1. Nos últimos dias têm chovido as críticas e as manifestações de desagravo, de vários quadrantes e sectores patrióticos, contra supostas declarações recentes do Comissário J. Almunia que terá ousado equiparar a situação de Portugal à da Grécia.
2. Estas críticas e manifestações de desagravo seguem-se às que foram dirigidas às agências de “rating” – num registo algo contraditório, na medida em que os críticos enfatizavam ao mesmo tempo a falta de credibilidade dessas maldosas instituições...o que justificaria, a ser verdade, não nos preocuparmos com a sua opinião...
3. Iguais manifestações de repúdio atingiram os mercados, pelo seu comportamento especulativo, rejeitando comprar dívida pública portuguesa ao preço desejado pelo emitente...esquecendo que nisto dos empréstimos em mercado, a taxa tem de reflectir a procura e a oferta de dívida – se a oferta é muito alta, a taxa não pode deixar de reflectir essa realidade, se o emitente tem real necessidade de vender os títulos...
4. Mas as mais violentas e patrióticas declarações têm agora como alvo o Comissário Almunia, que já ouviu duras reprimendas do Presidente da República, de um dos mais “talentosos” comentadores económicos de fim-de-semana, da AEP, da AIP, de várias corporações de bombeiros e associações recreativas e culturais, culminando hoje num comunicado público muito violento da Associação de Municípios Portugueses, reclamando a demissão de Almunia...
5. A luta continua, Almunia para a rua!
6. Esta triste situação faz-me recordar as manifestações de desagravo da minha juventude, quando se organizavam “manifestações de desagravo” sempre que os inimigos externos nos desconsideravam mais ou menos violentamente – organizadas pelas diferentes corporações da época fervorosas defensoras do regime democrático...
7. Estamos a voltar 40 a 50 anos atrás - a história repete-se - só mudam os inimigos externos, dos actuais tampouco se falava na época (quase não havia dívida pública externa, há que reconhecer).
8. Almunia deve ter por esta altura “as orelhas a arder” e certamente pensará duas vezes na próxima oportunidade que tiver de pronunciar-se sobre Portugal...o seu lugar estará mesmo em risco, depois deste comunicado da AMP...
9. A que estado chegamos!
18 comentários:
Caro Tavares Moreira,
O Almunia está a tentar tirar a Espanha do bolo, está a fazer o seu papel. Tomara nós que o presidente da comissão fizesse o mesmo. Valeu bem a pena estar a apoiá-lo, sim senhor...
Caro Tavares Moreira
Neste momento não temos dívida, não temos défice, nem vamos pedir cerca de € 54 mil milhões, (parte de antiga dívida, parte nova dívida) durante o corrente ano....
Neste momento não existe a internet, tv por cabo, não temos 10milhões de turistas, nem existem perto de 50.000 ingleses residentes no Algarve;
Neste momento, não estamos na União Europeia, não participamos no euro e a liberdade de circulação é uma miragem longínqua......
Em que parte da"terra do nunca" vive esta gente ???!!!????
Cumprimentos
joão
Não me digam que ressuscitaram os SUV - Soldados Unidos Vencerão, agora de fato e gravata, reincarnados em autarcas!
Pois é, meu caro Tavares Moreira, se o ridiculo pelo menos aleijasse...mas não, e porque o padrão do que é sério se desviou de há uns tempo para cá, parece que nenhuma instituição escapa ao que parece ser uma das maiores ondas de insanidade de que há memória.
Tonibler,
Comentário bem ácido, o seu...
Embora não creia que Almunia tivesse intenção tão evidente de separar a Espanha dos PIIGS, até porque o sucesso de tal tentativa seria igual a zero...
Caro João,
Boa pergunta, a sua...confesso-lhe que não entendo em que mundo estes nossos ilustríssimos cidadãos se colocam, com estas iniciativas de mau gosto e de puro folclore político...para luso ouvir - mas será que alguém ainda dá crédito a estas atitudes de nacionalismo inconsequente e inconveniente?
Caro F. Almeida,
Tem toda a razão, na minha opinião.
Em especial o comunicado de hoje da AMP excede largamente os limites da falta de senso...irá na cabeça desta gente que conseguem fazer-se ouvir em qq outro lado do mundo que não seja em suas próprias casas?!
Caro Tavares Moreira
Acho que a Sociedade Portuguesa está imbuída de um "republicanismo exarcebado". Nada como em pleno ano do centenário se recriar a "indignação" do ultimato Britânico de 1889.
À falta de força e soluções, abrem-se as goelas.
Caro Tavares Moreira,
sabe aquela dos dois sujeitos a fugir do leão em que um diz que não precisa correr mais que o leão, só precisa de correr mais que o outro? A Espanha não precisa de estar bem, só precisa de dar a entender que está melhor que os outros. E o Almunia, como já fez algumas vezes no passado, na hora do aperto é espanhol.
