sem saber se são, ou não, suficientes.
O que os incomodou foram os papéis…Ou a falta deles. As actas tinham que ser mais detalhadas; os parâmetros de avaliação dos alunos que, em certos casos, já têm dezenas de componentes (alguns das quais de quase impossível medição) deveriam ser ainda mais descritivos.

Parece que avaliação, de alunos e professores, é a causa única do ensino. Parece quase como se a avaliação fosse um fim em si mesma.

- Quanto mais perto as escolas estiverem das comunidades, mais as pessoas sentirão como “sua” a escola e melhor será a “cultura de escola”. Não num sentido corporativista, mas no sentido das pessoas se sentirem sintonizadas com a comunidade na qual estão inseridas.

- Ultimamente, tenho-me lembrado de um episódio da saudosa série “Sim, sr. primeiro-ministro”. Nesse episódio, sobre os problemas do ensino na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro chegava à conclusão que para resolver os ditos problemas, bastaria acabar com o ministério da educação! Claro que o seu manipulador secretário acabou por o convencer do contrário, a bem do “funcionalismo público”…

Creio que o principal problema da ministra é não perceber que a nossa “guerra” não é com ela, mas sim com anos de políticas erradas e “burocratizantes” do ministério da educação… Esta avaliação foi apenas a “gota que fez transbordar o copo”.

Por tudo isto não estou optimista. Esta avaliação e esta ministra estão a prazo. Mas o “monstro”, o verdadeiro “monstro”, vai continuar a debitar decretos-lei atrás de decretos-lei do mais fundo da 5 de Outubro…Tudo o que nos liberte do “polvo asfixiante” da 5 de Outubro, que há muitos anos nos sufoca com burocracias que não entendemos mas que aceitamos ser pestanejar, só poderá ajudar a que sejamos mais felizes…

- Por fim, a Sr.ª ministra…Numa relação, pessoal ou profissional, a confiança é tudo…Não se pode respeitar alguém em quem não se confia!
Os professores já não confiam nesta ministra. Receio que ela nunca tenha confiado em nós…

Sou dos que, genuinamente, acreditou em Maria de Lurdes Rodrigues! Acreditei que uma nova era de rigor tinha chegado ao ministério, que teria suficiente força e clarividência para cortar com a “lógica da 5 de Outubro” e enfrentar de frente os problemas do ensino.

Por tudo isto, a minha desilusão foi ainda maior. Da sua parte, nunca tivemos uma palavra de incentivo. Os bons professores, ou seja, a maioria de nós, nunca encontrou uma palavra de ânimo e de estímulo no seu discurso.

Fomos sempre tratados por igual, como uns preguiçosos incompetentes. Maria de Lurdes Rodrigues não percebeu, continua sem perceber, que estar do lado dos professores não é estar contra os alunos, pois o seu sucesso é a nossa única razão de existir.

Elegeu-nos como inimigo, sem perceber que sem ter do seu lado a maioria dos professores, os profissionais dignos que todos os dias se esforçam em centenas de escolas, nenhuma reforma poderia ter sucesso…

Não compreendeu o mais básico e elementar: que os seus principais aliados deveriam ser todos os profissionais dignos que, num dia já distante, nela vislumbraram um réstia de esperança para mudar o estado das coisas.

Foi por não ter compreendido isto que Maria de Lurdes Rodrigues perdeu!

Ela, de facto, já não é a nossa ministra da educação. Pode permanecer no cargo por mais 4 anos e pode mesmo conseguir que as pessoas façam o que ela quer por medo de represálias.

Mas pela razão jamais conseguirá algo de nós. Como aquelas relações amorosas que se arrastam durante anos, em que as pessoas não se suportam, em que as pessoas nada têm em comum, em que as pessoas são infelizes…Por inércia, por medo, por mil e uma razões, estas relações podem durar anos. Mas não deixam de ser aquilo que são: relações sem futuro!

Assim é a nossa relação com a Sr.ª ministra. É altura de alguém dar um passo…

É pena pois, a sua saída, não é uma vitória de ninguém. Não enquanto o “monstro” continuar vivo na 5 de Outubro…”"

Rui Fonseca disse...

Leio esta última mensagem, e continua a perguntar-me:

Porque razão todos os ministros da educação são assim tão maus?

Porque o ministério é um monstro que debita leis, umas atrás das outras, numa diarreia interminável?

Por outro lado, ouço dizer constantemente que as razões do nosso atraso endémico residem na falta de reformas estruturais.

Uma dessas, hélas!, a da educação.

Isto é, outras leis, portanto mais leis.