Por isso, o puxar de galões do PR até foi bom, embora demasiado educado. Devia ter achincalhado o Almunia ao ponto do mundo passar a duvidar da competência dele. É que nós também só precisamos de correr mais que o outro...
Às vezes esta nossa querida terra lembra-me aquelas famílias que andam sempre à zaragata uns com os outros mas quando vem alguém de fora pontar-lhes os defeitos e dizer-lhes que se portem bem viram-se do avesso e unem-se contra o intruso.Quem sabe se a estrat+egia resulta? E, bem vistas as coisas, não precisamos de mais puxões de orelhas, a menos que tragam ajuda, se é para deitar abaixo, para mal já basta assim...
...apontar-lhes...
Caro Bonifácio,
Bom ponto, o seu!
Caro Tonibler,
Permita-me que volte a insistir na ideia da absoluta inutilidade das declarações de Almunia como factor de pacificação dos credores...
A cotação da dívida espanhola ao longo dos últimos dias - bem como a declaração do Presidente da Fitch Ratings, ontem - mostram à saciedade tal inutilidade.
Caríssima Susana,
Quero dizer-lhe, com toda a franqueza, que estas manifestações de "morte ao mensageiro", caso sejam escutadas pelos credores (o que não tenho por certo), só poderão ter como efeito agravar a nossa situação.
Os credores não gostam, naturalmente, de ver um devedor indisciplinado rejeitar ou indignar-se com as chamadas de atenção para o risco que o mercado lhes atribui.
Na ausência de medidas sérias de combate aos desequilíbrios económicos e financeiros com que nos defrontamos - ou acha mesmo que estão sendo tomadas? - estas manifestações de indignação sinalizam uma enorme dificuldade em assumir a 1ª condição para a solução de qq crise: reconhecer que ela existe.
Caro Tavares Moreira
Tem razão, perorar contra os mensageiros tem o mesmo efeito que culpar os canários pelas explosões das minas.
Os gregos, começando pela classe política e, de seguida pelos eleitores começam a compreender quais as questões verdadeiramente fundamentais que se jogam neste ano.
Um saudável egoísmo tem de ser anulado quando passa a insensatez. (No nosso caso, estamos mal servidos, porque o nosso PM tem sobejas provas de tomar atitudes insensatas).
O que se joga neste ano é a viabilidade do euro enquanto moeda, isto é, queremos um euro que seja encarado como uma verdadeira moeda, ou vamos para uma solução de mera união monetária?
Há um mundo de diferença entre os conceitos mesmo que a unidade monetária se mantenha.
O que se joga este ano é se vamos manter uma europa unida e igualitária, ou se vamos para uma europa a duas( ou mais velocidades) como foi "moda" propôr como solução antes do tratado de Lisboa?
Há um universo de diferença, entre uma união entre iguais e uma em que uns, são mais iguais que outros.
O mundo em que os mercados não existiam ou podiam ser ignorados como se trtatassem de uma qualquer doença, terminpu em 1989. Com mais de vinte anos era tempo que tivéssemos interiorizado esse "pequeno" facto, aparentemente não....
Neste momento, nós e os espanhóis, temos que fazer a nossa parte: mudar de vida, melhor, mudar verdadeiramente de vida e não andar a "encanar a perna à rã", "arrastar os pés" ou "realizar os movimentos correctos"; assim que o fizermos, teremos o apoio dos restantes membros do clube em que nos inserimos, até lá, estamos sós.
No mundo em que vivemos, com toda a informação disponível incluindo soluções, a única incógnita é saber se temos carácter: os políticos e os eleitores... ora que como dizia Napoleão, carácter ou coragem é das poucas qualidades que não podemos imitar....
Resta saber se, todos nós, a teremos.
Cumprimentos
joão
PS: Vinha no Hamburguer Hansablatt de ontem: algus bancos alemães tinham detectado que os seus clientes se dirigiam ao balcão para pedir para trocar as notas de euro emitidas por outros bancos que não o BundesBank (têm o código X antes do número), a confianaça é um bem muito precioso....
Caro João
Em última análise, o Euro é o Marco
- o que significa que a situação actual é quase equivalente à de nos encontrarmos numa União Monetária imperfeita com a n/ moeda numa relação fixa com o Marco...
Com a diferença em relação a outras uniões monetárias, formais ou informais, de que não temos liberdade de propor ou provocar uma alteração da paridade...
Com a 2ª diferença de que, não podendo ajustar o valor externo da moeda para salvar a competitividade das nossas produções, sermos forçados a um ajustamento real, deflaccionando salários e activos por um longo período de tempo...
Esta é uma situação quase insolúvel se atentarmos na planetária diferença de competitividade entre as produções domésticas e as dos nossos principais parceiros comerciais...e no piramidal esforço que se mostra necessário para que os nossos profundos desequilíbrios sejam corrigidos.
Anda para aí toda a gente a discutir finanças públicas como se esse fosse o problema central que enfrentamos...