Mas não vejo, nem da parte dos professores nem dos sindicatos, propostas concretas de reformas
consensuais.

O que vejo são, geralmente, reivindicações corporativas.

Na educação, na defesa, na justiça, na saúde, etc.

Perplexidades de um apartidário.

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui Fonseca:

"Mas não vejo, nem da parte dos professores nem dos sindicatos, propostas concretas de reformas"

Essa é a cassete do partido socialista.

Repare na incongruência de tal cassete: se por acaso o caro Rui Fonseca pedisse a intervenção de um canalizador para resolver um problema numa torneira de sua casa e esta ficasse pior, o que faria? Talvez telefonasse a dar conta de tal resultado e não estaria com toda a certeza à espera de uma resposta deste tipo: "Se o senhor não gostou do serviço, forneça-me uma alternativa".

Este discurso da alternativa é espantoso pelo enorme nível de sofismo, demagogia e populismo nele contido. Como o caro Rui Fonseca quer que 140000 professores apresentem uma alternativa? Deve achar que os 140000 professores pensam todos da mesma forma, defendem todos os mesmos princípios, etc., etc.. Por outro lado, os professores deveriam ser professores (que grande heresia para a 5 de Outubro) e não políticos.

Nós pagamos os salários e demais proveitos a ministros para que resolvam os problemas e não é seguramente para lhes resolvermos nós os seus problemas....

A única coisa que os professores podem e devem fazer é denunciar o que REALMENTE se passa neste sector, e apresentar as suas convicções sobre esta matéria. E é isso que tem sido feito desde 1992! O problema é que as VERDADEIRAS reformas são demasiadamente impopulares....

Rui Fonseca disse...

"Deve achar que os 140000 professores pensam todos da mesma forma, defendem todos os mesmos princípios, etc., etc.. "

"A única coisa que os professores podem e devem fazer é denunciar o que REALMENTE se passa neste sector, e apresentar as suas convicções sobre esta matéria."

Diferentes, segundo disse.

Como é que se pode ser prior numa freguesia destas? Que convicções afinal? As suas ou as do parceiro do lado? Se forem as suas, fica v. satisfeito e zangado o do lado.

Não quero, contudo, acreditar que os professores não saibam o que essencialmente os une nesta guerra.

Diz-me o professor Arnaldo Madureira que " que importância têm as quotas? Por acaso impedirão algum professor de progredir? Não, porque para progredir basta ter a menção de bom, que não tem quota."

Ora se assim é, se os bons são em quantidade não condicionada, as progressões na carreira continuam garantidas.

Ou não será assim?

Se a ministra já introduziu o simplex na avaliação, o que é que está agora em causa?

A terminar: Não penso que reclamar alternativas seja uma ideia "socialista", mas um sentimento muito generalizado entre quem pensa sobre o que se passa à volta.

A política é um assunto demasiado sério para ser deixada aos políticos. A democracia implica a participação de todos, ainda que essa participação possa, eventualmente, fazer com que, eventualmente, nos atropelemos nos nosso próprios erros. Temos, contudo, em democracia, sempre a oportunidade de nos levantarmos e arrepiar caminho.

A democracia é uma aprendizagem. Coitados os que esperam que os políticos lhes resolvam os seus problemas apenas pela troca dos seus votos.

Arnaldo Madureira disse...

Caro Rui Fonseca

As escolas são entidades sem hierarquias intermédias. Há os professores e o Conselho Executivo. A escola onde trabalho tem 240 professores e o Conselho Executivo com 3 membros. Aceito que o Conselho Executivo avalie o meu desempenho, se quiser fazê-lo.

Entre o Conselho Executivo e os professores há uma coisa um bocado indefinida: os coordenadores dos departamentos. Os coordenadores dos departamentos são uma espécie de pombos correios que voam entre o Conselho Pedagógico e os professores do departamento. Estou convencido que os coordenadores dos departamentos vão evoluir para o desempenho de funções hierárquicas próprias, assumindo a responsabilidade de COORDENAR OS PROFESSORES DO DEPARTAMENTO. Esta avaliação incumbe-os de avaliar os professores. Se isto vier a acontecer, aceito que o coordenador do departamento me avalie.

O coordenador do meu departamento terá de coordenar 70 professores. Da forma como o governo definiu a avaliação do desempenho dos professores o coordenador não será capaz de avaliar os 70 professores. Pura e simplesmente, não terá tempo para o fazer. Então, o governo permitiu-lhe delegar a competência de avaliador. Em quem? Em professores titulares. Isto, eu já não aceito, porque os professores titulares, excepto o coordenador do departamento, têm as mesmas funções que eu tenho. Seria como um aluno ser avaliado por um colega da turma. Também os próprios professores titulares iriam ser avaliados por outro professor titular que tem real e exactamente as mesmas funções que eles e todos os outros professores.

Lembro que no concurso para professores titulares não houve prova de mérito ou de capacidade para a realização das funções específicas dos professores titulares.
Como não há avaliação dos professores, não se sabe quem tem mais mérito, nem quem tem melhor - ou, sequer, se tem - capacidade para realizar as funções específicas dos professores titulares. Logo, o concurso para professores titulares não foi um concurso, foi como um sorteio da lotaria. E isso está atravessado no fígado de todos os professores.

Não temos culpa que o governo tenha pensado mal na implementação da avaliação do nosso desempenho.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Arnaldo Madureira
Partilho da perplexidade que nos descreveu. A juntar à situação descrita, outras há igualmente absurdas. Como pode um professor com experiência profissional ver o seu trabalho avaliado por um professor em início de carreira e sem responsabilidades de chefia em áreas disciplinares totalmente distintas? Parece que esta situação é frequente.
Conheço um caso de uma professora de língua italiana a quem foi determinado que seria avaliada por um professor que recentemente começou a leccionar música, que inclusive foi seu aluno. A professora que já tinha condições para se reformar, meteu os papéis e já está aposentada. A escola pública ficou mais pobre porque perdeu uma pessoa talentosa!

Rui Fonseca disse...

Caro Arnaldo Madureira,

Antes de ler o seu comentário escrevi no meu blog o seguinte:

"EVIDENTEMENTE"

"Professores recentram a luta no estatuto da carreira docente "(DN, de hoje)


Tenho vindo a referir aqui no Aliás, e em comentários em outros blogs, nomeadamente no Lóbi e no Quarta República a minha suposição de que o que está verdadeiramente em causa na rebelião dos professores não é, nunca foi, aliás, o processo de avaliação de desempenho mas o estatuto da carreira docente e, muito sobretudo, o problema das quotas.
.
As declarações de Iídio Trindade, do "Movimento mobilização e unidade dos professores" ao Diário de Notícias de hoje, confirmam o que tenho repetidamente dito. Diz I Trindade: "Enquanto houver este estatuto da carreira, não haverá serenidade nas escolas,... Os principais problemas continuam a ser os que resultam do Estatuto da Carreira Docente, ou seja, a divisão dos docentes e a avaliação pelos pares e as quotas. Foi aqui que o problema começou. É isto que é mais injusto e incongruente."
.
Habituados durante décadas a trabalhar numa estrutura plana, a maioria dos professores rejeita qualquer alteração à ausência de controlo e diferenciação. É um caso típico de aversão à mudança que, por envolver cento vinte mil professores, seria melhor ultrapassado se fosse repartido: uma comissão bipartida, envolvendo representantes, sorteados anualmente, das escolas e de inspectores do ministério, avaliaria as escolas, atribuindo-lhes recompensas consoante o cumprimento dos objectivos; as escolas classificariam os seus docentes (por avaliação dos pares ou pelo conselho directivo) para uma distribuição normal das recompensas atribuidas a cada escola.
.
Como referi aqui no Aliás, há muito tempo, é virtualmente impossível realizar uma avaliação de desempenho envolvendo um universo de cento e vinte mil profissionais de forma centralizada quando não existe uma hierarquia efectiva nas escolas e, pelo contrário, existe uma ausência de controlo de décadas."

Salvo melhor opinião.

emn disse...

A função dos professores é ensinar. A função do Ministério em relação a estes deveria ser verificar se estão a cumprir a sua «missão». Como? Verificando se os alunos «aprenderam» - Exames.
Não é vendo uma, duas, três aulas, não é verificando se preencheu os papeluchos todos, se fez relatoriozitos de tudo e mais alguma coisa. Não é, essencialmente, definindo o COMO ele deve «ensinar».

Mas tem sido essa a função do Ministério? Não. Determina cada passo organizacional, o número de alunos por turma, TUDO até ao mais ínfimo pormenor. O essencial, se os alunos aprendem ou não, é irrelevante. Até se baixa o nível de alguns exames para «parecer» que se deveu a eles.

É muito triste toda a hipocrisia, mentira e esta farsa que se vive no Ministério da Educação e em que alguns continuam a acreditar. A começar, claro, pela «invenção» de «avaliadores» dos professores numa espécie de lotaria sorteada entre eles próprios.
É tudo uma grande anedota que por enqunto ainda não me faz rir.