Sendo esse um sério problema, sem dúvida, o primeiro e maior problema é de natureza económica, quase não tem solução (lamento dize-lo mas digo o que penso), suspeito que daqui a 3, 5, 7 ou 10 anos andará toda essa mesma gente de mãos na cabeça sem saber o que fazer...e sem perceber porque nos sucedem cada vez mais desgraças...
Essa a grande questão que temos de colocar, "prima facie".
Caro Tavares Moreira,
Mas o meu ponto é que o Almunia pode não conseguir acalmar os ânimos face à dívida espanhola, mas consegue atiça-los à dívida portuguesa e grega. E ser o primeiro a ir vai ter importância e vai dar tempo e margem de manobra aos segundos.
Caro Tavares Moreira
Na Europa discute-se a crise com o epicentro nas finanças públicas, porque ninguêm têm interesse em discutir a união monetária.
As apostas no continente são sobre a duração da crise.
Do outro lado do Atlântico as apostas são sobre a duração do euro.
Na época do Presedente Andrew Jackson circulavam dólares com valores diferentes, consoante o Estado que a emitia. Claro que o grau de desenvolvimento e de sofisticação da economia era outro...
Também podemos ter, internamente, uma moeda em circulação com duas paridades é solução que, também, se propõe;mas o resultado prático seria uma desvalorização de longa duração, dos activos e dos salários.
Salvo uma união monetária total, qualquer solução encontrada é, inerentemente instável e os motivos são, basicamente, os que enunciou.
Como melhor sabe não existem condições, em alguns dos países do euro, para abdicar de um tal grau de soberania.
Mas, por outro, não existem condições para alguns dos países exercerem a liderança que seria necessária.
Os elementos para uma crise grave estão a reunir-se, aguardemos para ver quando alcançam a massa crítica.
No final do ano, poderemos ter uma ideia mais definida do futuro do euro e concomitantemente da união; o interesse nacional exige que nos preparemos para o fim do euro e não para ser, de novo, um bom aluno de uma escola em fase terminal... mas não é isso que vai suceder.....
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
Reconheço seu inesgotável talento para a dialética de valores contrários...
Mas a verdade é que tenho (continuo com) muita dificuldade em perceber em que é que Almunia contribuiu para agravar o nosso "plight" e aliviar o da Espanha...
Julgo que as declarações de políticos - e Almunia é essencialmente um político - são entendidas pelos mercados através de filtros muito especiais, podendo não haver qq correspondência entre o sentido aparente dessas declarações e o que é a percepção que os mercados delas têm.
Caro João,
Encontramo-nos em linhas de entendimento deste assunto que, não sendo coincidentes, são manifestamente convergentes...e que provavelmente se encontrarão nem que seja no médio/longo prazo!
Caro Tavares Moreira,
A pessoa ideal para demitir Almunia, deve ser Mário Nogueira, dirigente da Fenprof. Conseguiu mandar uma ministra pelo ar e quase queimou outra, enquanto não teve o que quis. Acho que seria então, ideal e oportuno, enviar Mário Nogueira em nome da AMP (até é fisicamente parecido com Fernando Ruas)para a Porta da Comissão Europeia. Para ele será como peixe na àgua!
Caro Tavares Moreira
Estamos mais convergentes do que possa supor.
A diferença é que, no meu caso, já que estamos neste "barco" que é o euro, há que tentar "pilotá-lo", sabendo que o "navio" não está bem construído...
Nem de propósito, hoje de manhã 10/02/10, quando assistia à CNBC, pelas 7.00 am, reparei que, no ticker de baixo, citavam declarações do incontornável ministro das finanças de Portugal, em que, este, afirmava que iria reduzir os salários da função pública.....
Será que essa redução de salários irá ser implementada pelo próximo Primeiro Ministro e pelo próximo ministro das Finanças de Portugal?
Será que ainda será realizada este ano?
No fim de contas, o Comissário Almunia, ajudou ou não os dois países ibéricos?
Cumprimentos
joão
ADENDA
Caro Tavares Moreira
Sugeria que seguisse com atenção o que se vai passar na cimeira "informal" de amanhã....
Podemos estar no limiar de uma viragem histórica e inevitável do processo europeu....
Afinal o Sr Vam Rompuy bem pode ser a Susan Boyle da União Europeia.....
Cumprimentos
joão
Caro André,
Mas que belo e espirituoso comentário, envolvendo o temível M. Nogueira...
Qhe lhe parece, caro Dragão, a criação de um cargo de Porta-Voz Geral da República, para actuar em emergências como esta, atribuído obviamente a M. Nogueira?
Caro João,
Se essa declaração à CNBC chega cá (...) como vai o Governo explicar um congelamento que era mas já não é?
Só se servir da moderna linguagem económica, emitindo uma declaração prometendo um crescimento, embora não positivo, dos salários dos funcinários públicos?
Pode ser a saída...mas será bem entendida?
Essa da Susan Boyle é preciosa...conviria no entanto, realizar algum trabalho de maquilhagem para não desiludir muito os seus fâs (belgas, sobretudo)...
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